A História da Grand Chase escrita por Thugles


Capítulo 16
A Floresta Élfica




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—Não pode ser — Lire arquejou — Esta não pode ser a Floresta Élfica!



Mas era, e a certeza disso era o que a perturbava.



Vinham caminhando durante toda a manhã, depois que o Gorgos Vermelho desdenhara que monstros de Cazeaje iriam atacar a floresta. Lire convenceu alguns dos Gorgons voadores a levarem-nas para uma saída, e deixaram o inimigo para morrer lá embaixo. Os Gorgons as carregaram até um buraco que levava à superfície, onde a luz do sol e o frescor da manhã serviu como um banho de alívio.



Andavam desde então, e sem parar, com Lire na frente pela primeira vez. Os Gorgons as tinham liberado num ponte diferente da caverna por onde tinham entrado – por essa razão, não puderam recuperar as mochilas, fato que Arme lamentava amargamente. Lá dentro tinha o livro novo que Lothos lhe dera, e todos os seus ingredientes novos que ansiava para poder usar no pote! Choramingou muito quando lembrou-se deles, mas não havia tempo de voltar, mesmo porque já não sabiam mais como encontrar a entrada novamente.



À frente, Lire caminhava sem palavras, num passo firme e enganosamente rápido, que até Elesis sentia dificuldade em acompanhar. Arme certamente não estava em boas condições pois tinha que levar o pesado pote consigo, mas ver Elesis com toda aquela pesada armadura a incentivou – não iria fraquejar quando a espadachim também estava levando peso. Andou o tempo todo sem reclamar, segurando o pote com as duas mãos.



Um clima de morbidez abatera-se sobre o grupo. Talvez fosse algo particular dos elfos, mas o que acontecia era que Lire parecia abatida, e o sentimento era como uma aura que contagiava também as companheiras. Era como uma nuvel cobrindo o sol e deixando tudo frio e escuro. Mesmo que a arqueira não dissesse nada e nem manifestasse preocupação, Elesis e Arme podiam sentir a tristeza na menina. Afinal, eram elfos que estavam sendo atacados. Mesmo assim, quando passaram por uma moita enfeitada de flores azuis, de finos estames amarelos, Lire as colheu e as entregou a Arme.



—Pras suas poções. São lírios-do-mar, em Eryuell nós os usamos como ingrediente pois estão cheios de magia. Sei que você consegue descobrir propriedades novas com eles — e sorriu, o sorriso corajoso que se aventurava através de toda a tristeza que havia em seu coração.



Ela passou a colher todo tipo de coisa que julgava útil para servir de ingrediente para Arme: flores vermelhas, azuis e manchadas de amarelo, folhas de grama com minúsculos pelinhos dourados, pedaços de casca de árvore que ela coletava com uma faca. Passaram por um passarinho morto que deixou Arme desconfortável, mas aceitou algumas penas mescladas de azul e branco. Logo Arme tinha um novo conjunto de materiais para usar, embora não houvesse maneira de reproduzir o livro perdido.



E então Lire as conduziu por uma curva, entraram num vivo matagal cujo verde era maravilhoso com o céu azul em cima, embora tivessem apreciado pouco da visão. Àrvores começaram a surgir e de repente Lire parou, e elas souberam que tinham chegado.



Aquele ponto da floresta ficava nas margens de um lago, tão límpido e intocado que parecia vidro. As árvores eram das mais variadas, de troncos marrons e cinzentos, com folhas verdes de verão e amarelas de outono. Algumas das copas, que deviam estender-se gloriosamente para o céu, estavam no chão desprendidas dos troncos, caídos e lascados. Terra cobria o chão onde enormes pés tinham espalhado pegadas, e algumas árvores tinham marcas de arranhões, outras de queimado. A maior parte da floresta estava firme e intacta, mas um único tronco caído era suficiente para perturbar a paz, e havia vários.



—Eles já chegaram... Ali! — Arme apontou para um arbusto onde algo se mexia. Elesis deu um passo à frente e um esquilo fugiu correndo, como que assustado.



