No Other escrita por Pacheca


Capítulo 27
Capítulo 27 - Bartle + James


Notas iniciais do capítulo

Gentes, perdão a demora .q Agora tenho prova toda semana, ai fica apertado .q But, aqui estou eu :3 Enfim, chega de encher linguiça :p
A música é Bartle + James, do Band Of Horses < 3 Meus loves hehehe Aqui o link : https://www.youtube.com/watch?v=2YTu2iKyrFg



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Já tinha parado de chorar quando cheguei em casa, mas podia sentir meus olhos inchados. Kyu já tinha saído, deixara minha chave presa entre a madeira e a parede, no alto do portal.

Tranquei a porta e subi direto pro meu quarto, fechando a porta. Tirei minha roupa e fui para o banheiro, entrando no chuveiro sem fechar a porta. O vapor logo encheu o quarto também.

Vesti um pijama e fui direto para minha cama, pegando meu celular. Duran me atendeu no segundo toque.

– Chegou?

– Sim, já estou até deitada. Até amanhã.

– Boa noite. Te vejo amanhã.

Não liguei para Shaun. Mandei uma mensagem para ele, avisando que já estava em casa, sã e salva. Deixei o celular sobre o criado mudo e me acomodei na cama. Dormi quase de imediato.

No dia seguinte, Duran me levou para o telhado na hora do almoço, para me perguntar o que aconteceu. Ele ficou tão surpreso quanto eu quando comentei sobre o vício de Bartle.

– Eu nem sei o que dizer. – Ele falou, tirando uma mecha de cabelo do meu rosto. Eu encarava o céu azul, aproveitando a brisa fraca que soprava. – Você vai ficar bem?

– Shaun quer que eu o acompanhe até o hospital hoje. – Falei, suspirando.

– E você vai? – Concordei com a cabeça. Duran aceitou a resposta, respirando fundo.

O sinal tocou. Ele me ajudou a ficar de pé e abraçou meus ombros, me levando de volta para a sala. Não que eu estivesse com cabeça para assistir aulas. E nem mesmo tinha Ali para conversar comigo.

Assim que a aula acabou, guardei minhas coisas dentro do armário e fui para o estacionamento, para procurar Shaun. O garoto estava do lado de seu carro, olhando o banco do carona.

– Ei. – Parei ao seu lado, olhando o banco também. – O que houve?

– Não, nada. – Ele suspirou, abrindo a porta. – Entra.

Sem falar nada, joguei a mochila no banco de trás e me sentei no carona, enquanto Shaun dava a volta no carro.

O caminho foi silencioso. Ver o hospital não me trazia boas memórias, e agora eu tinha mais um motivo para não gostar daquele lugar. Com um suspiro, desci do carro e segui Shaun até a recepção.

– Boa tarde,eu gostaria de visitar alguém. O nome é Bartle... – Não consegui ouvir o resto. Uma voz relativamente alegre, considerando-se o ambiente, me chamou. Me virei, encontrando meu enfermeiro.

– Jarry, ei. – Dei um aceno, enquanto ele se aproximava. Shaun nos encarava, a secretária procurando pelo quarto de Bartle. – Como está?

– Como você está? Minha nossa, bem melhor. Lara me contou que você se recuperou, aparentemente completamente e sem sequela alguma.

– É, parece que sim. – Dei de ombros. Meu único problema era a parte do cabelo que fora raspada, que ainda não crescera completamente. – Estou bem.

– Sim, eu consigo perceber. – Ele falou, sorrindo para Shaun. Apresentei-os, sem muito ânimo. – Shaun, Jarry. Ele era meu enfermeiro.

– Prazer. – Shaun deu aquele sorriso de modelo dele para Jarry, que quase não se aguentou mais de pé. Dei um sorriso com a situação.

– Senhor. – Voltamos nossa atenção para a secretária. Jarry foi chamado para atender uma senhora. Ele se despediu com um abraço rápido e foi receber a senhora.

– Vamos. – Segui Shaun pelos corredores, cabeça baixa, em silêncio. Ele abriu a porta de um dos quartos depois de respirar fundo. A cena era terrível.

Ao lado da cama, um homem muito parecido com Shaun olhava para Bartle. O garoto deitado de olhos fechados, parecia um pouco inchado e...mal. Mal parecia vivo.

– Ei, pai. – Shaun falou, olhando o garoto.

