O Amor É Cego escrita por The Stolen Girl


Capítulo 14
Meu cego e surpreendente amor - Fim


Notas iniciais do capítulo

Esse é o último capítulo, boa leitura u.u



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Acordei tarde, na hora do almoço. Fiz minha higiene pessoal e desci. Minha mãe estava cozinhando. Sentei-me na mesa e comi biscoitos.
–Isso é hora de acordar Lana? Já ta na hora do almoço garota. – minha mãe começou o discurso dela.
–Quê que tem? Tava com sono ué. Me deixa aproveitar, tenho que acordar cedo a semana inteira.
–Mesmo assim, não precisa dormir o dia todo. – ela virou-se pra mim e continuou – Não esquece que você vai me ajudar mais tarde, com a festa da sua irmã.
–Não esqueci mãe.
–Vai comprar as coisas pra mais tarde, a lista ta na mesinha da sala.
Fui até a sala, peguei a lista e o dinheiro e fui pro mercado andando. Quando estava pegando os refrigerantes vejo Cat.
–Tá fazendo o que aqui? – perguntei surpresa. Ela não gosta de ir ao mercado.
–Comprando coisas pra minha mãe. – ela ficou na ponta dos pés e pegou um pote. – É hoje a despedida da sua irmã né?
–Ahaam. Você vai?
–Óbvio. Tava onde ontem? Fui à sua casa de manhã e você tinha saído.
–Estava na casa do Vince. A gente se acertou. – no mesmo instante ela virou-se pra mim com um olhar malicioso. – Ei! Não vai pensando nada não viu?!
–Tava pensando nada tá! Mas eu já sabia que isso ia acontecer. Você sempre gostou dele. Vocês ficam até fofos juntos sabia? Mas e o Leo hein?
–Ele sempre vai ser meu amigo, mas eu estava enganada quando pensei que tava apaixonada por ele. Já conversamos e tá tudo resolvido, não se preocupa.
–Poxa, ele deve ter ficado péssimo. Mas fazer o que. – ela começou a empurrar o carrinho e eu a segui. – Posso levar o Matheus hoje à noite?
–Pode. Agora eu vou comprar essas porcarias pra minha mãe. Até mais tarde. – nos despedimos e eu fui procurar as outras coisas da lista. Paguei tudo e voltei pra casa. Minha irmã já estava lá. Ela tava morando com uma amiga há alguns meses, mas a festa seria lá em casa.
–Oi Jenny!
–Oi Lana, que saudade! – ela disse já me abraçando.
–Quem é esse? – sussurrei no ouvido dela, me dirigindo ao rapaz, lindo por sinal, que estava sentado no sofá.
–Meu namorado, Cameron. – depois do abraço fui cumprimentar o Cameron.
–Olá, sou irmã da Jenny.
–Oi, eu sou Cameron, mas pode me chamar de Cam. – ele levantou-se do sofá e me deu um rápido abraço.
–Cadê a mamãe? – perguntei pra Jenny.
–Não sei. Entrei com minha chave.
–Mas ela estava fazendo almoço. Vou tentar ligar pra ela, licença. – disse e subi pro meu quarto, telefonando pra mamãe. Alguns segundos depois ela atendeu:
*Ligação on
–Oi Lana, já chegou do mercado?
–Já, mas cadê você? Jenny está aqui com o namorado.
–Tô aqui na papelaria, comprando umas coisas pra escola do Lucas. Já to voltando viu? Beijos.
–Beijos.
*Ligação off
Desci e peguei Jenny e Cam se atracando no sofá. Preciso dizer que foi constrangedor?
–Éer, Jenny?
–Hum? – ela respondeu como se eu não tivesse visto nada.
–Mamãe já ta vindo, vou... Ali. – disse e saí de casa, sentando-me no meio fio. Fiquei mexendo no celular até minha mãe chegar. Entrei com ela e começamos a fazer os doces pra festa. Cam tinha ido pra casa dele.
–Como vai namorar com ele estando em outro país? - perguntei à Jenny.
–Ele também vai estudar lá. Não é maravilhoso? – ela respondeu toda animada. Estava indo fazer faculdade nos Estados Unidos.
–Deve ser né. – respondi achando exagerada toda aquela animação. Depois que terminei de enrolar os brigadeiros assisti TV até dar a hora de tomar banho. Fui pro quarto, separei minha roupa – um vestido florido que vai até a metade das coxas – e tomei banho.
