No Other escrita por Pacheca


Capítulo 13
Capítulo 13 - Feuer Frei!


Notas iniciais do capítulo

Então, pra quem se pergunta que banda é essa da minha foto de perfil, apresento a música do capítulo : Feuer Frei, do Rammstein - http://www.youtube.com/watch?v=XHUsIU161w4



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Abri os olhos, mas me arrependi. Minha cabeça doía, o quarto parecia rodar. A lembrança da dança sobre o balcão do bar me atormentou. Pior que a ressaca física era a ressaca moral.

Me mexi na cama. E então acordei, de verdade. Olhei minha cintura, encontrando o braço dele, me prendendo. Não, pelo amor de Deus, não! Duran dormia ao meu lado.

Me levantei, num pulo, esquecendo completamente minha dor de cabeça. Eu não podia, não tinha dormido com meu amigo. Muito menos estando bêbada.

Respirei fundo. Me virei para o espelho atrás da porta. Meu vestido estava torto, mas ao menos eu ainda o usava. Ótimo. Duran também estava vestido, para meu alívio.

O que não me deixava relaxar e esquecer o assunto é que eu tinha certeza de ter o agarrado na noite passada. Suspirei e fui até o banheiro.

Lavei meu rosto, arrumei meu vestido e penteei meu cabelo, gastando o máximo de tempo possível em cada tarefa. Saí do banheiro no exato momento em que Duran se levantava.

– Ah, oi. – Minha cabeça latejava de novo, mas tentei sorrir. – Você tá bem?

– De ressaca, mas acho que sim. – Ele passou a mão no cabelo e suspirou, encarando o chão. Percebi ele olhando o próprio reflexo antes de falar. – A gente não...transou, né?

– Não! – Respondi com urgência. Não sei bem se era uma pergunta retórica. Suspirei também. – Olha, eu gostei muito de sair com você, apesar da ressaca de hoje, e até de... – Hesitei por um instante, mas achei melhor falar de uma vez. – Bem, de te agarrar. Eu gosto de você, muito,mas...

Não acabei de falar. Nem sei o que eu estava falando. A boca dele na minha me interrompeu. Acho que meu coração parou de bater por um instante. Oh Deus, eu realmente estava afim de Duran.

– Eu sei que eu falei demais ontem e que eu posso estar interpretando esse “eu gosto de você, muito” errado, mas se for como eu acho que é, como eu quero que seja... – Ele segurava meu rosto com uma mão. – Então eu quero que seja sério. Namoro, tals.

Minha garganta ficou apertada com o nervosismo. Jesus, como eu queria simplesmente concordar com ele, dizer um “sim” bem alto e sonoro. Claro que a parte tapada de mim reagiu antes.

– Jura? – Só consegui dizer aquilo. Ele sorriu antes de concordar com a cabeça.

– Tudo no seu tempo, do seu jeito.

– Ain, que amor. Que gay. – Ele riu e me beijou de novo.

– Então, isso é um sim? – Quem concordou dessa vez fui eu. – Bom. Eu tenho que ir para casa, senão sou um homem morto. Até amanhã?

– Te vejo amanhã. – Desci com ele, sorrindo feito uma retardada.

– Bom dia. – A voz da minha mãe soou feito um sininho no meio da sala, me fazendo dar um pulo. Ela sorria para Duran.

– Ei, mãe, me ajuda... – Elijah surgiu no topo da escada, segurando algo. Não sei porque fiquei tensa. Meu irmão olhou da minha mãe para e mim e para Duran, franzindo o cenho. – Meio cedo, não? Pra chegar na casa de alguém em pleno domingo.

– Ele já estava saindo, Eli. – Minha mãe sorria docilmente para meu irmão, mas senti que ela também estava tensa. Ela segurava a xícara de café firmemente.

– Ah. – Ele passou a descer as escadas, me olhando. Me lembrei que ainda estava com o vestido da noite passada. – A campainha não tocou.

Fiquei mais tensa. Comecei a ficar vermelha. Elijah alternava olhares entre eu, minha mãe e Duran.

– Você que ficou surdo, Elijah. – Cruzei os braços. Meu irmão parecia processar alguma coisa na mente dele. Ele olhou uma última vez minha mãe, antes de passar a encarar Duran.

– Não fiquei não. – Inclinou um pouco a cabeça. O cabelo dele estava grande, quase nos ombros, e a barba por fazer. Deixava meu irmão bem apavorante. – Você...Ele...Ele passou a noite...Filho da puta, eu vou te matar!

