No Other escrita por Pacheca


Capítulo 40
Capítulo 40 - Weak


Notas iniciais do capítulo

Ufa, cheguei! Minha nossa, não lembrava como era difícil atualizar fic, gnt .q Bom, música do capítulo é Weak, do Seether (♥) : https://www.youtube.com/watch?v=xbW_b8SEV0A
Espero que gostem. Bem vindos de volta :3



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  Shaun me levou ao cinema. Eu fiquei na fila para comprar os ingressos enquanto ele ia comprar umas balas. Era estar ali de pé, sozinha, esperando. E era ainda pior sentir aquela ansiedade que parecia um bicho dentro de mim.

  – Aqui. – Tomei um susto quando ele parou atrás de mim e estendeu a bala no meu rosto.

  – Ah, valeu. – Coloquei a bala no bolso, meio sem reação. Shaun ficava me encarando de tempos em tempos, esperando que eu dissesse algo. Não demorou muito, a fila começou a andar e entramos na sala.

  Shaun me fez sentar num banco entre ele e a parede. Pensei em questionar as intenções dele, mas achei que eram bem óbvias. E eu até considerei deixar claro que eu não ia fazer nada, mas se nem eu tinha certeza...

  As luzes da sala se apagaram, o telão brilhando imenso no meu rosto. Suspirei, escorregando um pouco na cadeira. Shaun me olhou de lado e deu aquele sorriso besta antes de revirar os olhos e passar a ver o filme. Franzi o cenho.

  – Que foi? – Sussurrei, cruzando os braços. Ele olhou mais uma vez antes de explicar.

  – Dá pra ver. E cruzar piora, já te disse. – Olhei o decote por instinto. Conseguia ver o lacinho do sutiã azul aparecendo. Endireitei o corpo na cadeira e ajeitei a blusa.

  – Você podia me avisar antes de olhar.

  – Se eu não olhar não vou saber. Não que esse decote esconda muito.

  Ia protestar, mas ele apontou pra tela como se pedisse silêncio. De braços ainda cruzados, voltei a sentir aquele bicho que me devorava por dentro chamado ansiedade. Eu não sabia bem o que estava pensando. Por que eu aceitei sair com Shaun? Ele não vai mesmo fazer nada?

  Quando a mão dele parou sobre meu joelho eu percebi que nossos assentos não eram separados. Engoli em seco e tomei coragem para subir o olhar até encontrar o par de íris violetas. E aquela boca que colou na minha no instante seguinte.

  Ali ia me matar? Provavelmente. A verdade é que o monstrinho na minha barriga enlouqueceu. Tanto que minha mão começou a suar. A mão sobre o joelho subiu rapidamente até minha cintura, enquanto a outra prendia meu pescoço. E praticamente num movimento involuntário, puxei o garoto pela camisa.

  – Sala de cinema, não esquece. – Ele sussurrou no meu ouvido e voltou a me beijar. Ele me deu o aviso, mas parecia não estar lembrando também. O susto só me veio quando minha mão, que puxava a camisa, caiu sobre seu colo e sentiu coisas estranhas. Afastei, fazendo-o rir.

  A parte boa é que depois daquilo eu ainda consegui tirar um cochilo antes do fim do filme. Quando eu acordei, os créditos subiam pela tela. Se me perguntarem o nome do filme eu seria obrigada a dizer “não sei”.

  – Quer um frozen yogurt? Vem.

  Segui-o para fora da sala, esperando que meu rosto já tivesse voltado à cor normal. Ou pelo menos que eu não estivesse ruborizando de novo. Ele riu e me comprou o frozen cheio de bala por cima. O fim da tarde foi estranho. Ele não falou muito, nem eu.

  Oito horas em ponto ele parou na frente da minha casa. Fiquei sem jeito, até ele pedir para tomar um copo d’água. Concordei, abrindo a porta para ele.

  – Se não se importa, vou trocar de roupa. Já volto.

  Subi as escadas correndo e fechei a porta do quarto. Ali me ligou. Hesitei, mas acabei atendendo de todo jeito.

  – Pegou?

