O voo das borboletas. escrita por Fernanda Bittencourt
Notas iniciais do capítulo
Aqui está mais um capítulo da história, espero que gostem. Ah, obrigada aos reviews do capítulo anterior.
P.S: Capítulo revisado.
Capítulo 2: Seus intensos olhos verdes.
John estava indo até a cantina do hospital, quando avistou Gabriela. Ela estava próxima a uma bancada de informações para visitantes, conversando com uma enfermeira e analisando um prontuário.
John levou o copo de café aos lábios, como se a cafeína tivesse a função de acalmá-lo. Ele parou de andar por um tempo, indeciso se parava para falar com ela, ou se agisse como se não a tivesse visto. As últimas vezes que tinham se falando fora estritamente sobre trabalho. Era somente sobre isso que mantinham contato ―, Gabriela nem ao menos quis citar o beijo que ambos trocaram em frente ao apartamento dela, no sábado.
Era como se nada tivesse ocorrido e isso começou a incomodar John. Decidiu então, em súbito, se aproximar dela para questionar o que havia acontecido.
John pigarreou ao se aproximar, anunciando gentilmente a sua presença ali.
– Oi, John. – Gabriela lançou brevemente o olhar na direção dele, enquanto voltava a olhar o prontuário, pensativa.
– Precisamos conversar, Gabriela. – Ele usou um tom levemente autoritário.
A enfermeira olhava atentamente os dois, analisando a tensão que crescia na feição de Gabriela.
– É sobre algum paciente, Dr. Marin? – Ela tentou desconversar.
– Não, é sobre nós, Gabriela. – John já estava impaciente com aquele jogo estúpido que Gabriela teimava em jogar com ele.
Gabriela ficou rígida e imparcial, temendo o que seria dito logo depois.
– Rose, com licença. – A médica se virou para a enfermeira de olhos castanhos e lábios avermelhados. Pegou John pelo braço e o levou até um canto para que conversassem sem ter Rose analisando cada palavra quem ambos dissessem.
– O que deu em você? – Gabriela murmurou, aparentando estar irritada.
– Faz quatro dias, Gabriela e você nem ao menos disse nada a respeito. – John tentou soar o mais calmo possível. Tomou mais um gole do seu café, tentando lutar para não gritar com ela.
– John... – Gabriela começou a dizer, o que na verdade, nem podia na sua visão ser discutido. O médico a sua frente a interrompeu, com os olhos ganhando uma aparência apática.
– Não, está tudo bem, Gabriela. Você quer esquecer e está tudo bem, mas ao menos poderia ter me dito e não ignorasse o fato de que nos beijamos. – John já estava prestes a se retirar, quando Gabriela lhe tocou o braço, impedindo-o de ir.
– Eu só fiquei assustada, está bem? A verdade, John, é que eu nunca me vi assim... Você é praticamente um desconhecido e bom foi tudo rápido demais, intenso demais... – Gabriela respirou fundo, reorganizando seus pensamentos. – Não estou acostumada a ceder, entende?
– E você acha que é fácil para mim? Eu me apaixonei pela mulher mais difícil que talvez exista no mundo. – Ele sorriu sem muito humor.
Gabriela sorriu também.
– O que quis dizer com isso? – Gabriela perguntou.
– Que eu gostei de ter beijado você e mesmo quando você tinha dito que nem em mil anos iria comigo a um bar. – ele sorriu verdadeiramente dessa vez. – Eu quero conhecer mais de você, Gabriela, porém a verdadeira.
– Esta é a verdadeira, Gabriela. – A médica fez um gesto com suas mãos, mostrando-a dos pés a cabeça.
– Não, não quero conhecer a Gabriela médica e sim, a Gabriela que aparentemente gosta de Harry Potter. – John sorriu e se aproximou, olhando atentamente os olhos da médica. Ele tirou cuidadosamente uma mecha do cabelo dela que teimava em cair diante de seus olhos, colocando-a atrás da orelha.
