Amiga Morte escrita por Quézia Martins


Capítulo 5
Suposta Morte


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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...

—O celular dela só cai na caixa postal. Onde será que aquela garota se meteu? - Clara perguntou andando de um lado para o outro impaciente.

— Não importa. Todos aqui já estão com fome. Ela já deveria ter chegado.

— Só passou uma hora. - Clara disse tentando convencer a si mesma que aquele atraso era real.

— Amor... Você já tentou ligar para o telefone fixo dela?

— Não Ryan. Ainda não.

— Tente. Se ela não atender, venha comer.

— Ok. - ela discou o número da casa de Babi e sua mãe atendeu.

— Alô?

— Babi?

— Não. A mãe dela, quem é?

— Dona Sandra, é a Clara. Eu tinha marcado um jantar com amigos aqui em casa, e até agora ela não apareceu. A Babi nunca se atrasa para compromissos. Estou preocupada. Ela está aí?

— Ela saiu no início da tarde. Disse que já voltava e até agora não chegou.

— Ela não disse onde ia?

— Não. Ai Deus! - Sandra disse se apavorando. - Agora estou tão preocupada quanto você. Eu sei que ela não está bem... Ela está tentando se segurar, mas eu conheço minha filha como ninguém. Tenho medo.

— Medo do quê, senhora Espinosa?

— De que ela se mate para se livrar da dor.

— Dona Sandra. Estamos falando da Babi, sua filha. Aquela menina super de bem com a vida e que transmite alegria pelos poros. Lembrou?

— Ela era assim. Mas, as coisas mudaram. - Sandra falou com certa tristeza na voz.

— Eu vi ela ontem. Ela está bem. Perfeita.

— Por fora.

— Como assim?

— Ela descobriu que está com câncer. - Sandra contou.

— Do que a senhora está falando? A Babi fez os exames todos ontem. Ela me disse que estava tudo em ordem.

— Acho que ela queria te poupar disso. - especulou. - Ela me contou hoje.

— É muito grave? - perguntou agoniada.

— Infelizmente. Já está em estágio terminal. Não há mais nada que possamos fazer.

— Quer dizer que minha melhor amiga vai morrer? - perguntou gritando do outro lado.

— Acredite, ninguém mais do que eu gostaria de responder que não à essa pergunta..

— Por que ela não me contou? Precisamos achá-la.

— Fique calma. Procure se manter relaxada. - Comandou Sandra.

— Ok. Vou terminar o jantar aqui e depois estarei aí na casa da senhora.

— Até mais querida - e Sandra desligou.

***

— Eu preciso ir! - Babi disse se levantando

— Tem noção do que está fazendo comigo? - Octávio perguntou segurando-a pelo braço.

— O que?

— Você está me deixando confuso!

— Costumo fazer isso - disse zombeteira.

— Você disse algo profundo, mexeu com meus sentimentos. Daí mudou de assunto como se não tivesse dito. Mas, você disse Babi. Não vai sair daqui enquanto não esclarecer.

— Eu preciso ir! Já disse... Conversamos melhor depois. Vamos nos ver bastante né... Podemos até dizer que você vai monitorar meu progresso rumo a morte. - ironizou.

— Não brinca com isso! - ele pediu com tristeza no olhar.

— Tchau Octávio.

— Bárbara, espere... - ela parou e virou-se.

— Seja rápido.

— Fica aqui... Comigo. Essa noite? - ele pediu baixo, se aproximando.

— Eu preciso ir.

— Vai sair assim?

E ela saiu apenas dando de ombros. Era impossível o que sentia. Perguntou-se o que mudou. Ela podia realmente estar sentindo algo por ele? Não havia como ela comparar o sentimento, o formigamento, a inquietação com relacionamentos passados, pois nunca tinha tido um. O que ela sabia era que essa vontade de sair correndo dele, de ficar longe, mas ao mesmo tempo uma necessidade absurda da presença dele o do bem que fazia... Ela estava confusa.

— Bárbara?! - de longe podia-se reconhecer essa voz. Era Clara. - Onde você estava? - nesse momento, Octávio saiu na porta no mesmo momento que Sandra.

— Filha onde se meteu? - Sandra respondeu abraçando e apertando Babi.

— Eu estava com Octávio. Na casa dele. Fui pegar meu celular e começamos a conversar e conversar, nem vi a hora passar.

— Babi - Clara a abraçou forte.

— Ei gente! Eu estou bem. Aliás, esqueci do jantar na sua casa, perdão por isso.

— Entrem! - Sandra quase ordenou.

— Você vai ficar bem Babi? - Octávio perguntou não deixando de assistir à cena.

— Com certeza não melhor que você. Mas, eu vou sim. - ela respondeu secamente.

— Está bem, cuide-se. - ele disse num murmúrio baixo.

Elas entraram.

— Sua paquera? Já estava na hora! - Sandra e Clara brincaram.

— Ele é meu médico. Não confundam! - e Babi se retirou para o quarto. Clara a seguiu. Fechou a porta atrás de si assim que entrou.