  – Ali, depois. Ele ainda está aqui. Beijos.

  Ela nem teve tempo de ficar indignada. Desliguei e, sem pegar o celular, desci de volta para a cozinha. Ele não estava lá. Chamei pelo nome, quando me virei e dei de cara com ele. Minha mão gelou.

  – Minha nossa, Shaun. Da última vez eu fiquei toda sangrando.

  – Agora superou seu medo, certo? Ou não?

  – Mesmo assim.

  – E também não tem copo nenhum nas mãos. Então, como você pode estar tentando dizer... – Ele me encurralou na bancada, com os braços apoiados nos meus lados e o rosto bem perto do meu. – Eu não ofereço risco. A não ser quer queira.

  – Não precisa ir? – O desespero me fez soltar a frase sem que eu tivesse tempo de repreender. Ele riu e concordou, finalmente me soltando. Passei por ele, indo abrir a porta. Ele passou por mim e ficou de pé na minha frente.

  – Megs, obrigado pela companhia. Eu posso te dar um beijo?

  – Por que pediu agora?

  – Prefere quando eu não peço? – Ele praticamente matou a pequena distância entre nós e se inclinou um pouco. Meu coração saiu do ritmo por um instante. O sorriso torto apareceu e ele aproveitou meu desconcerto pra me dar o tal beijo.

  – Tchau, Shaun. – Ele ainda sorriu quando caminhou até o carro e deu a partida. Suspirei, pensando na conversa que teria com Ali e Annie logo. Pensando em tanta coisa que eu quase me esqueci de entrar e trancar a porta.

  Eu gostava de Shaun. Não como gostava de Duran, mas algo nele mexia comigo. Parecia injusto que eu o usasse como um step até o possível dia em que reencontraria Duran. Duran mesmo me dissera para procurar pelo cara certo, mas eu tinha a impressão de que tinha medo de encontrá-lo.

  “Pode ser só atração.”

  Mas eu não era daquele jeito. Talvez ele sentisse só atração por mim, mas eu por ele...A verdade é que eu estava confusa e me afogando num mar de confusão.

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  – Oi, Megs. – Tomei um susto quando Kim se sentou ao meu lado no banco do parque. Tirei o fone de ouvido antes de responder, sorrindo.

  – Tudo bem?

  – Tudo normal. Continuo trabalhando, continuo ouvindo meus kpop...E você? Sozinha no parque...

  – Hoje é o dia da limpeza, então eu fui expulsa. Existe lugar melhor para ficar viajando do que o parque?

  – Não. Ei, aquele menino que anda com você, o de terno...ele e Ali namoram.

  – É, ele é motorista do namorado da minha mãe. Enfim, e você? Fiquei sabendo dumas hashtag Jakim por ai...

  – Jake é um cara legal. E bonito. E beija bem. Pronto. E uma certa pessoa que anda saindo com Shaun?

  – Como é? – Olhei assustada para ela, fazendo a menina rir.

  – Sério agora, eu vi vocês na piscina sem querer. E eu estava no cinema e vi vocês.

  – É, ele me chamou pra sair.

  – Que bonitinho. Eu super shippava vocês. Eu adoro o Duran, então eu meio que enterrei a esperança...mas que fofinho.

  – Não anima muito não, que nem eu sei o que vai acontecer. Comentou com alguém?

  – Não. Pensei em falar com Jessica, mas vocês se odeiam. No máximo eu comentei com a Mel, mas só.

  – Ah, tudo bem. Está esperando alguém?

  – Jake.

  – Pode parar de esperar. Vou aproveitar que ele chegou e vou meter o pé. – Ela riu enquanto eu corria para longe do casal, colocando meus fones de novo e voltava para casa.

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  Entrei correndo na sala, um segundo antes que o segundo sinal tocasse. Ali acenou para mim. Só consegui sorrir, tentando equilibrar a pilha de livros nos meus braços. Louis me olhava de seu lugar ao meu lado, segurando o material que eu quase deixei cair.

  A aula de literatura parecia mais uma história sem fim e acabei me distraindo com o relato cochichado de Louis. Ele estava comentando algo sobre um carinha que tinha dado em cima dele. Quando o sinal de fim de horário tocou, sai da sala atrás de Ali.