Um Oak enorme e careca rugiu em algum ponto e avançou para as três. Lire procurou o arco e Arme caiu sentada no chão, gritando apavorada. Elesis jogou a espada contra a clava, e o gume fez uma marca na madeira grosseira e esfiapada. Um giro com os braços e a lâmina fez um corte no pescoço da criatura, que sangrou até cair no chão.



—Eu nem queria acertar ali — Elesis reclamou, frustrada. Tinha encerrado a luta antes do planejado.



—Foi só susto — Lire ajudava Arme a levantar e a acalmava. A garota soluçava e tremia. Tinha ouvido o grito e visto o Oak no instante em que se virou, e a cara feia dele a tinha assustado muito.



—Eu tô bem — tentou dizer, ofegando — Olha... Elesis, tem mais um ali!



Arme quase chorou quando a criatura saiu de trás de alguns arbustos. Era hedionda, com um focinho triangular e profundos olhos verdes e selvagens. Mostrava os dentes brancos, e as patas da frente tinham dedos curvos grossos, duros e pontudos, tão grandes quanto punhais. Seu pêlo era todo alaranjado, mas as pontas eram de um verde profundo como os olhos. Ele se agachou, e Elesis soube que ia dar o bote.



—Eu distraio ele — a guerreira disse, certa de que sua armadura a protegeria — Se puder acertar uma flecha nele, Lire, eu acabo com ele quando estiver confuso.



Ao invés de atacar, a criatura tropeçou e caiu, desaparecendo nas folhas. Elesis deu um passo à frente e parou quando uma voz trêmula suplicou:



—Esperem... Por favor, não sou um monstro! Vocês... — e se interrompeu. Foi Arme quem correu e afastou os arbustos, soltando um gritinho quando viu que não era mais uma criatura, e sim um garoto! A pele era morena, e os únicos traços do monstro eram o cabelo laranja duro e completamente desordenado, e as roupas e olhos verdes — Por favor...



Estava coberto de ferimentos dentre arranhões e hematomas, e uma feia marca de mordida no braço, mas ele não aceitou quando tentaram carregá-lo. Assim que o ajudaram a se levantar, viram que o sangue não escorria dos cortes, na verdade eles estava cicatrizando sozinhos, como se a própria pele soubesse se curar rapidamente sem ajuda. Ele ofegou várias vezes, cansado, e encaram-se todos muito surpresos.



Lire foi a primeira a falar:



—Quem é você? Parece que foi atacado...



—Eu estou ótimo — disparou ele, ainda respirando com dificuldade — Eu sou Ryan, o protetor desta floresta, e é ela quem está com problemas! Minha forma de lobo nunca falhou, mas eu mal consegui escapar de lá...



—De quem? — Elesis perguntou — Contra o que você estava lutando? Os Oaks?



—Foi Cazeaje! As criaturas que habitavam essa floresta tornaram-se violentas por causa dela, e estão atacando! Estão destruindo a floresta — ele passou a mão nos cabelos, desesperado.



—Ela pode estar aqui — Lire respondeu — É a nossa chance de acabar com ela de uma vez por todas.



Os elfos está em perigo, e a primeira coisa que ela pensa é na missão”, Elesis pensou sem conseguir evitar sentir-se ressentida consigo mesma. Ela estava pensando em salvar o pai desde que começara a fazer parte da Grand Chase, e julgava-se uma guerreira tão forte... Mas Lire colocava a missão mais importante acima da própria espécie. Elesis não deveria estar fazendo o mesmo? Sentiu-se desconfortável e culpada. Mas isso a fez lembrar outra coisa.



—E os outros elfos, onde eles estão?



—Escondidos — Ryan respondeu. Tinha orelhas pontudas e compridas, como as de Lire — Acho que consegui levar todos para longe. Fiz os monstros prestarem atenção em mim, e acabei com todos, mas então mais deles vieram. São tantos...



—E por que os outros elfos não estão ajudando você? — a espadachim ergueu as sobrancelhas. Lire se voltou para ela.



—Elesis, esses elfos são bons e pacíficos, não estão acostumados a lutar. É o druida quem os protege e luta por eles, mas de pessoas e animais ferozes. Nós vamos ajudá-lo — ela se voltou para Ryan — Mostre-nos onde eles estão.



