Piratas Do Caribe e o Olho Da Fênix escrita por Milly G


Capítulo 5
Destino


Notas iniciais do capítulo

As coisas não estão fáceis para meus personagens, muito menos para mim. Me recuperei apenas recentemente de uma operação, e meu avô faleceu há três dias. Peço desculpas pelo tempo que demorei para voltar a escrever, e imagino que, de alguma forma, as circunstâncias ajudaram. Escrever é minha paixão e minha terapia, e eu dedico este capítulo a ele, por ser a pessoa que, desde que eu era pequena, sempre me inspirou a fazê-lo. Agradeço desde já a compreensão :)


::ENJOY::



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– Posso ajudar?

A ruiva ainda encarava a cicatriz no peito do homem quando a voz dele a tirou de seu torpor. Ergueu os olhos pra seu rosto e quase esqueceu novamente o que ia dizer. Havia algo diferente nele, um tipo de... fardo... que ele parecia carregar. Tinha olheiras e as rugas em sua boca bem desenhada pareciam puxá-la para baixo.

Seu peito se apertou de compaixão, apesar de não saber por quê.

– A-Ah, não... Eu... – ela olhou para trás rapidamente, mas a casa de onde fugira já não era mais visível. Não conseguia entender como aquele incêndio não chamara atenção, mas aquela era uma ilha de piratas, afinal. – Preciso chegar ao cais. Rápido.

Ele assentiu e a conduziu pelo caminho contrário do que estava indo, tocando com a ponta dos dedos seu cotovelo.

– Do que está fugindo? – ele indagou com naturalidade, mas seu coração deu um pulo.

– E-Eu não... – engasgou-se, mas seus olhares se encontraram e ela suspirou. Já imaginava que seu desespero era evidente. – Do que estou fugindo? Do destino.

Por alguns momentos, o homem não respondeu. Apenas fitou a rua a sua frente, com um olhar distante.

– Até onde eu sei, isso é algo difícil de se fazer. – ele murmurou um tempo depois.

Brooke já podia ver os mastros ao longe, e seu coração voltou a bater acelerado. Queria correr para lá e sentir novamente a madeira escura do Pearl sob suas botas. Mas, ao mesmo tempo, sentia-se relutante em deixar aquele homem para trás. Apesar de ser simpático, ele parecia ser extremamente solitário.

– Isso não me anima muito. – ela suspirou em resposta, mas tinha um pequeno sorriso nos lábios.

– Me desculpe – ele sorriu também, brevemente. Depois, seu rosto e seu olhar voltaram a ficar distantes. – Bom, lá está. – ele apontou com o queixo na direção do cais. – Procura algum navio em particular?

Um frio subiu por sua espinha. Ele parecia perguntar por pura curiosidade, com os ombros relaxados e um sorriso no canto dos lábios, mas como poderia saber se ele não era um dos homens de James?

Ela abriu e fechou a boca pelo que lhe pareceu um milhão de vezes, até o homem romper a tensão com uma gargalhada.

– Não precisa ficar tanto na defensiva. – ele disse, secando uma lágrima dos olhos. – É que você parece estar com uma pressa enorme de sair daqui, e eu estava me perguntando se você tinha realmente um plano. É incrível que esses seus olhos azuis não expressem medo, mas suas mãos tremeram o caminho inteiro.

Imediatamente, a ruiva cruzou as mãos atrás das costas, cerrando-as com força, o que o fez gargalhar mais uma vez. Estava começando a ficar irritada.

– Eu procuro, sim, um navio. Mas não lhe direi qual é. – ela disse, erguendo o queixo com arrogância. Não queria parecer indefesa nem assustada, independente de para quem fosse.

Ele ergueu uma sobrancelha, ainda sorrindo, e então deu de ombros.