– Os policiais já foram embora, Shaun. – Ele então finalmente me percebeu. – Perdão. Você é...

– Megan Stone, prazer. – Ele deu um sorriso educado.

– Prazer. Bem, eu disse aos oficiais sobre a condição de Bartle. Tenho que voltar ao trabalho agora. – Ele arrumou o terno, respirando fundo. – Até mais.

Abri caminho para ele pela porta, segurando a alça da mochila. Ficamos só eu e Shaun de pé no quarto, encarando a figura de Bartle.

– Então é isso? – Shaun falou, respirando fundo. – Vamos lá, Bartle, você era quase meu irmão. E tem James.

– Shaun, eu... – Podia sentir os joelhos trêmulos prestes a ceder. – Eu vou...

Deixei o quarto de hospital, correndo para as escadas. Me sentei num dos degraus, sentindo minha cabeça rodar. A imagem do Bartle das aulas de educação física não batia com a daquele garoto basicamente morto sobre a maca.

– Tudo bem? – Ele se sentou ao meu lado. Concordei. – Já vamos embora.

Sem dizer mais nada, deixamos o hospital e fomos até o carro.

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As próximas duas semanas foram horríveis. Anunciaram que Bartle estava internado. Até ai, nada com o que eu deveria me surpreender. Falaram que ele tinha sofrido uma parada cardíaca e duas respiratórias, mas não disseram o que causou isso.

Shaun brincava com meu cabelo, sentado atrás de mim nas aulas de redação, como de costume. Podia perceber que ele estava tenso durante o anúncio. Janet conseguiu evitar que os murmúrios começassem pela sala.

– Bem, turma, sei que parece uma atividade de segunda série, mas os pais de Bartle poderiam usar um pouco de apoio. Sintam-se livres para escreverem o que quiserem.

Shaun soltou meu cabelo no mesmo instante e se levantou. Pegou sua mochila quase com raiva e saiu da sala, deixando a porta bater atrás de si. Vi que Janet anotou algo, mas não se deu ao trabalho de tentar impedi-lo.

Peguei uma folha de caderno, tentando pensar em alguma coisa para escrever. Cheguei a começar uma frase, mas então me lembrei que Bartle dependia do pai de Shaun. Podia não ser culpa deles, mas ainda assim, apaguei a frase e escrevi outra por cima.

“Sinto muito.”

Dobrei a folha, guardei minhas coisas na mochila e fui até Janet. Ela olhou o relógio antes de pegar a folha.

– Já terminou?

– Não é muito, mas... – Dei de ombros, enquanto ela me liberava e anotava que eu já havia terminado. Saí da sala, indo direto para os fundos do colégio. Cheguei até a cerca viva, olhando entre os galhos.

Shaun fitava o pavimento, escorado contra um muro, um cigarro queimando entre os lábios.

– Pode não ser da minha conta, mas você fuma mais do que eu consideraria aceitável. – Parei ao seu lado, apertando os olhos devido à claridade.

– Quanto você considera aceitável? – Ele perguntou, uma risada fraca.

– Nada. Acho que devia parar.

– É, eu sei. Até tento. O problema é que sempre que estou conseguindo, acontece uma merda gigantesca na minha vida e a ansiedade me esmaga. E digo oi pra essas porcarias de novo. – Ele deu um trago, completando a ideia. – Fugindo da escola, Megs?

– Não é como se eu precisasse mesmo assistir ao horário inteiro. – Dei de ombros. Ninguém podia negar que eu era dona de uma das melhores notas da turma.

– De fato. O que escreveu?

– A verdade.

– Que espera que ele melhore logo?

– Que sinto muito. – Ele me olhou, aparentemente chocado. – Fala sério, Shaun. Você também o viu no hospital. Não sei como ele ainda não morreu.

– De acordo meu pai, o médico disse que uma das paradas respiratórias foi pelo afogamento, mas a outra foi de overdose. – Ouvi, concordando com a cabeça. Fazia sentido. – Vai embora?

– Não sei. Estou pensando em passar num lugar antes. – Peguei meu celular no bolso. Shaun deu um último trago e apagou o cigarro no chão.

– Bem, eu vou voltar para a escola. Te vejo por ai, Megs. – Observei enquanto ele atravessava a rua e passava pela cerca viva de novo. Assim que ele sumiu entre os galhos, liguei para Kyu.

– Diga. – Ele atendeu, parecendo ocupado.

– Pode me dar uma carona até o hospital? Preciso falar com Lara.