Um tempo depois os amigos de minha irmã e o restante de nossa família começou a chegar. Praticamente todos estavam lá, menos Vince. Até Leo veio, acompanhado de uma garota, Ashley o nome dela. Eles formavam um belo casal, mesmo que ainda não fossem um. Eu torço muito pela felicidade dele. Cat estava lá com Matheus. Os dois são um casal diferente de qualquer outro que já conheci e são muito felizes juntos. Já cansada de esperar, resolvo ligar pro Vince. Ele não me atende. Eu mereço! Cumprimento à todos e vou até a cozinha, ver se mamãe precisa da minha ajuda.
–Precisa de alguma coisa mãe? – ela para o que está fazendo e me diz:
–Preciso que você pare de andar que nem barata tonta pela casa. O que foi?
–Vince ainda não chegou, ele tá muito atrasado!
–Se acalma menina, ele já deve tá chegando!
–Tá. – resmunguei e saí da cozinha, sentando-me no sofá. Sei que é a despedida da minha irmã, mas não tava a fim de ficar fazendo social com os amigos dela. Fiquei apertando os botões do controle da TV, inquieta, até que a campainha toca. Me levanto num salto e atendo a porta. É o Vince, lindo como sempre. Disse pra ele que não precisava vir muito arrumadinho, porque seria algo simples. Ele me obedeceu, mas continuou perfeito. Estava de jeans, sapatênis e uma camiseta vermelha, a cor que mais combina com ele, na minha opinião.
–Por que demorou tanto hein?
–Nossa, boa noite pra você também. – ele disse, só pra me irritar – Desculpa, mas eu tive que passar em um lugar antes.
–Onde? – eu sei que to sendo chata, mas me deu uma pontada de ciúme, vai saber onde ele tava.
–Passei na casa do João. – João é um amigo dele.
–Tá né, então entra.
–Não vou ganhar nem um beijinho? – sorri e o beijei. Entramos e fomos até o jardim, onde estavam algumas mesas, quase igual ao dia do meu último aniversário. Meu pai já havia passado por aqui hoje, pra se despedir de Jenny. Apesar de não ser pai dela eles se dão bem. Sentamos-nos numa mesa no fundo do jardim, uma das últimas.
–Sabe do que eu lembrei agora? – perguntei pra ele.
–Do que?
–Do dia do meu aniversário, quando você deu um selinho na Lilith, em alguma dessas mesas aí.
–Nossa, lembrou disso? – ele disse rindo – Aquilo não significou nada Lana. Na verdade, foi ela quem me beijou.
–Sei. – disse com desdém.
–Sério que tá com ciúmes dela? Não lembra que você até me ajudou a tirar ela do meu pé? – e ele continuou rindo de mim, que lindo isso. – Ainda bem que ela ficou me enchendo, porque foi por isso que nos reaproximamos. – dei um sorriso bobo com esse comentário. Ele aproximou-se e sussurrou no meu ouvido:
–Você fica linda com ciúmes sabia? – com isso depositei um beijo em sua bochecha. – Quer dançar? – olhei pra ele com uma cara meio desanimada, é que não gosto de dançar. Tava tocando uma musica até boa pra isso, minha irmã quem escolheu. Como havia muitos casais dançando eu aceitei.
Assumo que sou desajeitada pra isso, mas ele me conduziu bem. Colocou as mãos em minha cintura, me aproximando dele. Passei as mãos por seu pescoço. Estávamos dançando calados, enquanto eu olhava no fundo de seus olhos. Sorri involuntariamente, admirada com tudo: seu olhar, seu sorriso, o modo como ele me conduzia, a beleza dele. Sorria ainda mais por saber que agora estamos juntos. Não oficialmente, mas estamos.
–Princesa? – ele disse me afastando desses pensamentos. Ele ainda não tinha me chamado com esses apelidos fofos, só de Lana. Eu adorei.
–Que foi?
–Quero falar com você, mas aqui tá muito barulhento.
–Então vamos ali dentro. Vem! – disse o puxando pra sala. Quando chegamos ele ficou me encarando, meio sem jeito. – Pode falar agora. E não me encara assim, por favor?
–Desculpa. – ele fez uma pequena pausa e continuou. – Eu não tenho costume de fazer isso, na verdade é só a segunda vez. Achei que nunca mais falaria algo parecido de novo, mas você mudou tudo. Quando a Leslie morreu me aproximei cada vez mais de você e fui percebendo o quanto te amo Lana, e agora eu não me vejo com outra pessoa além de você. Às vezes me pergunto como demorei tanto pra perceber isso, como eu deixei você se afastar. Você é tão maravilhosa, tanto por dentro como por fora. Se você quiser prometo que te faço feliz, anjo. Quer namorar comigo? – A essa altura a pessoa aqui já está totalmente abalada, mas sério, eu não pretendia morrer de fofura hoje.
