Duas Doses De Amor E Uma De Conto escrita por lailamt


Capítulo 1
Últimas lembranças de um homem


Notas iniciais do capítulo

Tem uns dois anos que escrevi isso e lembro que no momento estava deprimida, mas não conseguia chorar, então escrevi e quando terminei de ler estava quase me afogando em minhas lágrimas.



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Mais uma vez sinto-me perdido, caminhando dentro do meu ser à procura de algo que me faça sentir melhor, mas dessa vez é diferente. Tem um sentimento diferente dentro de mim.

Ao longo de minha caminhada vejo memórias boas e ruins, coisas que tantas vezes eu quis esconder, mas que vendo dessa maneira, por outro ângulo, já não me incomodam mais. Coisas que muitas vezes me fizeram sentir vergonha de mim mesmo, coisas que escondi da família, amigos, pessoas que apenas queriam o meu melhor, pessoas que queriam me ajudar.

Arrependimentos? Tive de montes, vejo agora cada memória de momentos que me fizeram desejar voltar no tempo e refazer tudo. Pensei que fosse o fim por diversas vezes e recolhi-me dentro de minha casca e por lá fiquei até que estivesse totalmente curado.

Conheci muitas pessoas ao longo de toda a minha vida, pessoas boas, ruins, felizes e tristes, mas houve uma única pessoa que fez minha respiração parar, que fez meu coração bater como se estivesse tocando a mais bela das canções, a canção do amor! E essa mesma pessoa está aqui comigo agora, caminhando ao meu lado, não sei se ela pode ver tudo o que estou vendo, mas ela está comigo, ao meu lado, como sempre esteve.

Agora começo a sentir meu coração bater lentamente, cada vez mais distante e chega à hora de ver as memórias felizes. O momento que eu andei de bicicleta pela primeira vez, a primeira vez que fui à escola, o dia em que conheci aquele garotinho que se tornou o meu melhor amigo, mesmo depois de tudo ele ainda está comigo. O primeiro amor, o primeiro encontro, o primeiro beijo, a “primeira vez”.

Meu aniversário de 18 anos... Lembro-me muito bem, como se estivesse acontecendo agora. Saímos eu e meus amigos para uma boate, foi a primeira vez que experimentei bebida alcoólica e para ser sincero, não gostei muito. Voltei para a casa no dia seguinte e encontrei um carro na porta da minha casa, escrito com uma tinta que saiu facilmente quando passei um pano úmido, “Feliz aniversário meu filho!”. Confesso que tive que me conter para não me emocionar demais.

Mas o que está acontecendo? Está ficando mais escuro a cada passo que eu dou.

Espera um pouco... Eu me lembro dessas coisas! Estava tentando adiar este momento, mas essas lembranças teimam em me perseguir, porque não posso simplesmente apagá-las de mim? São minhas lembranças tristes, momentos que até hoje me fazem sentir dor, uma dor que não cessa nunca.

O dia em que comecei a perder as pessoas que mais amava. Minha mãe, meu pai, meus tios, tias, avós, avôs. Todos eles se foram. Até o meu cachorrinho que ganhei no meu aniversário de seis anos. Ele também se foi, me abandonou.

Nenhum deles se comparou com duas perdas, talvez porque todas as outras eu já sabia que iriam acontecer, mas essas... Eu não contava que fossem acontecer tão cedo. Meu amigo, meu melhor amigo que compartilhou comigo momentos, segredos e coisas inesquecíveis. Ele morreu! Teria sido a pior dor que eu havia sentido, se não fosse o que vem a seguir:

Foi um domingo nublado, ela estava fazendo o almoço como sempre fazia aos domingos. Costumava chamar de “almoço especial”, talvez especial porque era o único em que tínhamos tempo para conversar, ela sempre me falava dos seus planos e eu era paciente para ouvir com muita atenção. Ela sentiu uma tontura, eu fui ajudar. Ela queria terminar o almoço, eu me ofereci a terminar. Ela foi deitar, eu fui cozinhar. Almocei com ela, como de costume, eu estava falando sobre uma possível mudança para outro bairro. Ela sentiu que ia desmaiar, eu a carreguei até o quarto, dando dezenas de opções de bairros para morarmos. Ela sorriu, eu parei de falar e a deitei na cama, foi quando fui dar um beijo nela que senti, ou melhor, que não senti sua respiração. Tentei de tudo, chamei a ambulância, mas ela já estava dormindo, um sono que não dá para acordar. Foi daquele jeito que ela morreu. Com um vestido branco cheio de flores e detalhes em renda rosa. Um rosto brilhante, cheio de vida e um sorriso espontâneo congelado. Ela se foi, mas continua sendo parte de mim. A melhor parte de mim!

Agora não sinto mais a escuridão, nem dor, nem tristeza. É como se ver isso tudo tivesse me feito perceber coisas, movimentos, gestos que eu não tinha percebido no momento que aconteceram. Como o olhar daquela moça, o sorriso daquela pessoa, o choro silencioso dos meus amigos, a palavra que eu poderia ter dito, mas não disse. O sorriso, o abraço, o carinho, a atenção que eu poderia ter dado, mas não dei.

Percebo que amadureci nessa viagem, vi coisas que me fizeram entender que deveria ter prestado mais atenção, deveria ter amado, sentido, vivido mais. Que quando tive vontade de fazer aquilo, eu definitivamente deveria ter feito, e que os arrependimentos me fizeram crescer e entender que é preciso conhecer o erro para apreciar o acerto e entender também que sou impotente diante de várias situações.

Não sinto meu coração bater mais. O que vejo agora é bem diferente do que via instantes atrás. Vejo homens de branco correndo, apressados, preocupados e falando muito. Ouço um barulho incômodo, constante e agudo. Até que finalmente entendo toda a situação, quando um dos homens de branco diz as ultimas palavras que eu ouvi:

- Não há mais nada que se possa fazer. Ele faleceu!


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Notas finais do capítulo

Segestões?? Opiniões??



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