O resto da semana passou bem rápido. Alice passava o almoço com a gente, já que era amiga de Louis, Lólli e Duran antes mesmo de eu chegar na escola. E ela também convenceu Shaun a passar o almoço com a gente.

Nós duas tínhamos os mesmos horários, então eu passava a maior parte do meu dia com Alice. De cara eu percebi que ela só iria às aulas para marcar presença. Ela se distraia facilmente nas aulas, mas nunca tinha dificuldades. Inteligente demais.

Na quarta-feira, quando cheguei na aula de química, fui direto pro meu lugar habitual ao lado de Duran. Ele não tinha chegado ainda, então dei play no Ipod, agora lotado de k-pop. Eu tinha simplesmente amado k-pop.

Quando cheguei em casa naquele dia, depois da aula de redação, realmente procurei tudo que eu pude sobre Super Junior. E outras bandas também. SHINee, Big Bang, Girls Generation, 2NE1, Beast, um monte.

A primeira música do aleatório foi Sexy, Free and Single, do Super Junior. Meu Deus, Siwon tinha ficado tão perfeito naquele vídeo. Aliás, ele era perfeito. Meu computador já estava com uma foto dele como tela de fundo.

Alice se sentou sobre a mesa e pegou um dos fones, sorrindo ao reconhecer a música.

– Duran vai encher seu saco, ele chama de “gaypop”. – Ela riu, me fazendo rir junto.

– É, meu irmão e meu pai também. – Dei de ombros. Eu tinha mandado outro e-mail pro meu pai depois de conhecer Ali, falando dela e do k-pop. Ele me respondeu quase de imediato.

“Oi, meu bem.

Meu bom Deus, minha filha se perdeu pra grupinhos de viados da Coréia? Gaypop não, meu bem. É tudo bicha.

Só não vicia nessa porcaria, ok? E dá um abraço em Alice por mim.

Bjs, papai”

Tenho certeza de que ele tinha escrito aquilo rindo horrores. Assim como Elijah, mas agora já era tarde. Já tinha viciado. Já tinha integrantes favoritos em quase toda banda*: Siwon, Leeteuk e KyuHyun no Super Junior e Zhou Mi e Henry no Super Junior M, Minho e Jonghyun no SHINee, Dongwoon e JunHyung no Beast, T.O.P, Seugri e Daesung no Big Bang. Eu e Ali já quase nos matamos pelo KyuHyun. Acabei concordando em “deixá-lo” para ela, mas ainda amava ele.

– Ei, por que você sempre fica com Duran, sempre que pode? Na aula, no almoço... – Alice tomou o Ipod da minha mão e colocou Bad Boy, do Big Bang pra tocar.

– Como assim?

– Sempre que você pode sentar do lado dele, você senta. É afim dele? – Ela perguntou, indiferente.

– Não. – Comecei a ficar vermelha, lembrando daquela noite fatídica na minha casa. – Só que Louis e Lólli são muito...escandalosos, empolgados, sei lá. Ele é mais quieto.

– Tá bom, então. – Ela provavelmente achou que era uma desculpa esfarrapada qualquer, mas não insistiu. Só desceu da mesa e foi para seu próprio lugar, justamente quando Duran entrou na sala.

– Oi. – Ele se sentou, ofegante, colocando o celular com os fones na mesa. – Tudo bem?

– Eu que te pergunto, tudo bem? – Ele sorriu, ainda ofegante, apertando os olhos por causa do Sol que passava pela janela.

– Eu tive...tive que vir correndo... perdi a hora. – Ele cobriu os olhos com a mão, piscando. – Como eu odeio ter olho claro!

– Quer trocar? – Perguntei sorrindo. – Eu não me importaria de ter os olhos azuis, e ainda por cima num tom tão pica das galáxias.

– Pica das galáxias? What the fuck? – Ele voltou a respirar normalmente, franzindo o cenho. – Preferia ter olhos iguais aos seus. Bem escuro, é muito daora. E o sol não incomoda tanto.

– Ok, então a gente troca. – A professora entrou dando bom dia. Ele parou de sorrir, mas continuou cobrindo os olhos.

Uns vinte minutos de aula se passaram. Eu conversava com Duran pelo caderno, como de costume. Senti meu telefone vibrando no meu bolso, levando um susto. Ele não percebeu.

Mensagem de Ali. Suspirei e abri, escondendo o celular embaixo da mesa.

“E você fala que não é afim dele .-. Fala sério, Megs!”

“Vai se fuder, Ali. Não sou afim e pronto.”

“Aham, tá, acredito. Me chama pra ser madrinha do filho de vocês, ok? Ou de casamento. Ou os dois.”

