A praga escrita por BubblesChan


Capítulo 3
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Notas iniciais do capítulo

Oi, povo lindo, como estão?
Bom, esse capítulo está mega atrasado, espero que esteja legal pelo menos.
E, não foi betado por Bubbles, então, perdoem qualquer coisa.



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Faz três dias que estou aqui. E hoje pela primeira vez decidi acordar cedo e me mover sozinha pelos corredores dessa escola. Nicole está sempre entusiasmada a me ajudar, mas não parece justo adapta-la ao meu horário.

Agora estou no refeitório, foi uma pequena vitória chegar aqui. Eu realmente me subestimo. Estou sentada na mesa de sempre, a da parede mofada... Ainda tenho esperanças que ela será limpa um dia.

“Superar” é uma bela palavra, e meu estado de espírito hoje é esse, superação. Estou tentando começar por aquilo que mais me assombra... A morte. Ter visto a freira morta, daquele jeito atormentador, causou realmente um conflito em minha cabeça. Mas tivemos esses dois dias de luto por ela, e ao saber que realmente foi um acidente, ou um suicídio, como estão dizendo, alivia a sensação de estar sendo observada por um assassino ou algo assim. Mas eu realmente acho que ela não se matou, ouvi dizer que ela tinha uns oitenta anos. Quem vive tanto tempo e desiste da vida assim.

Algumas meninas já começavam a chegar ao refeitório e o cheiro inconfundível de comida pairava no ar. Olhei em volta, esperando encontrar Nicole, mas pelo visto ela não tinha o hábito de acordar tão cedo. Resolvi esperá-la, não estava com tanta fome mesmo.

— Sabe da última?

— Não, o quê? — Um pequeno grupinho conversava na mesa atrás da minha.

— A louca do segundo andar, ontem de noite.

— Ai, sério? De novo?

— É, de novo. Eu devo ter muita sorte pra sempre ver ela quando vou pegar água, Deus me livre.

— Por que será que ela não se trata, hein? Ela acha que a gente gosta de ver ela daquele jeito pelos cantos?

A conversa toda era muito confusa, mas pelo que pude entender tratava-se de alguém do segundo andar com problemas, do meu andar com problemas. Passaram-se alguns rostos pela minha cabeça, mas eu não os tinha gravado perfeitamente ainda para poder lembra-los. Foi então que senti um vulto aproximar-se silenciosamente. Nicole se sentou ao meu lado com o rosto pálido, com olhos que nada enxergavam. As vozes que antes retumbavam em meus ouvidos, agora estavam caladas, o motivo podia-se perceber claramente, era Nicole.

— Bom dia... — Disse em meio a um bocejo, lançou um rápido olhar para as meninas que conversavam. — Não vai se servir?

— Vou sim. Estava te esperando. — Ela sorriu, me dando as costas e indo até o pequeno banquete improvisado do outro lado do salão, eu apenas a segui. A comida era bem leve devido àquele horário, tudo parecia muito fresco e agradável.

— Elas estavam falando sobre o quê? — Me perguntou, não tirando os olhos do que servia em seu prato. A olhei rapidamente, limpando a garganta.

- Acho que de...

- Grande novidade que estão falando de mim, o que é dessa vez? Que acordei no meio da noite? – Nicole deduziu tudo sem ao menos eu terminar de falar, sua percepção e habilidade de analisar rostos é assustadora.

- Então... Você é sonâmbula? – Não era algo que ela devia se orgulhar, mas também não deveria esconder isso ou até mesmo negar.

- Até parece... Me viu levantando por acaso?

- Na verdade não. – E eu não tinha mesmo, provavelmente perceberia com meu maldito sono leve.

- Ótimo! – A tensão de seu rosto foi eliminada com um sorriso.

Assim que voltamos à mesa, o assunto “fofoca” se dissipou entre coisas mais importantes, como os horários das aulas e a quantidade de matéria. Nicole me informou sobre os professores e o modo como eles avaliavam. No decorrer do café da manhã, pude sentir os olhares das outras meninas sobre nós, o que fazia Nicole suspirar e revirar os olhos. Pensei que estivessem olhando pra mim, mas ela parecia ser o tópico principal entre as outras. Nicole não deixou nada muito claro sobre o quê tanto falavam dela, mas decidi não me importar, sabia da habilidade das pessoas em inventar coisas sobre quem não conhecem. É assim em todo lugar, aqui não seria diferente.

