Vozes escrita por Bacon


Capítulo 1
Vozes


Notas iniciais do capítulo

Capítulo único ♥
Boa leitura~! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/414686/chapter/1

Mamãe, papai? Cadê vocês?

Esse lugar é escuro, não consigo ver nada. Só tenho o Popo comigo, mas ele está machucado. O bracinho dele rasgou quando aquela luz puxou a gente aqui pra dentro. Mas não tem luz aqui. Estou com medo.

O papai sempre disse que eu não deveria ter medo do escuro. Mas não é disso que estou com medo. Estou com medo do que eu tô ouvindo. Esses sussurros, essas vozes que estão em todo lugar, não param. Tenho uma mão na orelha esquerda e o Popo tá com a mãozinha dele na minha orelha direita, mas ainda assim eu estou escutando. E o pior é que eu acho que o bracinho do Popo tá rasgando mais, porque eu tô sentindo que ele está tremendo. Acho que o Popo está chorando.

Ah, não. Esse choro que eu estou escutando é meu.

Estou com medo, papai, estou com medo. Você nunca me ensinou a não temer esses barulhos. Eu continuo escutando tudo e não consigo fazer parar.

Só o Popo me ajuda. Só ele não me abandonou aqui no escuro. Mas eu estou sentindo o Popo tremer mais e consigo ouvir o tecido rasgar. Aguente firme, Popo. Por favor!

As vozes estão mais altas, acho que estão chegando perto. Mas o som do tecido parou e o Popo parece estar bem mais leve. Eu puxo o Popo pra mais perto, porque assim vou poder dar um abraço apertado nele e saber que ele ainda está aqui comigo. Mas o Popo não vem me abraçar.

Mas por quê? Eu sei que o Popo está aqui. O bracinho dele ainda está na minha mão. Por que ele não me abraça?

Tento levantá-lo para olhar os olhos de botão, mas não consigo ver nada naquele breu. Então, tento tocá-lo, mas quando o bracinho dele acaba, não tem mais Popo pra tocar.

Ah, não. Não, não, não, não, não.

Estou ouvindo meus gritos ecoarem aqui dentro. Meus joelhos estão doendo porque eu caí no chão. E o chão tá molhado e cheio de coisas que eu não sei o que são em cima. Minha garganta também tá doendo, porque estou chorando e gritando muito alto ao mesmo tempo. Não estou respirando direito. Mas se eu gritar, a mamãe ou o papai ou o Popo vão ouvir e me levar pra casa. Não é?

Mas eu grito, grito e grito e ninguém vem. Meus joelhos tão doendo demais pra eu conseguir andar, então estou engatinhando. O Popo tem que estar em algum lugar. Ele tem que estar!

Os sussurros parecem estar chegando cada vez mais perto. Estou com muito, muito medo. Eu não quero mais achar a mamãe ou o papai ou o Popo. Eu só quero acordar, porque eu sei que isso é só um sonho ruim e nada disso está acontecendo de verdade. E eu grito isso para as vozes. Mas agora elas parecem mais bravas, pois estão mais altas e mais agitadas, parecendo rosnar no meu ouvido:

“Está acontecendo, está acontecendo, está acontecendo, está acontecendo, está acontecendo, está acontecendo, está acontecendo, está acontecendo.”

“Não, não está! Não pode estar acontecendo! Parem com isso! Parem, parem, parem!”, eu grito de novo.

Elas parecem estar ficando mais irritadas. Eu tenho que fugir.

Está tudo doendo demais. Meus joelhos estão doendo, meus braços estão doendo, minha cabeça está doendo, minha garganta está doendo. Mas eu tento continuar. As vozes estão chegando mais perto. Estão perto demais. Eu estou engatinhando há um tempão e não pareço chegar a lugar algum.

Estão mais perto, estão mais perto.

Estão do meu lado.

Tem alguma coisa se enrolando em minhas pernas e meus braços. Tá apertado. Essas coisas estão me puxando em direções diferentes. Tá doendo, estou todo esticado. Não consigo me mexer.

Algo está espetando minhas costas, meu peito e meu pescoço. Dói demais, demais, demais...

Estou me ouvindo gritar de novo. É a única coisa que posso fazer. As vozes agora parecem mais organizadas. Estão sussurrando entre si.

“Este espécime é péssimo”, reclama uma.

“É frágil demais”, diz outra.

Eu não consigo entendê-las. O que é um espécime? Eu não sou um espécime, sou uma criança!

“Aquela fêmea era como ele”, rosna mais uma. “Esses têm o mesmo DNA, não são compatíveis com a substância. Não nos servem. Descarte-o.”

Descartar? Descartar quem? Eu? Como assim? O que vão fazer comigo? Não sei as respostas. E não quero descobrir.

Aquelas coisas estão começando a me puxar para lados diferentes. Meu corpo está sendo esticado cada vez mais. Dói. Alguém faz parar, por favor, faz parar.

“Pegue o próximo” é a última coisa que escuto. E, então, sou descartado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? :3
Espero que esteja bom, foi minha primeira tentativa narrando no presente -q
Mereço reviews? ♥
Fiz pra passar o tempo, então não tá nada muito ~excepcional~ XD Mas, se alguém pedir, eu continuo ouo