A História da Grand Chase escrita por Thugles


Capítulo 19
A Criação do Guerreiro


Notas iniciais do capítulo

O que mais posso dizer, além de... por favor, não me apedrejem?



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O laboratório estava quase às escuras. A luz vinha dos globos, das pedras e dos vidros brilhantes nas prateleiras. Incontáveis estantes e arquivos espalhavam-se pelo longo comprimento da sala sustentando potes, peças, mecanismos, livros, aparatos. A parte mais iluminada era o centro. Ali, Oz se curvava para a única invenção a qual dedicava seu tempo há anos.



Zero estava preso a uma maca de metal inclinada, quase em pé, os braços abertos e as pernas juntas. Oz mexia no protetor de peito com a mão esquerda enquanto segurava o cajado com a direita. O orbe do cajado era grande, bem maior do que uma cabeça, parecendo um planeta de vidro com uma galáxia inteira no centro. Um brilho arroxeado saía dele, entrando nos circuitos de Zero, transferindo sua magia para o corpo. A magia derretia fios lá dentro, endurecia os músculos, fixava a placa de peito no lugar. Terminando os últimos ajustes, Oz travou a placa no lugar e recuou um passo.



Zero tinha a pele pálida, tão flexível e macia quanto a de um humano e muito mais resistente. Oz não o fizera muito alto. O corpo estava em forma, braços e pernas bem definidos com mãos pequenas e pés suaves: Zero precisaria ser ágil. Ele tinha cabelo - tufos esbranquiçados, quase cinza-claro, caindo em franjas e mechas à frente do rosto. Na placa de peito verde-escura estava pintado o número 00. Os olhos tinham sido a parte mais sensível. Oz os cobrira com um pano branco meio transparente para protegê-los, mas teria que aprimorar isso.



As feições eram simples, de um homem sério, queixo curto e nariz pequeno, nem feio nem bonito. As orelhas eram curtas e pontudas – o formato lhe garantiria excelente audição. Oz o olhou criticamente, analisando todas as partes e procurando por quaisquer possíveis erros.



—Acho que está pronto — Oz falou.



—Pela quadragésima segunda vez... Zero Zephyrum está finalmente pronto — Grandark, apoiado contra uma mesa atrás de Oz, emitiu um som de fungadela — Estou quase torcendo pra que dessa vez ele funcione. Ver você trabalhando é tão repetitivo quanto ser uma espada.



Fazia tempo que Oz vinha trabalhando em Zero, e mais de uma vez achara que o projeto estava finalmente pronto, apenas para descobrir um erro grave e ter que voltar a trabalhar. Grandark vira todos esses erros, e lembrava-se de todos eles. Se Oz os esquecesse, a espada o ajudava a lembrar.



—Zero está pronto — Oz anunciou — Eu tenho certeza desta vez. Veja por você mesmo — ele deu um passo para o lado para que Grandark pudesse ver.



—Ele está ficando mais bonito — Grandark admitiu ao dar uma olhada nele — Nem parece que foi você quem fez.



—Zero, despertar! — Oz chamou, com autoridade — É assim que eles dizem "acordar" em Ernas — contou para Grandark — Quero que Zero seja um homem de Ernas, tão autêntico como se tivesse nascido lá.



Enquanto ele falava, a pele pálida de Zero estremeceu. Luzes verde-claras acenderam-se por baixo do pano que cobria os olhos, e Oz fez um gesto com o cajado. As correias se soltaram e a mesa deslizou, afastando-se. Livre das amarras, Zero se apoiou nos pés, endireitou a coluna e ergueu o queixo.



—Consegue me ouvir? — Oz quis saber.



—Sim.



Era a primeira palavra que ouvia de um Zero com os olhos acesos. Oz não sorriu. Pegou um balde de água e o derramou na cabeça dele. Depois levou o cajado para baixo do queixo de Zero e fez fogo surgir dele. As chamas lamberam o queixo, mas a pele continuou firme. Zero tampouco se mexeu. Quando Oz pegou uma faca e o espetou levemente num braço, porém, ele reagiu recuando o braço.



—Calma — Oz falou distraidamente. Ele queria que Zero fosse à prova de água e de fogo, e aparentemente estava dando certo. Ele iria fazer com que ele não sentisse dor, mas seria má idéia. Se Zero recebesse algum dano e não sentisse nada, ele poderia continuar a lutar sem se preocupar, enquanto o ferimento causava danos sério ao seu corpo. Se Zero sentisse dor, ele teria que parar quando fosse ferido para se curar e tomar as providências, mas não que Oz esperasse grandes ferimentos. A pele de Zero era muito resistente, e Grandark era uma espada tão larga quanto um bom escudo.



—Muito bem, Zero, diga-me, qual o seu nome? — Oz percebeu tarde demais a falha no que tinha dito, mas o homem respondeu:



—Zero Zephyrum.



—E qual o seu objetivo, Zero?



—Meu objetivo — Zero repetiu. A voz dele era controlada, sem emoção, um soldado respondendo a um comando — Encontrar Eclipse.



