No dia seguinte, a enfermeira me acordou e já foi me ajudando e me sentar na cadeira de rodas, eu olhei pros lados e não vi meu irmão, talvez ele tivesse isso para casa depois que eu dormi, mas não tinha problema.
A enfermeira me levou até o mesmo lugar de antes e eu fiquei esperando o cara que ia me dar as injeções.
Ele não demorou a aparecer, o mesmo cara de antes, ele se sentou em uma cadeira que tinha do meu lado, pegou a bandeja onde estavam as seringas e as cordinhas de silicone. Ele pegou uma corda de silicone e amarrou no meu braço.
_ As regras são as mesmas. Ele disse. _ Pronta?
_ Sim. Ele injetou a agulha no meu braço.
Bom, a dor continuava terrível, mas eu espero que com o tempo eu me acostume com isso.
Eu acabei dormindo depois da quarta dose, fazer quimioterapia é muito doloroso e cansativo, por isso você acaba dormindo, o que pode ser bom, pois o sono age como um anestésico, as vezes você está tão desgastado que nem sente a agulha entrar em você.
Depois de mais um dia de agulhadas, a enfermeira veio me buscar.
Eu estava meio acordada e meio dormindo na hora em que ela veio me buscar, eu vi meu irmão na porta do meu quarto na hora que a enfermeira entrou comigo, mas ele estava conversando com outra pessoa, eu não consegui ver quem era.
A enfermeira me ajudou a deitar na cama, alguns minutos depois meu irmão entrou, eu estava quase dormindo.
_ Eu tenho uma visita para você, eu sei que é um horário inapropriado mas você pode gostar. Ele disse, mas eu já estava quase dormindo, eu só ouvi uma última coisa.
_ Olá Holly. E então eu apaguei.
No dia seguinte, eu acordei bem tarde novamente, ainda estava me sentindo mal, eu acordei vomitando novamente, por sorte minha o balde estava perto, porque o Steven não estava lá.
Eu tenho vagas lembranças da noite anterior, eu só me lembro que eu tinha visita, bom só me resta o Steven me dizer quem era, ainda bem que não podem me culpar por ter dormido.
Eu já estava acordada a algum tempo quando o Steven chegou.
_ Oi, eu queria me desculpar por ontem, você teve que passar por tudo sozinha de novo, como você está? Ele peguntou entrando, mas deixou a porta aberta.
_ Extremamente horrível, mas não mais que ontem, quem tinha vindo aqui. Eu perguntei.
_ Pergunta errada, você quis dizer quem está aqui, espera aí. Ele disse e saiu do quarto.
Em seguida ele entrou novamente mas dessa vez acompanhado.
_ Olá de novo Holly.
_ Christopher?! O que você faz aqui?
Christopher era um 'amigo' com que eu namorei antes de me mudar, nós terminamos e depois voltamos a ser amigos, ele tinha terminado comigo porque o nosso namoro estava sem graça, nós já não víamos sentido em continuar juntos, mas isso não quer dizer que eu tenha parado de gostar dele, e todas as lembranças vieram na minha mente quando eu o vi, e eu sabia o que viria a seguir a lamentação pela minha morte, era o que todos faziam, era como estar em seu próprio funeral, ou pelo menos eu achava que ia ser assim com ele.
_ Bom, eu liguei pro Steven porque eu vi o pai de vocês no outro dia, eu não sabia que ele estava morando com a minha tia, ele me disse pra ligar pro Steven, eu liguei, ele me contou e eu vim te visitar.
Ele era lindo, com cabelos castanhos e olhos azuis, ele e o Steven faziam sucesso com as meninas na minha antiga escola, pela aparência toda mas o que mais chamava atenção eram os olhos, Christopher de olhos azuis e cabelos castanho, e Steven de olhos verdes e loiro, Steven só tem os olhos iguais aos meus que puxou de nossa mãe, o cabelo é do meu pai.
_ É só que ele chegou em uma hora ruim ontem. Disse Steven.
_ Eu sinto muito, é que em dia de quimioterapia eu fico realmente exausta e dolorida, agora eu não estou mais exausta mas ainda sinto dor, o que não nos impede de conversar. Eu disse me sentando na cama.
_ Quem diria que a Holly ia arranjar tanto problema, ela era tão certinha, tão chatinha. Disse meu irmão rindo.
