Entrei pelo corredor mal- iluminado da Broken Hill Prep. Novamente. Minha escola é um lugar sombrio, que tem um estilo dark-punk ou algo assim. Cortinas escuras, paredes de tijolos à vista e um chão de pedra frio, como uma noite de inverno em Toronto; por aqui é raro algum aluno sem piercings ou tatuagens.

Era começo do ano, primeiro dia de aula, e o papel com meus horários havia molhado devido à chuva que caía lá fora. Continuei olhando aquele papel se desmanchando sob meus dedos, tentando decifrar aquelas letras borradas.

Quando me virei, vi uma garota de cabelos compridos cor de fogo hipnotizantes, que formavam cachos perfeitos. Ela vestia uma calça jeans skinny escura, uma baby look preta lisa, e um all star branco. – Rosaly Evans, minha melhor amiga.

–Rose!- eu gritei
– Ally!- ela correu em minha direção pulando encima de mim e me abraçando - Foram os 3 meses mais longos da minha vida, minha avó Betsy é muito... velha!
– Você não mudou nada!
– Tente passar 3 meses em um asilo cheio de pessoas com cheiro de canela em Apple Valley, se você sobreviver será a pessoa mais sortuda do mundo! – eu ri, mas logo em seguida lembrei que tínhamos aula.
– Que aula temos agora?
– Biologia – disse Rose tirando da bolsa dela um papel azul com letras pretas e entregando-o para mim - Biologia, inglês, e por último e mais chato... matemática.
Caminhamos em passos largos nos movendo pelos corredores, subindo uma escadaria de pedra e parando na porta da sala 182. Rose empurrou a porta, nós duas cambaleamos para dentro da sala. A professora nos jogou um olhar sagaz e disse:
– Atrasadas no 1º dia de aula! Allyssah Green e Rosaly Evans? Quando vocês irão aprender?
– Aaah... foi mal aí professora - disse Rose dando de ombros - nós tivemos que pegar outro papel com os nossos horários e...
– Chega de desculpas esfarrapadas. - Disse a Srta. Baker interrompendo Rose - Vão se sentar!

Sentei-me no meio da sala, ao lado de Rose, mas bastou ela começar a futricar em sua bolsa florida roxa, que a professora pegou um giz branco, partiu-o ao meio e começou a escrever no quadro em letras maiúsculas bem grandes e tortas:

PROFESSORA REBECCA – BIOLOGIA

Como se não soubéssemos, ela era nossa professora já fazia pelo ao menos 3 anos. Logo à baixo, escreveu com um giz verde em letras um pouco menores:

ESPELHO DE CLASSE!!!

O que fez a sala inteira bufar, mas ela simplesmente nos ignorou, como se não houvesse escutado nada. Após limpar as mãos em uma toalha branca, ela passa de classe em classe, largando em nossas mesas um papel com quadrados representando nossas mesas, com o nome de cada aluno no centro das formas.

Algumas pessoas eu já conhecia, como Meaghan Withmore, uma garota grunge, vestida com uma camiseta do Nirvana, uma calça jeans surrada e um par de all stars que aparentam ter uns três anos. Rose odeia ela, mas não a odeia tanto quanto à Erynn Linn, a patricinha egocêntrica da sala, que acha que todo o mundo gira à sua volta.

Meu lugar fica no fundo da sala, eu já suspeitava que não ficaria muito à frente, devido ao meu tamanho. Ao meu lado Skyllar Santiago, uma roqueira que acaba de entrar em nossa escola... Ela veste uma camiseta do Guns N’ Roses, uma skinny preta e outro par de all stars, que como os de Meaghan, aparentam ter no mínimo três anos. Ela joga uma mochila preta dos Ramones ao lado de minha classe.

– Oi – tento ser educada.

– Eaí – ela responde colocando a mochila pendurada pelas alças atrás de sua cadeira.

Volto à olhar o papel com os lugares, procurando Rose, que por sua vez não deu sorte ao sentar ao lado de Erynn, e duas classes atrás, na última da fila, Meaghan.

Encontro mais nomes desconhecidos como Stephen e Jeremy, que sentam um ao lado do outro. Stephen é um garoto que aparenta ser um pouco mais alto que eu, mas não tem olhos e cabelos castanhos como eu, ele tem um belo par de olhos cinzas e cabelos pretos que nunca vi em lugar nenhum. Em comparação com Stephen, Jeremy poderia ser chamado de... Bonito. Ele tem olhos claros, azuis, talvez, cabelos castanhos com cachos aparados.

