Quem É Você? escrita por Amanda Cunha


Capítulo 12
Decisões Decisivas e Surpresas Surpreendentes




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Eu entrei na sala de visitas mais uma vez.

E encontrei aquela cara inteligente emoldurada por cachos castanhos.

E o queixo pontudo do meu advogado, Liam Fletcher.

Por Merlin, quem tipo de advogado se chamava Liam Fletcher? Esse nome estava mais para um cantor de banda de pop, ou algo assim.

Mesmo assim, eu tinha sido obrigado a contar toda a minha história para ele, no último mês.

Obrigado por uma ruiva que não fazia noção do que eu era capaz de fazer por ela.

Ela não aparecia fazia um mês.

Um mês!

Desde aquele dia...

Porém, sua promessa estava grudada nos olhos da Granger.

– Bom dia, Draco. – ela me cumprimentou, esticando a mão para mim.

– Bom dia, Granger. – eu forcei o Granger, para que ela soubesse que não queria intimidades.

Sei lá. Era a melhor amiga do amor da minha vida, mas eu sabia o quanto eu era irresistível.

Por isso, só a tratava como Hermione quando o Weasley estava lá. Para deixa-lo irritado.

– Senhor Malfoy. – Liam disse, e apertamos as mãos.

– Senhor Fletcher. – eu respondia. Três vezes na semana.

Sempre a mesma coisa.

Todos sentados, Liam começou a tirar papéis intermináveis da pasta.

– Espero que, depois de contar toda a minha vida, eu não vá precisar contar sobre minhas noites íntimas ou algo assim... – brinquei.

Granger me lançou o olhar mais mortal do mundo.

Mas que pena... É só uma expressão.

Às vezes, gostaria que fosse real.

Um mês! E ela não voltara!

– Não vai ser preciso, senhor Malfoy. – Liam me garantiu.

Eu suspirei, aliviado.

– Na verdade, eu adoraria contar. – eu disse.

Então, ambos ficaram sem palavras.

Ok. Agora poderíamos começar.

– Temos ótimas notícias. – Granger disse. – O julgamento foi marcado.

Eu arqueei uma sobrancelha:

– Foi?

– Você já esperava por isso, não é?

– Na verdade... Eu achei que nunca seria. – disse, sinceramente.

– Por quê? – ela perguntou.

– Achei que Comensais jamais saíam de Azkaban... A não ser por fuga.

– A sua história não é a de um Comensal comum, senhor Malfoy. – Liam afirmou. – Nós temos evidências e testemunhas o suficiente para que o senhor seja inocentado.

– Vocês são todos loucos. – eu disse. Mas não ia me alterar dessa vez.

Eu já tinha tentado. Mas eles continuavam acreditando em mim.

Molly continuava a levar doces...

Ainda assim, há um mês Gina não aparecia...

– Bom... – Liam continuou. – Com o julgamento marcado, precisamos começar a trabalhar no seu depoimento.

– Eu não sou bom de falar em público.

– Eu realmente duvido disso, Malfoy. – Granger falou.

– Como se você já tivesse visto...

– Bem, eu já vi. – ela disse. – E mesmo que não tivesse, você não tem outra alternativa, tem?

– Permanecer preso. O que acha?

Ela revirou os olhos e me fitou, impaciente.

– É só dar a última palavra e nós desistimos agora mesmo.

Mas eu tinha prometido...

Tinha prometido ao amor da minha vida, que não aparecia há um mês!

Então, coçando o queixo para analisar o quanto a minha barba já tinha crescido – eu sei, isso não tem nada a ver com nada. Eu só queria ganhar tempo. – Finalmente disse:

– Tudo bem. Podemos começar.

E mais uma sessão em que eu falava e falava e falava com algumas interrupções e orientações se passou.

E eu só conseguia pensar...