Quando terminamos a primeira refeição do dia, pedi à Nicole que me mostrasse às instalações que ainda não pude conhecer, já que pensei que ainda teríamos um pouco de tempo livre até o almoço. Mas acho que me equivoquei. O tempo passa muito rápido aqui, mal demos a volta na extensa Instituição e já era hora de voltar para o refeitório. O lugar era bem mais cheio durante o almoço, Nicole me disse que muitas das meninas não tomam café da manhã ou simplesmente não acordam a tempo de fazê-lo. E, assim, a tarde chegou. Tão rápida quanto o almoço.

Fomos em direção à sala de aula, ainda faltava uma meia hora para que as aulas começassem, mas algumas alunas já estavam se dirigindo até lá. Antes um adiantamento do que um atraso. Percebi que nenhuma delas usava mochila ou carregava algo. Outra coisa que aprendi: Tudo o que precisavam ficava armazenado em suas carteiras.

— Eu vou ali beber água. — Nicole apontou com o polegar para o bebedouro que ficava há alguns passos atrás. — Mas pode ir na frente.

— Tudo bem. — Nos separamos, mesmo que por pouco tempo. Andei calmamente pelo corredor, observando os detalhes em vermelho do acabamento das paredes. Prendi-me tanto à decoração que acabei esbarrando em alguém. — Ah, me des...

Por culpa da minha distração, pude observar três reações diferentes. A garota que eu esbarrei, caiu no chão, exageradamente gritante. Nicole veio ao meu encontro, afastando-me dela. Quatro meninas cercaram-na rapidamente, gritando e implorando por ajuda. O tic-tac de sapatos pelos corredores ficava cada vez mais próximo. Nicole pegou em minha mão, me arrastando até a sala de aula.

- Você se machucou? – O olhar preocupado de Nicole vasculhava meu corpo a procura de algum ferimento, corte ou algo do tipo.

- Estou bem, na verdade, eu que a derrubei.

- Não se preocupe, Regina tem esse probleminha levemente assustador e inconveniente. Lembro que ano passado eu passei meus dedos pelo braço dela... Anitta, foi doido, ela não parava de se coçar. – Nicole riu, mas eu realmente não estava achando graça daquilo.

- Isso é maldoso da sua parte. – A encarei, tentando cancelar seu ataque de riso.

- Relaxa, ela fica bem depois de alguns minutos.

- Espero que sim, de qualquer jeito, eu deveria ser mais cuidadosa.

Sentamos em nossas carteiras em silêncio. A professora começava aos poucos com a matéria, raspando o giz branco no grande quadro negro a nossa frente. Eu olhava para os lados, ansiosa para saber se Regina estava realmente bem. Durante a terceira aula, a porta rangeu anunciando a chegada dela. A professora apenas assentiu, voltando a escrever. Acompanhada de mais algumas meninas, ela se moveu pelos vãos das carteiras, vindo em minha direção, como se eu fosse um alvo.

- Você está no meu lugar!

A encarei em confusão, incerta do que dizer ou fazer. Me virei rapidamente para Nicole, que apenas olhava para Regina com uma expressão entediada.

— Sai. — Ela cruzou os braços, soltando o ar pelo nariz.

— M-mas... Eu pensei que esse lugar não fosse de mais ninguém.

— Pensou errado. Agora sai. — Ouvi Nicole bufar atrás de mim, tínhamos atraído toda a atenção da sala para aquela pequena discussão. Eu estava tremendamente envergonhada. Recolhi minhas coisas e levantei-me da carteira, olhando baixo.

— Me desculpe por isso. — Regina não me deu ouvidos apenas gesticulou para que eu me afastasse dali, e foi o que fiz.