– Você está bem? Não se esqueceu de nada, certo? Por exemplo seu horário de aula.

– Como você é engraçado, nossa. Não é a primeira vez que mato aula e você sabe. E não me esqueci de nada. Você vem ou não?

– Só um minuto. – Desliguei meu celular e liguei o ipod. Mastigava a língua, esperando o Jaguar aparecer, enquanto ouvia Away From The Sun do 3 Doors Down.

– Entra ai. – Kyu parou bem na minha frente, o vidro abaixado. Era estranho vê-lo de óculos escuros. – Anda.

Abri a porta do carona, procurando algum outro carro por perto.

– Ela ainda está de Volvo? – Perguntei, vendo a surpresa de Kyu enquanto prendia meu cinto. – Duran comentou que você anda fugindo de Volvos.

– Hye-In, ela me disse que vai me convencer a voltar, de um jeito ou de outro. E digamos que antes de matar o pai ela falou algo bem parecido. Ou seja, os métodos dela não são nada agradáveis.

– Quando falou com ela? E ela ameaçou algum de nós?

– Ela mandou uma carta par ao escritório. Já deixamos os funcionários em alerta, mas ainda assim...- Ele suspirou, tirando os óculos. Podia ver olheiras sob os olhos amendoados. – Ela ameaçou todo mundo, indiretamente.

– Ali já sabe disso?

– Que Hye-In ameaçou vocês?

– E que ela quer te levar de volta, que é sua mãe...Sabe a história toda?

– Não. – Comecei a xingá-lo, mas ele me cortou com uma palavra coreana. – Um problema de cada vez, ok? Nem tenho dormido esses dias. Salvo vocês primeiro, depois conto para ela.

– Não funciona assim e você sabe disso. Vai ser mais fácil se ela souber. Tendo a noção de que ela pode estar sendo caçada a qualquer instante ela vai ficar mais alerta.

– Tudo bem, você tem razão. – E depois disso, começou a murmurar em coreano. Mesmo não entendendo, achei graça. – Hey, Megs.

– Oi.

– Acho que quero fazer terapia com você. – Ri, fazendo-o falar em coreano de novo. Uma pergunta, talvez.

– Ainda não cumpriu sua parte do acordo, lembra? Então vamos priorizar minha língua, sim?

– Ah, eu nem percebi. Desculpa. Te busco daqui umas duas horas?

– Eu te ligo, mas acho que uma é o suficiente. – Sai do carro, dando um tapinha na porta. Ele arrancou e eu fui direto para o consultório.

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– Sabe que tem que marcar horário, certo? – Lara falou, me deixando entrar no consultório.

– Sou especial, não preciso não. E outra, já está na sua hora de almoço. – Me joguei no sofá, suspirando. Ela veio suspirou e fechou a porta. – Eu desisto.

– Desiste do que?

– Tudo. De física, de estudar, de esperar que alguma coisa boa na vida.

– O que foi?

– Um colega de turma está internado. Sofreu uma parada cardíaca e duas respiratórias. Por afogamento e overdose.

– Meu Deus, que menino é esse? – Ela parecia chocada, e tão chateada quanto eu. Não sei como Lara não surtava com os casos dos pacientes.

– Bartle. Shaun me ligou na noite em que ele se afogou, achando que tinha o matado. E, bom, acho que depois disso me senti envolvida.

– E isso te incomoda muito, porque...? – Ela me olhava, esperando eu terminar a frase.

– Porque eu sempre soube que ele não tem salvação. – Lara ficou em silêncio, então continuei. – Quando fui embora naquela noite, quando passei na frente da catedral e é como se...se eu o visse ali na frente, feito um daqueles anjos.

– Você se sente mal por Bartle?

– Um pouco, sim. Eu gostava dele. Mas ao mesmo tempo, não torço pra que ele melhore.

– E você provavelmente anda com esse peso por achar que está sendo pessimista. – Concordei. – Megs, não se escapa da realidade. Ela pode até chegar mais tarde para os outros, mas vai atingi-los do mesmo jeito.

– Ninguém sabe da overdose. Talvez seja isso que me incomoda tanto. Saber que não foi só o acidente, não era só um garoto feliz que está morrendo.

– Pode ser. Um segredo grande demais. – Ela suspirou. – O que posso te dizer é que não há nada de errado em se preparar para o pior. Mais alguma coisa?

