A História da Grand Chase escrita por Thugles


Capítulo 15
O Calabouço de Gorgos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/413165/chapter/15

A caverna que marcava a entrada para o Calabouço de Gorgos surgiu na frente delas, tão visível quanto um grande palácio.

Longe da estrada, e separada dela por vários morros e depressões na terra, havia um grande rochedo, largo e alto como uma casa que abria-se num amplo buraco que ia para baixo da terra. A rocha negra destacava-se claramente contra a pedra dura e os juncos; o túnel que se abria dela deveria ser escuro, mas via-se luz avermelhada vários metros ao fundo. Era quente, baforadas de calor saíam o tempo todo da entrada.

—Nossas coisas — Elesis deu-se conta de repente — As mochilas e o pote da Arme. Vão nos atrapalhar na luta, mas não temos onde guardá-los.

—Vamos deixar aqui fora — Lire sugeriu — Vamos ter que sair por aqui de qualquer maneira. Se não sairmos, não vamos mais precisar delas.

Elesis assentiu. Arme estremeceu com aquela frase agourenta, mas não disse nada. Contornaram a entrada e escolheram um conjunto de pedras do lado de fora, que usaram para fazer um pequeno abrigo para esconder as mochilas e as coisas.

—Esse lugar é assustador — Arme sussurrou — E Gorgos mora lá embaixo. Eles deviam colocar uma placa avisando do perigo.

Elesis virou-se para ela e apontou a entrada da caverna.

—Essa coisa feia não é aviso suficiente pra você? — perguntou, sarcástica, mas Arme não respondeu. Não gostava de demonstrar fraqueza na frente de Elesis, pois sabia que a menina acabaria por zombar dela. Como não obteve resposta, a guerreira deu-lhe as costas e entrou, a armadura captando os últimos raios de sol antes do final da tarde.

Antes de começarem a caminhada até aquele lugar, Lothos tinha trazido uma última surpresa para elas, dentro de uma carroça coberta. Quando abriram, ficaram fascinadas. Elesis ganhara um conjunto completo de armadura de aço com grevas, manoplas, braceletes, protetores para as pernas e um peitoral de aço, com a parte interna forrada em couro macio. O metal era da própria cor do aço, polido e esmerado para ser um pouco opaco e não refletir muita luz. Fora forjado em Serdin, mas no peito estava desenhado o emblema de Canaban: um elaborado conjunto de curvas que ganhavam a forma de um escudo escondendo a lâmina de uma espada, em vermelho. Ganhara também um capacete, mas o devolvera imediatamente. Uma guerreira incapaz de defender a própria cabeça não era uma guerreira de verdade, ela dizia. O real motivo era menos poético: Elesis gostava de seu cabelo à mostra numa trança grossa e frouxa, e capacetes a incomodavam. Tinha recebido também uma nova e magnífica espada, toda de aço esmerado e cabo ricamente trabalhado, que recusou tão rapidamente quanto recusara o capacete. Já tinha uma espada, a que Arthur fizera para ela, forjada em aço com rubis para adquirir o brilho vermelho que possuía.

Arme tinha recebido um vestido violeta e branco que adorou, e também sapatos novos e um livro de magia, para quando se entediasse. O item mais importante fora um grande pote com alça, de cor roxa bem escura, enfeitado por fora com desenhos de espirais, pedras e firulas em dourado e preto. Parecia um caldeirão pequeno, com borda grossa e curvada para fora. Elesis brincou que seria útil para cozinhar patos, mas Arme nem a ouvira, de tão excitada que estava. Aquilo era um pote de alquimista, usado para preparar e estudar poções e até mesmo certos tipos de magia, que Lothos garantiu que ela aprenderia no livro. Não eram todos os magos da Academia Violeta que podiam se gabar de ter um pote particular. Recebera também uma porção de ingredientes, frasquinhos e garrafinhas cheias de pó, e já estava ansiosa para testar.

