A Garota Que Sugava Almas. escrita por Jubs


Capítulo 6
6. Uma aberração.


Notas iniciais do capítulo

Oi, amores!
Depois de muito tempo sem atualizar a fiction: Eu voltei!
Bom, para aqueles que olharam o meu perfil já sabiam que o motivo de minha ausência foi o fato de estar reescrevendo a história, mas para aqueles não viram, estou dizendo agora hahahaha. Enfim, espero que tenham gostado das mudanças e aqui esta o capítulo novo. o
Boa leitura.



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6. Uma aberração.

Levei um choque de realidade ao olhar para meus braços e me deparar com a expressão de pavor no corpo morto que ficaria mais gélido e pálido ao passar das horas.

Eu havia matado uma criança, tinha agido como uma verdadeira assassina.

O medo, o pavor e adrenalina começaram a tomar conta de mim naquele segundo. Como morávamos em uma cidade pequena, o desaparecimento de uma criança seria a fofoca da vez por no mínimo um mês e sem contar que as probabilidades de descobrirem que fora eu a culpada do crime eram altas.

Ignorei os pensamentos negativos que não me levariam a lugar algum, apoiei a cabeça da criança sob meu ombro e segui a carregando para o único lugar onde eu sabia que ninguém procuraria: o bosque.

Por sorte só havia eu nas ruas de barro vermelho como sangue porque eu passara àquela hora e eu já estava próxima o suficiente de meu ponto de referência para alguém aparecer.

— Doroth — uma mão segurou minhas costas e uma voz com tom superior tagarelou de repente —, preciso conversar com você, eu sou a abelha rainha da sala de aula e não quero que você se meta comigo novamente, ou se não...

Virei-me para trás e me deparei com uma jovem com seus fios loiros presos em um alto rabo de cavalo e maquiagem extravagante. Não demorei muito tempo para me lembrar de que era a menina com quem eu discutira no primeiro dia de aula e que me observava todos os dias desde então.

Estava tudo muito bom para ser verdade.

— Eu não quero tomar seu lugar lá — rosnei as palavras, a interrompendo. — Não se preocupe, estou com pressa.

Meu coração batia em ritmo acelerado e um nó se formava na minha garganta enquanto eu torcia internamente para que ela fosse embora o mais rápido possível.

— Espero que assim seja, todos têm medo da Lohan — falou ela com uma risadinha, e logo em seguida olhou para a menina morta em meu colo, para meu temor. — Mas que gracinha sua irmã, por que não leva a coitada para dormir em casa? Você é mesmo burra.

Em um movimento rápido ela colocou uma das mãos na bochecha da criança, como se fosse apertar carinhosamente, mas assim que sua pele tocou a face da menina, puxou sua mão para si novamente, provavelmente assustada.

— Oh, meu Deus! — Exclamou ela, em voz baixa. — Ela está gelada.

— Ela só está com frio — falei rapidamente com os olhos arregalados, me afastando — estou com pressa, não disse?

— Eu sei que não — seu olhar foi fulminante nos meus — não sou tão burra, ela está morta, ninguém vivo fica em uma temperatura tão baixa. Você é uma louca! Uma psicopata assassina!

Lohan andou pela calçada em ritmo acelerado, provavelmente estava indo me denunciar nesse momento por cometer homicídio. Em um reflexo, joguei o corpo da criança na calçada e corri em direção a ela. Não tinha medo de que ela me denunciasse, mesmo não sabendo como, eu tinha a consciência de que a cadeia seria somente uma pedra fácil em meu caminho. O que realmente me afetara fora a palavra que ela havia dito: assassina.

— O que você pretende fazer? — Minha voz soava diferente, mais grossa, enquanto eu a segurava pelos braços — fale!

— Me solta, sua louca! — ela berrava, provavelmente tentando clamar por socorro. — Me solta!

Enquanto eu a segurava ela tentava sem muito êxito me arranhar com suas grandes e vermelhas unhas, se debatendo várias vezes.

— Nunca — involuntariamente minhas mãos se apertaram em seus braços e eu senti aquela sensação de saciedade novamente assim que o corpo frio caiu sobre meus braços.

Eu havia feito novamente.

Meu segundo assassinato do dia.

Carreguei os dois corpos com menos dificuldade que o normal até bosque, antes nunca teria força o suficiente para carregar algo tão pesado sozinha, e cavei um buraco não muito fundo na tentativa de escondê-los.

Em menos de vinte quatro horas eu havia tirado duas vidas, e o pior disso tudo era que minha consciência não pesava nem um pouquinho.

Toda a minha compaixão havia sumido.