Meu irmão se jogou em cima de Duran, os punhos cerrados. Só consegui me mover, tentando afastar Elijah, depois que ele acertou o rosto de Duran.

– Elijah, para! – Percebi que não ia afastá-lo e decidi mudar a tática. Me joguei na frente de Duran.

Minha mãe, que tentava afastar Elijah, parou, me encarando. Eu quis fechar os olhos, esperar a pancada no escuro, mas eles se negavam a se fechar. Vi o punho do meu irmão se aproximar cada vez mais.

Duran agarrou meu braço e tentou me tirar do caminho, mas não me movi. Elijah parou o movimento no último instante, tremendo. Tremendo de raiva.

– Sai.Da.Frente. – Duran tentou me afastar de novo, mas me soltei dele. – Sai da reta, sua piranha!

Meu irmão me empurrou, erguendo o punho de novo, me fazendo cair. Antes que ele acertasse Duran de novo, o som de algo se quebrando o interrompeu.

Mamãe tremia, encarando Elijah de um jeito que eu nunca a tinha visto. Com raiva. Uma poça de café se espalhava entre os pedaços brancos da caneca.

– Elijah Stone, NUNCA MAIS FALE ASSIM DA SUA IRMÃ! – Ela ofegava, erguendo um dedo e o apontando para Elijah. – Ela é livre para fazer o que quiser, só precisa ser responsável. Ou você acha que é o único que pode dormir com Deus e o mundo?

Elijah se afastou de Duran, ofegante. Ele passou a mão pelo cabelo e subiu a escada, de dois em dois degraus. A porta do quarto bateu. Minha mãe o seguiu, pisando firme.

Duran se abaixou ao meu lado. Só quando ele passou o polegar pela minha bochecha percebi que estava chorando. Meu irmão tinha me chamado de piranha, me empurrou como se eu fosse uma porta no caminho.

– Ele só quer te proteger. – Ele pegou minha mão e me ajudou a me levantar. – E eu não me importo de apanhar por você. – Ele deu um sorriso, tentando me animar. Só então me lembrei do soco que ele levara.

– Me desculpa. Elijah é ridículo. – Ele sorriu, mas eu pude ver que o lado esquerdo do rosto dele provavelmente estava dolorido. Passei a ponta dos meus dedos onde ele tinha sido atingido.

– Ai. – Ele sorriu, fechando os olhos. – Vou ficar bem. Eu me viro. Te vejo amanhã.

– Eu vou arrebentar com a cara dele se seu rosto inchar. – Ele riu, com uma pontada de dor. Abri a porta para ele. – Ainda quer ser meu namorado?

– Até amanhã. – Ele me deu um beijo, que eu aceitei como resposta.

Bati a porta assim que ele virou a esquina. Minha mãe berrava com meu irmão lá em cima, mas ignorei. Me ocupei em juntar os pedaços da caneca e limpar o café.

– Zinha... – Elijah saiu do quarto, me chamando do alto da escada. Eu estava de quatro, limpando o café com um pano de chão molhado. Olhei para cima, com o rosto fechado. Ele suspirou e desceu.

– Diga.

– Eu sei que eu sou muito otário. – Ele começou, prendendo o cabelo num rabo de cavalo curtinho.

– Demorou a descobrir? – Sorri ironicamente. – Só conseguiu ver isso depois de bater no meu namorado?

– É, eu sei, superproteção. – Ele suspirou de novo. – Mas a gente nunca aceita que nossa irmãzinha anda dormindo com algum cara. Me perdoa?

– Elijah, ele realmente dormiu aqui, mas a gente não fez nada. – Me levantei. Percebi um certo alívio no olhar dele. – E mesmo se tivéssemos feito algo, isso não seria da sua conta.

– Já manjei. – Ele colocou as mãos nos bolsos. – Me desculpa. Vocês dois.

– Eu te perdoo, mas você precisa se controlar mais, sabia? – Ele deu um sorriso fraco. – E vai ter que pedir desculpas você mesmo para ele.

Fui para a área de serviço com o pano de chão, deixando Elijah sozinho.

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Já estava na hora do almoço. Minha mãe me mandou pegar dinheiro e sair para comer alguma coisa num fast-food. Elijah tinha saído de casa, então fui sozinha. Foi melhor, não queria ficar com ele.

A tarde estava quente, mas uma brisa leve soprava. Eu usava um short jeans e uma camiseta bege fresca, aproveitando a brisa. Já me sentia melhor, mesmo depois da briga.

