Acordei com o Sol batendo no meu rosto naquela manhã, por um segundo eu realmente podia pensar que tudo estava bem, mas como a minha felicidade dura pouco, me lembrei que nada estava bem. Rolei para fora da cama com dificuldade e caminhei até a janela abrindo as cortinas púrpuras que nunca combinaram em nada com o meu quarto que tinha paredes quase laranjas. O dia estava lindo e radiante, sem absolutamente nenhuma nuvem no céu, apenas o Sol radiante que pairava no jardim fazendo as tulipas parecerem mais vivas, as flores favoritas da minha mãe.

Se você mora em Londres sabe que dias assim são tão raros quanto achar 100 libras na rua, por isso são impossíveis de serem dispensados, porém a grande nuvem negra que pairava sobre mim não me permitia querer aproveitá-lo.

Eu queria chorar, gritar, espernear, sofrer, ou ter qualquer reação, mas acho que todas elas ficaram aprisionadas no dia de ontem, no dia do velório. Eu não conseguia acreditar que estava vendo ela, logo ela, dentro daquele caixão de marfim branco (não acreditava também que haviam escolhido aquela cor de caixão, ela odiava branco) usando o único vestido social que ela tinha (que acima de tudo continuava não sendo social por ser amarelo-ovo berrante, todos diziam que era justamente pela falta de senso de moda o motivo d'ela jamais ter conseguido um emprego num escritório), os cabelos loiros sempre curtos e meio bagunçados estavam arrumados e sem graça, e a pior parte, os olhos verdes fechados e sem vida. Eu estava em choque e tudo que pude fazer foi chorar até não restarem lágrimas nos meus olhos, só consegui realmente acreditar naquilo que eu via quando a tampa do caixão foi posta me deixando uma única certeza, minha mãe estaria naquele caixão para sempre, e não havia nada que eu pudesse fazer.