O voo das borboletas. escrita por Fernanda Bittencourt


Capítulo 1
Capítulo 1: And behold, you just emerges...


Notas iniciais do capítulo

Bom, está história será uma short fic, que contará em poucos capítulos a história de Gabriela Green. Espero que gostem, pessoal.
P.S: Capítulo revisado.



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Capítulo 1: E eis que me surge você.

Dez anos atrás...

Gabriela Green tinha dezessete anos e era uma típica adolescente de sua idade, que morava com seu pai em uma pequena casa no estado do Arizona. William, seu pai, era entomólogo¹, especializado em lepidopterologia².

Gabriela ainda lembrava o que aconteceu naquela época, há dez anos, quando e se viu apaixonada pela primeira vez em sua vida. Uma montanha-russa de sentimentos surgira em seu estômago quando ela decidira contar ao seu pai ― a mãe dela morreu assim que Gabriela nascera. Will jamais se casou novamente, dedicando todo seu tempo a sua filha e também às borboletas, cujo era grande admirador desde muito pequeno.

William estava em seu escritório, observando a sua extensa coleção de borboletas.

– Pai, podemos conversar? – Gabriela indagou-o ao entrar, deixando sua mochila sobre o único sofá que havia ali.

William arrumou seus óculos, voltando os olhos azulados sob as finas lentes para ela; passou uma das mãos entre os fios castanhos claros, levemente encaracolados e esboçou um leve sorriso, porém um tanto cansado.

Gabriela puxou uma cadeira que estava próxima e se sentou, ficando de frente para o seu pai.

– Pois bem, o que deseja conversar? – Will manteve sua voz grave habitual em um tom suave.

Os olhos azuis esverdeados de Gabriela esboçaram vertigem, mas também nervoso, quando ela passou uma das mãos pelo seu cabelo castanho comprido, alisando-os em um breve momento de exasperação. Ela compartilhava tudo com o seu pai, ele era o melhor amigo dela e ela a melhor amiga dele. Uma das inúmeras coisas que ela mais gostava de fazer com ele, era assistir aos jogos do Red Sox, que na concepção de Gabriela, era o melhor time de beisebol do mundo.

– Eu acho que estou apaixonada. – Gabriela disse em um fôlego só. Ela não queria que o seu pai surtasse. Gabriela mal conseguiu sustentar o olhar que dava a seu pai e então se limitou a olhar para baixo.

– Não tem pelo o quê se envergonhar, Gabriela. – William ergueu o rosto dela através de seu queixo fino. – As pessoas se apaixonam, filha. Eu ainda sou completamente apaixonado pela sua mãe, mesmo depois que ela se foi.

William e Ella se conheceram ainda bem jovens, quando ambos só tinham dezoito anos. Ella estava sentada sobre uma campina rodeada de flores, enquanto lia um livro ― as famílias de ambos estavam acampadas em um lago próximo dali ― e Will veio caminhando, admirando as borboletas que ali se encontravam, até que se deparou com Ella, que esboçou um sorriso ao ter uma borboleta repousada sobre o dorso de uma de suas mãos. Para Will aquele fora um sinal que mostrava o quão certo era aquele sentimento que ele sentia ao querer falar com ela.

Um impulso que ele não sabia de onde vinha, mas que ele tinha que ceder a qualquer custo.

– Ella era a menina mais linda que já vi. Você tem os olhos dela, Gabriela. – De repente, Will deixou uma lágrima solitária correr pelo seu rosto. Felizmente ou infelizmente não era pela ausência de Ella em suas vidas que William cedeu, mas sim por ter se lembrado da notícia que recebera mais cedo, naquele mesmo dia. William recebeu a triste notícia de que estava com um tumor em estágio avançado no seu cérebro e escolheu manter segredo de sua filha, dos seus amigos e também de seu pai, a única pessoa que sabia, era a sua mãe, Teresa. Ele havia passado na casa dela, assim que, deixou o hospital pela manhã.

– Pai, por que está chorando? – Gabriela lhe acariciou o rosto, a altura da barba por fazer. -Lembrou-se da mamãe?

– Eu estou bem, querida. – Will apenas tratou de levantar-se e por fim saiu da sala. Lágrimas grossas já rolavam sem pudor pelo seu rosto.

