P.o.v Ally

Entrei no banheiro rápido e fechei a porta atrás de mim. C-A-R-A-L-H-O. Eu acabei de beijar Austin Moon! E simplesmente acabei de confessar em sua frente que eu não me arrependi disto. Não. Eu devo estar maluca, não é possível.

Dou uns passos para frente e fico em frente ao espelho. Ele era médio e me refletia até a cintura. Mas sei lá, parecia refletir também como eu me sentia por dentro. Feliz. Estava contente e pronto! Cansei de mentir para mim mesma. Eu amei o beijo, e senti muito mais do que eu queria. Sentimentos novos. E um frio na barriga bem mais intenso do que no meu primeiro beijo.

Meu primeiro beijo... Um desastre. Eu tinha por volta dos treze anos quando ocorreu. Não foi o pior primeiro beijo do Universo, mas não é muito agradável quando você descobre um minuto depois que o menino é gay. Isso aí! Eu beijei um menino gay! E ainda pior, eu tinha uma quedinha (Ou talvez um abismo) por ele. É, um desastre.

Subi o vestido e o despi de meu corpo, seguido por minhas peças intimas. Dei uma admirada no meu cabelo através do espelho. Ele estava muito comprido e os cachos frouxos escorriam por meus ombros, escondendo uma parte de meus seios. Prendi-o em um coque no alto, deixando minha mão repousada na nuca. Podia ainda sentir a mão de Austin ali. Ele acariciava meu couro cabeludo e de vez em quando puxava meu cabelo levemente.

Me flagrei sorrindo, nadando num mar de pensamentos e lembranças. Esse beijo não vai sair tão cedo de minha mente. Mas, caramba. Foi muito bom!

P.o.v Austin

- Fecha os olhos e entra logo! - Ouvi a voz autoritária e guiei meus olhos para a porta do banheiro. E bem... Eu não estava esperando ver o que eu vi. Mas não vou dizer que não gostei.

Lá estava ela. Seus cabelos presos no alto da cabeça, com alguns fios escapando e sendo mantidos frequentemente atrás da orelha. Eu observei como uma gota d'água escorreu por seu rosto e desceu por seu busto, indo parar entre o vale de seus seios. Porra, por que essa garota tinha que ser tão linda? Ela podia ser um pouquinho menos gostosa, facilitava um pouco o meu lado. - Para de encarar Austin! Vai logo, eu esqueci de pegar meu biquine! - Me concentrei em seus olhos, ou pelo menos tentei.

- Cara, a sua memória nos últimos tempos vem me beneficiando de um jeito incrível! - Me apoiei na cama, fazendo totalmente ao contrário do que ela mandara eu fazer. Ally revirou seus olhos e eu vi como ela tentava se esconder atrás de alguns móveis presentes no quarto. Suas bochechas ficavam vermelhas e ela evitava olhar em meus olhos. Eu levantei da cama e passei ao seu lado, roçando meu braço ao seu. Todos os pelos visíveis do meu corpo se arrepiaram, e a sensação era muito boa para eu não querer mais disto. Mas resolvi ficar na minha e fazer apenas o que já estava em minha mente. - Your Body Is A Wonderland. - Recitei baixinho um verso de uma música a qual eu gosto muito. Senti-a estremecer com aquele contato e sorri. - Mas eu o prefiro sem a toalha. - Após isso eu só senti o latejar na minha nuca. Sim, ela havia me dado um tapa.

- Entra no banheiro antes que perca algum membro importante de seu corpo. - Solto uma risada incontrolável e entro finalmente no banheiro. Encosto-me na porta e suspiro.

- Dawson... Dawson... Você me deixa louco. - Sorrio pro nada e retiro minhas roupas, ajeitando o chuveiro para a água fria e entrando debaixo. Eu não posso estar gostando dela, isso é praticamente impossível! Eu só preciso entender esses sentimentos e principalmente esses pensamentos em relação a essa garota. Mas sei lá, parece que tudo fica melhor quando ela está por perto, ou quando ela está tomando conta de meus pensamentos. Isso não são sintomas de amor. São?

P.o.v Ally

Tento esquecer um pouco o que acabou de acontecer e me concentro em escolher minha roupa. Mas um sorriso sempre se curva em meus lábios quando eu lembro das palavras daquele loiro. Caramba, é difícil não pensar nele e no que ele me faz. E naquele beijo. E na mão dele na minha nuca. E na sua boca encostada ao meu ouvido. Eu preciso parar de pensar em Austin Moon, e isso tem que acontecer o mais rápido possível!

