Tudo estava estranhamente parecido com a vez que Jace sumiu e todos estavam a sua procura, exceto que desta vez Jace estava lá, a salvo no Instituto, e que Jonathan era o único desaparecido da história. Estou Chegando nem significaria muita coisa se Jocelyn não conhecesse o potencial da pessoa que escreveu estas palavras. As semelhanças entre Jonathan e Valentine não eram apenas físicas, iam além: a forma de falar, a maneira de se mover, a forma como escolhiam as palavras certas. Isso perturbava ainda mais Jocelyn que, apesar de saber que ele era também seu filho, não conseguia enxergar nada dela nele. Talvez apenas as mãos e algumas coisas no formato do rosto dele, mais nada. Ela tentava encontrar entre aquela cópia forçada de Valentine e o sangue de demônio algo que a fizesse considerar que aquele era seu filho.

Às vezes ela chorava a noite com as lembranças da criança que tinha posto no mundo, ela tentava ver além daqueles enormes olhos negros, mas apenas infinitos encontrava. Jocelyn se lembrava da forma como aquele bebê se encaixava perfeitamente em seus braços, diferentemente de Clary, que sempre ficava se remexendo querendo ficar sozinha, independente do carinho de seu colo. Desde de bebê ela sempre fora rebelde e independente de carinho; diferente daquele bebê que se encaixava em seu ombros perfeitamente e parecia gostar de seu afeto. Era estranho segurá-lo ele era um monstrinho, mas ainda assim era seu filho.

A antiga senhora Morgenstern estava em casa sozinha aquela tarde, indisposta demais para ir ao Instituto com Clarissa e Lucian. Ela preferiu ficar em casa terminando uma pintura arcadista das torres de Alicante. Havia captado o máximo de detalhes possíveis: a forma como rasgavam o céu dourado e como pareciam cristais e, que apesar das más lembranças a faziam sentir-se em casa, em paz. Jocelyn de repente sentiu-se tonta e doente e antes que esquecesse as imagens dos corpos espalhados pela ruas de Idris, ela voou até o banheiro onde pôs para fora tudo o que havia comido naquela manhã, ainda molhava o rosto quando batidas frenéticas na porta começaram a soar irritantemente em seus ouvidos.

Sem hesitar ela abriu a porta já impaciente todavia não encontrou ninguém, olhando para todos os lados em busca de algo ou alguém só achou um papel com o seu nome, abaixando-se o pegou. Uma carta. A principio não reconheceu a letra mas também não teve tempo para isso, logo ouviu as vozes e os passos de Clary e Lucian subindo pelo corredor, escondendo a carta nas costas por dentro da blusa. Ela sorriu e acenou quando eles a viram, capturando o olhar de surpresa de ambos ela limpou a garganta "Como foi lá?"

Clary e Luke se entreolharam, suas fisionomias já diziam tudo. "Nada demais, O Inquiridor continua achando que é perca de tempo continuar as buscas por Sebastian" pronunciou Luke

"Isso já era de se esperar ou talvez eles não queiram que vocês saibam sobre como andam as buscas por Jonathan" disse Jocelyn, a essa altura eles já estavam dentro, Clary sentada ao lado de Lucian no sofá olhando para as próprias mãos, pensando em Jace concluiu ela.

"Ou talvez a única coisa que resta seja mesmo esperar. Esperar para ver aonde tudo isso vai dar. Nós sabemos o quão perigoso Jonathan pode ser. Mas não podemos fazer mais nada além disso: esperar." falou Lucian, que parecia cansado e chateado com tudo isso acontecendo.

"Talvez esperar não seja uma boa ideia, ele virá preparado e..." Jocelyn foi interrompida pela saída silenciosa de Clary, que apenas se dirigiu até seu próprio quarto e bateu a porta ao passar por esta. Jocelyn pensou em ir lá para conversar, mas foi Lucian, com um sinal quem se dirigiu ao quarto de Clary.

***

Clary estava deitada de lado na cama quando, ouvindo o ranger da porta se sentou para ver Luke com enorme olhos azuis "Posso entrar?" perguntou Luke já dentro do quarto. "Porque eu já entrei mesmo." ele concluiu, encostando a porta para que Jocelyn também pudesse ouvir o que quer que fosse que ele teria a dizer.

Ela apenas sorriu e ele se sentou ao seu lado.

"O que há?" perguntou ele, um olhar passível, um olhar de quem também já estava cansado. Clary não o culpava, afinal, ele esperou tanto por Jocelyn retribuir o seu amor e anos de dedicação, e agora aqui estava, tendo que lidar com problemas que Clary se julgava ter grande parcela de culpa. Ele era o pai dela do modo como Valentine nunca seria. Luke não precisava ser esforçar para isso, ele não precisava de nada, ele era o pai perfeito. Ele deveria estar com Jocelyn em lua de mel, não procurando um adolescente pirado que sonha em ser o centro do mundo e uma garota que o namorado queima/arde em fogo celestial.

"Nada. Só estou cansada... e vejo que você também. Quantas canecas de café já tomou hoje?" ela perguntou tentando com sucesso persuadi-lo

"Umas nove, que já não estão fazendo muito efeito. MAS está tudo bem mesmo com você?" ele insistiu

Não, não está. Estou com ódio mortal do meu irmãozinho. Mas ao mesmo estou confusa sobre quem ele é, o que ele é e se ele foi sincero quando disse que queria uma chance, talvez não fosse o sangue demônio fosse apenas solidão. No pouco tempo ao seu lado, Clary conheceu muito mais do Sebastian do que ela queria. Ele tinha muito de Valentine, era verdade porém Jace também tinha. Talvez fosse ridículo, mas nessas três idas ao instituto para vê-lo ela notou o quanto ele lhe lembrava seu pai, e agora também, seu irmão. Clary era assobrada por pesadelos a noite, em que Jace e Jonathan usavam a mesma túnica rubro e apenas a cor dos cabelos e das asas pareciam distingui-los, fora isso eles pareciam ser iguais.

"Está tudo bem sim, só estou cansada" mentiu

"Clary, eu, sua mãe, todos nós estamos fazendo o possível para capturarmos Sebastian, você sabe disso. E sei que deve estar sendo difícil para você, bem... a situação do Jace, e..." Clary o cortou, sentindo-se enrubescer

"Sim, eu sei, sei que tenho que ser paciente. Mas só estou cansada disso tudo Luke e todos vocês só apostam "talvez". Chega de suposições por hoje. Chega de ser caçadora das sombras por hoje, hoje eu só queria ser Clarissa Fray, sem medos, sem problemas que envolvem o mundo inteiro." ela suspirou

Luke apenas assentiu com a cabeça e saiu do quarto fechando a porta e esbarrando com Jocelyn que estava um pouco inclinada no pequeno corredor tentando ouvir. Clary que ainda sentia o efeito das runas em sua pele, ouvia até mesmo uma conversa alheia de um casal do outro lado da rua. Ela tirou as botas e começou a se despir vagarosamente até que entrou no banheiro e esperou que o vapor da água levasse tudo isso embora, em parte o que dissera a Luke era verdade, ela só estava cansada. Secou-se, vestiu uma camisola de puro algodão e se deitou, acabou dormindo mais para poupar decepções e pensamentos do que por sono.