Antes De Morrer escrita por Alan


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra esse domingo chato (que eu odeio)



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- É verdade? – pergunta Sam enquanto andamos até o ponto de ônibus. – Você gosta de estar doente?
- Às vezes.
- Foi por isso que você pulou n’água?
Paro e olho para ele, para seus olhos azul-claros. São salpicados de cinza, como os meus. 
Há fotos dele e minhas na mesma idade, e não existe uma única diferença entre nós.
- Eu pulei porque fiz uma lista de coisas a fazer. Hoje tenho que dizer sim pra tudo.
Ele pensa um pouco, leva alguns segundos para entender o que aquilo significa, e então dá um grande sorriso.
- Então você tem que dizer sim pra tudo que eu pedir?
- Isso mesmo.
Pegamos o primeiro ônibus que aparece. Vamos nos sentar no andar de cima, atrás.
- Tá bom – sussurra Sam. – Mostra a língua praquele homem.
Ele adora quando obedeço.
- Agora mostra o dedo praquela mulher na calçada, depois sopra beijos praqueles meninos.
- Seria mais engraçado se você fizesse comigo.
Fazemos caretas, acenamos para todo mundo, dizemos meleca, bunda e pinto o mais alto que conseguimos. Quando fazemos sinal para descer do ônibus, estamos sozinhos no andar de cima. Todo mundo nos odeia, mas não estamos nem aí.
- Pra onde a gente vai? – pergunta Sam.
- Fazer compras.
- Você está com seu cartão de crédito? Pode comprar coisas pra mim?
- Sim.
Primeiro compramos um helicóptero movido a controle remoto. O brinquedo pode decolar já estando suspenso no ar e é capaz de subir até dez metros de altura. Sam joga a caixa fora no cesto de lixo ao lado da loja e faz o helicóptero ir voando na nossa frente pela rua.
Seguimos atrás dele, encantados com suas luzes multicoloridas.
Depois compro para Sam um cofrinho falante em forma de robô. Depois uma calça jeans para mim. Sam compra um jogo de PlayStation. Eu compro uma camisa. É de seda, verde-esmeralda e preto, e é a coisa mais cara que já comprei na vida. Pisco para mim mesma no espelho, deixo minha roupa molhada na cabine e torno a sair para encontrar Sam.
- Maneiro. – diz ele quando me vê. – Sobrou dinheiro pra um relógio digital?
Compro um despertador para ele também, de tipo que projeta a hora em três dimensões no teto do quarto. Depois compro botas. De couro, com zíper e saltos baixos. E uma sacola da mesma loja para levar todas as nossas coisas.
Depois de uma visita à loja de mágica, precisamos comprar uma mala de rodinhas para carregar a sacola. Sam sai arrastando a mala alegremente, mas ocorre-me que, se comprarmos mais alguma coisa, seremos obrigados a comprar um carro para carregar a mala. Um caminhão para carregar o carro. Um navio para levar o caminhão. Compraremos um porto, um oceano, um continente.
A dor de cabeça começou no McDonald’s. É como se alguém de repente tivesse me escalpelado com uma colher e começado a cavoucar meu cérebro. Fico tonto e enjoado enquanto o mundo vai fazendo pressão para dentro. Tomo um comprimido de paracetamol, mas sei que isso só fará disfarçar a dor.
- Você está bem? – pergunta Sam.
- Estou.
Ele sabe que é mentira. Está repleto de comida e satisfeito como um rei, mas seus olhos estão amedrontados.
- Quero ir pra casa.
Sou obrigado a dizer sim. Ambos fingimos que não é por minha causa. Fico em pé na calçada e o vejo chamar um táxi, segurando-me na parede para me equilibrar. Não vou terminar esse dia com uma transfusão. Não vou tolerar aquelas agulhas obscenas dentro de mim hoje.
No táxi, a mão de Cal é pequena, reconfortante e cabe direitinho dentro da minha. Tento saborear esse instante. Não é sempre que ele se oferece para segurar a minha mão.
- A gente vai levar bronca? – pergunta ele.
- O que eles podem fazer?
Ele ri.
- Então a gente pode ter outro dia assim?
- Claro.
- Da próxima vez, vamos patinar no gelo?
- Tá bom.
Ele continua falando sobre rafting em corredeiras, diz que gostaria de montar a cavalo, que não iria achar nada mal experimentar bungee jump. Fico olhando pela janela, com a cabeça latejando. A luz ricocheteia nas paredes e nos rostos e dispara na minha direção com força, muito perto. Parece uma centena de fogueiras acesas.


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Notas finais do capítulo

alguém aqui odeia final de semana também?