Olho para Stephen novamente, mas volto à realidade quando percebo que ele está vindo em minha direção.

– Sky, me empresta um lápis...? – Ele sussurra.

– Você não deveria ter um, tipo, no primeiro dia de aula? – Ela responde, com os olhos caídos de tédio.

– Dá pra me emprestar a porcaria do lápis de uma vez? – Ele não sussurra mais, e agora, que ele me encara como se não tivesse percebido minha existência até agora, noto que a Iris dos olhos cinza-claros dele, é branca, o que dá um toque de... Mistério, talvez, a ele.

– Pega logo a por...

– Olha a boca! – Ele a interrompe.

– PORCARIA do lápis de uma vez! – Ele pega o lápis que estava em cima da mesa dela e volta para seu lugar, me encarando por um segundo mais, pela última vez antes de virar a cabeça e ir para sua classe.

O sinal tocou e nós saímos da sala de biologia indo direto para a de matemática, pois a professora de inglês não veio hoje.

Na porta da sala 2, Rose me puxa pelo braço e fala:

– Caraca! Que inferno, a Erynn não parava de falar como a clínica de bronzeamento da irmã mais velha dela é chique e cara, e blá, blá, blá...

– Sabe se esse espelho de classe serve para todas as salas?

– Voce ouviu o que eu disse? A Erynn morre de inveja de mim dês de a sétima série em que o Brendon Parks a deixou pra me pedir em namoro! Ou ela tem inveja de que eu consigo ser mais magra que ela sem cirurgia ou dieta, ou seja, eu posso devorar um hambúrguer inteiro e não engordar nada, e ela ganha uns 2 k!

– Ok, ok, entendi, ela tem inveja de você e você odeia ela.

– Sim, e eu também consegui entrar para as líderes de torcida e ela só entrou um ano depois por que era muito gorda pra entrar e teve de fazer dieta – ela começou a rir sem motivo – falando em líderes de torcida, esse ano você vai entrar para o time comigo né?

– Eu já disse que não!

– Por quê? Você é magra, alta bonita e olha esses cabelos lisos gigantes que você tem!

– Eu não vou fazer isso, entendeu?

– Tá, vamos entrar pra sala, você sabe se temos que sentar nos mesmos lugares da aula de biologia?

– NÃO! Eu não sei!

– Nossa! Não fique tão braba, isso te faz envelhecer! – Eu entrei na sala, ignorando-a.

Eu saí da sala, eu fui até a garagem da escola para pegar meu carro. Quando cheguei até lá, um garoto loiro vestindo uma camiseta marrom e uma calça jeans escura chutando a uma caminhonete preta.

– Connor? O que você está fazendo?

– Oi pra você também, Ally.

– Perdeu a chave? – insisti.

– Não, ela não quer ligar.

– Quer carona?

– Melhor do que ficar aqui chutando a porta de um carro.

Eu peguei o controle do meu carro e desliguei o alarme.

– Um New Beetle, sério? – ele parecia confuso – Você não tinha uma Onix?

– Não, é do meu pai. Eu ganhei este de aniversário.

– Hum, legal?

Eu simplesmente ignorei, se ele sentia vergonha, que ficasse lá parado com sua Chevrolet S 10, quebrada.

Um som agudo ecoou pelo ar, um alarme de carro. E não era qualquer carro, o som vinha de um Camaro ZL1 vermelho sangue.

– De quem é esse Camaro? – Connor estava com os olhos arregalados – Você sabe?

– Meu. – Skyllar Santiago – Por quê?

Ela abriu a porta do carro, o ligou e simplesmente foi embora.

– Cara, acho que eu estou apaixonado! – Connor falou com um tom calmo – Você conhece ela?

– Sim, é nossa colega, aliás, onde você estava?

– Bem, aqui, tentando ligar o carro.

– Porque não entrou na sala?

– Cá entre nós, eu prefiro o meu carro do que contas de matemática, mesmo não sendo um Camaro.

– Ta, vamos logo. – Me joguei no banco do motorista, liguei o carro e passei pelo portão. – Largo você na sua casa?

Ele não respondeu, parecia distraído, eu o cutuquei e ele simplesmente disse:

– Sim.