O Quarto Rosa escrita por Lótus


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Adeus



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No ambiente familiar houvera algumas mudanças, entre elas, a mudança mais notável foi que minha mãe engravidou do meu pai e me trouxe a excelente noticia de que eu teria um irmão ou uma irmãzinha, como citado no capitulo anterior, até então eu já não entendia mais nada, e também já não me preocupava mais em entender, porque quando eu achava que tinha entendido uma situação vinha outra que requeria enorme esforço de minhas atividades cerebrais, tentando quase adivinhar o porquê disso e o porquê daquilo.

Há muito tempo eu perdera o convívio com minha mãe, ela se dedicava integralmente ao seu trabalho, quando engravidou passou a ficar em casa, parece que ela e o homem que diziam ser meu pai ficavam sempre enrolados, por que eles também não arrumavam uma casa e cuidavam de seus filhos? No caso eu e o próximo rebento? Mas não, insistiam em ser diferentes. E ser diferente naquela época me causava muita dor, dores emocionais, sendo que eu já convivia com muita carga emocional, resultados de várias batalhas, assim pensava eu.

Minha vida transcorria sem qualquer novidade, eu passei a conviver com minha mãe grávida, mas ainda ela estava ausente, não parecia mais a minha mãe, era sempre calada, e quando falava se irritava facilmente, assim eu procurava na medida do possível manter-me sempre distante dela. Minha avó ao contrário, apesar de idosa sempre que tinha uma folguinha dos afazeres domésticos se aproximava de mim, com uma voz tão maternal, que eu em qualquer situação não ousava nem em pensamento contestar qualquer atitude de minha avó, o que já não fazia com minha mãe. Minha avó contava-me historia e de certa forma ela era a colaboradora em grande escala para alimentar meu mundo interior, deixava-o mais colorido, e eu sentia-me sempre mais leve, assim minha avó já era dona absoluta do meu coração. Ela deixava-me brincar na rua com outras crianças. Permitia-me ser sempre eu, eu ria alto e ela se divertia e ate incentivava-me por contar histórias quase sempre engraçadas, e ficávamos dias comentando a mesma historia e eu pedia insistentemente para ela repetir as historias que eu achava mais cômica.

O tempo passava sem piedade. O ano letivo findou. No ultimo dia de aula eu, Karina, Delmara e Kátia fizemos um piquenique de despedida, pois não poderíamos dar certeza sobre o próximo ano letivo se estaríamos todas juntas, eu já sofria antecipadamente, temia muito que esse dia chegasse, e ele chegou. Não suportava a ideia de ficar sem ver Karina. Mas não tinha outra escolha, quase no final de nosso piquenique arrisquei:

__Karina você vai estudar aqui o ano que vem?

Ela lançou-me um olhar demorado, nesse momento soube que algo acontecera ou aconteceria, ela abaixou a cabeça e sem ter coragem de me olhar nos olhos disse:

__Nós vamos mudar de cidade.

Fiquei tonta no mesmo instante. Fiquei sem palavras. Senti como uma flecha atingisse em cheio meu peito. Fiquei sem ar. Engasgada. Mal consegui pronunciar coerentemente:

__Vvai, vão, para onde?

Ela disse uma cidade que ficava em estado vizinho de nossa cidade localizada perto do fim do mundo. Continuei insistindo:

__Qquando... quando vocês vão?

__Amanhã.

__Assim tão rápido? Por quê?

__Meu pai. Estava sem trabalho aqui e consegui trabalho lá.

__Você está feliz Karina?

__Sim. Meu pai precisa do trabalho.

__E?

__Ah Bianca não torne as coisas mais difíceis. Só vou mudar de cidade. Eu não vou morrer.

Nesse momento tudo que estava guardado saiu com força total, quase gritei:

__Para mim é como se fosse!

Ela olhou-me assustada. Nunca me vira assim tão rebelde e agressiva. Ela se aproximou dizendo:

__Eu prometo que nunca irei esquecê-la, você é a minha melhor amiga e sentirei muito a sua falta.

Eu queria chorar, porque a dor da perda parecia física. Olhei para ela um pouco mais calma, e a vi ainda esboçando um sorriso doce, e eu na minha dor só pensava que nunca mais iria vê-la, era isso que sentia, não consegui pronunciar mais nada além de uma fraca boa viagem. As aulas acabaram, voltei para casa de minha avó com muita tristeza, aquele dia eu não sorrira, minha avó preocupou-se e perguntava o motivo de eu estar tão quieta, eu não conseguia falar nada, só tinha vontade de chorar.

Fui para o meu quartinho, deitei-me e fiquei em silêncio, pensando o quanto tinha sido feliz com Karina, todo o apoio que ela me dera ao longo do ano, e eu idiota, só soube gritar com ela no ultimo dia de aula, gostaria de ter tido outro comportamento, de ter abraçado-a agradecendo de coração a amizade sincera, mas não, eu estraguei tudo, eu sempre estrago tudo. E por que sempre perdemos aquilo que amamos? Por quê?

Chorei baixinho, chorei até adormecer.


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Notas finais do capítulo

Para Yue.



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