Agora com os corpos enterrados, observei o bosque, que não estava diferente de poucas horas atrás, quando eu estava apavorada por acordar em um local o qual eu nunca havia visto antes.

As árvores continuavam a fazer com que o vento estalasse no alto de suas copas, brilhando em um verde vivo, alguns poucos insetos voavam no local, uma borboleta azul pousou em meu ombro, suas patinhas faziam cócegas quando ela subia em minha pele fria e pálida.

Aquilo tudo era real e eu não me conformava com isso, precisava de explicações que só uma aquela mulher de vidro podia me dar. Eu teria essas explicações de qualquer forma.

— Ei! — Chamei para o vento. — Apareça! Eu preciso de você, preciso falar com você!

Silêncio.

— Apareça, sua aberração! — Aumentei meu tom de voz, já irritada.

Um brilho surgiu, num piscar de olhos entre as árvores que estavam em minha frente, o brilho do qual me causava arrepios na espinha ao lembrar.

—Então quer dizer que você já se considera uma aberração, filha? — A doce voz da mulher ecoou em minha cabeça de forma irônica, enquanto a silhueta daquele ser se aproximava de mim. — Mas essa não é a questão, me diga: o que você quer saber, afinal?

— Não me chame de filha, a minha mãe está morta. — rosnei. — Eu exijo saber o que você fez comigo, anda, me diga!

— Eu sei disso, foi eu mesma quem providenciou o espetáculo, fico feliz que tenha gostado — Pela sua voz, pude ver o quanto ela se divertia. — Ah, eu apenas te tornei alguém melhor, mais ação na sua vidinha! Não está feliz?

O ódio tomou conta do meu corpo.

— Feliz? — Repeti com desgosto, sentindo as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas — O que é você? Você me tornou um monstro! Por que eu, por quê? E minha mãe? O que você fez com ela?

— No tempo certo você vai saber, filhinha. — Foram as suas últimas malditas palavras antes de o brilho que a rodeava se apagar e ela desaparecer.

— Voltei aqui! — berrei para o nada, me afogando nas lágrimas que não paravam de descer. — Volte! Por favor!

Deixei todo meu orgulho de lado e gritei, um som fino e ensurdecedor que ecoava bosque adentro e o qual levou grande parte da minha raiva embora.

Saí do bosque em passos longos e rápidos, abalada e confusa, enxugando minhas lágrimas com as costas de uma de minhas mãos. Não sabia para onde ir, na verdade. Eu não queria voltar para casa, não queria olhar no rosto de Gregory e muito menos ouvir Jaxon falar coisas que agora fazem todo o sentido para mim. Não é que ele estava certo o tempo todo?

Meu ódio era tanto que nem o caminho de flores exóticas do lugar que eu tanto adorava me fazia sentir-me melhor.

E lá estava eu andando sem rumo pelas ruas desertas novamente. Estava farta de tudo aquilo, só queria me jogar dentro de um buraco negro e chorar.

— Achei que tinha me dado um bolo. — Ao virar minha cabeça, pude ver Asher sentado em uma mesa de um barzinho. Eu tinha esquecido completamente que tinha marcado de me encontrar com ele na sexta, digo, hoje.— Venha, sente-se!

Rolei meus olhos sob o lugar, era um bar pequeno e familiar, as paredes e o chão de madeira dava um ar rústico no lugar, o balcão mostrava opções de bebidas, petiscos e guloseimas que havia disponíveis para a venda e degustação, e uma pequena lareira eletrônica aquecia as pessoas que sentavam nas poucas mesas do lugar.

Andei até a mesa em que ele estava sentado com a cara fechada. Não estava com ânimo para discutir e muito menos conversar.

— Eu estou passando por certos problemas — falei em voz baixa e tom calmo, o que o surpreendeu, provavelmente porque de todas as vezes que nós nos comunicamos eu estava lhe dando um fora ou o xingando. — Tudo bem para você?

— Fica, por favor — insistiu ele e me sentei na cadeira permanecendo no lugar por incrível que pareça — Eu gosto de conversar com você.

— Tudo bem — minha voz continuou no mesmo tom desanimado —, eu fico.

Ficamos longos segundos em silêncio enquanto eu bebia um suco de melancia sem muita vontade e ele tomava um milk shake de morango, os únicos sons do lugar eram de um casal de velhinhos conversando e de uma cigarra que cantava em um poste próximo do recinto.

— Mas me fale — Asher quebrou o silêncio, com um sorriso nos lábios. — Por que está assim? Pode contar comigo, mesmo me odiando.

