Hoje, eu não acordei; amanheci.

A frase me veio à cabeça como um trocadilho bobo, daqueles que tenta ser engraçado, e acabou me fazendo pensar para valer. A mesma roupa de doze horas atrás, fora da cama enquanto a cidade se levanta ou ainda dorme, observando as últimas horas da noite darem a volta ao mundo. Não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que acontece; estou me tornando veterana nesse negócio de não dormir. E, ao que parece, formando um tipo de diário desorganizado, desconexo e cheio de estilos diferentes a cada noite jogada fora, ou aproveitada, depende de como eu encarar. O que mais esperar de mim?

Não acordei porque não quis dormir. Apagar por doze horas seguidas é delicioso, mas bate uma ressaca moral impiedosa depois. Todo o resto do planeta fazendo algo de útil, produtivo e eu ali, na cama. O suprassumo do egoísmo e do desprezo pelo mérito. Eu mal me preocupo e nada deu tão errado assim até hoje. Mudar isso é que vai ser complicado. Mas vou me dar meu devido tempo; o problema vai ser se ele passar e eu não perceber.

Amanheci porque o dia estava bom demais para fazer o contrário. O céu encoberto e o vento úmido trazem lembranças tão fortes quanto a chuva que se promete e nunca se cumpre. Quando o tempo está assim, ele é como uma pessoa em especial: meu emissário de coisas boas. Basta aparecer para que eu me sinta bem, não importa quando. Gosto de pensar que vai ser assim por um bom tempo. É um sinal que não quero descartar. E as lembranças... Essas batem forte de verdade. De coisas que não quero contar aqui e agora porque não vão fazer sentido para mais ninguém além de mim. Mas se alguém está lendo isso, é porque se importa, não?

Quem amanheceu agora foi o dia, me acompanhando.