Um mês!

~~~###~~~

No dia do julgamento, um acontecimento inédito aconteceu pela primeira vez.

Até porque é isso que acontecimentos inéditos fazem: acontecem pela primeira vez!

Granger apareceu com uma roupa minha nas mãos!

Uma roupa minha! Realmente minha!

– Isso é para você ficar bonito. – ela disse.

– Obrigado. – eu disse, analisando as roupas que ela trouxera. – Mas não preciso disso para ficar bonito.

– Ah, é? – ela brincou e tirou o cabide do meu alcance. – Acho que você pode ir vestindo esses trapos aí mesmo... Ok, ok, pode ficar.

Ela acrescentou diante do meu olhar em fúria.

Há.

Eu era um mestre em manipulações.

Só de tocar em minhas maravilhosas roupas, já me sentia bem melhor.

Estava louco para vesti-las.

– Será que eu não tenho direito a um hotel cinco estrelas hoje? – perguntei. – Eu poderia pagar, claro.

– Infelizmente não. Você vai ter que se contentar com o chuveiro daqui mesmo.

Fiz uma careta. Banheiro sujo.

De que adiantava?

Mas, pelo menos... Eu a veria hoje.

Ela estaria no meu julgamento, não?

Eu esperava que sim...

Apesar de que, eu sabia que não ficaria com ela quando saísse.

Se é que eu ia sair dali.

Tive uma hora para me arrumar. E mais uma hora para sair de Azkaban.

Para isso, eu era vendado e guiado pelos carcereiros por um longo caminho.

Depois, pegávamos um bote por quase mais uma hora, e chegávamos algum lugar – que eu não sabia qual era, já que estava vendado.

Apenas tiravam aquele negócio horrível de mim quando já estávamos em Londres.

Eu estava no carro policial, algemado.

Pronto para o meu julgamento.

E eu jamais pensei que estaria numa situação dessas...

O julgamento aconteceria no Ministério da Magia.

O Supremo Tribunal Mágico ficava no décimo andar.

Quando chegamos, fiquei dentro de uma sala isolada, esperando que começasse.

Um tempo antes do início, Liam apareceu com um café.

– Ah, pelo menos um café, eles me oferecem. – comentei, bebendo todo o conteúdo em três goles.

– Está nervoso? – ele me perguntou.

– É isso que você pergunta para todos os seus clientes?

– É sim. – ele admitiu.

– E o que eles dizem?

– Geralmente, que sim.

– Hum. – comentei. – E você ainda espera outro tipo de resposta?

Ele apenas meneou a cabeça.

– Um dia, quem sabe, uma resposta diferente pode aparecer.

Mas não dessa vez.

Eu estava nervoso.

Não pelo Tribunal.

Não pelo julgamento.

Não pela decisão da minha possível liberdade.

Estava nervoso por causa de Gina Weasley.

Aquela mulher que decidira não sair de dentro de mim desde o dia em que me conhecera.

Eu nunca achei que seria suscetível a esse tipo de sentimento.

Mas, obviamente, eu estava enganado.

– Os senhores podem entrar, por favor. – uma senhora baixinha e gordinha veio nos chamar.

Eu e Liam apertamos as mãos.

Depois, entramos no Tribunal.

A primeira coisa que fiz foi procurar por ela. Mas havia muitas cabeças na plateia... Muitas mais cabeças do que eu poderia imaginar...

Fui guiado até uma cadeira especial, no centro da sala. Ainda procurava por sua cabeça vermelha, mas...

Droga. Será que ela não estava...?

Então vi a Granger. E o Weasley. E Molly Weasley!

Ela devia estar ali, mas...

Assim que me sentei, meus pulsos se colaram aos braços da cadeira por meio de espécies de algema.

Ouvi batidas do martelo, indicando que todos se levantassem.

E então fiquei pensando na contradição daquilo.

Eu estava preso à poltrona, como poderia levantar?

Os juízes começaram a entrar.

Eram cinco cabeças. Três mulheres e dois homens. Todos idosos, excetos por uma das mulheres – que nem devia ter chegado aos quarenta.

Assim que todos se sentaram, à minha frente, e à frente da plateia, uma voz ressoou pelo salão.

Essa voz não vinha de ninguém.

Pelos menos, de ninguém presente.

– Damos início ao julgamento do Senhor Draco Lucius Malfoy, acusado por ser um Comensal da Morte, aliado de Voldemort, por diversos homicídios, uso das Maldições Cruciatus, Imperius e Avada Kedavra.

Ouvir isso foi estranho para mim.

