P.o.v Ally

E aí Diário?

Isso simplesmente não está certo. Não era para eu estar escrevendo em você. Não agora. Me diz uma coisa? Desde quando eu fiquei tão amorosa e tão apaixonada? Quando foi a última vez em que eu me senti deste jeito? Borboletas no estômago, nós na garganta, vontade de estar junto, de conversar, de não querer que aquela pessoa dê um passo sequer para longe de mim... Vim aqui novamente para falar Dele. Ele que vem consumindo cada pensamento meu em cada minuto do meu dia. Não é de fato surpreendente a minha presença aqui, sendo que eu só escrevo sobre Ele. Mas é incrível Diário, como só ele consegue fazer parte assim da minha vida, sendo me fazendo o bem, ou o mal. Ele ainda consegue me derrotar, e me erguer. Já se passaram dois dias desde que ele, realmente diário, confessou que me amava. Passamos o dia inteirinho juntos. Nós conversávamos sobre assuntos aleatórios, ríamos de tudo. Ele fez um almoço para mim, que cá entre nós foram as melhores almondegas que eu já comi, e eu ainda tive que escondê-lo embaixo da minha cama para que os meus pais não o descobrissem aqui em casa. Inventei alguma coisa para a minha mãe, pra justificar o porquê de eu não estar na escola, e ela pareceu ter caído. O Austin me consolou por eu ter me sentindo mal em mentir para os meus pais, e ele simplesmente fez tudo derreter novamente. Voltar ao filme clichê e romântico que eu estava vivendo. A noite veio, e eu já não sabia quem era eu, e o que eu estava sentindo de verdade. Eu amava aquele garoto, sabia disso, mas o mundo em que eu sempre vivi era de fato completamente diferente. Eu mudei, o Austin mudou, mas a órbita em volta de nós não. Cheguei ontem na escola poucos minutos depois que o Austin, que abriu um grande sorriso ao me ver, e eu claro, fiz o mesmo. Ele me enredou em seus braços, apertando a minha cintura e quase me tirou do chão. Gargalhei por causa do que ele fez e o mesmo me soltou um pouco, dando um pequeno beijinho na ponta do meu nariz.

– Eu senti saudades, morena – eu sorria sem parar, e as borboletas no meu estômago só faltavam dar uma festa.

– Eu também, loiro – ele sorriu para mim e tocou seus largos dedos na minha bochecha, num toque leve e sereno. Seus lábios foram de encontro aos meus, mas um pigarro nos interrompeu.

Meu quase pesadelo estava ali, bem ao nosso lado. Eu nunca pensei ter medo da Kira, mas a futilidade dela misturada a sua raiva em ver-nos juntos, me assustou de uma maneira que eu nunca imaginei.

– Essa ceninha ridícula que mais parece filme de terror está acontecendo mesmo ou é só uma miragem? – a criatura se pronunciou, trincando seu salto agulha no chão. Aquele som irritante junto com a sua presença e a sua voz me enojou, e eu recusei a me referir sequer uma palavra a garota.

– Na verdade, só seria filme de terror se você – Austin começou – estivesse no lugar da Ally. – soltei uma risada disfarçada, tentando evitar os tantos pares de olhos que encaravam a cena no momento.

– Espera um segundo, você está me trocando por essazinha aí? – ela apontou de maneira ofensiva para mim.

Revirei os olhos, me controlando para não esbofetear a cara da vaca.

– Por favor né Kira, vamos parar com esse showzinho porque acho que até a população inteira de Tóquio sabia que o Austin não dava a mínima pra você, e você ficava babando o ovo dele – joguei na cara da puta de cabelo oleoso. A mesma pôs sua mão em seu peito, como se tivesse sido baleada ou sei lá o que.

– Você vai deixar ela falar assim comigo, Aus? – ela fez beicinho pro Austin, e o mesmo deu de ombros, virando a cara. – Isso não vai ficar assim. – suas mãos foram de encontro a cada lado de sua cintura, e olhando para mim ela sussurrou as seguintes palavras:

“Você vai me pagar”.

Ok, talvez ficar com um pouco de receio seja bobagem, ainda mais aquilo vindo da patricinha da Kira. Mas o jeito como ela me olhou e o tom que a mesma usou para pronunciar aquela ameaça, me fez realmente achar que não viria nada bom pelo caminho.

Meu dia foi parcialmente normal, tirando a parte que eu gazeei a aula de História para me encontrar com o Austin numa salinha nos fundos da Marino. Eu sei, eu sei, Ally Dawson não faz isso, é praticamente impossível, até eu perceber que beijar o Austin escondido na escola é muito mais gostoso do que assistir a aula da Sra. Clotilde.

A minha consciência recobrou no momento em que eu senti o Austin levantando a bainha da minha camiseta. Lembrei que ainda estávamos no colégio e aquela não hora e nem o lugar de fazer o que ele estava pensando em fazer.

– É melhor a gente ir – soltei ofegante, endireitando a minha roupa.

– Tem mesmo certeza disso? – o Austin falou, tomando suas mãos em meu pescoço e me roubando um beijo demorado. Eu não conseguia resistir a cada movimento dele, cada toque seu em minha pele ardia como fogo e eu só conseguia me render.

– Tenho – o afastei à uma distância segura de mim e um sorriso apareceu no canto de meus lábios. Beijei o canto de sua boca. – Nós ainda temos todos os dias deste ano para fazer isso, relaxe. – disse sussurrando, o que, meu Deus, não surpreendeu só o Austin, mas a mim também. Eu pulei da mesa a qual estava sentada e peguei minhas coisas, mas antes de sair eu virei o meu rosto, observando o semblante confuso, porém safado do Austin, e pisquei, saindo da sala em seguida.

Eu não havia visto mais o Austin ontem, mas a pessoa com quem eu me esbarrei na saída não foi uma das minhas melhores opções.

– Ei, cuidado – a voz nojenta disse, e assim quando olhou pra mim, sua expressão mudou totalmente – Ah, é você?

– Não, é o ursinho Pooh. – revirei os olhos e passei em sua frente, não dando muita atenção para o que a Kira resmungava, mas ouvindo o que ela disse por último.

– O que é seu está guardado... Ally Dawson.

É Diário, acho que eu não vim “só” falar dele. Além da Kira, a lista de pessoas que resolveram se intrometer na minha vida e em meus relacionamentos só está crescendo.

Hoje eu encontrei uma pessoa. Uma pessoa com a qual eu nunca tinha falado. Nós trocamos algumas palavras, e ele me convidou para levar-me para casa. Recusei quantas vezes foi preciso, mas ele insistiu demais.

E eu acabei aceitando.

“Continua...”