  – Ai, cansei dessa vida. Só quero passar logo de ano e fim.

  – Louis, ainda temos abril e maio quase todos.

  – Quer me jogar mais pra baixo?

  Ri, enquanto ele se despedia e ia pra sua próxima aula. Achei que Ali ia aproveitar a deixa e perguntar do meu encontro com Shaun, mas ela pareceu nem se lembrar. Então fui com ela para a próxima aula.

  E depois disso, para o almoço. Estranhei que ela não fosse me xingar nem nada. Ou que ela tinha só aceitado que era uma situação mais teórica que prática. Fiquei sentada com minha cenoura enquanto ela ia buscar almoço para si.

  – Oi, Ursão. – Ele me olhava como se estivesse vendo um et. Sorri, mordendo a cenoura. – É, é uma cenoura. Quer um pedaço?

  – Não, eu prefiro achar que ainda sou normal.

  Todo mundo da nossa adorada mesa do almoço chegou e se acomodou, prontos para comer e conversar como de praxe. Shaun também riu da cenoura, mas não comentou nada.

  – Já tiveram a aula do Albert? Ainda não consegui engolir.

  – Ih, Shaun, ninguém conseguiu. Só a Kim, mas ela é doida.

  – Perdi.

  – Trabalho em grupo. Uma semana pra fazer e todo mundo precisa apresentar. Aquele homem não entende que eu falo soprando. – Leo começou a demonstrar sua pequena limitação enquanto eu roubava a lata de refrigerante. – Ah, e a integrante em questão do grupo é a Jessica.

  Olhei para Shaun, que parecia a ponto de infartar. Tentei sorrir. Ele me olhou, sério.

  – Não pode ser tão horrível.

  – É a Jessica. Tem que melhorar muito pra ser horrível.

  – Piorou.

  Ele olhou por cima do ombro, bufando. A loira parou do lado dele e ficou esperando ela falar o que queria.

  Eles começaram a discutir a data em que fariam o tal trabalho, enquanto Kim falava feliz com Ali. E eu concentrada em ignorar a loira perto de mim.

  – Ok. E você...ouvi que quase morreu. De novo. Por pura burrice, pelo que entendi.

  – Antes burra uma vez que sempre. – Ela deu aquela revirada nos olhos e chamou Kim antes de se afastar. A que eu considerava amiga se abaixou e sussurrou pra mim.

  – Juro que não fui eu. Nem a Mel.

  Franzi o cenho, mas ela saiu correndo junto com Jessica. Quase que como uma dica para que eu pudesse entender, uma dupla de garotas passou me encarando, cochichando nada discretamente.

  – Minha nossa, o que foi isso? – Lólli olhou, chocada. Tanto quanto eu.

  – Você viu? O que foi isso?

  – Você conhece elas pelo menos?

  – Não. Louis, eu nunca nem vi elas por aqui.

  – Estranho.

  – Eu vou ao banheiro. Encontro vocês na aula.

  A ideia de ir ao banheiro não parecia ter muita razão, mas talvez se eu lavasse o rosto aquela loucura ia passar. A porta se abriu. Num reflexo, eu entrei numa das cabines e passei a ouvir a conversa nada discreta.

  – Sinceramente, não dá pra entender. Ela tem aquela carinha de sonsa dela.

  – Ela não é tão feia, temos que concordar.

  – Ok, mas ela é gorda. E parece ser bem sem sal. Como que dois caras lindos de morrer se interessam assim por isso?

  – Gente, dos problemas o menor. Vocês repararam como Leo agora só anda com aquele grupinho? E o apelido?

  – Ursão? Péssimo. – Ok, elas realmente estavam falando de mim. Nunca me imaginei como fruto de fofoca de meninas. – Como é que Shaun quis ficar com ela? Não me conformo.

  – Ninguém confirmou nada. Pode ser só boato. Shaun não ficou com ninguém da escola depois de Alice.

  – É, pode ser. Eu duvido.

