Quando O Dia Foi Raptado escrita por Rodrigo Pereira Dos Santos


Capítulo 5
Um pequeno descanso


Notas iniciais do capítulo

Por favor, me perdoem por demorar tanto.



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Chegamos ao alpendre, e imediatamente me deslumbrei. Os desenhos de famílias rodeando lareiras faziam com que a expectativa me corroesse por dentro. Os braseiros ao lado da porta esquentavam o ar de uma maneira incrivelmente confortante. Inevitavelmente senti meu coração se comprimindo como uma estrela prestes a morrer.

Ferdinando passou por entre nós e se sentou em uma velha cadeira de balanço, que rangeu com o peso do sátiro. Ficamos alguns minutos ali parados, esperando que nosso protetor tomasse alguma atitude.

–Por que vocês estão me olhando com essa cara, posso saber? -queixou-se.

–Você nos fez andar todas essas horas em baixo daquele sol escaldante para ficarmos parados aqui? -indagou Flávia, revoltada.

–Eu não disse que vocês não podiam entrar.

Aquelas palavras foram decisivas para deixarmos o homem-bode sozinho.

Flávia abriu a porta, deixando a luz da sala vazar. O ambiente era incrível. A primeira coisa que vi fora a TV do tamanho da parede esquerda, enquanto nas outras, nichos sustentavam pequenos braseiros. O chão era todo coberto com um carpete cinza felpudo, com vários sofás, poltronas e almofadas mobilhando o espaço.

Do outro lado do cômodo, havia uma porta e um grande corredor. Me aproximei da porta e abri, descobrindo uma cozinha lotada de comida. Fechei-a e me voltei para o corredor, observando a primeira das muitas portas. Entrei cautelosamente, e fiquei embasbacado com o quarto. Ele era três vezes maior que minha sala de aula, e me senti como um de meus professores, que sempre reclamava que a sala era grande demais.

–Isabela, olha isso aqui! -disse.

–O quê?! Ah, já vi. É igualzinho ao meu. -ela respondeu e se afastou.

Fechei a porta e me aproximei da cama -cobertas brancas e muitos travesseiros sobrepostos- e depositei minha mochila. Olhei ao meu redor e vi uma passagem, e não exitei em explorar. Um corredor minúsculo que terminava em outra porta, na qual estava escrito "Toalete. Dê descarga" - muito conveniente. Adentrei, e um cheiro suave de ervas invadiu meus pulmões. Dei mais alguns passos e tropecei em uma mesinha com perfumes, cremes, roupas e toalhas, que se espatifaram quando caíram, mas se reconstituíram instantes depois. Achei que não haveria problema, então decidi tomar um banho. Saí do banheiro vestindo a roupa que encontrei na mesa.

Meu estômago estava roncando, então fui até a cozinha para comer. Resolvi preparar um sanduíche e pegar um copo de chá gelado. Sentei-me à mesa, ao lado do braseiro creptante. O calor emanado do fogo era aconchegante, e fazia eu me sentir em casa. Em casa... Será que meu pai estaria preocupado ou já saberia de tudo? Saberia que ficaríamos distantes? Saberia que eu seria levado por um híbrido para fora de casa para sobreviver ao novo futuro? Meus pensamentos foram deteriorados e substituídos por algo mais interessante.

–Oi -me disse Franciele na porta da cozinha. Ela estava bonita, vestindo shorts e camiseta, e com os cabelos caindo sobre o ombro.- O quê está fazendo aqui sozinho?

–Vim comer. Estou com fome.

–Posso sentar?

–Claro.

Ela se aproximou de mesa e sentou-se na cadeira a minha frente.Pude perceber que ela olhava fixamente para mim.

–Que foi? -disse com a boca cheia de pão depois de uma mordida no sanduíche.

–Nada, seu porco. -uma expressão de nojo se estampou forçadamente em seu rosto.

–Hum.

–A gente achou alguns filme e vamos assistir um deles. Quer assistir também?

–Claro.

–Ok. Estão escolhendo o filme, então dá tempo de você termimar seu lanche. Bom, já vou lá, tá? -ela me olhou e deu uma piscadela. Depois se levantou e saiu.

O quê foi aquilo? Por qual motivo ela piscaria daquela forma para mim? Podia ser uma cantada ou um sinal confirmando nossa programação? Tinha certeza de que eu estava imaginando tal coisa. Irrelevei o fato e terminei de comer calmamente. Larguei tudo na pia e me dirigi à sala. O filme já estava começando, e a maioria das almofadas e pufis dispostos no cômodo estava ocupados. Me sentei ao lado de Isabela, que se aproximou e cochichou em meu ouvido.

–"Pegador".

Olhei para ela e comecei a rir, finalizando a histeria com uma carranca séria. Não entendi o motivo, mas Salu soltou sua irreverente risada e inevitavelmente caí na gargalhada.

–Fica quieto, Rodrigo! -berrou Julia Toquinho.

–Tá bom, calma. Oxe.

Eu realmente queria assistir ao filme, mas algo mais forte me levou da consciência.

Gritos inundavam a escuridão. Entrei em desespero, precisava me livrar desse pesadelo. Por sorte, um empurrão salvou minha sanidade. Era Franciele, dizendo para eu ir dormir em mu quarto. Não questionei. Dei um abraço de boa-noite e fui para o meu refúgio provisório. Sem cerimônia, joguei a mochila no chão e despenquei na cama, mesmo sabendo o que estava em minha espera.


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