– Bom, espero ter ajudado. – ele estendeu a mão, e quando ela a segurou com a sua, ele lhe beijou as costas. Porém, não se ergueu imediatamente. Estava examinando de perto suas inúmeras cicatrizes. – Me desculpe a indelicadeza, mas a senhorita tem mãos de pirata. – ele a ouviu rir e um pouco de sua hesitação se dissolveu. – Pode me dizer seu nome?

– An... – ela se interrompeu, sem conseguir conter um sorriso ao se corrigir – Brooke.

– Brooke...? – ele franziu as sobrancelhas por um momento, e então a compreensão brilhou em seus olhos.

PEPPER! – um berro masculino interrompeu o que ele ia dizer.

– Gibbs! – a garota sorriu, extasiada, ao ver o velho pirata vir correndo, levemente manco, em sua direção.

– Gibbs? – os olhos do homem pareciam prestes a pular das órbitas, o que chamou a atenção da ruiva de volta para ele.

– Você o conhece? – ela franziu a testa. – Aliás, desculpe, qual seu nome?

Ele a encarou por uns instantes e não pôde impedir-se de rir novamente. Realmente era difícil fugir de seu destino.

– Meu nome é Will Turner.

O queixo dela caiu, e estava tão perplexa que não percebeu quando Gibbs chegou ao seu lado, adquirindo imediatamente uma expressão igual a sua.

– William? – o velho piscou os olhos algumas vezes, e quando ele assentiu, um sorriso estranho apareceu em seu rosto. – Mas como? Você... O Holandês...

– Sim. – ele riu, parecendo tão incrédulo quanto o pirata mais velho. – Me vi livre da maldição desde que isso apareceu. – ele virou-se de costas e puxou o cabelo para frente, mostrando uma marca em sua nuca.

Uma marca idêntica a de Brooke. A marca de Calypso.

– Ah, não.

***

Jack cambaleava em direção ao cais, contorcendo-se enquanto a pele de suas costas se reconstruía das queimaduras. Era uma sensação estranha e ao mesmo tempo animadora, que o fazia gargalhar sozinho como um lunático.

Mas isso ficava em segundo plano enquanto ele se lembrava das poucas, porém significativas palavras que trocara com James.

“Ainda procuram por ela”, “Você não pode livrá-la de seus demônios”.

“Assim como não pode se livrar de mim.”

Ele o havia mandado se danar. Era imortal e sentia-se capaz de proteger Brooke de absolutamente tudo.

Que ele venha com todos os cães do Inferno, ele praguejava para si mesmo, irritado.

Sabia que não havia, realmente, se livrado dele. Nem sequer havia escapado dele. James o deixou ir porque precisava dele. E isso o enlouquecia.

Mas não tinha tempo para gastar com ele. Não quando ela estava se afastando. Sabia que estava indo para a segurança de seu navio, mas o fato de perdê-la de vista o incomodava.

Isso era outra coisa que o enlouquecia.

Começou a enxergar o cais e esticou as costas, sentindo-as completamente recuperadas. Viu com satisfação o Pearl um pouco distante e acelerou o passo, mas interrompeu-se ao ver uma cena que até mesmo ele nunca teria imaginado.

Ela estava falando com... Will Turner.

Não conseguiu se aproximar o suficiente para entender o que diziam antes de Gibbs perceber sua presença, nem xingá-lo antes de Brooke se virar e seus olhos azuis brilharem como estrelas. Seu coração se contraiu de forma estranha com essa visão.

Não teve tempo de pensar muito sobre isso antes que ela se atirasse em seus braços, enlaçando os dela em seu pescoço e lhe dando um abraço apertado.

– Você está bem. – ela suspirou, com a voz embargada. – Meu Deus, Jack, eu... – ela soluçou, apertando-o com ainda mais força.

Ele sorriu e olhou distraidamente sobre o ombro dela, reparando em Will mais uma vez. Ele havia baixado o olhar e estava com uma expressão derrotada, o que Jack não entendeu de imediato. Mas bastou um olhar do capitão do Holandês para sua imediata para que ele percebesse a situação.

Ele a afastou devagar, segurando sua cintura com firmeza.