— Senhorita Couch, há um lugar vago aqui na frente. — A professora gentilmente apontou para a carteira que ficava em frente à sua mesa. Assentiu para ela e fui até lá. Quando me sentei novamente, pude ver Regina dando sua bolsa para uma das meninas que a acompanhavam segurá-la, enquanto ela retirava duas luvas descartáveis de dentro dela. Logo depois, pegou um pequeno frasco e borrifou um líquido incolor no encosto da carteira e no apoio do braço. Nicole a observava ainda com a mesma cara. Regina fez um sinal para que outra menina, que já estava colocando luvas nas mãos, se aproximasse da carteira. Assim que ela o fez, começou a esfregar o líquido com um pano branco, parecido com uma compressa. Franzi a testa com aquela cena, eu estava completamente apavorada. Minhas outras colegas não olhavam mais para Regina nem para o que ela fazia, elas estavam atentas demais na matéria do quadro negro, como se aquilo fosse algo comum para todas. Quando a estranha operação de “limpeza” havia acabado, todas se sentaram normalmente em seus lugares. Regina, ao perceber que eu ainda estava olhando, me fitou rapidamente, me despertando daquele transe. Voltei minha atenção para a aula, que não demorou nada a acabar.

Em pouco tempo todas as outras alunas saíram de sala, deixando que Regina se retirasse antes de todas. Eu e Nicole fomos às últimas a sair, no caminho até o quarto ela não disse nada, então também optei por me calar.

- Então, o que foi aquilo? – Ela me encarou, a testa franzida, nervosa.

- O que?

- Aquilo, você dando o lugar pra ela, assim, de boa. – Nicole bufou.

- Por que eu não daria? – A encarei também.

- Você é Anitta Couch, não tem que dar lugar pra ninguém.

- Acho que você não me conhece o suficiente ainda, eu odeio ser Anitta Couch.

- Mas a Regina não merece...

- Nicole, ela é doente, consegue ver isso? – O tom da minha voz estava se igualando ao dela, eu tinha que parar. – Estou indo a missa.

- Eu levo você lá! – Suas palavras eram disparos violentos.

- Eu consigo ir sozinha.

A porta do nosso quarto fechou-se, dei as costas para Nicole e segui duvidosa pelos corredores, incerta se tinha feito algo correto, se eu tinha realmente razão. Caminhei depressa pela escuridão aparentemente interminável quando pela segunda vez no dia esbarrei em alguém.

- Me desculpe, juro que não fiz por querer.

- Está tudo bem, a culpa foi minha. – Respondi sem ao menos ver o rosto da menina.

- Anitta Couch? – Sempre o mesmo tom de surpresa.

- Sim.

- Nossa, eu sabia, seu timbre de voz é muito marcante. – A voz eufórica.

- Me conhece?

- Claro, quer dizer, não pessoalmente, mas vi várias propagandas suas, e ouvi dizer que estava aqui, constatei logo que seria você. Isso é realmente incrível.

- Tudo bem, sabe onde posso encontrar um pouco de luz?

- Nossa, deve ser tão difícil ser você, criada apenas pelo pai, a falta da mãe deve ser triste não? Ficar sempre sozinha, pelo que sei você fica a maior parte do tempo com os empregados, ele nem lhe da atenção, não é? Seu pai é daqueles que só liga pra trabalho? Mas também, você deve gastar uma fortuna em roupas, a, eu gastaria também...

- Chega! – Meu grito ecoou.

Mais a frente uma grande porta se abriu, nos iluminando. Consegui então ver com clareza o rosto angelical, o cabelo curto dourado com pontas largas caídas nos olhos castanhos. Eu já tinha a visto em algum lugar. Mas quem era ela afinal? Com esse conhecimento maléfico que me atingiu de uma só vez, dilacerando a pouca felicidade que me restara.

- Está tudo bem Srtª Couch? – Padre Alberto apoiava-se no marco da porta.

- Está tudo...

- A propósito, meu nome é Marina, pode me chamar de Mari se quiser, mas ninguém chama.

Eu a deixei no escuro, sozinha. Mas na verdade, eu que estava no escuro. Ela me fez lembrar de coisas ruins, de sentimentos tristes que eu tento a cada dia esquecer. Talvez eu a veja todos os dias a partir de agora, ela será um lembrete ambulante de que minha mãe morreu, de que meu pai não se importa comigo. A estadia aqui está cada vez mais dolorosa.

- Onde está indo? Não vai ficar para a missa? – Padre Alberto estava confuso.

- Deus não pode me ajudar hoje.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?

Nome do próximo capítulo: Quase sozinha (sujeito a alterações).



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