  – Sabe, eu chego a ter pena dessa garota. Seja verdade ou não, não queria estar na pele dela. Ainda mais depois que a notícia chegar em Sue.

  – Chang? Ela vai morrer.

  – É. Pode ser. – O assunto mudou e as três meninas deixaram o banheiro. Continuei um instante sentada abraçada à mochila. Não conhecia a tal Sue Chang, nem sabia se queria conhecer, mas até me arrepiei.

  Tomei coragem e fui para a sala antes que o sinal tocasse.

  Confesso que preferia o banheiro. O clima pesou bastante quando eu passei pela porta e todo mundo me encarou. Engoli em seco, procurando ajuda no olhar de Ali e Annie. As duas estavam paradas ao lado da minha carteira.

  Como se pra mostrar que não estava afetada, ou só por impulso. Eu fui quase correndo pro meu lugar e olhei o tampo de madeira. Sabe, em filmes e séries parecia só idiota, mas pelo menos para mim foi horrível. A mesa estava riscada, quase inteira. Várias letras diferentes me xingando de coisas horríveis, fora as ameaças. E o desenho bem no meio, de uma garota me esfaqueando. Fizeram questão de me fazer bem gorda e feia.

  – Fique longe dele...É melhor correr...– Eu ia lendo devagar, até um fichário me atrapalhar. Todd parecia desesperado, quase tanto quanto eu. Empurrei o fichário e li a última. – Devia ter morrido com aquele tiro.

  – A gente troca sua mesa e...

  – Não quero, Annie. O professor chegou.

  As duas pareciam relutantes, mas se afastaram logo em seguida. Respirei fundo e me sentei, tentando ignorar os entalhes. Aquelas meninas eram doentes. Não demorou muito para me solicitarem na direção.

  – Senhorita Stone. Como vai?

  – Considerando que saiba da história toda, não muito bem.

  – Imaginei. Os boatos se espalham rápido. Bullying pode acabar se tornando agressivo e...

  – Mais? Senhor, entalharam minha mesa em sala de aula. Um desenho em que me esfaqueiam. E coisas horrorosas.

  – Quão terríveis?

  – Devia ter morrido com aquele tiro.

  – Senhorita Stone, se não se importa pretendo chamar sua mãe, além de punir as responsáveis.

  – Senhor, elas não vão me machucar. Acho que se intervir tão cedo, podem me atacar ainda mais.

  – Estarei de olho ainda assim. Se precisar de qualquer coisa, não hesite. Testaremos sua teoria por alguns dias.

  – Obrigada. – Deixei a sala, vendo-o suspirar antes de fechar a porta. Depois daquela conversa, fui assistir o restante das aulas, evitando todo mundo. Até mesmo as meninas. Não era fácil explicar que aquela história de tiro ainda me deixava mal. Bem mal.

  Então eu fui pra casa sozinha. E quase caí com o choque. Parecia um deja-vu, não fosse o sorriso agora satisfeito. Klaus vinha correndo em minha direção, com o cabelo preso e o moletom fechado.

  – Megs, ei. Está ótima.

  – Klaus, oi. Eu achei que...

  – Me entreguei. Regime semi aberto. Volto em três horas.

  – Ah. Quanto tempo?

  – Dois anos. Mas já se foram alguns meses. Vai acabar logo.

  – Sinto muito.

  – Você nem sabe o quanto eu sinto. Fico feliz em te ver bem.

  – Fico feliz que esteja bem.

  – A vida é mais fácil sem Hye-In. Mesmo preso.

  Ri. Era um assunto sério, mas o jeito dele de falar parecia que a cadeia era um passeio no parque. Talvez fosse. Perto do que ele fez. Ele sorriu e comentou.

  – Te vejo por ai, Megs. Até mais.

  E voltou a correr. Abri a porta me sentindo melhor. O que era um bando de adolescentes alucinadas perto de tudo que eu já vivera? Elas tinham razão. Eu devia ter morrido com o tiro. Não morri. Fui sequestrada e sobrevivi. Bullying ia ter que esperar sua vez na fila do pão.


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Notas finais do capítulo

E ai? Voltem pra mim, lindos *-*



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