Foi naquele dia que Gabriela percebeu que algo estava terrivelmente errado. No dia seguinte ela fora para escola normalmente e nada citou com seu pai, um tempo se passou e ambos não falavam quase que sobre nada, nem mesmo de borboletas ― outro assunto que os dois adoravam compartilhar. Gabriela se escondeu em seu mundo particular, mergulhando cada vez mais na leitura e até mesmo deixando de sair com os poucos amigos que tinha.

Quando Gabriela descobriu toda a verdade, infelizmente já fora tarde e ela nunca se perdoou por ter deixado seu pai morrer sem nem ao menos terem aproveitado o pouquíssimo tempo que restaria a ele.

Dez anos depois. Dias atuais...

Era uma sexta-feira fria para os parâmetros do Arizona. Gabriela estava deitada na sala de repouso no hospital onde era a chefe da neurocirurgia ― ela acabou fazendo medicina na faculdade do Estado Arizona. Especializando-se em oncologia, tentando ajudar as pessoas, como deveria ter feito com o seu pai.

Gabriela tinha uma pequena borboleta-monarca³ tatuada no ombro esquerdo. Fora uma forma que ela encontrou de permanecer ao lado de William, mesmo depois de sua morte.

Seu relógio no pulso apitou, informando o fim do seu descanso. A médica revirou os olhos ao levantar-se da cama, mostrando descontentamento.

“Irei precisar de um café bem forte, caso eu queira terminar o meu plantão”, pensou ela. Assim que abriu a porta, deparou-se com um homem alto e loiro, com um porte atlético.

Ao se trombarem, alguns prontuários que o homem segurava fora ao chão.

– Por favor, mil desculpas. – disse Gabriela, já de cócoras, ajudando-o a reorganizar os papeis. – Eu não havia te visto.

– Eu que peço desculpas, doutora...? – Somente naquele momento que eles estabeleceram contato visual, e que contato... Gabriela sentiu seu corpo incandescer, como um flamejar de chamas em uma lareira recém- acesa.

– Prazer, eu sou a Dra. Gabriela. – Eles já estavam de pé, enquanto Gabriela entregava a ele os últimos papeis que antes estavam no chão. Ela jamais o tinha visto no hospital.

– Eu me chamo John Marin. – Ele estendeu uma das mãos, enquanto tentava equilibrar a pilha de papeis na outra de forma desajeitada. John esboçou um lindo sorriso, iluminando seus olhos verde-água.

Gabriela apertou gentilmente a mão dele, devolvendo o sorriso com a mesma empolgação.

– Então, Dra. Gabriela, você parecia um pouco apressada, posso ajudar? – Perguntou John gentilmente.

– É que o meu plantão começa em dez minutos, tenho uma cirurgia e preciso urgentemente de um café. – A verdade era que Gabriela ainda tinha mais 32 horas de plantão pela frente e uma imagem que há anos a perseguia em sua cabeça, enquanto permanecia acordada ―a de seu pai, morrendo.

– Bom, eu tenho que ir agora. Tenho uma cirurgia em dez minutos também, auxiliando a doutora mais chata do hospital. – Ele sorriu com humor.

– Como ela se chama? – Gabriela soou curiosa.

– Ela se chama Dra. Green, dizem que a mulher é muito metódica e extremamente perfeccionista.

– Está explicado porque nunca o vi aqui, John. Eu sou a Dra. Green.

Todo o humor que havia no semblante de John, pareceu desaparecer imediatamente.

– Me desculpe, mas é que algo desse tipo chegou aos meus ouvidos, Dra. – O outro médico tento argumentar.

– Bem-vindo ao Hospital Arizona Grace, Dr. Marin. Boa sorte, como meu assistente. – Gabriela sorriu sem muito humor, afastando-se dali.

John sabia que poderia estar em encrenca, afinal ele agora sabia com quem estava lidando.

– Oito horas naquela sala valeram a pena. O sorriso do garoto quando eu disse que logo poderia ver seu pai, foi extasiante. – John disse tentando puxar assunto com Gabriela ao sair da sala de cirurgia.

– Isso foi ser médico, Sr. Marin. – Gabriela disse a ele de forma um tanto ríspida.

