Minha cabeça doía, eu estava estirada no chão com um corte médio no supercílio, a figura ao meu lado encontrava-se inconsciente, Jackson ainda não acordará, tínhamos levado uma baita surra de um Metamorfo, era um monstro que se alimentava de humanos e depois tomava a forma dos mesmos para procurar por comida. Aconteceu que tínhamos rastreado o desgraçado, eles geralmente preferem ficar no subsolo, segundo o cabeça oca do meu parceiro, foi isso que fizemos, entramos no principal esgoto da cidade de Michigan para achar o monstro, estava tudo planejado, eu iria para o sul do túnel, e Jackson cortaria o lado leste e oeste, quando nós dividimos para procurar, acabou que apenas estávamos dando volta no local, eu estava irritada, o cheiro de esgoto entrava pelas minhas narinas, me dando uma repulsa a vomitar, eu não parava de ver aranhas e malditos ratos, só queria sair dali. Depois de três voltas percebi que tinha visto a figura horrenda de Jackson duas vezes, ao mesmo tempo. Eu gritei para ele, que o Metamorfo estava ali, ele percebeu e rapidamente me jogou a faca de prata que mataria o monstro, corremos atrás dele, até ele parar, Percy começou a investir contra ele, mas como eram exatamente iguais, ficou difícil distinguir.

O mostro agora estava mais rápido, e Jackson estava cansado, quando baixou a guarda, sua cópia tirou a faca de prata da mão dele, e enfiou na sua perna esquerda, ele abafou um grito de dor, a faca tinha entrado por inteira, eu estava desesperada, queria ajudar, mas não teria chance. Um impulso percorreu meu corpo e eu levantei a mão com minha faca, teria de ser no coração, o Metamorfo estava de costas a mim, o movimento rápido de sua mão fez minha faca voar longe desarmada agora, e com o meu parceiro no chão se comprimindo de dor, fiz o que tinha de fazer, o mínimo que aprendi até agora era lutar, o mostro era Percy e eu havia treinado com ‘’ele’’, tinha de tentar.

Ele estava defronte a mim, consegui um soco na sua face, e também recebi um com o dobro da força, aquilo foi suficiente para me derrubar ao chão e ali permanecer, desmaiei. Ambos estávamos caídos, o Metamorfo fugiu.

* * *

Levantei-me devagar, e fui até a ameba caída ao chão, à faca ainda estava em sua perna, porém não sangrava tanto. Empurrei-o e disse:

– Como está? – Deixei-o encostado na parede, ele estava meio desacordado. – Vamos cuidar desta perna, certo?

Eu tinha que tirar aquela faca, ele estava suado agora, eu rasguei um pedaço da minha camisa. – Okay, deixe eu dar uma olhada garota, não chore. – Eu disse a ele, mas como estava quase desmaiando não discutiu.

Eu comecei a puxar a faca, bem devagar, ele começou a comprimir o rosto iria doer, mas eu tinha que tira-la. Puxei agora, estava quase fora, ele deu um berro que entoou em todo túnel. Peguei o pedaço da camisa e enrolei em sua perna, dei um nó bem forte para estancar o sangramento que agora crescia. Levantei-o e passei seu braço em volta do pescoço para se apoiar, seu peso me fez fraquejar, mas tínhamos de sair dali.

O cheiro era muito forte, e parecia que Jackson dava breves desmaios, por conta da perda de sangue, percorremos todo lado sul do túnel, até que encontramos o buraco acima de nossas cabeças tinha uma escada. Não foi nada fácil subir com todo aquele peso, e ainda tinha de me cuidar para não rolar escada abaixo. Depois do sofrimento conseguimos emergir do túnel horrendo, o Impala estava nós esperando.

– Tudo bem, agora, vamos levante estou te segurando. – Eu notei a fraqueza em suas pernas, o caçador estava realmente mal, o introduzi no banco do passageiro. Já dentro do carro não sabia se deveria levá-lo ao hospital, então lembrei que estava morrendo de fome e achei melhor não.

O hotel ficava longe, mas já estávamos próximos, o corpo ao meu lado estava adormecido e dava gemidos contínuos. Quando finalmente chegamos, tive um pequeno problema, estávamos com as roupas sujas e rasgadas e cheirávamos a coisas que não deveria citar, e para chegar ao quarto teríamos de passar pela recepção, que estava cheia de gente. Pareceria mais estranho entrar com um rapaz desacordado.

Acordei Jackson, tirei-o de dentro do carro, ele se apoiou em mim, demos a volta no hotel, e entremos pelo que seria a ‘’ saída de emergência ‘’, subimos um lance de escada, e depois outro eu sentia suor escorrer pelo meu rosto. Quando enfim chegamos, eu abri a porta do quarto rapidamente, e joguei-o sem rodeios em cima do sofá, ele não protestou.

– Agora, vamos dar uma olhada nisso. – Retirei o pedaço de camisa de sua perna, estava empapado de sangue, o corte era fundo, mas nada que uns pontos não adiantassem.

Peguei uma agulha, e um pedaço de linha para dar os pontos sentei no sofá, e comecei a passar a linha em zigue-zague no corte, foi bem rápido, depois coloquei um pedaço de algodão molhado no álcool o que fez murmurar algo como um palavrão.

– Pronto daqui a alguns dias você já pode de tirar os pontos. – Me levantei e fiquei um pouco sem saber o que fazer.

