- Sabe a quanto tempo eu estou te esperando aqui, Reiko? - falava Lee-chan. Eu sabia que eu estava errada, mas por que gritar tanto? Eu só estava meia hora atrasada... ou mais...

- Não me chame de Reiko! - gritei, eu simplesmente odiava quando ele me chamava de Reiko. Para ele só poderia ser Rei, senão eu já sentia meu ouvido doer em agonia.

- Reiko, se você se atrasar assim todos os dias eu não vou vir mais! - gritou Lee-chan.

Tamaki entrou na minha frente e eu fui para o lado. Ele era muito mais alto que o Lee-chan, parecia ter 19 enquanto Lee tinha só 16 ou 17.

- Nós que atrasamos a garota - ele falou. - Para de gritar com ela.

Lysander olhou para mim como quem diz: "falo com você depois que esse cara com mais de dois metros sair da minha frente".

- Obrigada, Tamaki, você foi muito gentil - falei, dando um tapinha nos ombros dele. Ele não parecia muito feliz em ter me ajudado, mas aceitou o tapinha sem me questionar.

Passei por ele para abrir o café. Junko estava do meu lado, a direita, e o resto estava a minha esquerda. Eu respirei fundo, peguei minhas chaves e as coloquei na fechadura.

- Esse momento vai ser lembrado para todo o sempre, esse é o melhor dia da minha vida! Eu sempre quis realizar o sonho de abrir o café e... - eu fui interrompida por Lee-chan.

- Anda, Rei! Eu quero sentar!

- Ai, que chatice, Lee! - ignorei Lysander e continuei meu discurso. - Hoje é a minha chance de começar a construir meu sonho! Por isso, eu declaro esse café... - girei as chaves e empurrei as portas, que se abriram como eu havia imaginado em meus sonhos, exceto pela falha da porta da direita que não quis abrir e Lee teve que empurrar. - ABERTO!

Nós fomos para dentro do café e começamos a arrumar os últimos detalhes. Eu coloquei as coisas que estavam na minha bolsa nos lugares que deviam ficar e fui ao banheiro me vestir. Eu estava perfeita, como eu sempre imaginei, e não teria vergonha de sair vestida de gato por ai, por que eu sempre imaginei isso desde criança, embora sair por ai com uma fantasia de gato seja um pouco estranho.

Eu encontrei Junko no corredor. Olhei bem para ela. Ela queria o emprego; Eu queria empregados; Ela queria trabalhar; Eu precisava de alguém que trabalhasse; Ela queria mesmo se vestir de gatinha e servir pessoas; E era exatamente disso que eu precisava. Ela com certeza estava aceita no meu café! Peguei uma orelha de Neko reserva na minha bolsa e coloquei na cabeça da Junko. Ela já estava com uma roupa estilo lolita, então eu acho que para o primeiro dia estava bom para disfarçar enquanto eu fazia os uniformes.

Fui checar a cozinha. Lee-chan já estava preparado, com seu avental lindo e brilhante de tão branco e seu chapéu estranho de cozinheiro. 

Estava tudo pronto! Todos iriam vir para o meu café! Eu não poderia nem imaginar!

10:13, primeiro dia. Duas horas depois da abertura, aproximadamente.

- Lee-chan, cade as pessoas? - perguntei ao Lee, deitada em um dos balcões da cozinha. As pessoas que entravam teriam achado estranha a minha posição, mas eu não me importava com Lee-chan, afinal, éramos amigos, certo?

- Não sei, me diga você - ele falou.

- Lee-chan! - reclamei -. Por que as pessoas não chegam?

- Talvez ninguém tenha visto o café ainda.

- Como não? Eu fiz tudo direito! - eu já ia começar a chorar, quando Junko entra na cozinha avisando que um cliente tinha acabado de entrar na loja.

- Não pode ser! Lee-chan! Cuide da cozinha! Tamaki-chan! Não nos atrapalhe! Fique na cozinha! Junko-chan! Vamos servir esse homem! Todos aos seus postos!

Junko e eu olhamos o homem que entrava no café. Estávamos atrás do balcão esperando para ver o que ele fazia.

- Olá? - ele chamou, parecia estar procurando alguém no café.

- Olá, senhor! - falei, aparecendo por trás do balcão.

- O que deseja? - falou Junko, aparecendo do meu lado.

O homem gordinho pareceu assustado, talvez seja por que aparecemos do nada, mas não tenho certeza. Ele se acalmou e se sentou nos bancos de frente ao balcão, onde já tinham vários doces do Lee prontos.

- Novos aqui?

- Sim, senhor! - falei, sorrindo.

- Você é o nosso primeiro cliente! - falou Junko, dando risadinhas.

O homem riu como o papai noel teria rido em uma conferência universal de noéis. Ele colocou a mão na barriga e ajeitou os óculos.

- Então, vejamos... - ele se esforçou para abrir os minúsculos olhos que tinha e olhou tudo no balcão umas quarenta vezes. - Eu vou querer um café.

- Mas... E os doces? - perguntou Junko, confusa.

- Não, não, eu quero café - respondeu o homem.

Fui pegar o café dele. Tínhamos uma máquina de café. Minha vó sempre me ensinou a fazer os cafés que ela fazia quando era viva, e até hoje eu sigo os passos dela. Peguei um copo e coloquei o café dentro.

- O senhor vai querer para agora? - perguntei.

O homem que estava atrás de mim respondeu com a voz grossa que tinha um sim.

- Okay! - falei. Eu coloquei o café do jeito que minha vó me ensinou e o levei com cuidado até o homem. O cheiro que saia era perfeito.

Pude ver Lee e Tamaki-chan espiando da cozinha.

Todos nós olhávamos o homem com atenção. Ele estava sério, parecia um crítico gastronômico provando o café do melhor café de nekos que existe. Vi meu sonho se completar diante daquele homenzinho com bigode estranho.

Ele bebeu um pouco. Eu estava tão perto que podia sentir todo o cheiro de café. Junko estava com os olhos brilhando, ela soltou um gritinho de ansiedade.

- Não vai beber, não? - ela falou, com raiva, depois de um tempo de espera.

- Para, Junko! Regra número um: Nunca, nunca, nunca mesmo, apresse um cliente, ele tem que sentir a essência do café! - falei.

O homem fez que sim com a cabeça, sorrindo. Seus bigodes ficaram molhados por causa do café, pude ver seus olhos brilharem quando ele provou o primeiro gole de café. Ele foi colocar café na mesa e eu fui rápida o suficiente para colocar um porta-copo embaixo. 

Eu esperei até que ele dissesse o que ele achou do café. Todos nós estávamos ansiosos.

Ele lambeu o bigodinho e se virou para nós.

- É o melhor café que já tomei!