“Cala a boca, idiota!”

Ela não respondeu mais, mas quando olhei sobre o ombro para ver o que ela estava fazendo, ela me deu um sorriso bobo.

Quando o sinal tocou eu saí da sala quase correndo, evitando qualquer tipo de situação estranha ou, no mínimo, embaraçosa em que Ali pudesse me colocar. Passei as aulas fugindo de Ali, mas no almoço foi meio impossível.

Me sentei entre Shaun e Duran, sentindo o olhar de Ali me seguindo, rindo silenciosamente. Ela não conseguiu ficar muito tempo daquele jeito. Do nada ela começou a rir, alto.

Todo mundo do refeitório passou a encará-la. Senhor, cala a boca dessa garota! Ai, que vergonha.

– Ai, caralho! – Ela tentava falar, mas não conseguia parar de rir. Sorte minha. – Socorro!

– Ok, eu tenho que pegar minhas coisas no armário, então vou vazar. – Shaun pegou a caixinha de suco e a mochila e saiu.

– Não entendi mais porra nenhuma. To indo também. – Louis limpou o canto da boca com um guardanapo antes de se levantar. – Duran?

– Nem fudendo eu vou ficar nesse hospício. – Os dois saíram do refeitório, deixando Lólli e eu com Alice, ainda morrendo de rir.

– Seria um casal tão bonitinho. – Alice falou entre os risos. Lólli se virou pra mim, franzindo o cenho. – Né, Ló?

– Quem, maluca?

– Megs e Duran. – Ali finalmente parou de rir. Se eu pudesse explodir as coisas só de olhar para elas, Alice teria perdido a cabeça naquele instante.

– Agora que você falou, até que sim. – Lólli sorriu, ainda com o cenho franzido.

– Definitivamente não. – As duas me encaravam.

– Ele é gato. Tipo, gostoso. Muito. – Lólli concordou com Ali com um movimento de cabeça. – E muito gente boa.

– Louis também é, e daí? – Dei de ombros.

– E daí que meu irmão nunca vai estar na sua lista de paqueras. – Lólli falou por causa de Amor Doce, que nós três ali jogávamos. Ela fez uma cara tipo “Dãh”.

– Por que não? – Não que eu fosse afim de Louis, mas me pareceu meio ofensivo definir que eu não podia ser afim dele e pronto.

– Ele não te falou? – Lólli ergueu uma sobrancelha, confusa. Neguei com a cabeça, devagar. Contar o que? – Que ele é...viado?

Minha expressão congelou por alguns instantes. Atordoada me descrevia bem, naquele instante. Só depois de alguns segundos consegui falar.

– Vocês tão de zueira, né? – As duas negaram com a cabeça, sérias. – Eita, porra!

As duas me encararam, apertando as bocas. Esfreguei os olhos, como se fosse tornar o que eu acabara de ouvir uma mentira.

– Mas enfim, por que não me contou que tava afim de Duran? – Lólli gesticulava com uma mão enquanto Ali me encarava com uma sobrancelha erguida.

– Porque eu não estou! Ali quem cismou com isso, mas eu não sou afim dele. – Eu tentava falar séria, mas as duas me encarando começou a me incomodar. Sempre que alguém ficava me encarando tanto, eu começava a rir.

Sorri, tentando segurar o riso, mas só consegui piorar minha situação. Ali apontou pra mim, sorrindo pra Lólli, triunfante. As duas olharam pra mim, como se dissessem que não tinha mais como eu negar.

– Alice tem razão, Megs. Você não só é afim dele, como também é horrível tentando disfarçar. – Ela cruzou os braços, rindo.

– Não adianta, Megs, eu te conheço. – Ali deu de ombros.

– Quer saber, foda-se! Eu sei que eu não sou afim dele e pronto, não vou discutir. Vou pra aula. – Peguei minha mochila e deixei as duas sozinhas, rindo de mim.

Fui embora sem ver mais ninguém da turma, a não ser Ali, mas ela não forçou o assunto “Duran” a surgir.

Cheguei em casa e fui direto pro meu quarto, tirando os fones e desligando o Ipod. Joguei a mochila num canto e peguei meu computador. Alguns minutos depois que entrei no chat, Louis ficou on. Abri a conversa e apertei o Caps Lock.

POR QUE VOCÊ NÃO ME CONTOU?

Contei o que, doida?

Que você é gay!

Porque geralmente eu não preciso me declarar gay pras pessoas saberem.

Ah, então a lerda sou eu??

Não falei isso ¬¬ Td bem, é que eu era mais afetado.

Você, afetado?

Tão difícil de imaginar o.O?