Observei uma joaninha que pousara na borda do meu copo de suco. Peguei-a com um de meus dedos.

— Eu não te odeio — brincava com o pequeno inseto em meus dedos enquanto as palavras saiam sem permissão de minha boca — você é uma boa pessoa, pelo menos é o que me parece, eu que não mereço ficar perto de você, nem mesmo viver neste mundo...

— Ei, que papo é esse? — Ele me interrompeu, segurando meu queixo com as pontas dos dedos, me fazendo olhar em seus olhos. — Você é muito especial, é claro que merece viver, ter amigos e ser feliz. Todos merecemos.

— Eu não quero falar disso, tudo bem? — Tentei levar o assunto para outro rumo e fingir uma animação — Vamos falar sobre coisas boas, me diga, o que tem de legal por esta cidadezinha? Tem mais de um mês me mudei para cá e ainda continuo com a mesma opinião, aqui é um tremendo tédio e as pessoas são tão toscas!

Deixei a joaninha pular de meus dedos para mesa, e logo em seguida a perdi de vista.

— Tudo bem. Vou respeitar seu espaço. — Deu um sorriso sincero — Mas eu não sabia que você ainda me acha tosco! Isso é sério? Tudo bem. Posso suportar, mas só porque você está certa sobre aqui ser um total tédio.

— Sim, ainda acho você tosco — sorri, fazia tempos desde que não sorria. — Mas não tanto quanto antes.

Ele curvou sua cabeça levemente para trás, dando uma longa gargalhada.

— Ah, sim — falou ele, assim que saiu de sua curta crise de risos. — Bem melhor agora.

Dei um sorriso amarelo, sem saber o que falar na verdade. Nunca fora muito sociável, nem mesmo na minha antiga cidade. Só possuía cerca de cinco conhecidos e mesmo assim não era muito próxima deles.

— É — dei um gole no meu suco enquanto falava —, creio que sim.

— Não se preocupe, eu também não sei o que falar — Asher olhou para mim sorrindo, como se conseguisse ler meus pensamentos e conseguisse enxergar meu constrangimento através de meus olhos. — Ainda estou embasbacado, não acredito que você está conversando direito comigo.

— Nem eu acredito — dei uma risada baixa, sem humor. — Acho que deve ser porque estou em um dia ruim, não se acostume.

— Não me acostumar? — Repetiu ele, fingindo indignação. — Vou te perturbar até conseguir ser amigo da...

— Doroth! — falei, percebendo que ainda não tinha dito meu nome. — E sua presença não é mais tão incômoda, vai ter que achar outra maneira de me irritar.

— Que lindo nome — Asher disse, sorrindo. Ele nunca parava de sorrir? — Tão lindo quanto a dona.

— O quê? — Me engasguei com o último gole do meu suco de melancia.

— Só disse que seu nome é tão lindo quanto você. — Ele deu de ombros, não entendendo meu espanto — o que tem de mais?

— Nada — respondi com tom de voz baixo. — Só acho que foi um exagero, eu não sou linda.

Pela primeira vez naquele fim de tarde eu pude observá-lo, diferente das outras vezes que nos esbarramos, ele não estava usando uma roupa cinco números maiores que a adequada, vestia uma camiseta preta que mostrava seus braços bronzeados e pouco definidos, uma calça jeans e seu cabelo castanho despenteado deixavam com que seus olhos verdes ficassem ainda mais brilhantes.

Ele tinha uma beleza diferente, mas ainda assim era lindo.

— É claro que você é linda — ele tocou meu a ponta de meu queixo, como antes. — Pelo menos para mim você é perfeita.

As doces palavras de Asher ao invés de me fazerem me sentir melhor só me fizeram me sentir pior, eu não merecia ouvir aquelas coisas, não depois do que eu fizera.

Eu não era perfeita, era uma aberração. Ele saberia disso quando descobrisse que eu tirei duas vidas inocentes.

— Não, eu não sou linda! Muito menos perfeita. — Involuntariamente aumentei meu tom de voz, me levantando bruscamente. — Eu sou um monstro, só você que ainda não viu isso.

Pude sentir sua mão segurar meu pulso, mas soltei-me rapidamente de modo bruto.

Enquanto corria pelas ruas pude escutar sua voz me chamar, querendo saber o que houve, mas não dei importância e continuei a correr sem rumo e a voz foi sumindo conforme eu me afastava.

Passando por uma senhorinha senti meus olhos adquirirem a coloração azul novamente e a fome tomar conta de mim.

E ataquei como um animal faminto.


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Notas finais do capítulo

Digam o que acharam, hahaha. Beijos da Juh *3*