–Claro que eu quero bobo! – pulei nele e o dei um beijo demorado. Quando nos afastamos ele pegou uma caixinha no bolso do casaco. Uma caixinha preta e quadrada. Quando ele abriu me deu uma vontade de chorar. Chorar de emoção, de felicidade. Lá dentro estavam dois anéis prateados. Na verdade alianças. Percebi escrito dentro delas nossos nomes. “Lana e Vicente”. Meus olhos se encheram de lágrima quando ele colocou uma delas no meu dedo. – Isso é tão lindo Vince. Você é muito especial pra mim, viu? E eu sei que a gente vai ser muito feliz. Te amo. – nos abraçamos e depois nos beijamos. Aquele momento foi tão perfeito que eu nunca esqueceria.
.......
Alguns anos depois...
Eu poderia dizer que foi tudo perfeito a partir de então. Aquele clichê que todo mundo quer ter. E pra mim foi sim. Só que pra quem viu de fora, o início da minha história com Vicente começou mal. Triste. Doloroso. E não porque eu me apaixonei por outro antes de ter certeza do que sentia, mas sim por causa da peça que o destino nos pregou naquele 20 de junho, um dia antes de completarmos um ano de namoro.
Flashback on
Eu estava em minha casa, ajudando mamãe com os serviços de casa, quando o telefone fixo tocou. Atendi.
*Ligação on
–Alô?
–Lana? Aqui é a mãe do Vicente. – respondeu-me minha sogra, com a voz um tanto embargada.
–Sra. Jackson? O que aconteceu? – perguntei, já preocupada. Ela quase nunca me ligava.
–Uma tragédia. Venha aqui no hospital perto do ginásio, rápido. É Vicente. – meu coração gelou. Hospital?
–O que? Me diga o que aconteceu!
–Vou te explicar tudo, mas ande logo. Ele quer te ver. – senti certo receio da parte dela quando disse a palavra “ver”. Mas por quê?
*Ligação off
Assim que Sra. Jackson desligou o telefone subi apressada até meu quarto e vesti uma roupa qualquer. Desci correndo as escadas e nem expliquei nada para minha mãe. Peguei um táxi até o hospital, e durante a corrida pensamentos nada otimistas me vieram a cabeça. Ele sofreu algum tipo de acidente?; Está doente?; Meu Deus! Será que morreu? Isso eu sabia que não, pois ele queria me ver. Mas minha cabeça e as emoções me enganavam, fazendo-me pensar as coisas mais horríveis possíveis. Mas a verdade nem havia me passado pela cabeça.
Chegando lá, encontrei a mãe e o pai de Vicente, ambos com caras nada boas. Charlotte, sua mãe, estava sentada com o rosto entre as mãos. Assim que me viu, desatou a chorar. Seus olhos estavam inchados e com olheiras. Nicolas, seu pai, se mantinha sério, com olhar distante. Percebi que se segurava, tentando ser forte, para não afetar ainda mais a esposa.
Caminhei até eles e Charlotte me abraçou, tremendo e soluçando. Nicolas apoiou as mãos em meu ombro, como se tentasse dizer “tente ser forte querida”. E isso só me apavorou ainda mais. Quando me desvencilhei de seu abraço, perguntei muito preocupada:
–O que está acontecendo? Cadê Vicente? Me digam logo! – sei que soou um pouco grosso, mas estava desesperada.
Charlotte nada conseguiu me responder, pois minha pergunta só à fez chorar ainda mais. Nicolas sentou-se e bateu as mãos na cadeira vizinha, para que eu me sentasse a seu lado.
–Olha, está sendo muito difícil pra ela. Pra todos nós, na verdade.
–O que isso quer dizer? – perguntei, com lágrimas já caindo pelos meus olhos.
–Aconteceu algo, e Vicente ficou seriamente ferido. Passou por uma cirurgia, mas os médicos nada puderam fazer por ele.
–Me explique direito! O que está acontecendo aqui? Onde ele está? – perguntei, com a certeza de que algo grave havia acontecido, e que ele tinha receio de me contar.
–Um acidente de trabalho. Ele estava trabalhando em um vitral quando algo deu errado e o vidro explodiu em milhões de pedacinhos. Ele... ele não saiu de perto a tempo. – ele disse, profundamente triste.