– A Gabriela médica, faz parte de mim, John. – Sussurrou ela, já entorpecida pela respiração de John que se misturava a sua.
– E eu não quero que a deixe. Você é uma médica brilhante, Gabriela. – John a encostou contra a parede com uma das mãos, enquanto com a outra ainda segurava o copo de café. -Deixe-me conhecer mais de você, por favor.
Gabriela não conseguiu mais se controlar, capturando os lábios de John com os seus. Um beijo lascivo começou e John mordeu levemente o lábio inferior de Gabriela, puxando-o logo depois.
John sorriu, acariciando o rosto de Gabriela, logo depois do término do beijo.
– Você é linda... A chefe mais linda que já beijei, na verdade, é a única chefe que já beijei. – John riu, sendo acompanhado por Gabriela. – Aceita sair comigo hoje, Gabriela?
– Eu iria adorar sair com você, John.
∞
– Então, onde pretende me levar? – Gabriela perguntou a John, aceitando o capacete que ele estendera para ela.
– Surpresa, Dra. – John sorriu, colocou o seu capacete e se sentou na moto, esperando ser acompanhando por Gabriela.
Ela se sentou momentos após e abraçou a cintura dele.
– Gabriela, você tem carro? – Perguntou John, momentos após ligar a motocicleta.
– Sim, tenho! Por quê?! – Ela exclamou, lutando contra o barulho do motor que roncou.
– Está na sua casa, ou no hospital?
– Em casa, John. Por que está me perguntando isso? – Gabriela realmente não entendia onde ele queria chegar.
– Porque você irá precisar dele para ir ao nosso encontro! – Exclamou ele.
*
– O.K., qual seria o intuito disso? – Gabriela sorriu. A médica entregou então, o capacete para John ao sair da motocicleta.
– Bom, quero que o meu primeiro encontro com você seja perfeito.
– É um romântico então, Dr. Marin? – Ela esboçou um leve sorriso, analisando o porte tentador de John sobre aquela motocicleta.
– Basicamente, Green. – John riu. – Pois bem, me encontre daqui à uma hora no bar do Joye’s. Eu serei o cara de jaqueta de couro preta e estarei sentado lendo Harry Potter e o enigma do Príncipe.
Gabriela riu audivelmente e então perguntou: - por que está me dizendo essas coisas, John?
– Como saberá quem é o seu futuro namorado sem nem ao menos ter visto ele antes? – John sorriu galantemente.
– Não soa meio presunçoso achar que eu aceitaria namorar você? – Gabriela disse de forma debochada.
– Seria, mas aparentemente não me importa ser presunçoso se tem confiança e se luta fortemente por aquilo que se deseja.
– Boas palavras. Estarei no Joey’s em uma hora, John.
– Irei esperar ansiosamente, Gabriela.
∞
Gabriela estava incrivelmente bonita, usando uma saia lápis preta, blusa azul-marinho de seda e sapatos de salto alto.
Assim que ela entrou no bar, alguns olhares se voltaram para ela e os homens dali mal piscavam diante de tamanha beleza da morena, porém, seus olhos caçavam vorazmente o médico loiro de olhos verdes e jaqueta negra.
Logo que avistou John, ela se aproximou, andando de forma felina, enquanto os olhares masculinos ainda se esgueiravam por sobre ela.
Gabriela pigarreou, imitando o que John fizera mais cedo, no hospital.
– O seu dia deve ter sido muito cheio, já que, escolhera Harry Potter para se distrair. – Gabriela sorriu logo após.
– Olá, Gabriela. – Ele se levantou, encaminhando-se para ela, puxando a cadeira para que a médica pudesse se sentar. – Por favor. – John se referiu à cadeira, para que Gabriela se sentasse.
– Obrigada. – Gabriela disse ao se sentar.
Uma música ambiente começou a tocar, trazendo aos ouvidos a música Listen to your heart, da banda Roxette¹.