Quanto a Lire, Lothos desculpou-se dizendo que não sabia que equipamentos poderia dar a uma elfa, já que nem Serdin nem Canaban faziam muito uso de arcos, mas conseguira dois estojos cheios de flechas e uma nova aljava, verde e marrom que comportaria oitenta flechas. Lire agradeceu a tudo com uma reverência. Quando se despediram, porém, Lothos chamou a arqueira de canto e puxou três insígnias do bolso.

—Estes são emblemas oficiais da corte de Serdin, e garantirão a vocês estadia em qualquer estabelecimento do reino, e também provarão que são confiáveis, caso passem por algum mal-entendido. Mas não quero que prendam isso na camisa e saiam mostrando pra todo mundo por aí — e ao dizer isso, Lire achou que compreendia por que a comandante resolvera entregar as insígnias para ela em particular, o que foi confirmado nas palavras seguintes — Vocês todas estão prontas para a missão, mas receio que nem todas estejam prontas para ostentar o maior de nossos símbolos. Vou confiá-los a você, então, para usá-los somente quando necessário, e com a maior discrição possível.

—Será uma honra, comandante — a arqueira respondera.

Partiram naquela mesma noite, seguindo a estrada e com a cabeça vagando por todos os fatos que tinham acontecido. Arme talvez não estivesse muito distraída; seu pote era muito pesado e ela não estava acostumada a tanto. Elesis escarneceu dela dizendo que precisava fortalecer os músculos dos bracinhos. Por fim, cedeu e concordou em levar a mochila da garota.

Caminharam muito animadas, uma animação que foi se extinguindo lentamente à medida que andavam e o destino não chegava. Pararam para dormir entre rochas, e lavaram-se num lago de água quente que encontraram. O banho foi reconfortante, principalmente pra quem não se lavava desde antes de passar por uma tempestade de areia. Quando recomeçaram a andar(no meio da tarde do dia seguinte) estavam muito mais leves e descansadas. Arme chegou a reclamar do sol, que resolvera brilhar mais intensamente naquele dia e atrapalhava a visão.

Agora ela sentia saudades daquela luz quente nos olhos.

Descendo a caverna, havia luz, mas era a luz do fogo, da pedra derretida que escapava pelas paredes e, às vezes, pelo chão, e em alguns pontos eram buracos grandes como lagos. O ar era muito quente, Elesis chegou a comentar que caminhavam na garganta de um dragão. Arme perguntou-se seriamente se não era mesmo esse o caso.

—Que ótimo momento pra ganhar uma armadura — Elesis se queixou — Me sinto um forno andante. Sinto que meu suor vai derreter a forragem de couro e o aço vai me assar por fora.

—O couro fabricado em Serdin não derrete — Arme respondeu irritada. Tinham deixado as coisas do lado de fora da caverna, mas ela acabara por levar o pote — Somos a Grand Chase. Esse aço deve ser o melhor que existe, trabalhado cuidadosamente, feito especialmente para durar nas missões mais difíceis!

Elesis deu uma risada seca.

—Uma maguinha atacada, de um reino de magos de túnicas limpas e empoadas... O que vocês sabem sobre armaduras?

—Elesis, cuidado. Tem um poço de lava bem na sua frente — Lire avisou.

—Não tem, não — Elesis olhou para ela confusa, e Lire grunhiu uma desculpa. Conseguira seu objetivo: Elesis parou de responder a maga e logo esqueceram o assunto.

Demorou muito até que o caminho caminho parasse de descer, mas pelo menos agora sentiam que andavam reto. Encontraram um ponto em que o espaço se abria amplo como num salão, com dez caminhos diferentes para escolher.

—Pra onde ago... — Arme se interrompeu com um gritinho, quando um jato de água quente veio de uma fenda nas pedras à frente dela, elevando-se mais de dez metros no ar. Depois desse viram mais outros, em pontos aleatórios do chão.

—Seria estupidez escolher um caminho e ser apanhada por um desses. — Elesis analisava atentamente — O que nós podemos fazer?

Arme apontou para um caminho à direita, o maior deles.