–Como assim algo deu errado? Ele está morrendo, é isso?
–Alguns cacos o atingiram. A maioria só causou cortes superficiais, mas os óculos não fizeram seu papel e os olhos dele ficaram gravemente feridos, Lana. Talvez ele fique cego. – assim que ouvi isso, chorei tanto ou até mais que minha sogra. Cego? Por causa de um trabalho que ele só estava fazendo para conseguir um dinheiro extra? Esse nem era o sonho de carreira dele. Não podia acreditar.
Nicolas me amparou e disse num sussurro:
–Ele quer muito falar com você. Vá até o último quarto do corredor.
Fui até o quarto, andando vagarosamente, com medo do que veria. A porta estava entreaberta, e eu a empurrei de leve. Encontrei um Vicente pálido, abatido, encarando fixamente o teto.
–Vicente? – disse sussurrando, com medo de não conseguir enfrentar o que viria a seguir.
–Lana? É você mesmo? Meu Deus, vem aqui.
Andei até a cama e sentei-me lá. O beijei imediatamente, só pra ter certeza de que era sim meu Vince, ele estava vivo. Quando me afastei, olhei em seus olhos. Percebi que me buscava com o olhar, mas que não podia realmente me ver. Procurava desnorteado, sem saber onde me encontrar. Ao mesmo tempo, chorava.
–Calma, calma. Vai ficar tudo bem. – porém, eu dizia isso mais pra mim mesma que pra ele.
–Você precisa encarar a realidade, Lana. Eu vou ficar assim pra sempre. O que eu enxergo, são só vultos irreconhecíveis. Não sei como eu vou viver de agora em diante.
–Vai viver como sempre viveu. Tem que haver alguma saída! Onde estão seus médicos?
–Não existe saída! Fizeram tudo o que podiam, se quiser vá atrás deles. Mas só vai ouvir o que eu já te disse! – e então eu não consegui mais parecer forte e esperançosa. Deitei em seu peito e chorei como nunca antes havia feito.
Quão patética eu pude ser? O único que tinha o direito de desabar daquela forma era ele. No entanto, ele levou as mãos até meu cabelo e tentou me acalmar.
–Eu vou entender. Você não tem obrigação de carregar esse fardo. Vai encontrar alguém melhor, alguém que possa te ver de fato. – no mesmo momento me levantei, surtada.
–Acha mesmo que vou te abandonar por isso?! Eu te amo, e não me importa se você for mudo, surdo ou cego, porque eu te amo Vicente!
–Você diz isso agora, mas não vai ser fácil! Você não vai ser feliz comigo Lana! Nunca vou poder fazer com que as coisas sejam boas e fáceis, minha realidade agora vai ser outra! – ele exclamou, visivelmente abalado.
–Nossa realidade. Vai ser nossa, não sua. Eu quero estar com você, e não admito que você duvide dos meus sentimentos. Vamos superar isso juntos, e se não for possível, vamos viver essa nova realidade juntos também. Eu não vou te abandonar agora. Nem nunca.
Flashback off
Depois desse dia, tudo tomou outro rumo. Havia vezes em que eu quase enlouquecia, olhando seus olhos, antes brilhantes e cor de mel, e agora sem rumo, sem foco. Eu quis desistir, mesmo o amando. Só que mesmo nessa situação, eu era feliz. Eu sou feliz ao lado dele. Admito que tudo mudou completamente, e que não, ele não voltou a enxergar, como num milagre. Mas ele continuou sendo meu Vince, meu amor de adolescente, meu amor de jovem, meu amor da vida inteira. Dificuldades não faltaram. Desespero, tanto da minha parte como da dele. Desilusão. Fraquejamos muitas vezes e quase desistimos muitas outras, mas no fim acabamos vivendo essa nova realidade. Minha doce e feliz realidade, mesmo que um pouco diferente. Porém só minha e dele.
Posso dizer pra qualquer um que me perguntar que o amor é cego, literalmente. E que eu adorei viver esse amor cego e surpreendente.


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Notas finais do capítulo

Muito abrigada a todos que leram O amor é cego. Espero que o fim da história de Lana tenha agradado vocês. Beijos e até a próxima, talvez.



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