Caminhei por 4 quarteirões, até o Burguer King. Peguei um combo e procurei uma mesa entre as ocupadas. Estava bem cheio. Avistei uma mesa mais ao fundo do lugar, ocupada por duas garotas. Alice e Kimberly.

– Posso? – Alice ergueu a cabeça, olhando para mim, atrás dela.

– Garota, você é forte. – Kimberly tomou um pouco de refrigerante. – Você e Duran deviam estar mortos agora.

– Por quê? – Alice voltou a olhar para Kim. Me sentei ao lado dela, definindo que eu não seria expulsa.

– Os dois foram lá no “Country Roads” ontem. Saíram muito tontos. Tipo, loucaços. Mesmo.

– Bem, eu sobrevivi, viu? – Dei de ombros, pegando meu sanduíche.

– Acho que sim. – Kim sorriu. Não sei se eu tinha intimidade suficiente para chamá-la daquele jeito, mas não consegui evitar.

– Mas, tirando a parte da cachaça, que eu devo dizer que fiquei decepcionada com os dois, porque eu podia jurar que vocês não bebiam... – Revirei os olhos para Alice. Ela continuou, fingindo que não viu. – Como foi a noite?

– Bom, foi muito boa. – Ela jogou as batatas dela na bandeja e rasgou o pacotinho em que elas vieram. Não perguntei o porquê. – Pode ser que eu tenha o agarrado quando cheguei em casa. – As duas seguravam o riso, meio surpresas. – E agora a gente namora.

Roubei uma das batatas de Ali, aproveitando o choque em que ela estava. Kim riu da cara da amiga e pegou uma batata também.

– Eita, porra. – Minha amiga se recuperou, tomando suco. – Eu formei um casal?

– É. E, a propósito, ele sabe que foi você quem mandou a mensagem pra ele.

– Sério? – Alice comeu a última batata.

– Uhum. Ou seja, você é péssima sendo eu.

– Porque você é perfeita demais. – Ela me abraçou, fazendo Kim sorrir, coçando o nariz.

– Eu sei, você também é gatosa. – Dei uma piscadela para ela e sorri. Ali me soltou, satisfeita, e pegou uma bolsinha dependurada na cadeira. Kim se levantou.

– Bem, galerinha, tenho que fazer meus deveres. Megan, um prazer te rever. – Ela sorriu para mim, acenando um tchau. – Ali, depois te empresto o DVD.

– Até mais, Kim. – Acenei de volta. Ela pegou a própria bolsa e saiu do restaurante, brincando com o cabelo jogado sobre o ombro.

– Por que não me falou dela antes? – Ali me olhou por um instante, como se não tivesse entendido a pergunta. – Vocês são amigas, ela também gosta de k-pop, por que não me contou de Kim antes?

– Não falei? – Ela mordeu o sanduíche. – Tem certeza?

– Tenho. – Suspirei e comi o resto do meu hambúrguer. – Retardada.

– Desculpa. – Ela me encarou. Fingi que a ignorava. – Vai se fuder. Piranha.

– Hum, acho que vou tomar um frozen yogurt aqui perto. – Falei, rindo. Limpei minha boca e me levantei. – Quer vir?

– Queria, mas também tenho dever. – Arqueei uma sobrancelha. Alice nunca fazia dever. – É, eu sei. Estou tentando melhorar minhas médias.

– Achei que você não ligasse muito pra isso. Tipo, você faltou o primeiro bimestre inteiro. Não faz dever nenhum e ainda vai passar de ano.

– É, eu não ligo mesmo. – Ela se levantou. – Minha mãe liga. Ela é exigente, professora 24 horas por dia, até depois que para de trabalhar.

– Ah. Bem, posso copiar amanhã? – Ela deu de ombros.

– Claro. Te vejo amanhã. – Ela me abraçou e foi embora.

Peguei meu refrigerante, que ainda estava na metade, e tomei tudo de um gole só, antes de sair também.

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Pedi um frozen gigante, simplesmente porque eu amo frozen yogurt. Peguei meu iPod, trocando a música que estava tocando. Elvis Presley. Sorri.

When I walk like this,

And I want to kiss you, baby,

Don’t say ‘don’t’.”

– Você devia usar mais shorts. – Senti um arrepio na nuca com o sussurro no meu ouvido. – Apesar de todo mundo estar olhando suas pernas nesse momento.