_ E no que isso interfere no fato de eu estar morrendo? Eu perguntei em um tom descontraído mas eu percebi que incomodou meu irmão. _ Desculpa, não é sua culpa e nem de nínguem Steve.
_ Vocês brigam assim o tempo todo? Perguntou Christopher.
_ Não, é só que eu estou um pouco irritada e mal, ah qual é, quem não ficaria mal-humorada na minha situação? Eu disse.
_ Bom, deixa isso para lá, Steven me mostrou o Jeremy, que sorte ele ter te trago pro hospital a tempo. Disse Christopher e eu olhei incrédula pro Steven.
_ Ops! Disse Steven.
_ Eu não acredito que você tem falado com ele, eu te pedi pra deixar ele afastado Steven. Eu disse nervosa.
Uma enfermeira entrou na sala na hora.
_ Quem estiver deixando a paciente irritada tem que sair, ela fez quimioterapia ontem, ela tem que descançar para amanhã, só um dos dois vai ficar aqui. A enfermeira disse.
_ Eu saio. Disse Steven saindo do quarto, logo atrás dele a enfermeira também saiu.
Eu respirei fundo, olhei pro Christopher e sorri.
_ E então, me conta o que houve com esse tal de Jeremy. Ele disse se sentando na beirada da cama.
_ Bom, ele é do meu colégio, mas quando eu estava no meu trabalho de garçonete um dia desses, ele chegou com 2 garotas e mais 2 amigos dele incluindo ele é óbivio, e então as duas meninas armarão para mim, eu perdi o emprego, passei uns dias sem dormir direito e passei o dia todo andando e procurando emprego, eu encontrei ele eu acho que foi duas vezes no meio desse tempo, eu cortei ele logo de cara na primeira, mas na segunda eu desabafei e chorei e abracei ele, você nem imagina como me arrependo disso, e então depois disso eu arrumei um emprego, quando voltei para casa briguei com meu irmão, ele me empurrou, eu bati a cabeça e fiquei inconsciente, o médico tinha dito que eu não tive nada sério mas que eu devia ficar internada, o Steven conseguiu que eu ficasse de repouso em casa, mas na segunda-feira eu fui pro trabalho, depois do trabalho, eu encontrei com o Jeremy de novo, concordei em falar com ele, mas então meu nariz começou a sangrar, eu desmaiei e ele me trouxe pro hospital. Eu disse dando uma pausa.
_ Terminou?
_ Não. Eu disse. _ Depois que a gente descobriu que eu tinha leucemia, ele disse que iria ficar ao meu lado, a única razão que eu tinha para fazer o tratamento era poder cuidar do meu irmão, eu conversei com meu pai e ele resolveu arrumar um emprego, disse que ia morar na casa de uma mulher e que nos mandaria o dinheiro que fosse necessário, e então eu estava pensando em deixar a doença me levar, mas então o Jeremy disse que estava apaixonado por mim, e me beijou e disse que esse era o motivo para que eu continuasse, só que ele não estava preparado pra isso, na primeira quimio ele parecia pior do que eu, eu falei que ia ficar tudo bem e que era para ele esperar do lado de fora, eu fiquei o dia todo fazendo o tratamento, e você nem imagina o quanto é doloroso, quando eu saí eu pedi pra enfermeira não deixar que ninguém se aproximasse ou ficasse comigo durante a noite e ele não gostou, ele precisava entender, eu preciso de alguém forte para passar por isso comigo, a quimio não é nem de perto a pior coisa, e eu não posso me preocupar com nós dois, então na manhã seguinte eu mandei ele ir embora, ele não pode me ajudar, ele não é forte o bastante, ele ia desistir, eu não quero alguém que vá me deixar na mão no pior momento. Eu terminei de contar já quase sem fôlego.
_ Nossa, isso é uma história e tanto. Ele disse. _ Eu te entendo.
_ Você sabe o que meu irmão tem falado com ele? Eu perguntei.
_ Bom, ele estava falando pro Jeremy esperar, porque você ama ele. Ele disse meio hesitante.
_ Mas o quê?!
_ Calma, daqui a pouco vão me expulsar também. Ele disse sorrindo. _ Não me impressiona ele ter se apaixonado por você, a musa dos cabelos ruivos e olhos cor de esmeralda.
