Antes De Morrer escrita por Alan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que vocês gostem da história :3



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Eu queria ter um namorado. Queria que ele morasse dentro do armário pendurado em um cabide. Sempre que me desse vontade, eu poderia tirar ele lá de dentro, e ele me olharia que nem os meninos fazem nos filmes, como se eu fosse lindo. Não diria muita coisa, mas estaria ofegante enquanto tirasse a jaqueta de couro e desafivelasse o cinto da calça jeans. Estaria usando uma cueca branca, e seria tão gato que quase me faria desmaiar. Tiraria minha roupa também. Sussurraria: “Kurt, eu te amo. Porra, como eu te amo. Você é lindo” – exatamente essas palavras –, enquanto me despisse.
Acordo e acendo o abajur da cabeceira. Tenho uma caneta, mas não há papel, então escrevo na parede atrás de mim: Quero sentir o peso de um menino em cima de mim. Depois torno a me deitar e olho para o céu lá fora. Está de uma cor engraçada – ao mesmo tempo vermelho e quase preto, como se o dia estivesse se esvaindo em sangue. Sinto cheiro de lingüiça. Tem sempre lingüiça nas noites de sábado. Vai ter também purê de batatas, repolho e molho de cebola. Papai estará com o bilhete da loteria na mão, e Sam
terá escolhido os números. Eles ficarão sentados em frente à TV jantando em bandejas apoiadas no colo. Assistirão a um show de calouros e a um game televisivo. Depois disso, Sam irá tomar banho e se deitar, e papai ficará bebendo cerveja e fumando até a hora de dormir. Mais cedo, ele subiu para me ver. Foi até a janela e abriu as cortinas.
- Olha só! – disse, quando a luz inundou o quarto. Ali estava a tarde, a copa das árvores, o céu. Sua silhueta se destacava na janela, com as mãos nos quadris. Ele parecia um Power Ranger.
- Se você não falar nada, como é que eu vou te ajudar? – perguntou, e se aproximou para se sentar na beirada da minha cama. Prendi a respiração. Quando você prende por muito tempo, luzinhas brancas dançam na frente dos seus olhos. Ele estendeu a mão e afagou minha cabeça, massageando meu couro cabeludo de leve com os dedos.
- Respira, Kurt. – sussurrou.
Em vez disso, peguei meu chapéu na mesinha de cabeceira e enfiei na cabeça até cobrir os olhos. Aí ele foi embora. Agora estava lá embaixo fritando lingüiça. Posso ouvir a gordura estalando, o molho borbulhando na panela. Não tenho certeza se deveria conseguir ouvi isso tudo do andar de cima, mas nada mais me surpreende. Agora posso ouvir Sam abrindo o fecho ecler do casaco ao chegar em casa depois de ter saído para comprar mostarda. Dez minutos atrás, papai deu a ele uma nota de uma libra e disse:
- Não converse com ninguém esquisito. – Enquanto Sam estava na rua, papai foi fumar um cigarro no degrau dos fundos. Pude ouvir o sussurro das folhas caindo na grama a seu pés. A invasão do outono.
- Pendura o casaco e vai ver se o Kurt quer alguma coisa – diz papai. – Tem bastante amora. Tenta fazer ele se interessar.
Sam está de tênis; o ar dentro das solas se comprime enquanto ele sobe a escada pulando e entra pela porta do meu quarto. Finjo estar dormindo, mas isso não o detém. Ele se inclina na minha direção e sussurra:
- Estou pouco ligando se você nunca mais vai falar comigo. – Abro um olho e vejo outros dois, azuis. – Sabia que você estava fingindo – diz ele, com um largo e lindo sorriso. 
- Papai perguntou se você quer amora.
- Não.
- O que é que eu digo pra ele?
- Diz pra ele que eu quero um filhote de elefante.
Ele ri.
- Vou sentir saudade de você – diz, e me deixa sozinho com a porta aberta e a corrente de ar soprando da escada.


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Notas finais do capítulo

Sim, coloquei Sam como irmão do Kurt :3