Fugi.  Covardemente, contradizendo todos os meus princípios de vida...

A Grécia me pareceu o local perfeito, sob a proteção inglesa, sem contar que ninguém me acharia lá. Meu pai é inglês, e minha mãe nos abandonou há cinco anos, se perdeu pelo país, lutando ao lado de Mohandas Gandhi contra os conterrâneos de meu pai.

Me pergunto porque contei isso para o simpático tibetano que se sentou ao meu lado no avião. Ele reconheceu a causa, uma vez que o país dele também é oprimido por estrangeiros.

Me vejo no aeroporto. O que faço agora?

Vou tomar um taxi. Meus cabelos são claros e, por Buda, não há como os nazistas desconfiarem de mim.

O que diz aquele jornal que o menino segura?  Essa não. Conheci muitas pessoas que não tiveram luz de sorte, mas eu realmente recebi a luz do azar ao nascer!

O anuncio avisa a queda da resistência inglesa e a tomada nazista. Ai.

Não tenho idéia nem mesmo de onde me hospedar, para onde mandarei o taxi? Melhor não gastar meu dinheiro à toa, talvez a única forma de me arranjar seja perambular pela grande Atenas.

É um lugar maravilhoso, digno de passar momentos de amor, e não de guerra, como agora. Tudo muito lindo, muito diferente da pobreza que conheço, apesar de não fazer parte da Índia nesse sentido. Fui privilegiado.

 Vou sentir falta de lá, ainda assim. Mas servir como soldado na guerra de um país ao qual não me sinto pertencente me parece demais, e dizê-lo ao meu velho pai... Não, não tenho coragem para tanto, antes encarar os nazistas... Ah, o que eu estou pensando?!

-  Ei,você!

- Sim? –tento dissipar a adrenalina nas minhas veias falando, mas estou cercado. E eles estão em numero maior.

- Fala inglês... Talvez não seja inimigo Shura.

- Loiro?

- Aiolos é loiro e nem por isso...

- Com esse sotaque? É um nazista, mais um nessa infestação!  É  por causa dele que morrem dos nossos ao monte!

- Eu não sou alemão, não quero ferir ninguém...

-Cala a boca! –ele acertou o joelho no meu diafragma e o ar deixa meus pulmões com rapidez.

Não vou ser inerte, não compartilho a teoria ridícula do mestre  Gandhi de que não reagir é a melhor defesa, eu não vou apanhar de três caras tão covardes quanto eu.

Acho que consegui acertar o queixo dele, com sorte a dor não vai o deixar voltar a atacar, talvez eu tenha deslocado o maxilar dele.

O outro vai me atacar. Sim, alcançou meu rim, mas não irá mais longe, peguei os dois dele.

- Camus!

Ele, Shura, não só ainda pode gritar como também me acertou. Um gancho e um chute no joelho são o suficiente para me fazer sentir o gosto do asfalto.   

Não sou forte o suficiente, minha consciência escapa entre meus dedos.

Um belo par de olhos, o mais belo par que já vi em vida, me fita, no meio da névoa. Estes olhos de maré exercem um efeito forte o suficiente para eu voltar a plena consciência.

-Você está bem?

-Acho que sim. –é aquele cara, o que não me atacou, mas que estava com os outros dois. Melhor levantar rápido.

- Consegui convence-los, um pouco tarde talvez, de que não é alemão.

-  Obrigado. Como acredita em mim?

-Eles começaram a discutir  e foram embora, acho que se esqueceram de você. O que faz aqui?  A propósito, meu nome é Saga.

- Não ouviu minha pergunta?

- Se fosse nazista, já teríamos morrido.  Eles nunca andam sozinhos. Não são loucos,conhecem a  resistência, sabe do que somos capazes.

- Você e seus amigos... ?

-Na verdade eles não são meus amigos.  – realmente odeio que me corrijam, mas ele acaba de me salvar. Sinto receio de que por pouco quase que eu não tenha sentido na pele do que a resistência é capaz. Eu estou seguindo ele?-  Sequer gostam de mim. Camus é francês e servia aos reforços da Inglaterra, e Shura é espanhol, está fugindo de Franco. Se alistaram a resistência porque temos uma coisa em comum, que é o anti-nazismo.

- Eu... –não sei o que dizer e ele parou de andar, talvez seja uma cilada.

- Quer se juntar a nós?