Ele disse e eu fiquei olhando para ele estupefata, e então ele percebeu o que acabou de dizer.
_ Ah, desculpa, eu só disse que entendo, eu fui seu namorado, mas também sou seu amigo, eu tenho que ser sincero. Ele disse rindo.
_ A questão é que eu não quero que ele espere, eu gosto dele, mas não estou querendo arrumar um compromisso pra mim daqui sei lá quanto tempo e se é que eu vou viver até lá, e eu não quero namorar com ele, digamos que eu consiga melhorar, depois vai ficar estranho, eu vi uma frase assim em alguma série eu acho: " distância nem sempre é bom, o vento apaga uma vela mas atiça uma fogueira", eu não acho que o que eu sinto por ele seja uma fogueira. Eu disse.
_ Boa frase, mas, você nem sentiu falta dele?  Christopher me perguntou.
_ Não, e eu nem tenho tempo para isso, seria muita injustiça comigo mesma se eu der atenção a ele agora, eu preciso melhorar, eu preciso não estar morrendo para pensar em relacionamentos, eu não posso planejar um futuro se eu nem sei se vou ter um. Eu disse.
_ Mas não é melhor você viver a sua vida ao máximo enquanto ainda tem ela? Ele perguntou.
_ Eu vou fazer isso, mas sem iludir nem machucar e nem enganar ninguém, eu não posso dizer que eu estou deveras apaixonada por ele se eu não estou. Eu disse.
_ Aí está, Holly a menina mais bonita, gentil, leal, corajosa e destruidora de corações desse país. Ele disse.
_ Awn, mas eu não sou leal e nem gentil, eu sou uma fingidora, sou uma atriz convicta. Eu disse rindo.
_ Mas você é linda, você parece a sua mãe, eu lembro de quando a gente era pequeno e ficava todo mundo correndo pela casa, ela era tão legal. Ele disse.
_ É, ela era, as vezes eu gosto de parecer com a minha mãe, mas as vezes não, toda vez que eu me olho no espelho acabo lembrando dela, você acha que eu deveria pintar meu cabelo e cortá-lo? Eu perguntei.
_ Não, não mesmo, se você fizer isso não é o câncer que vai te matar, eu vou, seu cabelo é uma das coisas que te deixam charmosa, quem consegue resistir a uma ruivinha como você? E esses olhos são insanos de tão lindos, ele não são aquele verde normal, eles são de um verde forte e escuro, eles são lindos.
Eu gostei de escutar aquilo, nós paramos de falar e ele ficou me olhando, depois ele desviou o olhar e se sentou em uma poltrona que tinha também perto da cama.
_ Eu acho que a gente deveria só conversar hoje, o que você acha, aí você fica com as energias renovadas para amanhã. Ele disse.
_ Tá. Eu respondi.
_ Só mais uma coisa, eu vou ir com você amanhã na quimioterapia, nem adianta protestar. Ele disse.
_ Mas você tem que me prometer uma coisa. Eu disse.
_ O que você quiser. Ele disse.
_ Você tem que prometer que não vai se apaixonar por mim durante o tratamento, eu vou ficar frágil, você não pode usar isso contra mim, seja meu amigo, só isso, porque eu não preciso de mais problemas. Eu disse.
_ Ok. Ele disse. _ Mas você partiu meu coração.
Ele completou rindo, eu revirei os olhos.
Durante todo o dia nós nos divertimos muito, mas a enfermeira logo apareceu para arrumar meus travesseiros.
_ Ela tem que dormir agora, amanhã vai ser a última quimio da semana e a mais pesada, nós vamos começar mais cedo, depois você vai fazer uns exames, para termos certeza que você pode sair depois de amanhã. Ela disse e depois saiu do quarto.
_ Bom, é melhor você descansar, eu vou estar aqui de manhã bem cedo e vou te acompanhar. Disse Christopher.
_ Obrigada, mas não se sinta na obrigação de vir, eu já passei por isso duas vezes sozinha, estou me acostumando. Eu disse me ajeitando na cama para dormir.
_ Eu não me sinto obrigado, eu quero fazer isso, até amanhã. Ele deu um beijo na minha testa e saiu.
Eu estava um pouco cansada então não demorei a dormir.