Me virei, encontrando o dono do sorriso torto e dos olhos violetas que me encaravam. Pude sentir o peito dele contra o meu, mais perto do que eu esperava.

– Ah, oi, Shaun. – Dei um passo para trás. – Tudo bem?

– Melhor agora. – Dei um sorriso sem graça. Acho que Shaun tinha, finalmente, decidido agir como ele era. Não sei se eu gostava ou não.

Peguei meu frozen com a atendente, comendo um dos m&m’s, e voltei a encará-lo. Ele pegou a colher da minha mão e tomou um pouco do yogurt.

– Quer um pouco? – Perguntei num tom irônico.

– Não, valeu. – Ele deu de ombros. – Você tá bem?

– Como assim? – Tomei a colher de volta e tomei o frozen.

– Sua cara, parece que você está de ressaca. – Nos sentamos numa mesinha na calçada.

– Ah, isso. É, pode-se dizer que eu tomei um porre ontem.

– Você, tonta? – Ele pegou a colher de novo. – Deve ter sido muito engraçado.

– Deve ter algum vídeo no YouTube. – Lá vinha a ressaca moral, de novo. – Subi no balcão para dançar “Riding With The King”.

– Ok, alguém tinha que ter visto isso. – Ele riu, sacudindo a cabeça.

– Viram. – Dei de ombros. – Kim e Duran.

– Você saiu com Duran? – Ele cruzou os braços sobre o peito, franzindo o cenho.

– Foi. Meio que um encontro. – O olhar dele me incomodava. Alguma coisa fazia o violeta dos olhos dele mais escuros, mas eu não soube o que.

– E? Deu em alguma coisa? – Ele perguntou, indiferente.

– Bom, a gente namora agora. – Me encolhi na cadeira, dando um sorriso tímido. Eu nunca vi Shaun com uma expressão tão fria, nem quando ele bateu no cara que tentou me estuprar.

– Bem, tomara que vocês dois não virem um daqueles casais chatos de filmes clichês pão com ovo. – Ele pegou a colher na minha mão.

– Acho que sou sem graça demais para isso. – Dei de ombros. – E um pouco grossa, às vezes.

– A única vez que te vi sendo grossa foi lá em casa, com aquela piranha loira. – Ele deu um sorriso torto.

– Piranha loira? A Jessica? – Ele concordou. – Você também não gosta dela?

– Ninguém em plena sanidade gosta dela. – Aquilo me fez sorrir. – Prefiro achar que eu tenho um pouco de juízo.

– Bom, a culpa foi dela. Ela não tinha razão nenhuma para me provocar naquele dia.

– Algum dia ela vai ter? – Senti que eu estava perdendo alguma coisa naquela pergunta, mas não comentei nada.

– Quem sabe? – Respondi, embolando o guardanapo que eu tinha recebido e o jogando dentro do copo do frozen, agora vazio.

– Quem sabe? – Ele concordou. – Tem dever para amanhã?

– Biologia. Eu vou copiar da Ali.

– Bem, eu vou fazer. – Ele se levantou. – E vou procurar sua coreografia sobre o balcão.

– Ah, vai se ferrar. – Ele riu e foi embora.

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As aulas da segunda-feira sempre passavam rápido, até a hora do almoço. Naquele dia, no entanto, elas pareciam demorar o dobro. Quando a aula de educação física finalmente terminou, contive minha vontade de gritar de alegria e fui para o refeitório.

– Vocês não sabem da melhor. – Ali puxou Kim pelo braço e a forçou a se sentar ao seu lado. – Megs e Duran são um casal.

Shaun não reagiu. Só continuou comendo. Tentei pensar que era porque ele já sabia, mas me lembrei da reação dele quando descobriu. Foi estranho.

Louis e Lólli se entreolharam antes de começarem a rir e a gritar, apontando para nós. Duran começou a corar à medida que alguns alunos passavam a olhar nossa mesa.

– Eu sabia! - Lólli batia palmas, animada. Vi Shaun apertar o garfo mais forte.

– Então, perdi de vez minha chance, Du? – Louis fez um biquinho para Duran, bem gay.

– Nunca teve. – Duran olhava Louis com uma expressão dura, mas que eu sabia que não era séria.

Ficamos mais meia hora falando do namoro. Assim que terminou de almoçar, Shaun pegou a mochila dele e saiu do refeitório, sem sequer se despedir.

Aquela falação toda era quase bullying. Duran passou o almoço todo com o rosto totalmente vermelho, enquanto eu gaguejava o tempo todo.