As mãos de Oz tremiam. Ele lançou um relance para Grandark e a espada apenas suspirou, desinteressada. Grandark, verdade seja dita, estava impressionado. Em todas as vezes que Oz colocara sua criação para funcionar, Zero não fizera mais do que se desfazer, piscar os olhos ou dar cinco passos e depois cair. Mas a espada conseguia sentir algo diferente naquele Zero. Este parecia firme, um que não vacilaria tão facilmente. Mas Grandark estava parado havia muito tempo, apoiado naquela mesa. Seu tédio era notável, e chatear Oz era o único passatempo que ele tinha.



—Muito bem, Oz, ele fica em pé, sabe falar e tem olho que acende luzinha. Mas será que ele tem o que é preciso pra empunhar uma espada de verdade?



—Ele tem mãos fortes, resiste ao fogo e escuta o que digo. Você ainda tem dúvidas? — Oz exibiu seus dentes brancos — Você sabe o que isso significa?



—Acabou a minha folga. Vamos sair por aí procurando o Duel, tentar convencer ele de alguma maneira a lutar contra nós, e torcer pra que seu Zero consiga derrotá-lo.





Aquela era a parte que decidiria tudo. Zero fora criado para empunhar Grandark e levá-la para o outro mundo, a dimensão de Ernas, onde Duel estava em algum lugar. A concentração de Oz em criar Zero quase tinha encoberto a verdadeira obsessão que ficava por baixo de tudo aquilo: destruir Eclipse, a lendária espada de Duel Pon Zeck, o homem que matara tanto amigos quanto inimigos com aquela espada, causando o fim das guerrasentre as tribos demoníacas e os asmodianos. Ele agora estava em algum lugar de Ernas, o outro mundo, mas Oz sabia como chegar lá. Tudo o que precisava era de uma espada que fizesse frente à Eclipse – Grandark – e de alguém forte o bastante para empunhá-la. Era por isso que Oz vinha criando Zero. A única coisa que importava era a destruição da maldita Eclipse, e de Duel, seu portador.



—Zero, você foi criado para ser o melhor espadachim de todos — Oz falou — Um que não teme a morte, que poderá enfrentar qualquer perigo sem hesitar. Você deverá encontrar Duel a todo custo, sem nunca se desviar do seu objetivo. Grandark guiará você — ele fez um gesto na direção da grande espada — Ernas é um mundo diferente. Os perigos são maiores e não há como saber o que você irá encontrar. Mas você seguirá mesmo assim, passando por tudo até encontrar seu objetivo. Está entendendo? Responda com a cabeça.



Ele queria testar ainda mais a capacidade de Zero, e ficou satisfeito quando ele assentiu com a cabeça, sem uma palavra. Mas Oz ainda não estava convencido. Só estaria satisfeito quando Grandark estivesse empunhada, e Eclipse destruída.



—Qual é seu objetivo, Zero? — ele perguntou mais uma vez.



—Encontrar Eclipse — agora a resposta veio com um tom diferente, carregada com um quê de impaciência. Oz se deu conta de que ele queria começar logo a missão e aprovou o que ouviu.



—Mais uma vez — ele queria testar a disciplina de Zero. De nada serviria se ele fosse um brutamontes sem paciência — Diga-me, pra que você está aqui?



Oz perguntou mais uma dúzia de vezes. Zero parecia querer começar logo, mas em todas as vezes respondeu com calma, como se tivesse o dia todo.



—Fui criado para encontrar Eclipse — Zero respondeu mais uma vez — Preciso encontrar Eclipse.



Oz não conseguiu evitar que um sorriso crispasse seus lábios.



—E o que você fará quando a encontrar, Zero?



—Quando encontrá-la, irei... ler — Zero respondeu — Preciso ler Eclipse. Depois Amanhecer. Preciso... saber se a Bella fica com o vampiro. Ou com o... lobo, e se...



O cajado de Oz relampejou; com um rugido, agarrou Zero pela perna com a força de um touro e o arremessou do outro lado da sala, espatifando estantes e prateleiras cheios de vidro. Oz jogou seu cajado no chão, urrando de fúria. Atrás dele, Grandark uivava.



—Oh, socorro, ele quer me matar, quer me fazer rir tanto que eu vou estourar! — o grande olho de Grandark debatia-se na órbita enquanto ele gargalhava — Oz! Se você tivesse me dado um coração, ele não aguentaria. Ele confundiu Eclipse com... não pode ser, eu não acredito! OH, POR TODAS AS DEUSAS DE ERNAS! EU VOU EXPLODIR!



Ensandecido, Oz mostrava os dentes e berrava, louco de fúria, destruindo tudo o que via pela frente. Trabalhara durante tanto tempo! Seus gritos só não eram mais altos que o do próprio Grandark, que não cabia em si de tanto que ria. Ele chegou a cair da mesa, estremecendo contra o chão, gargalhando incontrolavelmente enquanto Oz se revirava de pé, louco de frustração e ódio.


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Notas finais do capítulo

Eu não sei se este capítulo ofendeu alguém de alguma maneira, talvez um leitor da, bom, série citada aqui, ou do próprio Zero. Ele é um dos meus favoritos, na verdade é o char homem que mais gosto, meu segundo favorito no jogo inteiro. Não tive nenhuma intenção de ofender ou debochar de série alguma ou personagem algum!