– Sinceramente, me desculpe pela forma como agi mais cedo, eu não sabia que era você, Gabriela. – John tentou soar o mais convincente que podia. – Se pelo menos pudéssemos sair um dia desses e eu puder me explicar... – Ele nem ao menos conseguiu terminar, pois Gabriela o interrompeu abruptamente.

– Sr. John, eu sou uma cirurgiã muito séria e com certeza, não tenho tempo disponível para ir a um bar e beber com você. Sinto muito. – Gabriela começou a andar, deixando- o sozinho pela segunda vez em um só dia.

– Eu não estava pensando em levá-la em um bar, doutora Green, mas também não seria uma má ideia! – Atreveu-se ele ao exclamar.

– Nem em mil anos, John! – Ela também gritou, continuando a andar.

“Ela não parece uma chata para mim”, pensou ele.

Uma semana se passou e Gabriela, tanto quanto John, continuavam sem se entender muito bem.

Gabriela era uma mulher difícil de conviver, ela sabia muito bem disso, porém John estava se mostrando alguém muito paciente. Depois de três cirurgias em um só dia, a médica se permitiu parar em um bar e beber um drinque ou dois, porém nada que diminuísse as sinapses de seu cérebro, tomando proporções alarmantes.

*

Gabriela entrou no Joey’s, um bar que ficava um pouco próximo do hospital. Pediu um martíni de maçã e sentou em uma das mesas postas ao fundo do bar/restaurante, encostando preguiçosamente as costas no corpo da poltrona, enquanto abriu sua bolsa e tirava dali de dentro um livro ― Harry Potter e o enigma do Príncipe. Acredite Gabriela ainda mantinha o mesmo gosto literário de dez anos atrás ―, juntamente com os seus óculos de leitura.

Ela estava com um vestido solto cor de creme, um pouco acima dos joelhos e uma jaqueta de couro preta, com as mangas dobradas e sapatilhas ―aparentando ser uma adolescente, ridiculamente tomando uma bebida alcoólica sofisticada, já que qual é a probabilidade de um adolescente conhecer bebidas sofisticadas hoje em dia? Talvez um em um mil? Vai saber!

Um garçom de corpo esguio e forte trouxe a sua bebida, sorrindo para o que poderia ser o tipo de leitura que agradava a médica.

Algumas horas se passaram, talvez horas demais, pois em um drinque e outro, Gabriela já havia bebido quatro e apesar de ser sábado e ter o domingo livre, ela não se permitiu embebedar.

Quando já estava de saída, logo após pagar a conta... Alguém esbarrou nela, deixando seu livro cair, junto com o capacete que o homem segurava.

– Me desculpe, eu não havia visto você. – Gabriela riu, ao perceber aquela voz tão familiar. Era John.

– Realmente, é incrível como sempre nos encontramos assim. – ele sorriu, entregando a ela o livro. – Harry Potter... Interessante.

Gabriela entregou a ele o capacete.

– Certamente, John. – Gabriela esboçou um leve sorriso. – Tenho que ir. Vemos-nos na segunda?

– Certamente, Gabriela. – Ele sorriu, esboçando um leve ar debochado ao usar a mesma expressão que a médica.

Assim que Gabriela estava prestes a virar a esquina do bar para pegar um táxi, sentiu alguém tocar gentilmente em seu ombro e virou-se rapidamente.

– Eu andei pensando, Alvo Dumbledore, morre ou não nesse livro? – Era John novamente.

– Não viu nem mesmo o filme? – Perguntou Gabriela com um sorriso divertido nos lábios.

– Não. Mas então, ele morre, ou não? – John sorriu.

– Sim, John, ele morre. – Gabriela já estava prestes a andar novamente, quando John lhe segurou pelo pulso.

– Você me parece ser alguém muito nerd, Gabriela, sabe me dizer como Voldemort morre? – Ele riu.

– O que quer, Sr. Marin? – A voz de Gabriela tomava um tom de impaciência.

– Aceita tomar um drinque comigo? – Pediu ele de imediato, tentando não dar margem aos questionamentos que povoavam possivelmente a mente de Gabriela.

– Não acho muito apropriado. – ela pigarreou, olhando para a mão de John, que ainda a mantinha presa.

