O dia foi um tédio.Todas as pessoas pareciam preocupadas comigo.Têm coisa mais chata?( N/A: Têm.Assistir certas aulas, por exemplo...)  Repeti para Naruto, o que tinha falado para a médica.Não deu outra: No dia seguinte, tive que visitar minha familia. Não os via desde o dia do casamento, mas não senti falta alguma.Foram naquela tarde, tão falsos quanto de costume.Não via sinceridade nas saudades e preocupações de que tanto falavam.

Naquela casa, estava todo o meu passado.Segredos guardados, que morreriam ali, sem nunca serem revelados. Lá passei toda a minha vida. Senti vontade de chorar. Lembranças boas e ruins vinham como mísseis, me atingindo no meu ponto fraco.

Disse que iria ao banheiro.

Quando fechei a porta, meu rosto já estava úmido. Eu queria parar de viver por algum tempo. Congelar o meu corpo, minha mente e minha alma. E sentir a paz pelo menos por alguns segundos. Acho que eu merecia um pouco de descansso. Infelismente, não era o tipo de descansso possível para mim. A cada vez que meus olhos fechavam meu passado me atormentava, estando eu, conciente ou não. Ao abri- los eu via meu presente. Uma mancha confuza e embaçada na minha vida. Porém era meu sofrimento atual paralelo ao meu sofrimento futuro, que me causava desejo de morte. Pela parede fui escorregando, até chegar ao chão, onde fechei os olhos e tentei entender aquelas frases e imagens surgidas em minha mente. Embaralhadas elas iam me fazendo chorar ainda mais.

“Não há uma única noite que eu não sonhe com você.”

“Como uma vadia?”

“Um dia te mostrarei.”

“Eu sempre serei sua, não conseguiria sobreviver sem você.”

“Suas palavras já não me feriram o bastante?”

“Você irá recusar um beijo meu?”

“Pensasse nisso antes.”

“Você é realmente louco!”

“Você não me pertence.”

“Me roube.”

Esforcei-me para parar as lágrimas. Enxuguei as que ainda estavam no meu rosto e saí.

Antes de voltar para a sala, tive vontade de dar uma olhada no meu antigo quarto. Não sei por qual motivo, mas senti atração por aquele cômodo. Eu precisava ir lá.

Vi que a porta estava aberta, entrei, e ao olhar aquele lugar, mesmo estando muito diferente, incontrolavelmente pude reviver momentos já esquecidos por minha mente falha.

“Isso não é certo”

 Tocava nas paredes como se essas fossem valiosas. Passava minha mão por tudo que havia restado da época em que vivia ali. Parei no centro do quarto, atordoada, me sentindo tonta. 

As lágrimas recomeçavam a escorrer.

“Você me ama?”

“Amo”

Pus mão tremula sobre a boca. As lágrimas não paravam.

“Então confie em mim.”

“Por que eu faria isso?”

Eu devia estar suando, sentia calor e um desconforto indescritível.

“Porque eu também te amo.”

“É a primeira vez que me diz isso...”.

“Não havia reparado.”

“... mas eu já sabia.”- Falei antes de me entregar totalmente a ele. 

Eu estava sufocada. Senti pontadas fortes em meu peito, essa dor parecia se espalhar por todo o meu corpo. A falta de ar era agonizante. Eu não entendia o porquê daquilo estar acontecendo. Minhas pernas perdiam suas forças aos poucos. A imagem dele não ia embora. Isso me perturbava.

Nem percebi quando perdi os sentidos.