—Estão por toda parte — Ryan disse infeliz — Eu devia recusar generosamente, mas não consigo sozinho... E eu pedi ajuda aos anciãos, e eles enviaram vocês — forçou um sorriso — Posso levá-las até o mais perigoso de todos. Eu ajudaria vocês, mas dói tanto...



—Essa missão é nossa — Elesiso tranquilizou — Apenas nos mostre o caminho. Nós acabaremos com os monstros.



Ryan antes voltou ao arbusto para pegar sua arma, um machado de cabo curto e duas lâminas gêmeas, laranja e verde. As roupas dele também eram de um verde escuro, porém feitas com folhas tão cuidadosamente desfiadas que formavam um tecido resistente, exatamente como uma roupa. O machado devia ser mais leve do que parecia, porque ele conseguia levá-lo mesmo com o braço esquerdo junto ao corpo, incapacitado por uma enorme mancha roxa ao redor de um grave arranhão que ia do cotovelo até perto do pulso. A ferida parecia estar sarando, mas seria mais eficiente se ele estivesse descansando. Em vez disso, andava a passos rápidos, parando aqui e ali para cheirar e escutar. Os sentidos de Lire pressentiam perigo, e soube que estavam chegando perto.



Quando a harpia tentou agarrar Elesis e levá-la embora, a menina gritou com ela e cortou-lhe as asas, depois a cabeça.Outras harpias vieram, embora as penas fossem brancas e vermelhas e não cor de fogo como as harpias da Praia Carry. Surgiam de árvores e as surpreendiam, mas eram abatidas ou pela espada ou pela flecha, e quando um bando de Oaks atacou, até Arme entrou em ação fazendo surgir bolas de fogo e de energia. Ela conjurou uma rajada de vento vinda do pote que afastou um grupo de harpias, e quando viram mais Oaks, Elesis acabou com todos eles, em fúria. Ryan observava, sem erguer um dedo para lutar, impotente como estava.



Lire percebeu que tinham chegado segundos antes de isso acontecer. Algo se moveu entre as àrvores à frente e ouviam o barulho de algo se quebrando. Passos pesados partiam galhos e moviam troncos, e quando se aproximaram, viram a coisa.



—Um troll — Arme reconheceu.



Pernas curtas, braços muito longos, um deles, o esquerdo, com três enormes tachas de metal enfiadas nele como cabeças de pregos. Não tinha mãos propriamente ditas; a extremidade dos braços tinha apenas um indicador e um polegar. Ele era todo verde-marrom como uma árvore velha, coberto de manchas de liquens e musgo Estava curvado e de costas para elas, a cabeça sobre um tronco.



slorp... slorp...



—Ele tá... bebendo a seiva daquela árvore? — Arme exclamou, repugnada. O troll virou a cabeça para eles.



—Ah, então é você que tava destruindo a floresta — Ryan disse, sério. Um de seus joelhos fraquejou, e ele lutou um pouco para se manter de pé.



sloorp, chup... sluuuuuuuuuuuuuuuuuurp! — o troll abriu a boca grande sem dentes, e dirigiu-lhes olhos brancos sem expressão.



Agarrou uma pedra e jogou-a neles. Errou, e Elesis investiu com a espada. Acertou um golpe na barriga do monstro, que a estapeou com o enorme braço, jogando-a longe. A menina levantou-se devagar, rosnando. Uma bola de fogo explodiu em seu peito, e o troll gritou.



Com ambas as mãos, agarrou um tronco de árvore, torceu e o puxou até arrancá-lo com as raízes pingando terra. Os galhos e as folhas fizeram um zup quando ele o usou como porrete; Elesis agachou-se para evitar o golpe. O troll pisou no chão e tentou de novo, e desta vez, Elesis foi atingida, usando a espada pra bloquear. Os pés calçados por armadura deixaram um rastro curto no chão, no que ela foi arrastada para trás.



