Era exatamente dezesseis horas e quarenta minutos quando eu senti os pneus do avião tocarem a pista do Louis Armstrong International Airport. A tarde estava calma e ensolarada, e o meu coração batia descompassado. Mais uma vez eu me perguntei se essa era a decisão certa, ou só mais uma fuga desesperada?

Quantos meses haviam se passado desde a última vez? Um? Dois? Ou só três meses, duas semanas, quatro dias e...

Olhei o relógio dourado em meu pulso.

Humm seis horas, dezenove minutos e trinta segundos?

Suspirei nervosa.

O avião taxiava até o terminal e eu desejava ter só mais um pouco de tempo. Mexia minhas mãos como se fosse quebra-las a qualquer momento. A última lembrança que eu tinha era a expressão de compreensão no rosto do Tyler quando eu disse adeus. Podia ouvir tudo o que foi dito antes daquela expressão de dor e aceitação. Podia sentir todos os sentimentos expostos naquela conversa. Queria tanto ter conseguido. Minha vida parecia tão perfeita antes de tudo. Tantas lágrimas derramadas, tantos sentimentos misturados. Pra que? Para eu terminar aqui? Parecendo uma menina boba e apaixonada? Desejando estar perto de uma pessoa que praticamente virou meu mundo de ponta cabeça? Deixando para trás alguém que eu juguei ser importante? Alguém por quem eu lutei até os últimos segundos?

E eu lutei! Principalmente nesses últimos meses. Mas Tyler voltou tão estranho, tão diferente do Tyler por quem me apaixonei. Ele parecia mais aquele garoto arrogante do time de futebol do colégio. Aquele que se achava melhor do que tudo e do que todos. Sem sombras de dúvidas ele estava diferente. Queria saber o que tanto mudara em nossas vidas. Talvez nós mesmos.

- Senhora? – chamou a comissária de bordo.

Olhei confusa até perceber quem a maioria dos passageiros já havia desembarcado. Pedi desculpas a ela, soltei o cinto de segurança e comecei a me organizar. Prendi meu cabelo em um rabo-de-cavalo que deixava alguns cachos dourados caindo sobre meus olhos. Caminhei de cabeça baixa questionando a minha sanidade.

Enquanto aguardava a minha mala meu celular tocou. Era Elena.

- Oi.

- Como foi à viagem?

- Rápida. Tensa. Cheia de perguntas sem respostas. Tyler apareceu?

- Não.

- Elena, me diz por que eu estou fazendo isso.

- Isso só você mesma pode responder. Só quero que saiba que pode contar comigo Car.

Sorri.

Avistei minha mala passar no meio de outras quase semelhantes. Corri para pegá-la me despedindo da Elena. Parece que todas as pessoas resolveram se amontoar na minha frente. Tentei passar por elas e quase perdi minha mala, mas para minha sorte um moreno, alto e muito charmoso a recuperou a tempo.

- Essa é sua? – perguntou.

- Oh sim, obrigada.

- Posso saber seu nome? – ele usou aquela voz que todo homem usa quando está tentando seduzir uma garota.

- Melissa. – menti, mostrando-lhe o meu mais belo sorriso. – E o seu?

- Zac.

- Ok Zac. É um prazer conhece-lo. – disse, apertando a sua mão.

- Primeira vez que vem a Nova Orleans?

- É. Acho que sim.

- Bom. Acho que você achou o seu guia. – piscou.

- Eu agradeço, mas acho que consigo me virar sozinha.

- Ok!

Peguei minha mala e caminhei para a saída do aeroporto. Nunca tinha visto tantas pessoas juntas no mesmo lugar. Homens, mulheres, crianças, pessoas idosas. Na saída do aeroporto me questionei sobre qual seria o próximo passo. A brisa leve tocava meu rosto e logo eu concordei com Klaus sobre as belezas de Nova Orleans.

- Sabe, é muito perigoso uma jovem bonita como você andar sozinha por essas ruas. – Zac falou atrás de mim, ficando ao meu lado.

- Acho que seria mais perigoso eu aceitar a ajuda de um estranho que eu conheci a vinte minutos!

Ele sorriu.

- Garota esperta!

- Digamos que eu sei me defender sozinha.

- Eu prometo que não irei fazer nada de mal a você. Só acho que, como essa é sua primeira vez nesse lugar e já esta quase anoitecendo, você precise de um lugar para descansar. Nova Orleans é bem mais bonita e segura de manhã do que a noite.

- Humm, e o que você me propõe?

- Uma ótima noite em uma das melhores pousadas desse estado.

Fiz cara de surpresa.

- Achei que as pessoas daqui fossem bem mais sutis!

Ele gargalhou.

- Calma! Não seria em minha companhia que você iria passar essa noite. Só que eu sou dono de algumas pousadas e não custaria nada te ajudar.

Pensei naquilo. Eu realmente precisava me acomodar em algum lugar e esse rapaz me pareceu tão gentil...

- Ok! Você venceu.

- Que tal uma bebida como premio?

- Que tal você pegar leve?

Ele sorriu com a situação.

Pegamos um táxi na saída do aeroporto. Fiquei um tanto anestesiada com as ruas e casa por onde passávamos. Era tudo novo e tudo perfeito para mim. Zac ficou um tempo preso ao celular providenciando, o que ele repetiu constantemente, o melhor quarto para uma grande amiga. Eu imaginava quais seriam suas intenções para com a minha pessoa, e sorria ao pensar em qual seria a minha resposta.

Já era noite quando chegamos à pousada. Zac ajudou com as malas e me levou até a recepção para fazer a ficha. A recepcionista, uma jovem morena e muito bonita, me cumprimentou e pediu todos os meus documentos.

- Desculpa. – eu disse, virando para Zac e entregando minha identidade a ela.

- Pelo que? – ele perguntou.

- Senhorita Caroline Forbes?

Sorri.

Ele encarou a recepcionista e voltou seus olhos para mim.

- Caroline?

Eu confirmei.

- Pronto. – a recepcionista disse, me devolvendo os meus documentos.

- Tá me devendo uma. – ele soltou. – Agora você vai ter que aceitar meu convite para beber alguma coisa.

- Só isso? – dei de ombros, peguei minha bolsa e me dirigi até a escada. – Espero que saiba beber. Encontro você aqui as nove.

Não olhei para trás enquanto subia os degraus, mas tinha certeza de que ele estava me observando.