No Other escrita por Pacheca


Capítulo 16
Capítulo 16 - Take Me Away


Notas iniciais do capítulo

Take Me Away do Seether, adoro :3 Desculpem a demora, boa leitura...http://www.youtube.com/watch?v=T-D-VxBH-SU



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Não dormi direito. A ideia de Ali gritando comigo ainda não tinha me deixado em paz.

Meu pai chegou cedo no sábado. Coloquei minhas coisas no carro enquanto ele conversava com minha mãe. Olhei meu celular mais uma vez, suspirando. Ali realmente tinha ficado brava: não me atendia, não respondia minhas mensagens.

Quase desisti de viajar, mas minha mãe me disse que era melhor deixar Ali se acalmar antes. Acabei aceitando o conselho e indo com meu pai. Afinal, eu também não podia cancelar tudo na minha vida por aquilo.

Nunca vi meu pai tão feliz. Dirigia calmamente, cantando Treasure do Bruno Mars junto com o rádio. Acabei cantando com ele, quando tocou Roar e Charlie Brown.

Era bom passar um tempo com meu pai, só nós dois. Me fez esquecer um pouco da briga com Ali. Bem, dela comigo, porque eu não briguei com ninguém.

– Tudo bem? – Ele parou na fila para passar a fronteira do estado. Minnesota, enfim. – Você tá tão caladinha.

– Pai, você brigaria com alguém só por ouvir alguma coisa, digamos, estranha? – Eu estava até falando disso pro meu pai, Ali tinha que voltar a falar comigo.

– Que coisa?

– Que você acha um cara, que não é seu namorado, bonito.

– Que namorado? – Andou um pouco com o carro, franzindo o cenho. – Seu namorado? Quando...quando foi isso?

– Pai, concentra na minha pergunta antes.

– Bem... – Ele suspirou. – Eu provavelmente procuraria entender antes, apesar de não ver problema nisso.

– Não é bem esse o problema... – Lógico que não falaria para ele que Kyu quase me viu pelada, mas tinha que explicar um pouco mais. – Tem esse cara que minha mãe tá namorando, que tem um motorista.

– E...?

– O motorista é mais ou menos da minha idade, Kyu. É coreano.

– Mais coreano viado, Chuchu?

– Não, pai! Não é nada de kpop. – Minha expressão deixava bem claro meu “posso continuar?”.

– Prossiga. – Ele gesticulou com uma mão.

– Eu queria apresentá-lo para Ali, tipo, para eles ficarem mesmo. Mas quando eu tava esperando no meu quarto ela chegar, eu acabei comparando Kyu com Duran...

– Quem é Duran?

– Filho do meu professor, meu amigo, meu namorado.

– Ah, sim, nosso próximo assunto. – Revirei os olhos. – Continue.

– Quando eu fiz essa comparação, Ali ouviu e achou que eu tinha, tipo, ficado afim do Kyu.

– Que você é uma dessas fura-olho por ai?

– É.

– Bem, sei que você não é assim, mas ainda tentaria me explicar.

– É, eu tentei. Ela saiu lá de casa correndo e quando eu segui ela rua afora, gritou comigo.

– E não quis te ouvir. – Não foi uma pergunta, mas afirmei. Ele parou o carro e abriu o vidro. Uma guarda colocou a cabeça pra dentro do carro.

– Documentos, por favor? – Ele pegou a carteira e entregou os documentos, respondendo alguma coisa. Esperei até sermos liberados, para continuar o assunto.

– Não só não quis ouvir como anda me ignorando. – Dei um suspiro exagerado. – O que eu faço?

– Parece estranho, mas eu procuraria o tal garoto. Kyu?

– Mas se ele for atrás dela, Alice vai saber que fui eu quem o mandei.

– Mas mandou. E daí?

– Pai, qualquer garota acharia que eu to tentando disfarçar alguma coisa. Um caso.

