Amiga Morte escrita por Quézia Martins


Capítulo 13
Qualquer Momento


Notas iniciais do capítulo


Boa leitura!!



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...

Octávio andava de um lado para o outro na sala de espera. Não entendeu porque não o deixaram entrar. Ele fazia parte do corpo daquele hospital. Ele estava muito nervoso, quando sentiu mãos trêmulas e frias em seu braço. Ele virou e viu Sandra parada ali, tão nervosa quanto ele.

— O que aconteceu? Me passaram o recado. A Babi está bem?

— Eu não sei. - ele falou passando a mão no rosto. - Eu realmente não sei.

— Mais o que ela tinha quando veio pra cá? Por que a trouxe?

— Ela teve uma hemorragia. Pelo menos eu acho que foi uma hemorragia. Não a examinei.

— Como isso aconteceu?

— Quando vi ela já estava sangrando. Ficou tão assustada quanto eu.

— Faz tempo que chegaram aqui? - Octávio olhou no relógio de pulso para calcular o tempo.

— Faz pouco mais que uma hora.

Um médico chegou até eles.

— Doutor Octávio, senhora... - o homem cumprimentou

— Doutor Evandro... Como ela está? - Octávio quis saber. O médico examinou uma prancheta, antes de dizer.

— Bom, a situação está delicada.

— O que ela tem? Fale logo, por favor. - Sandra pediu exigente.

— Com o bombardeamento de exames os quais realizamos nela, ficou claro que logo ela não estará entre nós.

— Logo é quanto tempo? - Sandra falou baixo, contendo a vontade chorar. O médico olhou para Octávio que já entendeu tudo.

— Dona Sandra, a senhora pode nos aguardar aqui? Sabe que sou médico e cuidei do caso da Babi por um tempo né? Então, confie em mim e espere aqui. Doutor Evandro vai me passar o diagnóstico completo e depois explico pra senhora.

— Mas ela é a minha filha. Não é justo eu ficar aqui, sem saber nada. - O médico deu um passo a frente e colocou a mão no ombro de Sandra.

— A senhora está autorizada a ir até o quarto de Bárbara. Fica no setor 7, quarto 231. - ele disse entregando um papel com algo inelegível escrito nele. Ela olhou para Octávio e saiu apressada. O médico se virou para encará-lo. - Venha até meu escritório. Lá conversaremos melhor sobre. - Octávio assentiu e o seguiu até o escritório.

Sandra entregou o papel às enfermeiras que rondavam pelos corredores do setor 7 e uma delas, que se identificou por Nádia, deu um par de roupas hospitalares pra Sandra vestir sobre a roupa que usava. Depois acompanhou-a até quarto 231.

Sandra entrou e foi deixada sozinha pela enfermeira prestativa. Olhou para Babi. A pele quase transparente, deixava as veias visíveis. Os olhos fundos, meio pretos ao redor. Podia-se contar os ossos e desenhar cada um apenas olhando para Babi. Um tubo entrava no nariz da mesma e havia vários aparelhos conectados ao coração de sua filha. Pelos televisores das máquinas de controle de batimentos cardíacos, passavam linhas verdes e vermelhas que subiam e desciam lentamente e num ritmo que não parecia mudar. Ao menos sua filha respirava.

Ela se aproximou e puxou uma cadeira para sentar ao lado da filha. Segurou na mão de Babi quando já estava sentada.

— As coisas complicaram um pouco, né filha? - ela falou passando o polegar sobre a pele flácida de Bárbara. - Mas, tudo passa. - ela suspirou e depois sorriu confiante.

A pior dor, é a da decepção.

— Sente-se. - o médico comandou a Octávio, mostrando a cadeira.

— Não, obrigado.

— Tudo bem. Então tentarei ser breve.

— Posso perguntar algo antes que comece? - Octávio pediu.

— Claro.

— Por que não pude entrar com vocês para examiná-la?

— Não sabe por que ela abandonou o tratamento? - Evandro perguntou de volta.

— Porque ela não queria passar o restante de sua vida sofrendo.

— Foi isso que ela te disse? Por que eu sei de uma versão diferente. Ela veio me pedir para cuidar do caso dela. Eu disse que não podia, por que você estava cuidando desde do início. Foi o seu primeiro caso cancerígeno. E ela se revoltou. Disse que não poderia mais fazer e pediu para que eu cancelasse o tratamento dela. Como médico chefe, eu a fiz assinar um documento, de que não nos encarregávamos por nada. Ela disse que tudo bem. Que se desistir era o único jeito pra ficar com você, era isso que ela faria. - o queixo de Octávio caiu lá embaixo. "Ela desistiu por mim?" pensou ele.

— Então... Ela... Foi por mim? - Octávio tentou dizer expressando o que se passava em sua cabeça.

— Sim. E agora o coração dela pode parar a qualquer momento. Não podia estar lá com ela. Você não podia a examinar porque você a ama. E se você é a causa dela estar tão perto da morte, ela poderia ser a causa da sua desgraça também. Como médico. Você entende, Octávio? - mas Octávio não estava mais ouvindo . Parou de raciocinar no momento que escutou "E agora o coração dela pode parar a qualquer momento." Ele engoliu seco e sentiu lágrimas nascerem nos seus olhos.

— Como assim a qualquer momento? - ele falou quase sem palavras.

Sandra chorava segurando a mão de Babi. Logo sentiu um leve aperto. Olhou para sua filha que se esforçava pra abrir os olhos.

— Filha... Oi amor. Você está bem? - Babi piscou lentamente recuperando a consciência.

— Caneta... Papel.. - Babi disse num sussurro.

— Claro filha. - Sandra respondeu fuçando a bolsa funda. - Tome.

— Estou morrendo, mãe... - Babi falou devolvendo a folha e caneta pra mãe. - Eu sinto. - ela falou. Sandra olhou confusa para o papel. - Escreve pra mim?

— Sim...- Sandra falou com a voz embargada. - Escrevo, meu bem.

— Citarei pra senhora...

— Mas Babi... Você não vai... - Babi tossiu.

— Vou mãe. Eu sei que vou.

Octávio saiu do consultório sem rumo. Ela estava morrendo. O que podia fazer? Aceitar era tudo que podia fazer e tudo que não queria fazer. Tinha apenas 6 meses desde que ela descobrira a doença, o prognóstico era de pelo menos um ano de vida e fazia apenas 6 meses. Pensou novamente nas palavras do médico “a qualquer momento” e então ele se deu conta de como isso é evasivo. Êfemero. Qualquer momento dói. Qualquer momento muda tudo. Qualquer momento... Era isso. A vida dela dependia de um momento. De um momento qualquer.

 


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