Geralmente quando uma pessoa normal se depara com um animal assassino gigante, o pensamento mais óbvio seria fugir. Já que, no nosso caso, não somos exatamente "normais", ficamos parados observando a bocarra escancarada do leão, cujo rugido lançava um hálito fétido em nossos rostos.

A semelhança dessa ilha com a conhecida Little Garden ficava cada vez mais evidente, agora com o ataque do felino. Se um gigante aparecesse nos convidando para um churrasco eu não estranharia.

Bem, qualquer fosse o nome desta ilha, ainda estávamos sob ameaça. Como era de se esperar, o cavalheiro idiota já começou a encenação de heroísmo para a Robin.

- Não se preocupe minha donzela. Como eu prometi, não deixarei que lhe arranhe um fio de cabelo sequer...

Com uma bufada eu poupei meus ouvidos da ladainha e parti para cima da fera. Com um simples Itoryuu, eu desferi um golpe sobre o estômago, atingindo em cheio o órgão vital e derrubando algumas toneladas de animal no chão. Os olhos apagados demonstravam que teríamos um bom estoque de carne de leão.

Isso não durou mais que alguns segundos, tempo que o Sanji levou para terminar o discurso e dar meia volta. Me senti incrível ao ver sua expressão de ''vou matar a fera pela Robin'' mudar para ''porque diabos o monstro está morto?!'' Ele me encarou de olhos arregalados enquanto eu passei por ele para me encostar em uma árvore.

- Seu bastardo... eu é que iria matar o leão para proteger a Robin-chan!

- Heh... não me lembro de ver seu nome escrito nele, cozinheiro idiota - respondi - não vá se exaltar.

- Quem você acha que é pra falar assim de mim na frente da minha donzela?!

- Também não me lembro do seu nome escrito nela.

Assim que me dei conta do que disse fiquei meio envergonhado. Devo ter dado a entender que não queria que Robin fosse ''posse'' dele.

- E eu também não me lembro de pertencer a alguém - disse a arqueóloga calmamente.

- Mas Robin-chabn...! - Sanji choramingou.

- Yohohoho, acalmem-se! Pelo menos temos uma bela quantidade de carne fresca para comer! - disse Brook animado - se bem que eu não tenho estômago... Yohohohoho!

- Isso mesmo Brook - concordei - Agora, porque você não faz algo de útil e prepara a comida, cozinheiro?

- Ora seu...!!

Parece que esta ilha não gosta muito de discussões. Novamente nossa briga foi interrompida por um rugido. Parecia com o da última vez, tirando o fato que estava bem mais intenso, como se multiplicado por dez. Conforme as ondas sonoras faziam seu caminho pela floresta até nossos ouvidos, pude sentir as folhas, as árvores e até mesmo o chão vibrar. Depois de longos segundos, a fonte emissora do barulho silenciou-se, mas o próprio vagou pela mata até enfraquecer, ricocheteado nos corpos presentes.

No tempo quieto que se seguiu, nós meio que prevemos o que aconteceria a seguir. E não era preciso nenhum vidente para dizer que nossa última caça não vivia sozinha, e que seus companheiros estavam vindo atrás do desaparecido.

Em volta de toda a clareira as árvores e plantas balançaram, balançaram, balançaram até cair, abrindo lugar a um bando de leões, tão grandes e furiosos quando o último, mas dessa vez com uma aura assassina e vingativa.

- Hunf, parece que hoje minhas katanas vão ter trabalho - eu disse com um sorriso.

- Nem vem, seu caso perdido, dessa vez eu cuido deles - Sanji se sobrepôs, tomando a dianteira.

- Heh?? Agora tenho que dividir a caçada com você?? Era só o que me faltava! - retruquei.

Robin pigarreou.

- Rapazes, agora não é um bom momento.

Um dos leões rosnou, como se dizendo ''podem se enrolar, nós não ligamos de esperar o almoço.''

- Yohohoho, a Robin-san está certa - concordou o esqueleto - vamos ter problemas se não nos decidirmos.

Sem mais hesitar, avancei contra o felino mais próximo, puxando a espada. Um golpe rápido no pescoço levou ao chão a enorme criatura.

Talvez não tenha sido uma ação bem pensada. Foi mais como um tiro de largada. Os outros leões, ao verem o companheiro imóvel aos seus pés, se revoltaram e partiram para cima das presas. Ou seja, tínhamos cerca de dez carnívoros famintos e raivosos vindo em nossa direção, e não era para receber cafunés.

Antes que qualquer de nós conseguisse atacar, o grito de Robin soou estridente.

- CORRAM!

Não entendi a necessidade de fuga, afinal já havíamos lutado contra monstros muito mais aterrorizantes, mas antes que eu pudesse sequer argumentar, uma mão que veio do nada me puxou na direção oposta a dos leões. Comecei a correr, notando que Brook e Sanji se encontravam na mesma situação que a minha. Adiante, liderando a missão, ia Robin, avançando rapidamente.

Ao ponto que a alcançamos, consegui me aproximar e perguntar:

- Porque estamos fugindo?! Damos conta deles!

- Não dão não! - respondeu - com a velocidade e agilidade do movimento deles, vamos nos ferir.