—Aquele caminho ali deve ser o certo, pois se Gorgos é grande, deve ter que sair por algum lugar grande — o buraco que ela apontava media cerca de seis metros de diâmetro e era tão profundo e rachado de lava quanto os outros. Como não tinham outra alternativa, escolheram ir por ele, mas andaram contornando o "salão", o mais perto das paredes que podiam para não se arriscarem a serem atingidas por um dos gêiseres de água.

O buraco ficava mais largo a cada metro e, com o teto e as paredes cada vez mais distantes, tiveram a sensação de que o clima estava menos quente. Não chegaram nem a cinquenta metros do fim do caminho quando ele terminou nas paredes internas de um amplo salão circular de pedra, com fissuras brilhantes por onde a lava escorrida.

—Boa, Arme, um beco sem saída — Elesis a olhava com ar acusador. Ali era tão grande quanto o interior de uma montanha — E agora?

—Vamos voltar, ué — Arme disse com simplicidade. A fúria de Elesis relampejou em seus olhos.

—E andamos tudo isso aqui pra nada? Quem mandou eu confiar na sua orientação...

—Foi só uma sugestão, tá? Eu não te obriguei a seguir por aqui!

—Meninas — Lire sussurrou baixinho — Eu acho que...

As orelhas dela se levantaram e ela puxou as duas pelos braços, pelo caminho que tinham vindo. Elesis, pega de surpresa, tentou resistir, mas Lire era mais forte do que parecia. Então o mundo pareceu sacudir quando o chão explodiu, pedras quentes voando para todo lado, e Arme gritando ao tropeçar e cair. Lire quase foi atingida no braço.

—Meu joelho! — Arme gritou, abraçando a perna dobrada — Ralei, acho que ralei!

—Levanta! — Elesis gritava para ela. Lire olhava para o buraco, tão grande que teria engolido uma casa. Puxou o ombro da espadachim nervosamente quando criaturas surgiram do buraco, coisas marrons, com dois pares de asas que batiam como as de uma libélula. Eram do tamanho de crianças humanas, corpos curvados e marrons com cabeças grotescas e boca grande demais, com braços sem mãos que terminavam em lâminas grossas amarelas. As pernas não ficavam totalmente esticadas e tinham pés achatados e sem dedos. A forte cauda terminava numa bola dura quase do tamanho da cabeça, cheia de pontas rombudas como os espinhos de uma maça. "Gorgons", Arme gritou ao reconhecê-los. Lire mandou que corresse e Elesis ajudou a levar a maga para longe.

A arqueira ficou, puxando seu arco e disparando flechas. As setas voavam no ar e atingiam os corpos, que guinchavam ao cair - Lire nunca disparava duas flechas no mesmo Gorgon, acertava primeiro os que estavam na frente e os que vinham atrás hesitavam, sem querer ficar na mira mortal da menina.

Os Gorgons sibilaram para ela. Lire virou-se e correu, e embora Elesis e Arme já estivessem vários passos adiante, alcançou-as com facilidade.

Quando voltaram à câmara de várias direções, viram que os Gorgons saíam de todas elas... menos de uma, e foi para lá que seguiram. Centenas das criaturas juntaram-se e as seguiram para lá. O caminho descia, ficando cada vez mais inclinado quanto mais elas corriam, até chegar a um ponto em que ele se transformava abruptamente em um túnel vertical. Não havia como seguir e os Gorgos estavam atrás delas.

—Eles nos atraíram para cá — Lire disse com tristeza. As três viraram-se, dando as costas ao buraco que descia.

—Então vamos lutar aqui — Elesis declarou, mas Arme tinha outros planos. A adrenalina que a fuga proporcionava tinha feito ela esquecer o joelho ferido. A menina pegou seu cetro e apontou a pedrinha roxa que havia nele para o topo da caverna.

—Espíritos da terra, ouçam-me! Libertem o fogo que vocês aprisionam, e deixem que ele venha nos ajudar. Não deixem que esses monstros cheguem até nós!