E eu que achei que aquilo seria o pior. Shaun voltou para a mesa, sem a mochila. Não perguntei porque ele tinha voltado. Não tive tempo. Ela parou ao lado dele, com aquela postura de superior irritante.

– O que você quer? – Ela tinha ficado exatamente de frente para mim. Todo mundo esperava a resposta de Jessica.

– Com você, nada. – Ela me olhava como se eu fosse uma barata, ou algo do gênero. – Meu problema é com “essa” aqui.

Ela apontou para Alice, com puro desdém. Ali a olhou, da cabeça ao pés, de um jeito bem ameaçador. Todos do refeitório as observava, inclusive eu.

– Se você me roubar, vamos ter sérios problemas. – Jessica continuou, ignorando os olhares. Aposto que ela adorava aquela atenção.

– Ótimo, eu adoro uma treta. – Ali deu um sorriso torto, deixando a loira bem irritada.

– Acredite, você não vai gostar nem um pouco dessa. – Ela apoiou uma mão na mesa e a outra na cintura, se inclinando para frente. O rosto dela estava a centímetros do de Ali. – E eu só estou te dizendo para você não criar esperanças e achar que uma pessoa tão ridícula tem alguma chance.

– Olha aqui... – Jessica se virou e saiu do refeitório, atraindo vários olhares. O meu, no entanto, continuou em Ali. Ela estava quase quebrando o garfo de plástico, de tão forte que cerrava os punhos.

– Roubar o que? – Louis deu voz à pergunta que eu queria fazer, mas hesitei. Ali não respondeu. Simplesmente pegou a mochila dela e saiu do refeitório, largando o garfo de plástico partido sobre a mesa.

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Ela não foi para a aula no quarto horário. Kennedy não pareceu ficar surpreso que ela tivesse sumido. A aula se arrastou, mas eu não conseguia prestar atenção. Estava preocupada com Ali.

Quando o sinal indicando o fim do horário tocou peguei minhas coisas e saí correndo, sem me importar se estava matando a aula de biologia.

Se me pegassem depois do segundo sinal eu, com toda certeza, me ferraria. Fui para o estacionamento, ao lado do edifício 4, sem pensar mais no sinal. Encontrar Ali, era isso que eu tinha que fazer.

Ela estava de pé ao lado de um BMW preto. Só quando me aproximei percebi que ela segurava uma marreta e tinha uma barra de ferro perto dos pés.

– Onde você conseguiu isso? – Me aproximei devagar, com medo dela ter se assustado.

– Armário do zelador. – Ela olhava o carro fixamente. A resposta tinha sido muito automática. Aquilo me deixou com um arrepio. Era como se Ali não estivesse ali de fato.

– O que você vai fazer? – Me abaixei e peguei a barra de ferro. Talvez ela tivesse pensado em usá-la junto com a marreta, mas percebeu que seria pesado.

– Vou mostrar praquela vadia o que eu vou fazer com a cara dela se ela ousar falar daquele jeito comigo, de novo. Ainda mais me chamando de ladra.

– Ali, quem vai se fuder vai ser você, pensa bem.

– Ainda assim vai valer a pena. – Ela se virou para mim, séria. – Por tudo que ela já me fez. Pelo que ela já fez pra todo mundo na escola. Inclusive você.

– Ali, o que ela acha que você vai roubar dela? – Ali encarava o carro de novo. Alguma coisa parecia faltar naquela briga, uma razão.

– Sei lá. Ela é doida. – Eu me negava a admitir, mas me parecia que ela estava mentindo. Ela sorriu. – Quer se envolver numa treta?

– Eu já me envolvi nessa merda, Ali, até o pescoço. – Segurei a barra de ferro com as duas mãos e a ergui como um taco de beisebol. – Então, foda-se.

O som do vidro do para-brisa se estilhaçando e o alarme do carro disparando me deixaram eufórica. Claro que eu estava com medo de ser punida, mas a cada vez que eu acertava o carro uma onda de calor me dominava.

Mal percebi a presença de Alice, mas ela parecia estar no mesmo estado que eu. Dominadas pela adrenalina. E em poucos instantes estávamos correndo para longe do carro, segurando a marreta e a barra de ferro firmemente.


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Notas finais do capítulo

Grande .q Pra quem não gosta do Duran, apenas aguardem ;) A roupa do capítulo passado, só fiz agora :http://www.polyvore.com/hello/set?id=110376246