— Por que não me contou? - Bárbara estava na sacada (que ela prefere chamar de varanda). Clara estava parada atrás dela, com os braços cruzados sobre os seios.

— Contou sobre o que? – Babi perguntou de volta, indiferente. Sabia que sua mãe já havia aberto a boca e contado.

— Que você não está bem? Que está morrendo?

— Eu ia te contar. Só não sabia como... E ainda não descobri. - um momento de silêncio – Foi minha mãe quem te contou né?

— Sim.

— Ela não tinha o direito de te dizer nada

— Ela estava preocupada contigo! Nós estávamos. Você nunca se atrasa e sempre atende ao celular. Você sumiu. – ela acusou.

— Não sumo. Não sou a Lua.

— Lua?

— Esquece - respondeu dando de ombros. Recordou que não havia falado sobre ela para ninguém.

— Como você está, Babi?

— Morrendo né.

— Por favor, não brinca com isso. Não tem graça. Você não vai morrer. Tenho certeza que não.

— Não pode garantir isso! - respondeu esbaforida.

— Não pode simplesmente fingir que se importa com a sua vida? Por que não luta?! Caramba! Viver assim... – ela gesticulou procurando palavras certas. – é muito egoísmo Bárbara. – Clara saiu irritada batendo a porta com raiva.

Bárbara queria alguém para conversar. Deitou na cama e pensou em Lua. Pela primeira vez sabia estar ciente de que estava pensando nela. Mas, Lua não apareceu. Babi fechou os olhos para poder visualizar melhor as lembranças que tinha, mas nada. Nenhum ruído.

"Ela disse que apareceria sempre que eu pensasse nela." Babi recordou pegando no sono logo após esse pensamento.

***

Já era dia quando acordou. Ela sabia disso pois não fechara a janela e o sol invadia seu quarto. O reflexo doía quando tocava em sua pele. Hoje Babi tinha planos. Babi precisava ser otimista. Não ser otimista do tipo "Creio em milagre”, ela nunca foi desse tipo. Mas, ser otimista a ponto de conseguir ver o lado bom das coisas ruins. Otimista do tipo que não vê as coisas ruins, mas que procura somente ser grata por cada pequeno acontecimento. Até que a morte viesse enfim levá-la. E ela sabia por onde começar. ligou para Octávio. Secretária Eletrônica. Tudo bem. Tentaria mais tarde outra vez. Ligou para Clara.

— Sim?

— Oi Clara. Tudo bem?

— Sim. E você?

— Também.

— Aconteceu alguma coisa? - perguntou preocupada.

— Você tinha razão. Desculpe-me por ter sido tão fria. Por ter agido como alguém que não se importa.

— Eu sei que é sua maneira de reagir a dor. – respondeu compreensiva.

— Pode me ajudar?

— Com o quê?

— Quero mudar meu visual!

— Está brincando?

— Não. - Babi respondeu tentando passar sua animação para Clara.

— Up! Então me encontra no shopping. Vamos começar pelas roupas.

— Até lá - e Babi desligou. "Dia de compra, uhhul... Era pra soar mais animador" Babi pensou indo pra cozinha um tanto contente.

Sua mãe preparava o café.

— Bom dia filha.

— Ótimo dia! - exclamou feliz pegando um pão de queijo da cesta em cima da mesa.

— Quanta alegria. Perdi algo?

— Não - Babi riu. - Cadê o papai?

— Foi em casa buscar umas roupas para mim.

— A senhora vai ficar aqui?

— Se importa? - perguntou em resposta.

— Não. Claro que não. Fique quanto tempo quiser! – respondeu depositando um beijo no rosto de sua mãe.

— Onde vai filha?

— Ao shopping. Beijinhos. - Babi saiu.

— Shopping? - sua mãe perguntou suspeitando que aquela realmente fosse sua filha.

***

Quando a porta do elevador abriu, Octávio saiu. Bárbara ia entrando, mas retrocedeu quando viu quem era. Sorriu pra ele.

— Oi. – ela cumprimentou.

— Olá. - respondeu confuso. - Você é bipolar também? - ela riu exageradamente alto.

— Tentei te ligar. - disse ignorando a pergunta dele

— Estava no consultório. Estou cobrindo a doutora Cristina e ela só pegava turno da noite.

— Entendo. Já descobriram do que ela morreu?

— Não. Mas, moradores alegam ter visto uma senhora de branco no apartamento dela na noite de sua morte. Agora estão investigando a versão dela ter sido assassinada.

— Assassinada? - Babi cuspiu as palavras entre os dentes. - Senhora de branco?

— Pois é. – ele esperou ela dizer mais alguma coisa, mas ela ficou subitamente quieta. – Você tá livre hoje? - perguntou.

— Almoço?

— Sim.

— Não estou. - ela respondeu.

— Então a gente se vê por aí.

Babi entrou no elevador pensando em como tudo aquilo era bizarro.


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Notas finais do capítulo

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