Se eram apenas as palavras mágicas que alguém dizia só pra magia parecer mais dramática, Elesis e Lire não sabiam dizer, mas quando Arme terminou foi como se alguém tivesse forçado as paredes dos dois lados do túnel alguns metros mais à frente. Um Gorgon conseguiu chegar, mas foi esmagado por pedras que saíram dos dois lados. Dos buracos que surgira delas, viram duas torrentes de lava que cobriram as pedras e o Gorgon, amontoando-se ali e bloqueando o túnel. A lava foi esfriando à medida que Arme rezava em voz baixa. Quando terminou, era como se tivesse havido um desabamento bem na frente delas. A lava estava novamente sólida como rocha, e dos Gorgos do outro lado não se ouvia nada.

—Excelente, Arme! — Elesis falou irritada — Você prendeu a gente aqui dentro!

—Mas eu salvei a gente das criaturas!

—Íamos lutar contra elas, e íamos ganhar! — a espadachim teimou.

No fim, Lire as tirou dali amarrando um corda esfiapada numa flecha, e atirando-a na parede logo acima da boca do túnel. A flecha ficou facilmente presa numa das muitas fendas da rocha. Nem Elesis nem Arme estavam muito confiantes, mas a corda e a flecha aguentaram as três quando desceram por ela num rapel improvisado, mesmo com o peso de Elesis em toda a sua armadura de aço. Quando chegaram no chão, as mãos de Arme tremiam, mas ela conseguiu sorrir.

—Foi muito legal, Lire — ela elogiou. A arqueira sorriu. Com um puxão forte do pulso na corda, a flecha se soltou lá em cima e ela a apanhou, pondo-se a enrolar a corda com habilidade. Elesis notou que aquela flecha era diferente das de haste verde e ponta dourada que a menina usava habitualmente: aquela era mais longa, de cabo marrom liso e resistente, sem dúvida madeira de altíssima qualidade. Somente então Elesis se lembrou que havia lava entre as paredes e pensou que tinham corrido o risco de o calor queimar a flecha, o que as teria derrubado antes de chegarem ao chão. Sacudiu a cabeça e tentou esquecer o assunto.

—Se foi uma armadilha, elas devem estar nos esperando — Arme comentou enquanto seguiam pelo único caminho à vista.

—Acho que não — Lire sacudiu a cabeça — Essa queda era bem alta. Acho que esperavam que tivéssemos caído e morrido. Mesmo assim, devemos supor que sabem que estamos vivas, e que sabem que estamos nos aproximando por aqui.

—Por quê? — Elesis quis saber.

—Há duas coisas que nosso inimigo pode pensar. Uma, que nós morremos aqui e que não vamos mais incomodá-los, e outra, que nós escapamos e estamos vindo por este caminho. A segunda opção poderia parecer impossível, mas não é, porque estamos aqui. É ruim para nós se eles souberem que estamos aqui, então devemos supor que sabem. Quando você espera pelo pior, não fica decepcionada quando o pior acontece, e não é pega de surpresa. Devemos esperar que inimigos apareçam sobre nós a qualquer momento.

Até Elesis assentiu, pois era uma maneira bastante lógica de se pensar. O que as encontrou, porém, não foram Gorgons.

Em um certo ponto daquele túnel, o chão simplesmente não existia mais, era uma imensa cratera cujo chão ficava muitos metros abaixo. Aproximaram-se cautelosamente da beirada e o que viram lá embaixo foi o suficiente para deixá-las meio tontas. Encontravam-se num túnel que passava acima de um teto muito alto, de um espaço tão amplo que poderia ter chamado construções trigêmeas do grande palácio de Serdin para jantar ali. O chão ficava a muito mais de cinquenta metros de onde estavam e era uma vastidão de pedra, cheia de pedras que eram muito maiores do que elas, mas que dali de cima pareciam as bolas de areia de uma criança. A lava corria em rios e cachoeiras, mas não havia sinal de Gorgons. Em vez disso havia uma coisa muito maior, uma criatura tão grande, e ao mesmo tempo tão pequena...

—Quem são vocês, e o que querem invadindo meu lar?

A voz cavernosa ressoou até o teto, passando pelo buraco onde a Grand Chase se apertava e tentava divisar o autor da voz. Ele era grande, tinham certeza, mas era de um marrom que se confundia com o resto do lugar. De início pensaram que ele mesmo era feito de pedra. Mas então ele se levantou, e puderam ver uma forma mais ou menos humana, de braços brilhantes como fogo que olhava para cima. Não podiam divisar a cabeça, mas ouviam sua voz.