– Então, William – ele começou, com a voz grave – quer fazer o favor de nos explicar o que diabos faz em terra firme? Só se passaram dois anos, se não me engano.

– Jack, ele...

– Uma marca surgiu em mim recentemente, e a senhorita Pepper parece saber a respeito. – ele empertigou-se e olhou para ela com simpatia, fazendo-a sorrir.

O capitão franziu a testa em completo horror, os olhos desviando dele para a ruiva repetidas vezes, até que ele a puxou com violência até uma distância em que Will não pudesse ouvi-los.

– Me diga que ele não está dizendo o que eu acho que ele está dizendo.

– Vocês se conhecem? – ela indagou, confusa.

– Apenas... responda a pergunta! – insistiu ele, gesticulando freneticamente.

– S-Sim, ele... Jack, ele possui a marca da Tia Dalma. O que isso significa?

Jack demorou algum tempo para então murmurar:

– Parece que quem comanda aquele navio não carrega apenas uma maldição. – ele fez uma careta ao pensar em Davy Jones.

– E o que isso significa?

Ele gesticulou novamente, dessa vez para que ela esquecesse o assunto.

Sentia-se à beira de um ataque de nervos. Estava sendo manipulado por James, mas ainda mais por Tia Dalma. Ela tinha, literalmente, sua vida em mãos, e parecia estar moldando-a a seu gosto.

E agora o Eunuco olhava para sua imediata como antes olhava para Elizabeth. Isso devia estar incomodando-o, com tantos outros problemas?

– Ei, amigo – chamou ele de repente, torcendo o corpo para encarar Will. – Onde está sua donzela em perigo?

Ele o encarou por um segundo e então abaixou a cabeça, melancólico. Jack não se sentiu nem um pouco mal por isso, apesar de Brooke ter dado uma cotovelada em suas costelas, censurando-o.

– O tempo pode ser nosso pior inimigo, Jack. E Elizabeth nunca foi de esperar por nada, muito menos por um homem. – ele encolheu os ombros, dando um sorriso triste.

A ruiva cerrou os punhos, tanto por compaixão quanto pelas lembranças que vieram a sua cabeça. Desde que fora encontrada no mar, dois meses antes, e torturada incessantemente por puro prazer de James, ela havia esperado e rezado para que Jack aparecesse e a salvasse. Ela não podia se imaginar desistindo dele.

– O que é essa marca, afinal? – Will perguntou de repente, tirando-a de seus pensamentos.

Jack suspirou de forma dramática. Seu desgosto só poderia ser ter sido mais evidente se ele tivesse dado um tiro na testa do homem.

– Essa vai ser uma longa conversa, amigo.

***

Will bateu o copo na mesa de madeira, talvez pela vigésima vez.

Ele, Jack e Brooke estavam na cabine do Pearl, que continuava o mesmo caos desde a última vez que esteve ali, há mais de dois anos. As sombras das velas dançavam pelo rosto dos dois, e enquanto ele ruminava aquela história, os olhos grandes e brilhantes da mulher pareciam suplicar seu perdão.

Não que isso fosse necessário. Ele teria ido até o fim do mundo – de novo -, e morrido feliz, por ela.

Era de uma beleza quase divina. A pele, antes certamente pálida, era morena e cheia de sardas graças à exposição ao sol. Isso parecia deixá-la ainda mais bonita. Os cabelos escarlate caiam sobre os ombros em cachos enormes, nos quais ele pegou-se mais de uma vez desejando enroscar os dedos. Os olhos azuis eram hipnóticos, como o oceano Pacífico num belo dia de sol, e os lábios pareciam estar o tempo todo entreabertos de uma forma provocante. Tentava não olhar muito para nada abaixo deles, como seus ombros magros, porém fortes, e os seios fartos, que ela exibia sem nenhuma vergonha em um decote de uma camisa velha e masculina.

Era simplesmente fácil demais esquecer sua bagagem. A quantidade enorme de problemas que ela trazia consigo.