– Mania de complicar tudo, Deus. – Ele suspirou. – Fala com ela na quinta, então! Não sei mais o que dizer. Ou você faz isso ou acaba a tão chamada amizade.

– Nossa, que percepção feliz. Me animou mesmo agora.

– Isso se chama realismo, meu bem. Não quero que vocês rompam assim. Ali parece ser legal, se você gostou dela, gostei também.

– Bom, o jeito é esperar, né? – Ele concordou. Sorri. – E ela é muito...foda.

– Então pronto. Agora, relaxa. Vamos amanhã ver a Nath, pode ser?

– Nathaly! Tá bom. Na quinta eu resolvo isso tudo. – Respirei fundo, me sentindo um pouco melhor.

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A casa tinha cheiro de umidade e de madeira velha. O ar lá dentro era estagnado. As janelas empoeiradas tinham algumas teias de aranha, mas ainda me sentia tão bem ali.

Era uma casa de dois andares, sendo a parte de baixo a sala e a cozinha, um banheiro e uma despensa. Os quarto ficavam lá em cima, com mais um banheiro e uma varanda.

A proximidade com o lago deixava o lugar frio. Me encolhi, acendendo as luzes da sala. Meu colocou uma mala sobre uma cadeira, olhando ao redor.

– Bem vinda de volta. – Ele sorriu. Tinha tanto tempo que eu nem pisava naquele lugar.

– É a mesma coisa. – Sorri. – Até a falta de sinal do celular.

Ele riu, olhando o próprio celular. Fui pro meu quarto, subindo as escadas. Deixei minha mala sobre uma das 3 camas que ficavam no quarto.

Ouvi meu pai acendendo o fogão lá embaixo, enquanto eu tirava um moletom azul escuro da mala. Ele subiu as escadas, parando no vão da porta.

– Você gosta de macarrão, né? Alho e óleo?

– Gosto.

– Que bom, porque é o que vai ter esses dias. – Ri, deixando-o voltar para a cozinha.

Me surpreendia que meu pai soubesse ligar o fogão, quanto mais fazer qualquer coisa nele. Troquei de roupa, ainda sorrindo com a ideia do meu pai cozinhando.

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A televisão não funcionou, então jantamos no silêncio. Não foi tão ruim, afinal. Mas o assunto que surgiu não foi nada agradável.

– Então... – Ele começou a falar, entre o som de garfos contra pratos. – Duran. Nome estranho.

– É, os pais dele escolheram por causa de Duran Duran. A música do primeiro encontro deles, ou algo assim.

– Vocês tem uma? Música, eu digo.

– Não. Oficialmente, não. – Meu pai não precisava ficar sabendo do único porre da minha vida toda. – Mas não importa tanto.

– Olha, sei que não quer falar dele. – Ele tomou um gole do suco que eu fiz e continuou. – Mas eu preciso saber.

– Pai, eu gosto dele. É só isso, sem drama.

– E o garoto? – Olhei para ele, confusa. – Kyu? Talvez, você realmente tenha gostado dele.

– Não gostei. Só comentei que ele era bonito. – Lindo, gostoso, na verdade, mas meu pai não precisava saber. – Queria que ele ficasse com Ali.

– Megs, eu te conheço. – Ele me olhava calmo. – Foi mais do que isso, vamos.

– Pai...

– Culpa, você sentiu? – Baixei meus olhos para o prato. Por que ele estava perguntando aquilo? – Megs.

– Não. – Menti. Ele sabia disso, nunca soube mentir.

– Se você diz, não vou insistir...Mas sabe que não precisa, Megs.

– Pai, eu gosto do Duran. Só...

– Quer um exemplo mais vivo que eu sobre gostar de duas pessoas ao mesmo tempo? Você sabe que nunca deixei de amar sua mãe.

– Gostei de Kyu, ok? Mas gosto muito mais de Duran, tanto ao ponto de sequer pensar em nada com Kyu e querer ajudar Ali. Quero que ele seja feliz.