—Malditos lobos — ele grunhiu para si mesmo — Eu sabia... devia ter feito a entrada secreta da caverna em outro...

—Não somos lobos! — a voz de Elesis foi corajosa, mas se perdeu no espaço vazio lá embaixo — Somos a Grand Chase, e estamos procurando Cazeaje.

—Cazeaje? Eu sou o Gorgos Vermelho. O que vocês acham que a Rainha da Escuridão ia estar fazendo aqui embaixo?

—Tentando dominar o mundo talvez... eu sei lá — Elesis não era a fonte de paciência do grupo — Diga-nos, onde ela está?

Mas o Gorgos Vermelho resmungou.

—Não são lobos, são crianças. O que vocês querem com Cazeaje? Vocês não merecem uma audiência com ela.

—Diga onde ela está, e iremos embora — a altura da voz de Lire surpreendeu a espadachim antes que ela pudesse responder — Temos nossos motivos, e precisamos saber onde ela está, agora.

—Não gosto do seu tom, menina — o Gorgos disse num tom perigoso — Vocês não são amigos da Rainha, isso eu posso ver. Vou conceder o pedido de vocês e mandar seus corpos queimados, isso a satisfará!

—Elesis, pula — Arme sussurrou baixinho.

—O quê?

—Pula, eu vou te descer até lá! Vai Elesis, agora!

Lá embaixo, o Gorgos Vermelho pegou uma pedra grande, como que preparando-se para jogá-la. Elesis estreitou os olhos e, sem mais nem menos, pulou. Caía rapidamente, mas sentia-se em câmara lenta, porque o espaço era muito grande e ela teve a sensação de que cairia pra sempre. O Gorgos Vermelho ficava maior a uma velocidade estonteante e o chão chegava mais perto, mas ela se manteve firme e levantou a espada.

Elesis desacelerou no ar e caiu mais lentamente, quando uma aura roxa a envolveu. A gravidade a puxava com menos força. Os pés de Elesis tocaram o chão como uma folha cai na grama, e o Gorgos reparou nela um instante tarde demais.

A espada foi com força na perna do monstro, que era grande e fina em comparação ao corpo. Mas era forte, e o gume afiado só penetrou um pouco. Não era de pedra, afinal. O Gorgos urrou e deixou cair a pedra, que se partiu ao cair no chão. Elesis saiu do caminho e subiu numa metade da pedra para ganahr altura e cortá-lo na virilha.

O Gorgos Vermelho abriu suas asas finas de inseto e voejou longe, embora parecesse pesado demais para voar. Ele era grande, talvez um pouco maior do que o líder Oak, mas de constituição muito menos robusta. O corpo era largo e deformado e os braços sem mãos terminavam em pontas curvas, como facas, e eram de um amarelho brilhante. Todo o resto era marrom. Os pés eram chatos e de dedos simples e grossos; a cabeça, achatada como uma caixa retangular, e a boca fazia parecer uma espécie de grampeador largo.

O Gorgos Vermelho atacou-a com um dos braços. Elesis pôs a espada entre eles. Desceu da pedra, e o golpe seguinte passou por cima dela. Subiu novamente e acertou o Gorgos no ombro antes que ele voltasse o braço. O braço esquerdo veio até ela, mas Elesis saltou com facilidade por cima dele a direita, depois pulou para a esquerda e desfetiu um corte contra o peito escuro e largo.

O Gorgos vermelho abriu a boca e gritou bem alto, depois virou aquilo que chamava de rosto para Elesis. Uma bola de fogo surgiu, queimando com uma cauda de chamas, como um cometa, que Elesis rebateu com a espada. O Gorgos tentou outro ataque, mas a garota era rápida demais para ele. Rodeava-o, escapando dos braços e atacando-o nas pernas.

