Ele a beijou. O que tinha de mais isso? Certo, a beijou várias vezes e ignorou quando ela pediu para que parasse... Se bem que Lara não fora convincente nem para ela mesma e o beijou em uma forma que... bom, não sabia se já havia beijado daquela forma ou não, porém não deixava de ter sido avassalador.

Lara corou novamente. Estava no quarto, sem conseguir dormir. Quando chegaram em casa ela fugira como se Dimitri fosse o pecado... e não o era? Remexeu-se na cama sem conseguir dormir. Como iria encarar aquele homem novamente? A pior pergunta era como iria ficar sem poder beijá-lo novamente? Ah como gostara daquele toque!

Mas... e depois? Quando ela recobrasse a memória? E quando partisse? E se viesse a amar aquele titã como iria saber que ele estava retribuindo o seu amor? Dimitri era tão... Inexpressivo. E ao mesmo tempo esse era o seu charme.

Ele é perigoso.

Sem duvida alguma ele era um perigo para o seu coração. Que culpa teria ela se havia se apaixonado? Lara perdeu o ar. Pensara isso por alto, mas não seria verdade? Sempre queria agradar a Dimitri, ele cuidava dela ao seu modo e preocupava-se. Ele era... perfeito. Até em seu jeito lobo solitário era charmoso. E beijava muito bem.

Como não se apaixonar? Como deter aquele sentimento crescente em seu peito se tudo o que Lara lembrava-se era daquele moreno de olhos castanhos e verdes ao mesmo tempo? Dimitri era a única referencia que tinha, era o seu bote de salvação. Como então ela podia resistir, lutar contra?

Não havia como. E saber disso piorava tudo. Nos dias seguintes evitou acordar na mesma hora que Dimitri, almoçava sempre antes e inventava uma desculpa para não vê-lo. Não podia. Sentia que falharia e cairia sem forças. E ainda não se lembrara de nada de sua vida passada. A cada hora tudo ficava cada vez mais frustrado.

“Quem sou eu?” Essa pergunta repetia em sua mente atormentando.

Sentia dor de cabeça toda vez que tentava lembrar algo. Talvez fosse o medo bloqueando a sua memória. E se tivesse sido algo ruim na sua vida passada? E se aquela outra vida não fosse tão boa quanto a que tinha agora? Não queria deixar Dimitri, não queria deixar de sentir aquele frio agonizante do Canadá, mas que aprendia a se acostumar. Tinha medo do que ela possa ter tido outrora.

Ela estava na sala quando escutou a porta principal se abrir. Seu coração disparou automaticamente.

_Chegou mais cedo – Lara comentou para Dimitri.

O olhar que ele a lançou não estava amigável. Teria ele se irritado com alguém enquanto estava na cidade? Dimitri tirou o capote grosso ficando apenas com uma blusa de manga comprida de algodão.

_Ah desculpe, não lembrei de ligar para você e dizer: Estou chegando, pode se esconder – Dimitri ironizou.

Lara engoliu em seco. Bom, certamente as quatro horas da tarde estaria tomando um longo banho. Ele chegaria em casa e entraria diretamente para o escritório. E assim não o veria por um bom tempo. Porém vê-lo ali, mesmo que zangado, lhe agradava de uma forma desconcertante e ilógica, em seu peito pensava apenas que era aquele homem que amava.

_Aconteceu algo? – perguntou ignorando o que ele dissera antes.

_Nada da sua conta – Dimitri respondeu.

E subiu para o escritório lidar com outros acionistas via online. Lara suspirou sentindo o peito comprimir de culpa. Claro que ele notaria a relutância dela em estar no mesmo local que ele. Se antes não sabia como Dimitri analisava a situação, não conseguia sequer imaginar como ele estaria agora.

Hesitou. Pensou. E em subiu as escadas seguindo o caminho que ia para o escritório da fera. Bateu e esperou. Nenhuma resposta. Entrou vacilante e o encontrou sentado em uma poltrona giratória observando a neve pela janela.

_Você gosta da neve – afirmou suave para que ele notasse sua presença.

_Odeio – ele respondeu sem emoção.

Lara ergueu uma sobrancelha e se aproximou guiada pela pura curiosidade. Era normal uma garota apaixonada querer saber sobre o seu amado não? Arriscou a sentar-se em uma das cadeiras defronte a mesa, na verdade temia que Dimitri virasse e gritasse para que ela partisse. E seria bem feito.

_Então porque mora em um lugar como esse? – questionou.

Nenhuma resposta. O admirou por algum tempo, ele parecia tão distante... tão impossível de ser alcançado...

_Eu responde. Se me disser por que está me evitando – Dimitri falou de repente, virando a cadeira devagar para ela – Desde que aconteceu... aquilo, você está assim. Quer que eu peça desculpas?

Dessa vez Lara que não conseguia responder. A voz travara em sua garganta, não esperava que ele estivesse magoado por causa disso. Dimitri respirou fundo e deixou um cartão sobre a mesa.

_Se não está feliz aqui pode partir, é um hotel modesto e confortável no centro da cidade. Se quiser emprego sei a quem posso lhe indicar – ele explicou frio, como se fosse um negócio.

O que? Partir? Um arrepio cruzou a espinha de Lara a fazendo levantar-se por um impulso. Não era aquele o seu maior medo? E as suas ações levaram Dimitri a imaginar que ela não queria estar ali!

O certo era que fosse embora. Esquecesse aquele homem e procurasse um rumo para sua vida enquanto não se lembrava de quem foi. Entretanto não conseguia sequer pensar em deixar aquele homem sozinho novamente, não queria deixá-lo.

_Quer que eu vá embora? – perguntou sem conseguir conter a voz tristonha.

_Ora é você que não esta contente! Se estiver arrependida de algo culpe a você mesmo, ninguém mandou ficar tão perto de mim! – Dimitri exclamou, era como se estivesse ferido.

Havia solidão nos olhos dele. Será que ela foi tão egoísta preocupada com seus sentimentos que não notou os dele? Dimitri levantou-se também e aproximou-se mais da janela, Lara o seguiu e o tocou no ombro tremendo de medo e expectativa. Não podia deixá-lo pensar coisas como aquela.

_Por favor, deixe-me ficar – pediu.

_Não está feliz nesta casa – ele respondeu duro.

_Estava apenas confusa. Dimitri eu sou uma garota sem memória, espera que eu fique sorridente todos os dias? Não faço idéia de quem eu fui e tenho até medo de descobrir – ela revelou sincera – E me assusta isso.

_Poderá seguir sua vida sozinha.

_Não Dimitri... – Lara vacilou, gaguejou e respirou fundo – Eu quero ficar aqui, com você.

E depois de acesso de coragem Lara o beijou rápido, um beijo casto, leve, inocente. Mas que pareceu destruir todas as defesas do Titã. Ele a fitava confuso, talvez tão confuso quanto ela ficava quando ela ia dormir e todas as perguntas a assolavam. Por fim ele respirou e perguntou de uma forma surpreendentemente suave.

_Tem café?

Lara sorriu alegre e foi preparar o café. O seu futuro era tão incerto quanto o seu passado, mas porque preocupasse quando o presente parecia mais interessante?

Porém lembrou-se que ele não cumpriu o acordo. Não respondeu porque não gostava da neve.