Eu estava preso esse tempo todo, mas... Nunca tinha sido julgado dessa maneira.

Saber que todos sabiam dos meus atos era... Estranho.

Me fazia sentir... Uma espécie de vergonha.

Era bom que a Gina não estivesse ali, ouvindo tudo isso...

Outra martelada e a voz invisível se fez ouvir novamente.

– O promotor Delário Rufus, por favor, pode fazer a sua acusação.

O promotor Delário Rufus era um cara alto e magro, de pernas finíssimas e olhos azuis.

– Bom dia a todos. – ele começou, após uma série de cumprimentos específicos ao júri. – Eu gostaria de começar expondo, aqui, os imensos motivos que fazem do senhor Draco Lucius Malfoy culpado.

Primeiramente, como já foi citado, ele atuou como Comensal da Morte. As provas disso estão no seu próprio corpo, marcado pelo símbolo dos Comensais. – erguendo a varinha, o promotor fez imagens do meu braço e a Marca Negra aparecerem no ar. – Como todo Comensal, Draco Lucius Malfoy obedecia a Voldemort, inclusive, era na sua própria casa, na Mansão Malfoy, que Voldemort e muitos Comensais se “hospedaram” e realizaram muitos de seus crimes. Como exemplos de maior importância em sua vida, Draco Malfoy tinha os pais: Lúcio e Narcisa Malfoy. Ambos também Comensais e acusados de seus incontáveis crimes. Acusados e julgados culpados, eu gostaria de acrescentar, meritíssimos.

Por todos esses crimes, senhores, eu não vejo outra possibilidade senão o julgamento do Senhor Draco Lucius Malfoy como culpado e condenado à prisão perpétua em Azkaban.

Ele era bom. Pensei.

Era realmente bom. E tinha toda a razão!

1 X 0 para o Delário Rufus.

– O defensor Liam Fletcher, por favor, pode começar a sua defesa.

Liam se ergueu e fez os mesmo cumprimentos que o Rufus fez, anteriormente.

Nossa, aquilo ia demorar.

– Eu afirmo, meritíssimos, que, apesar de todos os crimes do Senhor Draco Lucius Malfoy, ele mostrou arrependimento e atuou em favor dos Aurores e do Ministério ainda durante o período da Grande Guerra. Temos evidências e testemunhos para provar essa afirmação. Declaro, ainda, que foi pelo seu arrependimento e ações que Voldemort e seus seguidores foram derrotados, na Última Batalha. Obrigado.

Liam também era bom.

Eu só não sei se suficientemente bom para neutralizar meus crimes.

Ainda assim... 1 X 1.

– Que entre a primeira testemunha de acusação: o senhor George Henderson.

Era um senhor muito idoso e barbudo, que mal andava direito, pois tinha as pernas quase apenas osso, e ainda um pouco tortas. Eu não sei dizer exatamente, mas tinha a sensação de conhecê-lo...

A mesma senhora baixinha e gordinha que chamou a mim e a Liam, apareceu para ajuda-lo a caminhar, vagarosamente, até a sua cadeira de testemunha.

Assim que conseguiram, comecei a me dar conta...

Eu conhecia aquele senhor. Ele era um Trouxa! E tinha visto o neto ser torturado pela Cruciatus, no dia da Iniciação do Hurtley.

A senhora gordinha entregou ao senhor Henderson um vidrinho e o fez beber o líquido todo.

Veritasserum.

– Senhor George Henderson, - a voz invisível começou. – o senhor jura dizer toda a verdade?

– Sim. – ele disse.

– O Promotor pode começar. – a voz invisível anunciou.

Delário Rufus ficou de pé.

E eu soube que estava perdido.

– Bom dia, senhor Henderson. – ele disse e o velho mal se moveu. – O senhor está sentindo dores?

O velho mexeu a cabeça, positivamente.

– Consegue falar? – o promotor continuou e Henderson murmurou um fraco “sim”. – Onde o senhor sente dor?

– No corpo todo, senhor. Nos ossos.

– E qual é o motivo de toda essa dor?

– Ele. – o senhor Henderson disse, apontando para mim. – Pessoas como ele. Comensais.

Rufus suspirou, satisfeito.

– Poderia nos contar o que aconteceu, senhor Henderson?

– Há dez anos, o meu neto mais novo brincava na vila onde eu morava. Ele jogava bola com outras crianças, pela rua mesmo, senhor. Era seguro. Eles adoravam...

Enquanto o velhinho falava, eu apenas lembrava a imagem do pobre menino. Devia ter... A idade da Leah?