– Você está linda, Gabriela. – John disse ao acariciar o ombro dela e logo após se sentou.
John por um momento se deixou levar, analisando o cheiro deliciosamente viciante que emanava da pela da médica ― uma mistura de flores e maçãs.
– Você também não está nada mal.
– Então, Gabriela, o que você bebe? – Questionou ele de forma gentil, já chamando o garçom.
Gabriela pensou e repensou, porém no fim pediu um martíni de maçã, como sempre.
John guardou o livro que estava lendo na sua bolsa de carteiro e a pendurou na cadeira.
As bebidas de ambos chegaram ―tendo John optado por uma cerveja. Ambos começaram a conversar naturalmente, sem as provocações habituais.
– Então, onde pretende estar daqui a dez anos? – Perguntou John logo após tomar um gole de sua cerveja.
– Eu não sou do tipo que se programa, John, na verdade, nem tenho muito tempo para pensar no amanhã. – Gabriela disse de uma forma um tanto rígida. Aquela frase atingiu John, que de certa forma, não se deixou abater.
O que Gabriela dissera era um motivo para gerar ambiguidade, afinal ela não tinha mesmo tempo para se programar em longo prazo.
John pigarreou e logo mudou de assunto ao notar que a médica aparentava estar tensa.
– De que tipo de música você gosta, Gabriela?
Gabriela tomou um gole da sua bebida e logo respondeu: - gosto muito de música clássica, rock, pop rock e a minha banda favorita é a Florence and the Machine.
– Compartilhamos dos mesmos gostos então, principalmente literários. – John sorriu, lembrando-se de quando trombou com ela no bar e Gabriela estava lendo um dos livros do Harry Potter. – E como não me respondeu da primeira vez, deixe que eu respondo. Harry é quem mata Voldemort.
– Eu não sabia que era um nerd como eu. – Gabriela sorriu.
– Possivelmente, levando em conta, que eu sabia sobre a morte de Dumbledore.
– Eu presumi que soubesse.
Algumas horas se passaram e ambos ainda estavam conversando sobre coisas aleatórias e um assunto ou outro arrancava sonoras gargalhadas dos dois. John ficou somente naquela última cerveja, assim como Gabriela, parando de beber e optando por um suco, momentos mais tarde.
∞
Gabriela e John estavam em frente ao flat da médica, enquanto ele ainda a beijava, relutante em deixá-la ir.
– John, eu tenho que entrar. Amanhã temos que acordar cedo para ir ao hospital. – Disse Gabriela, lutando contra ela mesma, tentando não ceder àqueles perfeitos olhos verdes a sua frente.
– Não há a menor possibilidade de que eu pare de beijá-la agora. – John sorriu e a puxou para mais um beijo, dessa vez, mas dominante e não tão delicado assim.
– Então por que não passa a noite aqui? – Gabriela sugeriu, sem segundas intenções. Ela ainda estava meio ofegante.
– Está me convidando para dormir com você, Dra. Green? – Um sorriso debochado surgiu nos lábios dele.
– Bom, eu pensei que o sofá serviria para você. – Gabriela implicou.
– O.K, eu me contento com o sofá. – O médico sorriu.
*
John saía do banheiro situado no fim do corredor. O apartamento de Gabriela era espaçoso e muito bem decorado, com todas as coisas estritamente postas em seu devido lugar.
Uma escada com madeiras de mogno suspensas e vazada repousava em um canto da enorme sala de estar.
Gabriela já estava com uma camisola de seda preta, preparada para ir dormir, enquanto arrumava o sofá para que John pudesse se deitar. Os olhos dela recaíram sobre o corpo esguio e forte do médico, que analisava cada detalhe do apartamento dela. John estava descalço, trajando apenas suas calças jeans de aparência surrada.
– Sua mãe nunca lhe ensinou que é feio reparar na casa dos outros? – Gabriela o tirou do transe, enquanto ele analisava um quadro pendurado à parede, perto de um carrinho com bebidas.
