9:29:31

Nove horas, vinte e nove minutos, trinta e um segundos, e contando pensou Gambit enquanto esperava do lado de fora dos portões do Instituto.

Estava bastante ansioso, o que em si já era uma grande novidade para ele, nunca em toda a sua vida havia ficado apreensivo por enfrentar o desconhecido – mesmo nas missões suicidas do Magneto. Não por coragem, bem sabia, ou por burrice, como um X-Men temperamental, com garras afiadas de mais pro seu gosto , tanto gostava de frisar. Gambit não tinha medo, pois como um bom ladrão católico que era, acreditava firmemente no poder do destino. O que tivesse de acontecer, aconteceria independentemente das suas escolhas.

Em algum momento no meio dessa reflexão profunda, Gambit se questionou se estava fazendo a coisa certa, se a sua Vampira ainda seria a mesma depois de passar tanto tempo com o Apocalipse, mas logo descartou esse pensamento.

Se ela non for à mesma, non importa, Vampira ainda será a minha Dame pensou com toda convicção que possuía.

A exatas 9:30:00, uma pequena nuvem negra apareceu na sua frente, o tirando de seus devaneios.

Estava na hora de colocar mãos a obra.

– Pensei que non chegaria, chaton. Disse assim que a nuvem se desfez e Wolverine, Noturno, Lince Negra e Boom Boom, se materializaram. Ele ate esperou uma rebatida do mutante, mas quando Logan apenas rosnou, Gambit percebeu o quanto as coisas estavam difíceis para o outro.

Para ele aquela missão não colocava em discordância nenhum dos seus poucos princípios, afinal, devia lealdade apenas a Vampira, já para o Wolverine as coisas eram totalmente diferentes e por isso, triplamente complicadas.

– Não temos muito tempo pra fazer isso. Disse Logan, o que era verdade, mesmo com algumas adaptações, como o recrutamento da Boom Boom e Tempestade, o plano do Gambit tinha mais chances de fracassar do que de dar certo. – Tempestade esta com o Professor no gabinete do Kelly, pra mais uma reunião inútil de negociação entre o governo e os mutantes, ela nos manterá informados dos passos dele, mas mesmo assim não temos garantia de que o Charles não nos descobrirá antes de cumprimos a missão. Encarou cada um deles, não de professor para aluno, mas de soldado para soldado, já que o Logan era um militar ate a medula óssea. – Então, sejam cautelosos.

Nenhum deles disse uma palavra, não era preciso. Todos sabiam o que estava em jogo, fariam o impossível pela missão.

– A maioria dos alunos estão na escola, mas não queremos tentar o destino, Noturno.

– Sim. Respondeu Kurt, dando um passo como um soldado frente ao seu comandante.

– Nos deixe na porta do Celebro.

Antes que Gambit pudesse se da conta, seu corpo estava se desmaterializando no ar, em milhões de partículas, como uma nuvem de fumaça, no segundo seguinte estava em um corredor hermeticamente branco, de frente para uma porta redonda de aço, muito parecida com a porta do caixa forte de um banco.

– Não temos muito tempo. Disse Jean vindo na direção do grupo, usava um jaleco imaculadamente branco, seus cabelos ruivos balançavam a sua volta como um farol brilhante. – O Professor McCoy esta no laboratório, não sei quanto tempo ficará por lá, não podemos correr o risco que nos veja.

– Noturno, leve a Boom Boom ate a sala das câmeras, desligue os monitores do corredor e da sala do Celebro, vigie o Fera e nos diga por comunicador se algo der errado, vocês tem 10 minutos.

– Porque apenas 10 minutos? Perguntou Jean, depois que os dois sumiram no ar.

– O sistema de segurança faz uma alto-análise a cada 15 minutos, se as câmeras estiverem desligadas manualmente durante a vistoria, o sistema ira detectar e mandar um alerta de invasão, non queremos isso. Respondeu Gambit rapidamente. Era verdade que confiança não era bem o ponto forte entre ele e o Wolverine, mas os dois haviam passado e repassado meticulosamente aquele plano, varias e varias vezes, e apesar de ser o Logan que estivesse dando as ordens, o Cajun conhecia cada etapa como a palma da sua mão.

