Andar a noite sempre foi seu hobby, era fácil, calmo e estimulante. Ela conhecia as pessoas da noite, sabia seus nomes, mas nunca conversava com elas, não era necessário. Como todas as noites ela sentava no mesmo barzinho, na mesma mesa e pedia a mesma coisa: um chopp sem colarinho, rápido e prático. Seu olhar rondava o estabelecimento, tudo na mesma... Pessoas conversando, rindo, flertando e discutindo sobre futebol, nada fora do normal, tudo corria na mais perfeita ordem do dia. 

     Passaram-se apenas dez minutos e a pequena dama só havia tomado dois goles de sua bebida, era cautelosa, como se esperasse o momento certo para tudo. Mais uma vez olhou ao redor e abriu um sorriso quando seu olhar cruzou com o de um rapaz, um moreno alto de olhos absurdamente escuros, era fatalmente sexy e completamente comum. Perfeito para aquela noite. Bastava uma cruzada de pernas e cavalheiro já estaria na sua mesa engatando um conversa altamente superficial, mas era exatamente isso que ela queria, alto superficial sem profundidade alguma. Dito e feito, o rapaz já estava completamente encantado por ela e por sua ingenuidade e principalmente por seu nome: Zaira, que significava exatamente o que ela transmitia.

     Não foi preciso mais do que duas horas de conversa para ela estar no carro com do homem que se identificara como Daniel, ou algo do gênero, indo diretamente para um motel. Algo extremamente rápido, sem profundidade e sem perguntas, tudo seria em função do prazer. Prazer dela, e simplesmente dela. A adrenalina começava a agir em seu sangue, um sorriso mais do que provocante repousava em seus lábios avermelhados pelo batom que combinavam perfeitamente com seus cabelos ruivos e olhos verdes musgo. 

    Na recepção a mulher já se encontrava em frenesi,não conseguia tirar as mãos do homem que lhe acompanhava, beijava-lhe a nuca sempre que conseguia e sentia o homem estremecer sob suas mãos. Poderosa, era assim que se sentia. A sensação de poder se acumulava dentro dela. No elevador já não se controlava mais, agarrava o homem para si e o beijava como se fosse a ultima coisa que poderia fazer na vida, arranhava-lhe as costas, mordia-lhe os lábios e puxava-o para si, se sentindo ainda mais excitada e necessitada do que já estivera antes, apenas mais alguns instantes e ela se sentiria bem consigo mesma novamente. 

     Dentro do quarto estava quente, roupas para todos os lados e um casal aos beijos na cama, o local transbordava luxúria e necessidade, em um momento de distração o homem foi preso à cama, com as mãos acima da cabeça, um sorriso torto brincava no rosto do mesmo. A mulher se aproxima novamente dele, beija-lhes os lábios e cola ainda mais os corpos e estica um dos braços em direção à cômoda, e ali estava reluzindo a luz da lâmpada seu objeto de prazer, uma pequena faca, para olhos desatentos passava-se despercebida. O brilho da pequena arma a encantava, parecia cantar para a ruiva. 

     Zaira afastava o rosto de sua presa, era isso que aquele homem era e nada mais, sua pequena presa da qual ela se deixava desfrutar por alguns momentos. Olhar diretamente nos olhos negros daquele rapaz era instigante, estava mergulhado em desejo e curiosidade até sentir algo cortando-lhe a pele de seu braço, um palavrão foi dito ao vento, a garota não ouvia e nem sentia nada, somente revezava seu olhar entre o corte que sangrava e os olhos obscuros do homem em baixo de si. 

     Gritos. Cada vez mais altos e agonizantes, a cada grito mais alto um corte ainda mais profundo era feito. O quarto era a prova de som. Junto com os gritos do moreno vinham às gargalhadas insanas da ruiva, seus olhos brilhavam perigosamente, suas mãos já estavam completamente tomadas por sangue e seu rosto com alguns respingos. 

       Era deliciosamente insano ouvir os gritos de horror dentro do quarto, eles ressoavam nos ouvidos como se fosse musica, ela queria mais. Queria um grito de morte... E assim o fez, com uma destreza impressionante fez um corte fundo na garganta de seu suposto amante, o grito era atrapalhado pelo sangue que saia, o homem engasgava com o próprio sangue, era um privilégio de se ver. O ser humano lutando pela vida, gritando para tentar se segurar em um ultimo fio de esperança. Excitante. Com um ultimo grito pela vida o homem perdia o brilho dos seus olhos, e nesse mesmo momento a mulher em cima de si entrava em um orgasmo intenso. Ela estava livre de seu demônio, por algumas horas estava livre novamente. 

       Mais uma vez estava no mesmo bar de sempre, fazendo a mesma coisa, escolhendo a presa perfeita. A mesma já se aproximava e sentava em sua mesa 

       - Posso saber o nome da bela morena? - Aquela tinta havia caído perfeitamente em si, tudo estava nos trilhos. 

       - Laura. Chamo-me Laura. - E com um sorriso pequeno e singelo ela começava a prender a pequena mosca em sua teia