John se virou e sorrindo para ela, se aproximou.
Gabriela se autopoliciou, para que seus olhos não admirassem aquele peitoral forte e abdômen definido que John possuía. Ele não se conteve e espreitou a imagem que na sua visão era perfeita: Gabriela apenas de camisola, cabelos soltos e olhos chamativos.
– Eu não sabia que você tinha uma tatuagem. – disse John ao se referir à borboleta-monarca que a médica tinha tatuada em seu ombro esquerdo. – Digo você não é o tipo de mulher que faz uma. – Ele afastou gentilmente a alça da camisola dela, tendo plena visão daquela imagem delicada.
– É, pode ser, mas eu tenho uma. – Gabriela gentilmente recolheu a alça, pondo-a no lugar.
– Boa noite. – John disse se deitando no sofá, prestes a dormir, já se cobrindo.
– “Boa noite”? Assim, sem nem mesmo tentar me beijar antes de dormir? – Gabriela se sentou no sofá, alisando a barba por fazer do médico.
John sorriu, levando uma de suas mãos à nuca de Gabriela, puxando a morena para um beijo que logo tomou grandes proporções, não sendo mais tão comportado como antes. O médico a puxou e Gabriela se deitou sobre ele, com as pernas postas uma de cada lado dele.
Uma das mãos de John deslizou até as costas da médica, arranhando-as levemente, enviando uma onda elétrica pelo corpo de Gabriela que gemeu levemente com o contato.
Gabriela mordeu o lábio inferior de John e logo voltou a beijá-lo. Quando as mãos dele estavam prestes a chegar às nádegas da médica, ela o parou bruscamente.
– John, acho que está indo rápido demais, não acha? – Gabriela ergueu uma de suas perfeitas sobrancelhas para ele.
A médica saiu de cima dele, arrumando sua roupa, enquanto analisava o sorriso esboçado por ele.
– Tem razão... Desculpe. – John se sentou no sofá. – Tem algo que quero fazer antes.
– O que seria? – Gabriela cruzou os braços, na altura dos seios.
– Sei que pode soar precipitado, mas achei a pessoa que me faz sentir, Gabriela. – John se levantou, aproximando-se dela.
– John, não precisa fazer isso...
John segurou as duas mãos dela, olhando-a nos olhos.
– Eu quero ter você ao meu lado, Gabriela. Quero que seja a minha namorada.
Ela vasculhou seu cérebro, tentando arrumar as palavras adequadas.
– Isso está sendo precipitado, John. – Disse Gabriela gentilmente.
John a olhou languidamente. Ele sabia o quão arriscado era pedir aquilo a ela, mas mesmo assim, o fez. John sabia também, que não poderia deixar passar a chance de um amor tão forte quanto o que estava sentindo pela médica.
O médico nem ao menos havia se dado conta antes, mas Gabriela havia prendido-o logo no primeiro sorriso e ele com certeza, não desistiria no primeiro empecilho.
– Pensa um pouco sobre isso, Gabriela. Eu quero você e eu vou esperar. – John então se voltou para o sofá, deitando-se logo após. – Boa noite. – Sussurrou ele.
– Boa noite, John. – Ela ainda estava meio impactada.
As luzes foram desligadas e calmamente Gabriela subia as escadas, encaminhando-se para o seu quarto.
“Droga, por que as coisas não são mais fáceis. Não quero te magoar, John”, pensou ela ao se deitar na cama, se cobrindo, quando analisava languidamente o teto alvo do quarto já escuro.
∞
¹Roxette: É uma banda de pop rock sueca formada por Marie Fredriksson e Per Gessle. A dupla alcançou sucesso mundial entre o começo dos anos 1990. “Listen to your heart” é um dos singles mais famosos da banda nos Estados Unidos durante aquela época,sendo ainda adorada por muitos e escutada até hoje.
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Amanhã estou de volta, gente. Beijos.