Ele não a soltou, ele na verdade nem tinha menção em deixá-la ir.

Gabriela tinha medo de não se segurar, pois o fato que a corroia por dentro, era o quão atraente aquele par de olhos verdes poderia ser, agregados a aquele cabelo desgrenhado que agora emoldurava a perfeição que era John Marin.

– Apenas um drinque, por favor?! – John franziu o cenho em expectativa, erguendo logo após uma de suas sobrancelhas para ela.

– Tudo bem, somente um. – Gabriela não resistiu. Era tentação demais para uma só pessoa e John parecia ter total ciência do quão irresistível poderia ser, contando que ele esboçou um lindo sorriso ao “sim” de Gabriela.

– Viu, não fora tão ruim aceitar o meu pedido? – Indagou John ao deixar Gabriela de motocicleta ― uma Drag Star XVS 650 vermelha – na frente de sua casa.

– Tem razão, mas ainda assim, não faz com que sejamos amigos ou algo semelhante.

– Por que é tão difícil ser gentil comigo? – John sorriu. Ele não desistiria tão fácil assim.

Gabriela estava caçando suas chaves dentro da bolsa, quando fora atingida pela pergunta dele.

– Não sou do tipo de pessoa que é gentil, pelo que dizem pelo hospital... Sou metódica, perfeccionista e sei lá mais o quê. – Ela sorriu, usando a lembrança de quando se conheceram.

– Dizem que é uma vampira também. – John brincou.- Mas sabe, gosto de você assim. – Esboçou um leve sorriso.

– “Assim”...? Como? – Questionou Gabriela.

– Meio durona e escorregadia.

Gabriela riu audivelmente.

– “Escorregadia”...? É sério isso? – Ela riu novamente.

John se aproximou perigosamente dela.

–Sim, terrivelmente escorregadia, porém, igualmente tentadora. – John a agarrou, deixando seus lábios se pressionarem contra os dela.

No começo do beijo, Gabriela mostrou um pouco de resistência, mas logo se deixou levar pelo jeito galanteador de John, que tornava o beijo deliciosamente lento, calmo e exploratório.

John não podia mais negar o quanto Gabriela havia mexido com ele, mesmo com esse jeito tão defensivo que ela mantinha.

– Você tem alguma noção do que acabou de fazer? – Gabriela tentou soar irritada, mas a verdade era que ela estava assustada por deixar que seus sentimentos ganhassem proporções tão grandes em segundos. Beijar John tirava a médica do controle e controle era algo que Gabriela adorava ter.

– Sim, eu beijei você, na verdade, desde que lhe vi pela primeira vez eu queria ter beijado você, Gabriela. – confessou John. – Mesmo sendo minha chefe. – Ele sorriu ao completar.

– Não faça mais isso, John, ouviu bem? – Gabriela pediu calmamente, se auto- policiando para não beijá-lo.

– Certamente seria a coisa certa a se fazer, mas eu quero correr o risco novamente.

John a puxou para mais um beijo, com suas mãos segurando-a pela cintura. Um beijo sem reservas, cheio de uma atração que ambos mal puderam pensar que existia.

– Eu continuo não gostando de você, John. – Gabriela sorriu ao se desvencilhar dos lábios de John.

A médica ainda tinha sua respiração descompassada, quando John lhe selou brevemente os lábios.

– Eu ainda irei mudar essa ideia que tem a meu respeito, Green. Boa noite. – Ele sorriu.

– Boa noite. – Gabriela respondeu de forma doce.

Logo após que a moto de John sumiu de sua vista, a médica entrou, ansiando lutar contra o novo sentimento que surgira dentro dela.

¹ Entomólogo: Profissional que estuda os insetos.

² Lepidopterologia: Área da entomologia que trata das borboletas e mariposas.

³ A borboleta-monarca é uma borboleta da família dos ninfalídeos, da subfamília dos danaíneos, de ampla distribuição nas Américas. Tais borboletas têm cerca de 70 mm de envergadura, asas alaranjadas com listras pretas e marcas brancas.





























































































































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Notas finais do capítulo

Até breve e já estou trabalhando para continuar com "As Crônicas do Outro Mundo". Beijos.



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