Novos Horizontes escrita por lunaletras


Capítulo 1
Estranho Demais


Notas iniciais do capítulo

Como o Fabinho ainda está meio desmaiado esse capítulo será mais dedicado às considerações da Giane, mas nos próximos pretendo dar bastante voz a ele também. Obrigada e desculpa por eventuais erros ou pela minha falta de talento.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/413398/chapter/1

O sol ainda iluminava a janela do quarto simples de Giane, o dia claro lá fora contrastava com seu coração, ela acabara de tentar impedir o casamento de seu melhor amigo Bento com a pessoa mais errada que alguém podia escolher. Porém, suas tentativas foram em vão, o amigo simplesmente não acreditava nela, ele simplesmente tinha certeza de que fora Fabinho e não Amora a atear fogo na Toca do Saci, a ONG de Malu.

Ah, Fabinho...

A menina ouviu os gemidos do garoto à sua frente, sua aparência angustiada fez com que ela não conseguisse mais parar de olhar para ele, fez com que seus pensamentos se afastassem do fúnebre casamento e se voltassem completamente para o controverso jovem a sua frente...

Enquanto olhava pra ele, ela sentiu medo por ele, seu coração pulsou em um desespero estranho. Era estranho demais sentir se assim diante daquele menino tão detestável, aquele garoto arrogante, aquele cara cheio de si, aquele moleque... Era estranho, estranho demais...

Pouco tempo antes ele estivera ali achando que seria o mais novo milionário do momento, pronto para comprar tudo e todos, para humilhar a ela e ao Bento, pronto para passar como uma avalanche de revolta por cima de cada pedaço da Casa Verde.

Agora, no entanto, aquele moleque desprezível lhe parecia apenas uma frágil criança. Sua febre, seus delírios, seu sofrimento fizeram com que aquele habitual semblante sarcástico desaparecesse completamente. Era como se a dor tivesse redesenhado os contornos de seu rosto e dado a eles um ar tão inocente que ao olhar para ele, ela somente conseguia pensar no quanto o menino precisava de proteção, da sua proteção.

Como ela podia estar pensando assim? Logo ela que sempre o detestou, que sempre o achou um lixo, logo ela de quem ele sempre ria e por quem ele nunca escondeu que sentia um enorme desprezo.

Ah, por que logo ela tinha que achá-lo naquele estado lastimável? Por que logo ela tinha que acreditar que pelo menos desta vez ele era mesmo inocente? Teria sido tão mais fácil chamar a polícia, chamar outra pessoa que fosse __ e ele que se virasse depois para provar que não tinha colocado fogo na ONG. Ah, por quê? Teria sido tão mais fácil se ela não tivesse pegado essa responsabilidade para si, se ela simplesmente tivesse deixado pra lá.

Mas ela não conseguiu... não... ela não conseguiu deixá-lo desmaiado naquele canteiro de flores, nem entregá-lo a outros. Ela não conseguiu vê-lo horrivelmente mal, assustadoramente frágil e não tomá-lo nos braços, e não levá-lo pra casa, e não escondê-lo de todos, ela simplesmente não conseguiu deixá-lo...

E agora? Agora ele estava ali, era sua responsabilidade. É certo que seu pai a estava ajudando, era um homem muito bondoso, estava realmente preocupado com Fabinho, mas ela percebia o quanto ele tinha “o pé atrás” diante do fato daquele jovem tão problemático ser agora um inusitado hóspede daquela casa. Giane sabia que, na verdade, toda a responsabilidade era realmente dela, protegê-lo, alimentá-lo, fazer com que ele se recuperasse, e principalmente, era dela a responsabilidade de tentar defendê-lo.

Será que ele realmente merecia sua defesa? Sabia que não tinha sido ele a atear foco na Toca do Saci, mas e tudo que ele tinha feito antes? E tudo que ele demonstrava ser? O que ele faria depois de recuperado? Qual seria sua reação? Que tom as suas palavras teriam depois que ele saísse de seu delírio febril?

O menino gemeu mais alto e o coração de Giane bateu ainda mais forte. Ele balbuciava coisas desconexas em relação ao pai dele, o pai que durante um tempo ele achou que tinha. Seu sofrimento era tão latente que a menina correu para perto dele, segurou-lhe rosto e disse com seu jeito quase indelicado que ele parasse de delirar que “delírio era coisa de mulherzinha”.

As palavras quase rudes da menina soaram, porém, de forma muito doce, aquela era uma cena paradoxalmente terna. Seu olhar além de demonstrar uma enorme preocupação, transbordava também algumas nuances de carinho, um estranho carinho que começava a surgir em seu coração, mesmo que ela ainda não tivesse toda ciência disso.

Esse sentimento tão inusitado e quase inconsciente fazia com que as dúvidas e questionamentos sobre as consequências da atitude instintiva de levar o jovem para casa tivessem pouca importância. Era estranho, estranho demais, o quanto ela sentia medo por ele. Era estranho, estranho demais, como ela SENTIA por ele. Tudo que ela queria era que aquela febre passasse, que o coração dele se acalmasse. Ela queria desesperadamente que aquele menino tão detestável, aquele garoto arrogante, aquele cara cheio de si, aquele moleque... ficasse bem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ai ai, espero que não esteja tão ruim assim, rs.