– Eu estava com os pés pro alto, descansando do trabalho, quando ouvi meu neto chamar. – os olhos do senhor Henderson escureceram. – Havia homens altos, encapuzados, segurando meu neto pelo pé...

O velho começou a chorar.

– Senhor Henderson? O senhor consegue continuar? – Rufus perguntou.

Eu sabia o que viria a seguir.

Eu lembrava.

– Eles conversavam coisas que eu não entendia... Nos chamavam de trouxas... – ele conseguiu dizer. – Meu neto gritava por mim, mas eles o enfeitiçaram.

– O senhor saber que feitiço era aquele?

– Era... Horrível. – o senhor Henderson abaixou a cabeça, sem conseguir falar.

– O feitiço que atingiu o neto do senhor Henderson, senhores, era a Maldição Cruciatus, uma das três Maldições Imperdoáveis, que causa espasmos de dor física e psicológica. – Rufus disse. – O que aconteceu depois, senhor Henderson.

– Eu tentei ajudar, mas um deles me atingiu também. Fiquei com os ossos doloridos desde então e... O meu neto... Eles o mataram. Sem motivo...

O senhor Henderson abaixou a cabeça.

Nós fazíamos isso em todas as Iniciações. Torturar e matar.

– Concluo minhas perguntas, meritíssimos. – Rufus disse e se sentou.

2 X 1 para o Rufus.

– O advogado de defesa gostaria de fazer perguntas? – a voz invisível perguntou.

– Sim, por favor. – Liam se ergueu. – Bom dia, senhor Henderson. O senhor poderia me dizer se lembra da presença deste homem – ele apontou para mim – no dia desse horrível fato?

O senhor Henderson me olhou por alguns instantes.

– Não tenho certeza... Eles estavam encapuzados.

– Foi ele, senhor Henderson, que torturou e matou o seu neto?

– Não. – o velho afirmou. – Desse assassino eu me lembro bem. Não era este aí.

– Obrigado, senhor Henderson. Meritíssimos, estou satisfeito. – ele concluiu, se dirigindo aos juízes.

A grande pergunta era: e se a Iniciação fosse minha? Será que eu teria torturado e assassinado aquela criança?

Como eu poderia afirmar que não?

– Que entre a segunda testemunha: a Senhora Minerva McGonagall, diretora da Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts.

McGonagall não tinha mudado nada. Continuava a mesma senhora magrela com coque apertado e nariz pontudo.

Após beber o Veritasserum e fazer o mesmo juramento, a voz anunciou:

– O advogado de defesa pode começar.

Liam começou, sem hesitação.

– Bom dia, professora McGonagall. Eu sou o Liam Fletcher, o defensor de Draco Malfoy.

– Bom dia, senhor Fletcher.

– A senhora é, atualmente, a diretora da Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, certo?

– Certo.

– E atuou como professora por quantos anos?

– Estou completando 58 anos como professora em Hogwarts, senhor Fletcher.

Por Merlin. 58 anos de trabalho? Eu não gostaria de trabalhar nem um dia...

– E você gosta de trabalhar lá?

McGonagall fechou os olhos por um momento, e os reabriu. Estava emocionada.

– Posso afirmar que Hogwarts é a minha vida, senhor Fletcher.

Liam assentiu.

– Pode nos relatar, por favor, os acontecimentos da semana de 1999, no período da Grande Guerra, a semana da Última Batalha?

– Claro. Estávamos em Guerra, como todos sabem. – ela começou. – Hogwarts, meus senhores, é um lugar muito seguro e nossos alunos permaneciam lá, a não ser que os pais se opusessem. Nesta época, nada mudou. Continuamos as aulas, porém com mais atividades físicas e aulas de defesa pessoal. Não queríamos gerar pânico nas crianças, então nossas atividades eram normais, exceto por não mantermos as idas a Hogsmeade e aumentarmos a segurança.

McGonagall deu uma olhada para Liam.

– Pode continuar, por favor. – ele disse.

– A semana da Última Batalha não foi diferente. Apesar dos ataques constantes nas cidades próximas, não imaginávamos que Voldemort pretendesse atacar Hogwarts. Harry Potter não estava lá. Foi, por isso, uma grande surpresa para mim quando Draco Malfoy apareceu. – ela me olhou. – Eu nunca tive a oportunidade de agradecer aos seus feitos, senhor Malfoy. Mas acredito, com convicção, de que suas informações naquele dia salvaram Hogwarts e a humanidade bruxa e trouxa.