– Deixe-me ver se entendi... – ele desistiu do copo e pegou a garrafa de rum, virando em um gole o que sobrava dela. – Você tem um acordo com Tia Dalma, para encontrar uma pedra mágica e curar sua amiga, que a salvou de um... basilisco? – a descrença na voz de Will era palpável, mas mesmo assim Brooke assentiu, confirmando suas palavras. – Então você foi morta por uma deusa do mar chamada Cassandra, cujo coração seu pai partiu, e então foi trazida de volta a vida pelas lágrimas mágicas dela.

Ela assentiu novamente, hesitante, e tocou distraidamente a cicatriz em seu peito, onde a Ultima Rapiat havia corroído sua pele. Era a primeira vez que pensava em tudo o que havia acontecido, e, agora, mesmo ela quase não conseguia acreditar.

– Bem, e o que... – ele suspirou, na dúvida se queria realmente se aprofundar naquela história, mas mesmo assim perguntou: - E o que esta marca está fazendo na minha nuca? O que eu tenho a ver com tudo isso?

Brooke e Jack se entreolharam, ansiosos, e então o pirata deu de ombros, indicando com o queixo para que ela contasse tudo a Will.

– Quando Cassandra colocou essa marca em mim, ela designou algumas pessoas para me ajudar nessa busca. – ela encolheu os ombros e abaixou um pouco a cabeça, e então o olhou por entre os cachos que caíram sobre seu rosto. – Eu achava que eram só eles dois, por que...

– Espera. Eles dois, quem? – ele piscou e passou os olhos pela cabine, como se esperasse encontrar mais alguém ali.

– Jack, e... Barbossa. – ela encolheu ainda mais os ombros.

– Barbossa! – ele arregalou os olhos. – Mas como ele...

– Muita coisa aconteceu, William, não nos dê mais trabalho. – retrucou Jack, estranhamente impaciente.

– Me desculpe. – ela murmurou, tanto pela resposta de Jack quanto pela situação em geral. – Eu não esperava que algo assim fosse acontecer. Nunca o vi antes... Apesar de aparentemente você e Jack serem amigos.

– Não somos amigos. – disseram os dois em uníssono.

Ela ergueu a sobrancelha enquanto seus olhos iam de um para o outro. Imperceptivelmente, Jack se aproximou um pouco mais da ruiva, roçando seu braço no dela. Coisa que ela teria notado se não estivesse tão preocupada em se justificar, mas Will certamente reparou, dando-lhe a confirmação ao franzir as sobrancelhas e encarar as próprias mãos, cerradas sobre a mesa.

– Sr. Turner, eu sinto muito. – a voz da mulher o fez erguer os olhos novamente. – Eu gostaria de poder dizer que é uma escolha sua nos ajudar ou não, mas Tia Dalma... bem, essa marca serve como sua garantia, e falhar significa colocar nossas almas em perigo...

– Ah, sim. – ele bufou. – Sei muito bem a consideração que ela tem com as almas dos homens do mar.

– O dever dele, imposto pela própria Tia Dalma, é ajudar essas almas a irem para um “lugar melhor”. – cochichou Jack quando ela o encarou, confusa.

Ela assentiu, menos surpresa do que esperava. Já havia aceitado que o mundo era muito maior e mais misterioso do que ela imaginava, e que algo a conduzia em meio a todo aquele caos.

Mas o que seria?

– Parece que o destino nos uniu novamente, Sparrow. – concluiu Will com um sorriso cansado.

– Não gosto de como isso soa. – ele franziu a testa em resposta, levantando-se e saindo da cabine.

Brooke levantou um momento depois, temporariamente cega pela luz que entrava pela porta.

– E você, Srta. Pepper – ela ouviu a voz de Will atrás de si. -, acredita em destino?

Ela olhou em seus olhos, mas não os viu. Estava muito mais longe do que ele jamais havia chegado.

– Acho que estou começando a acreditar.


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