De verdade, não.

Pois bem. Só entrei pra marcar de sair com a galera.

Ué, fui excluída?

Não nossa galera, a galera da minha sala de física. Quer vir?

Eu conheço alguém?

Nope.

Então não. Té mais :*

Ele desligou em seguida, me deixando sozinha por mais alguns instantes. Eu já ia sair quando Ali e Duran me chamaram. Olhei a de Ali antes.

Posso ir pra sua casa?

Agora? o.O

É, não quero ficar em casa –q

Vem então. Sabe chegar?

Sei. Já to indo.

Cocei o nariz, rindo dela. Coloquei Mirotic pra tocar antes de olhar a janela da conversa de Duran.

Qual o problema com Ali?

Como assim?

Sei lá, ela não parava de falar no caminho pra casa, perguntando de você...

De mim?

Travei meu maxilar, pensando em como matar Ali. Eu já tinha dito que não queria nada com ele. E mesmo se quisesse, ela não podia fazer aquilo!

É, se eu gostava de você...

Como assim?

Se eu gostava de ser seu amigo, sabe? Sei lá, acho que ela tá usando drogas –q

Já tinha uns dez minutos que Ali tinha dito que estava vindo, ela já devia estar chegando. Não que eu tivesse vergonha de Duran nem nada, mas se Ali visse aquela conversa ia me zoar pelo resto da eternidade.

Ei, me manda msg pelo celular, minha internet tá um cú hj.

Tá, td bem.

A campainha tocou exatamente quando fechei a janela da internet. Desci as escadas correndo e abri a porta.

– E ai? – Paralisei, segurando a maçaneta. O cabelo dela estava escovado, e ela usava maquiagem. Eu tinha ficado meia hora longe dela e ela aparece mais linda ainda, porra?

– Quem é você e o que fez com Ali? – Sai do caminho pra ela entrar, ainda surpresa.

– Nossa, como você é engraçada, hein? – Ela pegou uma bala no bolso e me ofereceu.

– Não, valeu. – Fechei a porta. – Vou pegar alguma coisa pra comer, você quer?

– Nah, daqui a pouco eu pego. – Ela colocou as mãos nos bolsos, olhando a casa.

– Tá. Meu quarto é lá em cima, à direita. Pode ir. – Ela começou a subir a escada e eu fui para a cozinha.

Peguei um pacote de biscoito e fui olhar a geladeira, vendo se tinha mais alguma coisa. Olhei o relógio, pensando: 3 da tarde. Não tinha mais nada, então decidi subir. Já estava saindo da cozinha quando o celular de Elijah tocou ali perto.

Então eu percebi minha burrice. Senti meus olhos arregalando, mas ignorei. Peguei o celular do meu irmão, correndo escada acima. Abri a porta do quarto dele e joguei o telefone nele.

Fui pro meu quarto, tentando parecer calma. Ali olhava meus livros na estante, pegando um deles. Fechei a porta do quarto devagar, sentindo meu coração martelando.

Me sentei na cama, tentando me acalmar, olhando o cabelo de Ali. Peguei meu celular e abri as mensagens, na conversa com Duran. Burra, burra, burra!

Que tipo de idiota deixava um celular, sem senha, perto de Ali quando estava conversando com o garoto que ela acha que você queria pegar? Eu, lógico.

Ela tinha mandado uma mensagem que me deixou paralisada, sem reação.

“Pq vc não me chama logo pra sair?”

– Ali. – Ela se virou, esperando eu falar. – Eu vou te matar! Sua piranha! – Só não joguei meu celular nela porque não queria pagar outro, se quebrasse.

– Por que, garota? – Ela voltou a olhar para a estante. Tenho certeza de que ela estava segurando o riso.

– Filha da puta. – Pulei em cima dela, derrubando-a no chão. Antes que eu conseguisse machucá-la, meu celular vibrou. Alice tomou o aparelho da minha mão e rolou para longe de mim.

Ela digitou alguma coisa em resposta e sorriu para mim. Depois ela jogou o celular na cama e tampou o rosto com as mãos, como se fosse mesmo precisar de proteção.

Corri e peguei meu celular, olhando as mensagens. Duran tinha respondido, bem diferente do que eu imaginava. Achei que ele só ia falar um “Ahn?”

“Ok, se você não consegue esperar...sábado?”

Era por isso que Ali estava sorrindo daquele jeito. Ela respondeu por mim.

“Claro, me pega aqui às 7.”

Se eu falasse que queria ir, seria confirmar as provocações de Ali. Mas se não aceitasse, pareceria que eu estava fugindo dele.

Acho que tenho um encontro no sábado!