Liam sorriu.

– Que ações foram essas, professora McGonagall?

– Ele nos revelou sobre os planos de Voldemort de invasão. Nos contou com detalhes o que enfrentaríamos, quantos Comensais e outros seres mágicos enfeitiçados. Revelou como pretendiam realizar a invasão, como se organizariam. Foi então que entrei imediatamente em contato com os Aurores da Ordem da Fênix e conseguimos nos estruturar para que a batalha fosse, graças a Merlin, controlada. – após uma pausa, McGonagall se dirigiu aos juízes. – Por isso, meritíssimos, eu afirmo aos senhores que as ações do senhor Malfoy foram a nossa salvação naquele dia, e provavelmente, dos dias que ainda virão.

Um pontinho de luz se acendeu em meu peito naquele momento. Eu tinha mesmo feito isso.

Eu tinha salvado Hogwarts, a minha escola. E muitas pessoas.

Eu tinha ajudado ao Aurores, revelando a eles minhas informações.

Eu tinha agido de acordo com que eu mais queria.

E o que eu queria era algo bom.

Olhei novamente para a plateia, a procura da Gina.

Como eu gostaria que ela estivesse lá, ouvindo isso... Como eu gostaria de saber a sua reação!

– O Promotor gostaria de fazer perguntas à testemunha? – a voz perguntou.

– Não, obrigado. – Rufus respondeu.

Não estava lá muito feliz.

2 x 2.

– Obrigada pelo seu testemunho, professora McGonagall. Por favor, que entre a terceira testemunha: Virginia Weasley.

Muita gente descreve a sensação da surpresa como algo paralisante. “Perda da respiração” e “o coração parou” são expressões muito utilizadas.

Mas, realmente, eu não sei por quê!

Eu quase pulei em cima dela e, se não fossem pelas algemas que prendiam meus braços na cadeira, eu juro que teria feito.

Gina entrou na sala e foi guiada até a cadeira de testemunha.

Enquanto isso, eu não sabia se me sentia angustiado – porque ela ia depor – ou aliviado.

Ela estava ali.

Por Merlin, ela não tinha sumido... Ela não tinha ido embora...

Não tinha me abandonado.

Gina estava ali.

Após beber o Veritasserum, a voz invisível perguntou:

– Virginia Weasley, promete dizer a verdade e somente a verdade?

– Eu prometo.

Ouvir a voz dela fez todos os meus sentidos voltarem a agir.

– O advogado de defesa pode começar.

– Bom dia, senhorita Weasley.

– Bom dia. – ela respondeu.

– A senhorita pode me contar, por favor, qual era a sua relação com Harry Potter, o menino que sobreviveu?

Eu não estava acreditando... Que tipo de pergunta é essa?!

– Claro. Eu estudei em Hogwarts desde pequena, na turma seguinte ao do Harry Potter. Meu irmão, Rony Weasley, era o melhor amigo dele. A partir do meu quinto ano, nós, eu e Harry, começamos a namorar.

– E esse namoro durou quanto tempo?

– Até a morte dele. – ela disse. – Foram dois anos de namoro, senhor Fletcher.

– Eu suponho que tenha sido uma perda muito difícil, senhorita Gina.

– Sim, foi sim. – ela murmurou. – Eu não perdi apenas o Harry na Grande Guerra. Perdi também o meu pai, Arthur Weasley, e meus irmãos Fred, Percy e Gui Weasley. Perdi outros amigos também...

– Entendo. – Liam disse.

Mas eu não estava entendendo nada... O que eles estavam fazendo? Será que finalmente tinham se dado conta de que eu devia voltar para Azkaban?

Mas Liam não podia fazer isso! Ele era o meu advogado! Precisava me defender!

– E a sua cegueira, senhorita Weasley? Como aconteceu?

Gina inspirou fundo:

– Também foi na Última Batalha, senhor Fletcher. Eu estava duelando com um Comensal e ele me atingiu com um feitiço.

– E a senhorita não culpa o senhor Draco Malfoy por tudo isso?

– Não. - Gina inspirou fundo e apertou uma mãos na outra - Também conheci o senhor Malfoy desde pequena, em Hogwarts. Nunca fomos próximos. Mas não posso culpa-lo por nada que tenha acontecido neste dia. Pelo contrário, eu acredito que ele tenha me salvado.

O quê?

– Poderia nos explicar essa sua posição, senhorita? – Liam pediu.