O troll largou fora a árvore e virou-se para uma maior, ignorando as flechas de Lire em seus braços. E então, todas as dores de Ryan desapareceram e ele investiu, uivando como um animal e cravando o machado tão fundo no troll que arrancou um bom pedaço do corpo do monstro, quando o removeu. O monstro estapeou-lhe com o braço esquerdo, e uma das tachas de metal acertou Ryan. Ele ganiu, soltando a arma, mas pulou no braço do monstro e subiu até suas costas. Atacou-o com os dentes, com as mãos, as unhas, abraçando o pescoço do troll com as pernas.



O troll se sacudiu violentamente, mas não conseguiu fazê-lo parar. O troll tentou balançar a cabeça e o corpo para frente e para trás, curvando e levantando, e Ryan foi sacudido junto, mas manteve-se firme. Os olhos do troll eram grandes; Ryan enfiou as mãos em ambas as órbitas, puxando-as, forçando a cabeça dele para trás. O monstro urrou de dor e agonia.



Quando o troll tentou socar a própria cabeça, Ryan já não se encontrava lá – agarrara-se a um galho acima dele, e o troll acertou mesmo a própria cabeça. Arme gritou e apontou o cetro para o machado caído no chão. As lâminas flutuaram até o elfo, que o pegou e saltou da árvore. O gume do machado acertou em cheio a nuca lisae suja do inimigo.



O troll, cego e ferido no peito, agora tinha um rasgão que começava na nuca que quase arrancara a cabeça. Não sangrava e ele não gritava, apenas resmungava como se pouco sentisse. Quando se curvou, levando uma mão à nuca, Elesis terminou de cortar-lhe a cabeça pela frente com um único golpe de baixo para cima. O corpo do troll tombou e a cabeça rolou.



—Ah, que coisa horrível! — Armedeu as costas.



Elesis encolheu os ombros para ela.



—Isto é a Grand Chase. Nós lutamos contra monstros. Você esperavaque ele explodisse em um milhão de florzinhas?



—Seria melhor, né! Ele não é um troll da natureza?



—Não chame essa coisa de obra da natureza — Ryan segurava a cabeça do troll com uma mão e olhava-a com repugnância — É uma coisa maligna, obra de Cazeaje. Quando eu puser as mãos nela... Obrigado — virou-se de repente — Eu não teria conseguido sem vocês.



Elesis sorriu.



—Foi você quem fez o trabalho todo. Nós só distraímos ele. Nem deixou um pouco pra gente.



—Bom, não fui eu quem deu o golpe quepartiu a cabeça dele, não foi? — Ryan riu com prazer.



Levou a cabeça para um rio, para purificá-la. Quanto ao resto do corpo, deixaram onde estava – a natureza cuidaria de tomar conta daquilo. Ryan as levou até uma clareira cheia de árvores com maçãs e pesadas frutas curvadas e amarelas, estourando de tão maduras. Comeram e beberam, e Lire mais tarde se separou deles, voltando ao cair da noite.



—Os elfos estão bem — ela sentou-se ao lado das companheiras, satisfeitas — Eu disse a eles que não haveriam mais de temer o mal. Ele foi embora, e a floresta élfica pode voltar à paz.



Dormiram aquela noite, e pela manhã anunciaram que seguiriam viagem. Ryan despediu-se delas... mas com um ar de dúvida em seus olhos verdes. Quando estavam prestes a ir embora, ele as fez parar, confuso.



—Eu... Bom, vocês estão indo enfrentar o mal — ele disse com voz incerta. Franziu a testa, como se não soubesse o que decidir — Quero ir com vocês.



—Os monstros podem voltar — retorquiu Lire — Você tem certeza?



Ryan mordeu o lábio.



—É... Mas essa é a primeira vez que aparecem monstros em muito tempo. Sinto-me desperdiçado aqui. Fico tentado a abandonar a floresta, mas se eu for com vocês e puder impedir as trevas, elas não vão poder atacar — o próprio pensamento o confortou, e ele ergueu o queixo — Sim, é verdade. Quero me juntar a vocês nesta missão.



—Bom... — Elesis começou — Quanto mais aliados tivermos, melhor. Seu machado vai ser bem útil, também.



Ryan ficou parado, como que sem saber o que dizer, meio sorrindo, meio confuso. Talvez não tivesse esperado que o aceitassem. Uma vez que o aceitaram, ele assentiu, e os quatro deixaram a floresta juntos.


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