– Nós temos que ir atrás dele, amanhã. – Ele tentou se levantar, suas pernas cederam e ele quase caiu.

– Claro que vamos, com essa sua perna que tá uma maravilha, nós iremos quando isso estiver bom, capiche ? – Ajudei ele a se sentar no sofá.

– Eu não entendo uma coisa, por que o monstro fugiu, ele deveria ter nos devorado. Tem alguma coisa errada. Não podemos deixar, temos de ir procurar amanhã, agora já está tarde. Mesmo assim ele ainda deve estar em Michigan. – Ele pegou um mapa, era na verdade a planta da cidade tinha pequenas residências, prédios, ruas.

– Eles gostam de ficar no subsolo, está vendo esses dois prédios, eles estão ligados na rede de esgoto, os prédios estão vazios. Nós podemos ir lá amanhã e nós dividir.

– Pode ser, mas eu não vou ficar te carregando, não sou obrigada.

– Eu me achava chato, até te conhecer. – Ele disse num tom zombeteiro.

– Haha, vou ir comprar comida princesa, fica quieto ai.

* * *

Já estava voltando do restaurante, quando cheguei e percebi que a porta estava aberta, não deveria estar, entrei e procurei-o ele não estava no sofá, derrubei as coisas no chão, quando vi sangue próximo à cozinha. Peguei o mapeamento dos dois edifícios, só poderia ser, peguei o elevador e depois corri para o carro... Os prédios ficavam um do lado do outro, ambos estavam abandonados. Entrei, o lugar estava quase caindo aos pedaços eu procurei por um tempo, até encontrar a entrada para o andar de baixo. Tinha uma porta, também velha entreaberta e logo a frente estendia-se uma escada ‘’ mais escadas’’ pensei. Desci relutante, antes de sair do carro tinha pegado duas facas de prata e as escondi na manga da blusa. Estava pisando devagar, até que um cheiro surgiu, era horrível eu queria vomitar.

Quando entrei me deparei com dois corpos caídos ao lado, estava com várias moscas acima, e havia uma mancha de sangue seco no chão. Percebi que não tinha exatamente corpos e sim resto deles, alguns órgãos caídos ao chão e alguns insetos rastejantes. Coloquei a beira da camisa na altura do nariz para intervir no cheiro. Aquilo era horrível e eu não ouvia barulho de nada, a luz do local era fraca dando uma visão sinistra. Adentrei um pouco mais, permanecendo atrás de algumas caçambas de lixo, quando ouvi passos arrastados.

O Metamorfo estava em sua forma original, era terrivelmente magro, e a pele que envolvia seus ossos era oleosa, ele tinha um rosto desfigurado, seus braços e pernas pareciam gravetos. Apesar de ele comer igual a um porco.

Ele fazia algo que não pude identificar, quando olhei para o outro lado da sala, lá estava ele amarrado em um poste com uma mordaça na boca, sua perna que tinha sido ferida pela faca sangrava intensamente, havia mais alguém do seu lado amarrado, mas este já não demonstrava viver, estava sem os braços e devia ter perdido muito sangue. Como chegaria até lá para solta-lo, ou dessa vez daria um jeito na situação. Fazia mais de um mês caçando e eu ainda não tinha ‘’meus grandes feitos’’.

O monstro magrelo, por um segundo havia tomado a forma do cara sem braços, fiquei um pouco apavorada antes ele parecia tão frágil com aqueles cambitinhos fracos. Fiquei feliz de ter achado os braços do cara morto, porém estavam sendo devorados pelo Metamorfo.

Essa teria de ser à hora, ele estava fazendo sua ‘’ maravilhosa’’ refeição e se eu fosse rápida não me notaria. Fui abaixada até a outra extremidade da caçamba e corri devagar para perto, ainda abaixada. Ele se virou e eu pensei ‘’só me ferro nessa droga’’.

Ele deixou seus braços meio comidos e andou em minha direção, passou do lado da caçamba, eu fiquei ali abaixada sem dar um piu. Quando ele passou novamente pelo lado, a adrenalina surgiu e o peguei... Só que não.

Ele me pegou de surpresa, segurava em meu braço fortemente, eu teria de escorregar a faca e não pensei duas vezes, abaixei a mão com toda força e a faca desceu. Bati com meu cotovelo em seu rosto e me soltei de suas mãos. Ergui a faca e enterrei-a no lado esquerdo do seu peito, ele urrou alto e depois caiu no chão com um baque. Corri até Jackson estava com cara de quem precisava de uma doação de sangue, cortei a corda que o amarrava, e tirei a mordaça.

– Vamos, levante esse cheiro está tão insuportável quanto você. – Estendi a mão ele agarrou firme e se levantou.

– Cala boca, se não vou por a mordaça em você. – Ele disse um pouco sério.

***

Já estávamos dentro do Impala blá blá, eu dirigiria, Jackson estava checando se eu não tinha feito nada de errado com aquela lata velha.

– Você se saiu bem hoje. – Disse ele acomodado no banco passageiro.

–Eu sei.

– Acho que talvez já possa dar conta sozinha.

– Exatamente do que? – Olhei-o inexpressiva.

– Já pode caçar sozinha. Você fez tudo certo, e já sabe de tudo que precisa.

– Eu acho que ainda não, só consegui hoje por pura sorte.

– Eu acho que está na hora de você ir.

Eu olhei-o com raiva, muita raiva e não irei descrever os próximos acontecimentos, foram dolorosos para nosso querido, Percy Jackson.