O término do intervalo finalmente foi anunciado pelo estridente barulho do sinal. Os garotos deveriam voltar aos seus dormitórios para se organizarem para as seguintes aulas. Helen estava sentada na escrivaninha, mexendo em seu laptop, quando a porta se abriu rapidamente.

— Ei, onde você estava? Achei que não iria demorar muito — Perguntou Helen, fechando o laptop rosa e colocando-o dentro da gaveta.

— Eu estava na biblioteca, mas um garoto apareceu lá e puxou conversa comigo. Um tal de Todd Langdon. Sabe alguma coisa sobre ele? — Respondeu Lily, curiosa.

— Tá falando daquele cara alto da nossa turma? Acho que tenho ele no Facebook, mas nunca nos falamos. — Disse Helen, sentando-se no pufe branco perto da janela.

— Ele tem namorada? Só por curiosidade mesmo — Perguntou Lily, fingindo não estar interessada.

— Ele vivia de rolo com a Giorgia Hudson, mas acho que o gato está sortindo agora. Tá afim dele? Pode me contar, se quiser. — Instigou Helen.

— Claro que não ué, nem tive um diálogo decente com o cara ainda. Aliás, a gente vai se atrasar para a aula de filosofia — Respondeu Lily, colocando o livro da matéria entre os braços.

Diferente da senhora Wayne, o professor de filosofia era um homem interessante, pelo menos do ponto de vista acadêmico. Seu currículo era um dos melhores entre os professores da região, possuía doutorado concluído na Suécia e tudo o mais. Robert Tyson era um professor talentoso e um tanto quanto caloroso, os alunos se sentiram muito bem em sua presença. Depois de uma breve apresentação, dividiu a extensa turma de 42 alunos em duplas. Lily sentou-se na última fileira da sala. Sua mão sentiu o toque de uma pele fria e logo depois uma voz se manifestou.

— Posso sentar aqui? — Perguntou Todd, que havia chegado atrasado na aula.

— Pode. Espero que você entenda algo de filosofia porque eu estou completamente perdida — Confessou Lily.

— Mito da caverna? Não é tão difícil assim. — Disse Todd ao olhar para a folha de atividades.

— Você parece ser inteligente. Filosofia não é mesmo a minha praia — Disse Lily, tirando a mecha de cabelos dos olhos.

— Meus pais nunca saíam comigo para lugar nenhum, ficávamos sempre em casa. Então minha única opção era ler os livros do escritório do meu pai, pode-se dizer que ele era um grande amante da filosofia — Explicou Todd, meio frustrado.

De repente, o professor Robert anunciou que faltavam apenas dez minutos para o fim da aula e que todos deveriam filosofar acerca de alguma coisa relacionada com o seu próprio cotidiano e escrever um relatório sobre o assunto. Os alunos ficaram pensativos por um instante, tentando imaginar sobre o que falariam em seus trabalhos e o silêncio mais uma vez foi quebrado pelo sinal.

— Qual é a próxima aula? — Perguntou Helen, que surgiu das cinzas, ao lado de Lily.

— Química. Que saco. — Respondeu a garota, levantando-se da mesa.

— Ah, oi Todd. — Cumprimentou Helen, acenando de leve.

— Oi. Você é a Helen, não é? — Disse Todd, tentando ser educado.

— É, eu te tenho no Face, mas nunca nos falamos — Disse Helen.

— Não acesso meu perfil com muita frequência. Não gosto muito de redes sociais. — Revelou Todd, arrumando seus livros sobre a mesa.

— Saquei, você é um cara discreto e tal — Disse Helen, arrumando a mochila no ombro.

— Mais ou menos isso. Então, tchau garotas. — Despediu-se Todd, parecendo um pouco exausto. E então saiu pela porta da sala.

Helen ajeitou o cabelo, e perguntou como quem não quer nada.

— E aí, tá rolando alguma coisa entre vocês?

— Não, óbvio que não. Só estávamos fazendo o trabalho de filosofia juntos — Garantiu Lily, meio sem graça.

— Que estranho ele querer sentar logo com você na aula, não acha? — Disse Helen, com um sorrisinho cínico.

— Não tinha mais nenhum lugar sobrando, só isso. Aliás, ao invés de estar bancando o cupido, você deveria estar me ajudando a sair desse lugar — Lembrou Lily, tentando fugir do assunto.

— Eu já te disse que não vai ser fácil e nós teríamos que desligar todas as câmeras do colégio para não sermos pegas. Isso até soa meio "missão impossível", mas a encrenca que podemos nos meter não vai ser nada fictícia — Respondeu Helen.

— Tá, que seja. Vamos para o jardim? Preciso respirar ar fresco. Esse cheiro de pintura velha está me dando nos nervos — Sugeriu Lily, guardando o resto do material na bolsa.

— Certo, vamos ao jardim então. — Concordou Helen, indo em direção à porta.

As duas saíram da sala e chegaram até ao enorme jardim principal, que ocupava uma grande parte do terreno do colégio. Havia poucas pessoas no local, algumas garotas deitavam-se na grama e liam algum livro para relaxar. O céu estava quase sempre nublado, então pegar sol não fazia muito parte da rotina das garotas do internato St. Louis. Ao lado de uma árvore meio torta, um casal de namorados estava na maior pegação, algo que era extremamente proibido, mas continuavam com o rala e rola mesmo assim. Uma garota ruiva, com uma expressão inocente e de altura mediana acenou para Helen e Lily e disse:

— Oi, sou a Susan. Nós somos da mesma turma.

— Ah, oi. Eu sou a Helen e essa é Lily — Apresentou-se Helen, apertando a mão de Susan, que era macia como veludo.

— O que estão achando do colégio? — Perguntou Susan, colocando um maço de cigarro na boca.

— Não sabia que era permitido fumar aqui — Disse Lily, com um tom de surpresa.

— E não é. As regras nunca foram um problema para mim, de qualquer forma. — Disse Susan ao acender o cigarro.

— Você não parece ter muito medo de ser pega com um cigarro em um colégio extremamente rigoroso e severo. Já sou sua fã. — Declarou Helen, tentando não parecer sarcástica. 

— Garotas, por que não sentamos no banco e conversamos um pouco? Acho que temos muitas coisas para compartilhar — Disse Susan, apontando para um banco de madeira que ficava atrás da videira.

Então as jovens caminharam até o banco e conversaram sobre diversos assuntos, na maioria deles intrigantes sobre a vida de cada uma. Talvez estar em um internato não fosse tão ruim o quanto parecia.