Arrisquei uma rápida espiada para trás e percebi que a arqueóloga tinha razão. As feras corriam a uma velocidade impressionante para seu tamanho grotesco, e mesmo esbarrando entre árvores e si mesmas, estavam chegando perto. 

Uma sombra cobriu-nos quando um dos felinos saltou, as presas brilhando na bocarra aberta, prontas para saciar a fome do dono. Rápido como uma flecha, o cozinheiro voou com o geppou até ficar a altura do leão, para em seguida desferir um chute direto no focinho, lançando-o de cara no chão.

Me enganei quando achei que nossos perseguidores parariam a corrida para socorrer o amigo ferido. Hesitaram por meio segundo, tempo suficiente para analisar o estado do companheiro e concluir que ele não estava em más condições. Logo, saltaram por cima do parceiro caído e continuaram a rota, cada vez mais próximos de mim e do grupo.

- Não vai demorar para os outros seguirem o exemplo  e darem o bote também - falou Sanji - precisamos fazer alguma coisa!

- Vejam lá na frente - apontou Brook - parece que as árvores se abrem um pouco em duas direções!

- É verdade! - concordei - podemos nos separar!

- No momento essa parece a melhor solução - decidiu Robin, se aproximando mais da direita, e consequentemente, de mim - Sanji, Brook, você seguem pela esquerda e tentam achar uma estratégia para se esconder ou derrotar os leões. Zoro, vamos pela direita!

- Robin-chaaan, não vou abandona-la!! - o retardado fez menção de atravessar o caminha para vir mais próximo a ela.

- Não há tempo, siga pelo caminho mais perto de você! - respondeu a mulher, determinada.

- Zoro-san, você sabe qual é a direita, não é? - o músico perguntou por preocupação, mas não pude deixar de sentir um pouco de vergonha por não saber qual é a direita ou a esquerda.

- Apenas me siga, Zoro - Robin olhou de esguelha para mim, mas pude ver a determinação em seus olhos.

Mais alguns passos e nos aproximamos da encruzilhada. Os leões estavam tão próximos que pude sentir as gotículas de saliva que escapavam das bocas escancaradas. Dali a alguns segundos, eles teriam de optar por continuar juntos atras de apenas uma dupla, ou se dividir e continuar a perseguir ambos os pares. 

- Boa sorte Robin-chan!! Ei seu marimo, se ela se ferir a culpa será sua, aí você vai ver! - Sanji se despediu de um modo simpático que dava até inveja.

- Acha que eu sou idiota a esse ponto, sr. hemorragia nasal??

- Ficaremos bem - respondeu Robin séria - nos encontramos depois!

- Yohohohoho, será que se eu cantar uma música os leões irão dormir? - Brook perguntou.

- Não seja idiota - retrucou Sanji - é claro que...

A voz dos dois foi sumindo ao momento que tomaram seu caminho e sumiram de vista. Como esperado (eu acho), o grupo de leões se dividiu em dois, cada um seguindo uma direção. Agora tínhamos cerca de quatro ou cinco feras atras de nós, um número que achei razoável.

- Ei Robin, acho que damos conta desses agora, né? 

- Acho que sim. Precisamos tomar uma boa posição.

- Fique tranquila. Apenas me de cobertura que eu faço o serviço - disse com um sorriso enquanto puxei uma espada da bainha.

- Mas eles são muito rápidos, vão superar a sua guarda! - ela reclamou.

- Se isso acontecer você consegue afasta-los de mim. Fique em um canto seguro sem participar da batalha, foi isso o que prometi ao cozinheiro idiota.

Dando-me por vencido, parei de correr e fiquei de frente com os adversários. Realmente, sua velocidade era impressionante, por isso peguei mais uma espada e fiquei em posição. Olhei rapidamente para minha parceira, que estava logo atrás com uma expressão irritada, como se dissesse "homens...", mas determinada a cooperar e me auxiliar em caso de necessidade.

Aconteceu em poucos segundos. A alcateia saltou em conjunto para cima de mim, bloqueando toda a luz. Vi bocas repletas de dentes pontiagudos e pares de olhos sedentos de vingança prontos para me devorar. Fechei os olhos, fiz um movimento circular com as espadas e, ao tornar a abri-los, encontrei-me cercado de três carcaças de leão inconscientes. Mal pude sentir alívio quando ouvi o aviso de Robin:

- Zoro, atrás de você!!

Assim que me virei, encontrei mais um dos felinos fazendo seu caminho no ar até mim. Eu teria me ferido caso o adversário não tivesse sido impedido por duas mãos gigantes, que o seguraram tempo suficiente para eu focar no monstro e dar o ataque. As mãos sumiram. O leão sentiu o gosto da vitória por um milésimo de segundo antes de ser atingido por minha espada e cair desmaiado.

Virei-me para cumprimentar e agradecer à amiga pela ajuda, mas logo que meus olhos encontraram os seus, xinguei-me mentalmente por ser tão descuidado e desatento. Minha matemática era boa a ponto de saber que, dos cinco animais que estavam nos perseguindo, apenas quatro se encontravam vencidos. Então, onde estava o quinto?

No pior lugar possível, é claro. Estava apenas aguardando o momento certo para o ataque, e este chagara. Robin acenava feliz e tranquila, aprovando o trabalho em equipe, sem ter ideia da ameaça iminente logo atras dela, que investia em sua direção, sem ninguém para impedi-la de acertar o alvo.