P.o.v Ally

Eu queria poder dizer que um segundo depois que o Austin se calou, eu tornei a falar para ele tudo que eu sentia. Que eu estava sim sofrendo, que ele não tinha o direito de falar coisas sobre mim as quais não sabia, que a errada da história aqui não era eu, e sim ele. Que ele podia muito bem ter evitado a merda daquele beijo, ele poderia ter evitado tudo isso se não deixasse que aquilo acontecesse. Que ele poderia ter feito qualquer coisa, apenas para evitar isso tudo! É, eu queria. Mas isso não iria passar de umas porras dumas desculpas esfarrapadas. Eu sabia que qualquer coisa que eu falasse adiante, se eu tivesse mesmo algo para falar, daria em absolutamente nada. Porque agora pelo meu ponto de vista, o errado não era mais ele.

– Você poderia dizer alguma coisa, não é? – sua voz me dispersou, e eu encarei seus vazios olhos castanhos mais uma vez, lembrando de como eu amava ver alegria estampada neles. – Tipo: “Você tem razão Austin, me desculpa”. – Aquilo de fato me irritou. Ele queria colocar palavras na minha boca, ele estava convencido que estava certo.

– Eu também não tenho a obrigação de te pedir desculpas – a sua guarda baixou e eu continuei – O que eu fiz de errado? Eu quis um tempo para organizar as coisas em minha cabeça, mesmo eu não lhe dizendo isso, dava para entender. Realmente, eu não nego que eu não pensei em como você estava, e que também me surpreendi quando vi o seu estado agora...

– Se surpreendeu! Não duvidava disso. Você achou que eu ia estar com um sorriso nos lábios, porque achava que a culpa realmente não era minha, que eu iria ter você de volta assim, num estalar de dedos, não foi? Acontece que eu não sou assim!

– Acontece também Austin, que isso foi tudo que você sempre demonstrou ser. Eu sempre te achei convencido, aquele cara metido que tem tudo aos seus pés! Mudar o pensamento sobre uma pessoa não é tão fácil quanto você imagina.

– Ah, obrigado Ally. É muito bom saber que desde aquele dia na praia você nunca acreditou em mim. Simplesmente fez-me acreditar em algo que não existe!

– Não jogue minhas palavras contra mim Austin Moon. Eu nunca te fiz acreditar em algo que não existe! – Minha voz saiu grave, e eu tive que diminuir meu tom, considerando que as pessoas as nossa volta começaram a nos olhar estranho. Soltei o ar dos meus pulmões e tentei me situar. Olhei de novo para o Austin, vendo seus cabelos agora todos bagunçados, resultado da sua mania de ficar passando as mãos nele a todo o momento. Ele encarava seu All Star, e de repente me veio uma vontade súbita de abraça-lo. Eu queria sentir suas mãos espalmadas em minhas costas e a sua respiração quente perto do meu ouvido. Eu só queria sussurrar para só ele ouvir: “Esquece isso. Esquece tudo”. Mas eu não sabia como ele iria reagir, e nem se eu tinha mesmo coragem para fazer isso. – Você está causando uma guerra entre nós. Está arrumando argumentos para continuar com isso.

– Só eu? – ele pausou e respirou, procurando as palavras – Desculpe-me, mas não sou eu quem tem essa estúpida mania de levar tudo para um campo de batalha.

...

Dizer que eu não prestei a mínima atenção nas aulas que eu tive seria um eufemismo. Eu simplesmente viajei. Eu não estava mais ali, sentada naquela cadeira numa sala de aula cheia de pessoas desinteressadas, eu estava em cada lembrança de mim e do Austin. Certo que eu não queria estar tão absorta em meus pensamentos, mas eles me atingiam forte demais, e eu me via encurralada. As palavras, tanto as dele quanto as minhas rodavam em minha mente, e eu estava quase convencida que ele realmente estava certo. Isso estava mesmo virando uma guerra, as palavras nos atingiam como se fossem tiros. E eu simplesmente fazia questão de piorar tudo. E sabe o que mais me incomoda? O que me intriga, é que tudo isso acontece porque nós nos gostamos, eu sei disso. Se eu não gostasse dele, se eu não o quisesse comigo, não teríamos tido essas discussões, que simplesmente não da em nada. Em nada. Não resolve nada, apenas piora.

Após o toque do sinal para o nosso intervalo eu peguei minhas coisas e fugi para o auditório do colégio. Ele ficava nos fundos, e como era completamente fechado, ninguém poderia me ouvir. Tentei ser o mais discreta possível, a última coisa que eu queria era que alguém me visse e me dedurasse para o Sr. Barriga Ambulante, eu já previa como seria o discurso: “Srta. Dawson, o que a senhorita estava pensando? Acha que matar as aulas é certo? Você sempre foi uma excelente aluna e blá blá blá”.

Ao chegar lá eu me apressei em subir no palco e pegar o violão encostado na parede escondida pelas cortinas vermelhas. Sentei na beira do palco com os pés pendidos e comecei a dedilhar as cordas, lembrando da melodia da minha mais nova composição.

Don't try to explain your mind

I know what's happening here

One minute it's love

And suddenly it's like a battlefield

One word turns into a war

Why is the smallest things that tear us down?

My world is nothing when you're gone

I'm out here without a shield, can't go back now

Both hands try to hide my back for nothing

This times when we climb so fast to fall again

Why we gotta fight for win now?

I never meant to start a war

You know I'd never wanna hurt you

Don't even know what we're fighting for

Why does love always feel like a battlefield?

A battlefield, a battlefield

Why does love always feel like a battlefield?

A battlefield, a battlefield

Why this love always feel like?

Can't swallow our pride

Neither of us wanna raise that flag

If we can't surrender

Then we both gonna lose what we have

Both hands try to hide my back for nothing

This times when we climb so fast to fall again

I don't wanna fight for win now

I never meant to start a war

You know I'd never wanna hurt you

Don't even know what we're fighting for

Why does love always feel like a battlefield?

A battlefield, a battlefield

Why does love always feel like a battlefield?

A battlefield, a battlefield

I guess you better go and get your armor

Get your armor, get your armor

I guess you better go and get your armor

Get your armor, get your armor

I guess you better go and get your

We could pretend that we are friends tonight

And in the morning we wake up and would be alright

Cause baby we don't have to fight

And I don't want this love to feel

Like a battlefield, a battlefield, a battlefield

…

Não demorou muito até que eu ouvi palmas vindas da direção da porta do auditório. Meus olhos deslizaram para lá, encontrando o esboço daquele sorriso o qual eu não via há tanto tempo.