Escolho meu biquine e dou olhada na porta do banheiro. Quando percebo os sinais de que o loiro ainda estava no banho, me troco rápido. O biquine era simples, nas cores rosa e azul e com alguns detalhes pretos. Vesti um short jeans rasgado e uma blusinha regata folgada. Calcei minhas sandálias e desprendi meus cabelos, terminando de me arrumar.

Mas pelo jeito, alguém queria uma vingança, de novo. Me virei de costas no mesmo estante em que o loiro saiu do banheiro. Deu ainda para pegar alguns detalhes de sua imagem. Seu cabelo molhado e que pingava gotículas de água a todo momento. A toalha amarrada a cintura e todo o seu corpo praticamente descoberto. Fechei os olhos e mordi o lábio forte, tentando dissipar aquela vontade de virar e encarar a cena.

- Se quiser olhar, pode olhar. Eu deixo. - As voz rouca entrou pelos meus ouvidos, mas ainda estava um pouco longe. Deduzi que ele não estava ali perto de mim. O que, claramente, foi um alívio.

- Não, eu to bem aqui. Adiante seu lado, já são sete horas e a praia começa a encher de gente por volta das sete e meia. E acho que você não quer um monte de homem de sunguinha rebolando na sua frente. - Dei o pior exemplo que veio em minha mente, até porque a partir das sete e meia é quando as garotas, digamos, aceitáveis, em termos de peito e bunda, começam a se reproduzir lá.

- Hn. - Murmurou. - Não ta doendo seu lábio, não? Se ele partir aí, vão acabar dizendo que fui eu. - Ele disse momentos depois. Me assustei. Como ele sabia...

- Como você sabe que eu to mordendo o lábio? - Abro meu olhos finalmente, para vê-lo bem atrás de mim, e vestido. É, eu o vi atrás de mim, sem nem precisar virar. Por que?

- Porque você está bem em frente ao espelho. - Seus braços puseram-se em torno de minha cintura e meu corpo colado ao teu. Suspirei e senti minhas bochechas queimarem. Ele havia visto toda a minha luta para não olha-lo, tudo através do espelho da penteadeira, que me refletia por completa.

- Austin. - Sussurrei. O garoto acariciava minha barriga com uma das mãos e distribuía beijos pela minha clavícula, seguida pela mandíbula, até que chegou ao canto da minha boca. - Nós não podemos...

- Por que não? - Ele perguntou "inocentemente", enquanto continuava sua administração sobre o meu pescoço.

- Somos amigos. - Respondi. A fraqueza sobressaltando em minha voz. Aquilo era muito bom, e eu tentava resistir, mas estava complicado.

- Amigos também não se beijam, e nós nos beijamos.- Me entreguei ao ato de inclinar mais a cabeça, dando-lhe mais espaço com os beijos.

- Aquilo foi um erro. - Abri meus olhos, fixando-os no reflexo do espelho. A cena que eu vi foi, em parte, constrangedora. Eu nunca fiquei tão perto de um garoto, como eu estou do Moon. Mas de alguma forma, a sua proximidade e o calor do seu corpo junto ao meu, me passaram confiança. Eu não sei explicar. Nem isso, e nem o que estou sentindo. Austin parou com os beijos, fazendo-me soltar um muxoxo sem perceber. Encarou meus olhos, e vi que ele não queria que eu dissesse aquilo. Que não concordava.

- Como foi um erro? Eu sei que você gostou, não tente negar isso. E também não se arrependeu. Assim como eu. Ally, você não vê o que... - Ele foi rudemente interrompido por uma batida na porta.

- Crianças, se arrumem logo. Não vão querer perder sequer um minuto nessa praia, não é? - Revirei os olhos. Eu já tinha percebido que a mãe do Austin fazia questão em tratar-nos como crianças, principalmente quando ela está um pouco feliz de mais. Parece que esquece que o mundo é uma merda e que seu filho é um "homem", não um "menino".

- Está bem mãe. Já vamos! - Austin respondeu e eu ouvi um 'tudo bem' vindo por trás da porta. O loiro pegou em meus braços com delicadeza e virou-me, deixando-me em frente a ele. - É sério, a nossa conversa ainda não terminou. - Austin tocou em meu queixo e sorriu para mim. Devolvi o sorriso fraco. Minha mente estava muito confusa. Queria saber como terminava a sua frase. Queria entender o porque de eu ter sentido tantas coisas ao beija-lo. Mas vejo que com ele não foi diferente. Eu não posso estar desenvolvendo sentimentos pelo Austin. Isso acabaria comigo. Eu ainda não sei se posso confiar totalmente nele. Parece até que eu o conheço, de verdade, há um dia, no máximo. Essas emoções, esse nervosismo. Isso não é amor. Não é amor. Ou será que é?