– Se não fosse pelas informações de Draco Malfoy naquele dia, senhor Fletcher, todos nós estaríamos mortos hoje. Aquele Comensal que lutou comigo na Última Batalha matava a todos com quem duelava. Comigo não ia ser diferente. Quando eu o encontrei, eu soube que morreria. Mas estávamos todos lá para isso, não é verdade?

– Sim, é verdade. – Liam disse.

– Porém, estávamos preparados pelo aviso de Draco Malfoy. Foi assim que Harry Potter voltou para Hogwarts. Foi assim que ele e Voldemort se encontraram em Batalha. E o único motivo de eu estar viva hoje foi a derrota de Voldemort. – Gina fez uma pausa e então continuou. – Eu não sei se todos sabem, mas os Comensais perdem a sua energia e motivação com a morte de Voldemort. O Comensal que duelava comigo chegou a lançar o Avada Kedavra no último instante, mas a morte de Voldemort chegou primeiro... Então, desnorteado, ele errou o feitiço, que atingiu em cheio uma pedra. Essa pedra se quebrou em muitos pedaços que foram lançados em muitas direções. Eu fui atingida por esses pedaços.

– E foi assim que a senhorita ficou cega. – Liam concluiu.

– Sim. Foi por isso que hoje estou cega, mas viva. Se não fosse por Draco Malfoy, eu provavelmente não estaria viva...

Gina nunca tinha me contado isso. Ela nunca disse que pensava assim...

Mas ela também não sabia! Como poderia dizer?

Faz um mês que ela sabe! Poderia sim dizer alguma coisa!

– Obrigada pelo seu depoimento, senhorita Weasley. – Liam disse e voltou para o seu lugar.

3 X 2 para o Liam.

– O promotor gostaria de fazer perguntas? – a voz invisível perguntou.

– Sim, eu gostaria. – Rufus ficou de pé. – Bom dia, senhorita Weasley.

– Bom dia, promotor.

Gina parecia segura demais. Mas eu não estava... Se o Rufus queria fazer perguntas, é porque devia ter alguma ideia.

– A senhorita poderia me dizer que tipo de relação mantém, ou já manteve, com o senhor Draco Malfoy?

Então ele sabia. Ou devia ter percebido.

Gina inspirou fundo:

– Nós fomos namorados. – ela disse.

– Por quanto tempo?

– Um pouco mais de um ano.

– Com essa afirmação, meritíssimos, concluo que o depoimento dessa testemunha é muito tendencioso, e peço que seja anulado.

Burburinhos começaram a surgir na plateia e, após conversarem, os juízes chegaram a sua decisão:

– O depoimento da senhorita Virginia Weasley é anulado.

Ok. Pelo jeito, o placar aqui poderia voltar... 2 X 2. Empate.

– A senhorita Virginia Weasley está dispensada. – a voz declarou e quando Gina se levantou para sair, eu quis que tudo acabasse logo.

Queria sair dali e ir falar com ela.

Dizer que não importava se eu ia ficar em Azkaban ou não, mas que tudo o que ela dissera tinha me mostrado que eu não era tão ruim assim...

E que eu a amava. Ainda. E muito.

A senhora baixinha e gordinha veio até mim com um vidrinho de Veritasserum.

Era a minha vez de falar.

Após tomar o conteúdo, horrivelmente ácido, me senti bastante tranquilo.

– Draco Malfoy, o senhor jura dizer a verdade, apenas a verdade?

Eu sempre quis experimentar Veritasserum. Pensava em tentar mentir, sabendo que seria impossível. Apenas para ver qual seria a sensação.

Não.

E senti a garganta fechar.

E a cabeça doer. E foi ficando cada vez mais quente, e mais quente...

Ok. Já sabia qual era a sensação. Agora tudo o que eu queria era acabar com ela.

– Juro. – afirmei.

E voltei imediatamente à tranquilidade de antes.

Liam tinha me explicado que eu deveria contar a minha história. De novo.

Então, comecei relatando a vida isolada da Mansão Malfoy. Eu vivia com os empregados, minha mãe aparecia de vez em quando para verificar minha educação e dar algum sermão em alguma criada. Meu pai só vinha nos fins de semana e só falava comigo para dar ordens ou quando queria exaltar minhas qualidades para seus amigos ricos.

Íamos a muitos eventos. Que eu odiava.

A vida em Hogwarts facilitou um pouco as coisas. Eu finalmente estava fora da Mansão para fazer o que quisesse. Eu poderia tratar os outros como eu bem entendia, poderia dar ordens também. Não precisava obedecer aos meus pais ali.