– Acho que não. – Fiquei de pé, pegando minha mochila. Ia caminhando até a porta, mas então parei. – Talvez tenha mais uma. Acha que eu deveria chorar mais?

– Não. Quero dizer, só porque não tem lágrimas nos seus olhos, não quer dizer que não esteja chorando. Pessoas reagem de vários jeitos à tragédia. O seu é se manter impassível, eu acho. Você é normal, Nhoim.

– Ainda assim, não acha que sou um pouco fria? – Perguntei. Sua resposta foi me dar um abraço apertado. Retribui, feliz. – Vou te deixar almoçar.

– Eu tenho uma cliente agora. – Ela sorriu. Sai quase correndo do consultório, encontrando a mãe de Duran na sala de espera. Dei um sorriso sem graça e me despedindo correndo de Lara.

Fui par ao estacionamento, pegando meu celular. Liguei para Kyu, mas ele não me atendeu. Respirei fundo. Ele provavelmente estava dirigindo no momento. Segui para a lanchonete do outro lado da rua, comprei um pacote de chips e me sentei no meio fio.

– Fala. – Kyu me atendeu quando tentei pela segunda vez.

– Pode vir me buscar, por favor. – Falei, a boca cheia de batata.

– Guarda umas pra mim. Já vou. – E desligou. Guardei o aparelho e voltei a comer, tomando o cuidado de deixar um restinho para Kyu.

Não demorou para ele chegar. Entrei no Jaguar, entregando o resto do chips para ele e prendendo o cinto. Acabei cochilando no carro.

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Na semana de provas a notícia chegou. No primeiro horário, enquanto eu via Louis rabiscando na sua mesa, Frank entrou na sala. O ar divertido que geralmente o rodeava se fora. Com um tom arrastado, ele avisou da reunião no ginásio.

E foi então. Albert esperou que todos se juntassem e começou a falar, a voz arrastada e hesitante. Duran me segurava pela cintura, olhando para o pai. E então todos ouvimos.

– Infelizmente,perdemos Bartle nessa madrugada. O funeral será amanhã durante a manhã, na catedral. As provas de hoje e de amanhã estão canceladas, serão repostas semana que vem. Estão dispensados.

Assim que ele acabou de falar, a realização caiu feito a bomba de Hiroshima. Além dos sussurros sobre o caso, gritos desesperados e gritos começaram. O ginásio começou a esvaziar aos poucos. Ainda agarrada à Duran, fui seguindo para a saída também.

Do lado de fora, ao lado da porta, duas meninas choravam. Chorar é pouco. Elas pareciam a ponto de surtarem, puxando os cabelos e quase socando a parede.

Queria consolá-las, mas o que diria? Vocês já deviam imaginar? Claro que não. Antes que eu tivesse que pensar em qualquer coisa, Shaun apareceu.

Ele tinha uma expressão tranquila, até mesmo um leve sorriso no rosto. Abaixou-se na frente das duas e deu um tapinha de leve em seus ombros. As duas pararam de berrar por um instante.

– Estão mesmo chorando esse tanto por Bartle? Sabem, ele era quase meu irmão. E eu sei que, se quando eu morrer e encontrá-lo, ele souber que deixei vocês duas chorarem assim ele vai me matar de novo.

– Mas...ele se foi... – Uma delas conseguiu falar entre os soluços.

– Eu sei. Bartle era o cara mais animado desse mundo. Ele deve estar odiando ver vocês assim e não poder fazer nada.

A que tinha conseguido falar, secou o rosto com as costas da mão, já mais calma. A outra, ainda chorando, agarrou Shaun pelo pescoço, dando-lhe um abraço. Sorri com a cena, enquanto Duran apertava meus ombros, parado atrás de mim.

Shaun me viu e murmurou alguma coisa, que entendi como “preciso falar com você depois.” Só concordei com a cabeça.

– Vamos. – Deixamos a escola em silêncio. Nenhum de nós dois queria falar nada. Melhor assim. O som dos sapatos e dos zíperes das mochilas já era o suficiente.

Quando consegui ver a sombra da catedral rasgando o céu, seu contorno parecia ainda mais escuro. Me encolhi perto de Duran, suspirando. Continuamos andando, calados.

Era triste, claro que era. Mas no fundo, eu sentia um pouco de alívio. Bartle não precisaria mais ser aquela figura deplorável do hospital. Ele podia descansar agora. Para sempre.


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Notas finais do capítulo

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