– Fizemos algumas mudanças depois que a Mística invadiu a mansão e programou sua alto-destruição. Justificou Wolverine. – Depois perdemos tempo com explicações, temos que ir.

– Ok, se eu entrar na sala do Celebro com a minha senha de acesso o Professor saberá quase que instantaneamente. Disse a ruiva preocupada.

– Lince Negra. Diz Logan.

– Entendi. Com uma mão Kit segurou o pulso da Jean e com a outra, segurou o braço do Gambit.

Pela primeira – e esperava fervorosamente que fosse a ultima vez – o francês teve seu corpo literalmente transpassado por uma porta de 10cm de aço. Digamos apenas que foi uma sensação perturbadora de mais para ele não querer uma repetição tão cedo.

Logo depois Lince Negra sumiu através da porta e voltou trazendo pela mão um Wolverine carrancudo.

Pelo visto non sou só eu que non curto esses truques pensou Gambit com sarcasmo, mas foi esperto o suficiente para deixar essas palavras apenas na sua mente.

Jean foi andando na frente majestosamente e quando chegou no fim da plataforma todas as luzes se acenderam, dando ao Gambit a sua primeira visão da “sala do Celebro”. Ele olhou para baixo e ficou um pouco desconfortável quando viu a imensidão de nada, aquela estreita plataforma era a única coisa que o separava de um buraco aparentemente sem fundo.

– Pelo visto, altura non é um problema pra vous. Comentou distraidamente.

– Preocupado francês? Zombou Logan. – Do chão você não passa.

Jean havia pego o capacete prateado e parecia estar vendo algo naquele vácuo, que os dois desconheciam.

– Nem todos tem a vantagem de cair sempre de pé, chaton. Rebateu mais divertido que irritado.

Wolverine bufou e depois os dois voltaram a se concentrar na ruiva.

– Jean, o tempo. Alertou Logan.

– Estou quase lá. Suor molhava a sua têmpora e fazia seu cabelo colar na sua testa. – Espera, tem algo errado.

– O que foi? Perguntou Wolverine dando um passo a frente, como se pudesse protegê-la da sua própria mente. – Jean. Chamou quando ela não respondeu.

– O Professor. Sussurrou ela.

– O que ele esta fazendo?

– Non a toque. Disse Gambit, segurou o braço do mutante que já estava estendido para a ruiva.

– Não vou colocá-la em perigo. Esbravejou se liberando do aperto do Cajun, com violência.

– Ela non esta em perigo. Rebateu, apesar de não ter tanta certeza assim.

– O Professor esta me bloqueando. Disse Jean, sua respiração estava alta e rápida.

De repente uma luz vermelha começou a piscar e um som alto de alarme reverberou por toda a sala.

– Eu só preciso de 1 minuto. Disse ela com voz tremula, por causa do esforço.

– Acho que não temos tudo isso. Disse Kit, que ate aquele momento havia se mantido em completo silencio, o que não combinava em nada com sua personalidade, apenas mais uma prova de como a missão era tensa para todos eles.

Uma voz eletrônica começou a gritar: alerta de intruso, alerta de intruso, alerta de intruso...

– Jean? Chamou Logan, novamente.

– Só 1 instante. Cada palavra parecia ter sido arrancada da sua garganta a força.

Todos – menos Jean – pressentiram a mudança no ar ao mesmo tempo, já estavam em posição de ataque quando a nuvem negra apareceu e Kurt e Tabitha se materializaram.

– Algo deu errado. Disse Boom Boom.

– Percebemos. Disse Gambit.

Por um instante todos prenderam a respiração.

Na cabeça do Gambit tudo parecia ter acontecido em câmera lenta.

Ouviu o grito estridente que deixou os lábios da ruiva, viu o corpo dela ficar mole e o Wolverine se jogar no chão para pega-la antes que seu frágil corpo batesse no chão, sentiu a preocupação que dominou cada X-Men – ate mesmo Boom Boom.

Mas se qualquer um o perguntasse o que se lembrava de todo aquele drama, a única coisa que Gambit lembraria era quando Jean abriu seus grandes olhos verdes e disse uma única palavra:

– Encontrei.