Gorgos Vermelho girou de costas e a ponta de um braço veio nela como uma espada. Elesis esquivou-se e foi atingida de raspão, sua armadura nova sendo o suficiente para anular completamente o golpe. Ele levantou um braço enorme para bater nela e um raio o atingiu, fazendo-o resmungar. Uma pedra pesada veio em seu rosto e o desconcertou, o bastante para que Elesis cortasse suas asas com um polo selvagem. O Gorgos Vermelho urrou. Uma flecha acertou seu pescoço, vinda do ar, e quando virou a cabeça na dor, viu a pequena menina com um cetro na mão e um pote pesado ao lado dela, fazendo levitar pedras para jogar contra ele.

O fogo que saía da boca dele não as acertava, e ele gritou ainda mais alto. Investiu para um lado com um impulso das pernas fortes na direção de Arme, mas uma pedra veio do chão e estilhaçou-se em seu peito. Arme criou um relâmpago, que o acertou e o derrubou.

Então ele ouviu um zumbido, e pensou que estava a salvo. A verdade era que o Gorgos Vermelho estava o tempo todo brincando com elas, para que seu exército de Gorgons viesse e as assustasse, e então ele mostrasse a elas todo o seu poder. Mas o Gorgon que ele viu trazia uma elfa montada nele, segurando um arco na mão. O Gorgos Vermelho olhou-a, confuso. Ela estava montada num dos seus soldados! E então Elesis veio rápida demais, por cima de seu peito e abrindo-lhe profundas feridas na frente inteira do corpo.

A menina se afastou e outra pedra, maior que as outras, caiu sobre ele e não se quebrou, mantendo-o esmagado contra o chão. Ele, um dos mais temidos tenentes de Cazeaje, deixado-se derrotar por três pequenas garotas. A ira veio nele como fogo, e ele realmente cuspiu fogo para cima, mas não adiantou. A pedra em cima dele era pesada demais... E por que seus Gorgons ainda não tinham chegado?

Acontece que o Gorgos Vermelho, embora poderoso, não estava acostumado a enfrentar humanos. Nada sabia sobre magas, nem sobre arqueiras, muito menos esperava que uma menina armada com um pedaço de metal podia representar algum problema. Ainda se sentia estranho ali, deitado com uma pesada rocha sobre seu peito, sentindo suas forças desvanecendo-se. Estava morrendo... E o sentimento era absurdo demais para ele. O Gorgon trouxe a menina para perto dele, e ela caiu com leveza abaixo de seu pescoço. Abriu a boca e atirou fogo nela, mas quando voltou a olhar, ela ainda estava ali, como se tivesse desviado com tanta facilidade quanto... "quanto me derrotou", o pensamento lhe surgiu.

—Onde está Cazeaje? — ela perguntou em tom calmo.

O Gorgos Vermelho não respondeu.

—Você não precisa morrer assim — Lire continuou em tom conciliador — Basta nos dizer onde ela está.

Mas o Gorgos Vermelho notou as orelhas pontudas, e o tom levemente esverdeado de sua pele.

—Você é uma elfa... — ele disse vagarosamente — Pobrezinha. Perde tempo comigo enquanto suas terras estão em perigo. Rimou, hã? Você veio aqui à toa.

Mas Lire não estava mais escutando.

—O que você quer dizer? — ela perguntou.

—Nunca vou lhes dizer onde está Cazeaje! — o Gorgos Vermelho disse em voz alta — E você provavelmente não sabe o que está acontecendo. Sofra com isso agora: a essa altura, todos os seus estão sendo massacrados. Meu grito foi o sinal para a invasão começar. Eu iria liderar uma grande tropa contra os elfos, mas mesmo sem mim, ainda há muitos... Cazeaje vai vencer... ela saberá que não lhe falhei... seus elfos estão sendo mortos agora, posso sentir o cheiro...

O verde na pele de Lire virou porcelana, e ela não se moveu. Elesis subiu no Gorgos e agarrou o braço dela.

—Lire, vamos. Não vamos conseguir mais nada com ele — ela deu uma olhada no rosto achatado, que parecia estar quase sorrindo — Vamos sair daqui. Já sabemos nossa próxima missão... A Floresta Élfica.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!