Ainda assim, eu não fiz amigos realmente. E nem queria, para ser sincero. Qual era a graça de ter amigos?

Aos quinze anos, fui convocado por Voldemort. Deveria participar de reuniões e ações obscuras, para depois ser iniciado.

Tudo acontecia na Mansão Malfoy. E sempre que eu voltava de Hogwarts, presenciava as coisas mais temerosas do mundo.

Eu não queria. Eu era obrigado. Mas, de alguma forma, eu também acreditava que viria a ter poder caso me tornasse um Comensal.

Mas as coisas não aconteceram assim. Eu tive que fazer a minha Iniciação e participar de momentos de tortura e assassinato. Eu tentava fugir ao máximo disso, passava mal, era chamado de inútil pelo meu pai. Mas era preferível desmaiar à cometer qualquer uma daquelas atrocidades.

Então, a prova de fogo veio quando Voldemort me incumbiu de assassinar Dumbledore. E, como vocês sabem, também não tive sucesso nisso.

Porém, a tentativa fechou o resto do mundo para mim. Eu teria que viver com os Comensais, e apenas com eles.

Então me tranquei em meu quarto na Mansão Malfoy e fingi fidelidades, mas inutilidade também.

“Draco Malfoy é um fraco, mas ele paga as contas”.

“Draco Malfoy é um covarde, mas a Mansão é dele”.

Com o início da Grande Guerra, tudo piorou.

Eram ataques diários e fora da Mansão. Os Comensais se dividiam para cometer torturas e assassinatos por aí.

Eu sempre ia junto, obrigado pelo meu pai. Mas ficava apenas na parte das estratégias, no que eu era bom, e no que não me importava. Desde que não tivesse que tocar em crianças indefesas...

Um dia, ouvi boatos de que Harry Potter estava encontrando formas de vencer Voldemort. Ouvi falar que estava à procura de objetos por aí, objetos esses que continham a vida dele. Não, os Comensais não sabiam das Horcruxes. Acredito que nem Voldemort confiasse em seres como nós.

Então, quando a invasão de Hogwarts foi marcada – e eu era o estrategista-chave – decidi que aquela poderia ser a minha chance de liberdade.

Se Voldemort ganhasse a Guerra, eu teria que viver comandando para sempre.

Se ele perdesse, eu teria alguma liberdade. Eu era rico. Fugiria, nem que fosse para outro planeta!

Então, após todo o plano acertado, arranjei um jeito de entrar em Hogwarts e falar com a McGonagall e outros Aurores.

Depois, aconteceu o que vocês já sabem.

Após o meu depoimento, Liam me olhou com certa confiança.

Eu acabara de contar uma vida de crimes e interesse, e ele me olhava como se fosse ganhar aquele caso?

Loucos. Todos loucos.

Pelo menos... Bom, pelo menos eu sabia que tinha feito boas escolhas.

E Gina também sabia.

Fui levado de volta para a sala ao lado e fiquei lá, enquanto os juízes decidiam o que fazer com a minha vida.

“Não são eles que devem decidir se você vai sair ou não.” Granger tinha dito. “É você que deve decidir se quer. E o que vai fazer com a sua vida depois também só diz respeito a você, Malfoy”.

Pela primeira vez, eu ia admitir que a namoradinho do Weasley e amiguinha do Potter era realmente inteligente.

Por isso, ao voltar para o Tribunal, não olhei para mais ninguém.

Não importava se as pessoas ainda estavam ali...

Não importava se a Gina estava ali.

O júri já tinha a sua decisão. E eu já tinha a minha.

Todos estavam de pé, exceto eu.

A juíza mais velha segurou um documento nas mãos e o leu:

– A partir das declarações ocorridas durante este julgamento, os juízes do Tribunal Mágico consideram Draco Lucius Malfoy inocente.


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Notas finais do capítulo

Gente, a fic está acabando!! Faltam poucos capítulos para o fim, até porque a partir da semana que vem, volto a trabalhar! Então, aproveitem para me enviar comentários, please!

Ádria, estava sentindo a sua falta! Mas entendo. A falta de tempo é um problema nas nossas vidas, né? Agradeço por você estar comentando e fico muito feliz por você gostar tanto!

Beijos,
Amanda



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