– Como eu fiz com sua mãe.

– Pois bem. Agora a gente já pode mudar o assunto? – Tinha perdido minha fome, mas me forcei a comer.

– Se você quer, mas o próximo não vai ser melhor. Você e Duran já...? – Ele me deu aquele olhar sugestivo.

– Não!

– Nada? Nem...

– Pai, eu não fiz nada, NADA! Nem com Duran nem com ninguém.

– Ok, então. Ótimo. Só pra encerrar a conversa, se ele não usar uma merda duma camisinha eu vou fazer carne moída dele e colocar dentro da camisinha que ele não usou. E...

– Matá-lo, já entendi. – Larguei o garfo, colocando a mão no rosto. – Pronto?

– Agora sim. – Ele se levantou e pegou os pratos. – A gente levanta cedo amanhã, vai dormir.

Concordei, indo pro quarto. Escovei meus dentes e fui ler, pra esperar o sono. Deitei e fui ler as Crônicas do Mundo Emerso.

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Os outros dias foram bons: sem conversas constrangedoras, passando um tempo no lago e na casa de Nathaly.

Ela me atendeu. Ficou me olhando no vão da porta, como se visse um fantasma. E antes que eu reagisse, me abraçou.

– Sua bitch! Quase não te reconheci. – Ela se afastou. – Emagreceu, o cabelo cresceu. E ficou mais bonita.

– Ei, Nath. Tudo bem?

– Sem você, não. Mas to levando.

Entrei na casa. Era como antes: um longo corredor, com as portas para os outros cômodos. Um pouco abafado, mas aconchegante ainda assim.

– Sua visão melhorou? – Perguntei quando ela tateou uma porta, procurando a maçaneta.

– Melhor do que há 9 anos atrás.

Nathaly sempre via o lado bom das coisas, não sei como. Ela tinha os cabelos negros na altura dos ombros, com um porte físico entre magro e gordo, a pele bronzeada. Eu não diria que ela era bonita. Seria uma pessoa normal, não fosse seu problema de visão.

Os olhos negros, além de grandes, depois de ter ficado com o problema de visão que a cegou, ficaram um pouco tortos também.

– Nossa, 9 anos? Idosa. – Ri.

– Oh, você também já tem quase 16.

– Você ainda é mais velha. Sempre será. A idosa.

– Vai cagar. – Ri. – Já que sou idosa, lá vai a pergunta de tia velha, e os namoradinho?

– Duran vai bem, obrigada.

Ela abriu a porta do quarto e se virou para mim, bloqueando o caminho.

– Como assim? É sério isso?

– É. Eu tenho foto dele, se quiser ver.

– Claro que quero. No celular é mais fácil mesmo.

Peguei meu celular e mostrei a foto pra ela, entrando no quarto. Era uma que tirei na aula, enquanto ele não via. O sol fraco entrando pela janela atrás dele deixou os olhos dele brilhando. Lindo demais.

– Nossa! Que deus.

– Meu gatoso.

– Seu o que?

– Gato com gostoso. Lembra? Gatoso.

Ela riu, lembrando da ocasião que passei a usar o termo. Fiquei a tarde toda de domingo lá. Meu pai tinha saído pra comprar alguma coisa, então fiquei com Nathaly até ele voltar.

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Cheguei na casa, na Califórnia de novo, na quarta à noite. Meu celular tinha descarregado, meu e-mail só tinha mensagem de notificação do Facebook.

Kyle estava lá em casa, jantando, quando cheguei. Kyu também estava lá. Tentei não falar muito, mas cheguei à conclusão de que ignorar o garoto não era justo.

Acabei fazendo um pouco de amizade com ele, mas ainda com aquela culpa leve. As palavras do meu pai se mesclavam com as de Ali enquanto eu conversava com Kyu. E a culpa só piorou.


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Notas finais do capítulo

Boa noite para todos, me digam o que acharam ;3



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