O Vizinho escrita por JJ Gleek


Capítulo 9
O jantar




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No dia seguinte, Silas acordou cedo pela manhã, e com um bom humor inabalável. Foi até a cozinha, preparou um café da manhã reforçado e acordou a esposa. Queria agradá-la para, assim, convencê-la de que deveria preparar uma de suas especialidades culinárias para o jantar com Morten e Dorcha.

Mal podia ele imaginar, mas de nada adiantavam seus esforços. Sua esposa, ao ser questionada sobre o que faria para o banquete, disse, em meio a gritos:

– Eu não vou deixar esse filho do capeta entrar aqui! E nem vou cozinhar pra ele! Esse jantar está cancelado! Você não trará o filho do coisa ruim aqui novamente! Eu não permito!

– Não! Me comprometi com Morten e Dorcha, e minha palavra vale mais do que tudo! Faremos o jantar e pronto!

– Mais essa agora! São dois! DOIS! Dois filhos do Satanás! Eu não vou fazer nada para eles, NADA, ouviu!? E quem é você para me ordenar?! Saiba que eu faço o que quiser, Silas! O que eu bem entender!

– A casa não é só sua, mas minha também!

– Cale a boca! Cale a boca e pare de se referir ao filho do cão!

Silas, enfurecido, saiu de casa bufando. Algumas horas depois, mais calmo, voltou com sacolas nas mãos e na companhia de Alexandra. Ao ver a amiga na sala de estar, Vanderlucy, animada, foi correndo conversar com a comadre. Silas foi para a cozinha desembrulhar as compras, deixando as duas amigas conversarem sozinhas.

Após cerca de quinze minutos, Vanderlucy apareceu na cozinha. Virou–se para o marido, dizendo:

– Tudo bem, faço o jantar para os convidados.

– Você está falando sério!?- disse ele, surpreso. Sabia que só Alexandra era capaz de fazer a cabeça da esposa. Ficou, instantaneamente, muito agradecido pelo auxílio da amiga.

– Sim. Não quero ficar mal falada como péssima anfitriã. Pode se arrumar, preparo tudo.

Crente na esposa, Silas saiu da cozinha e foi se arrumar.

Após se arrumar, o marido de Vanderlucy voltou para a cozinha. Animado, viu a esposa colocando a comida em bonitas travessas de vidro. O molho vermelho escuro do prato principal ficava com uma aparência ainda mais sólida nos recipientes tão transparentes. Ao passar pela sala, tinha visto Alexandra varrer o chão, que estava repleto de pequenos cristais. Ao questioná-los, a amiga respondeu:

– É sal grosso, para impedir a passagem de energias ruins.

– Se bem que acho que não vai adiantar, você colocou pouco! Não se esqueça, eles vieram do subsolo! Do Inferno! E para o capeta não acompanhar seus filhos, a barreira de sal grosso tem de ser grande! – disse Vanderlucy, derrubando ainda mais sal no chão.

Silas resolveu calar–se. Pelo menos assim, a esposa faria um jantar de boas-vindas para seus novos vizinhos.

Cerca de trinta minutos depois, Vanderlucy já havia se arrumado e Alexandra, ido embora. Morten e Dorcha chegaram, com os trajes habituais - que não precisam ser descritos já que, você, bom leitor, conhece-os bem. Os mesmo óculos escuros habituais, roupas pretas , pesadas e manchadas de marrom.

Vanderlucy e Dorcha foram apresentados, e todos resolveram sentar no sofá. Silas, como bom anfitrião, iniciou a conversa:

– O que vocês estão achando da cidade?

– Não saímos de casa pelo dia. Não conhecemos nada por aqui. - disse Morten, traduzindo a fala de Dorcha.

– Por que não saem durante o dia?

– O calor é muito grande. – disse Morten, tentando encurtar o assunto.

– Então, certamente, não conhecem a culinária local! Pois bem! Hoje, o menu é especial, desenvolvido com pratos regionais. Vamos ao banquete?

Ao sentarem-se na mesa posta, Morten e Dorcha não deixaram de notar no escuro molho vermelho dentro da maior travessa sobre a mesa. Silas, ansioso, anunciou:

– Apresento a vocês a especialidade de minha esposa: Sarapatel!

Imediatamente, Vanderlucy, seguida de Morten, Dorcha e Silas, se serviu.

Morten, ao colocar sua segunda colherada da comida na boca, começou a ofegar. Não conseguia respirar, já que as paredes de sua faringe estavam dilatadas. Desesperado, colocou a mão no pescoço, sem fôlego. Sentia-se como se alguém o estivesse enforcando. Silas, desesperado, ofereceu uma copo de água ao vizinho, que bebeu-o e voltou ao normal poucos minutos depois. Decidiu, por precaução, não comer o sarapatel.

Após Morten ter passado mal, Vanderlucy reparou numa estranha cicatriz em seu pescoço. Tinha um sinal enigmático, que lembrava o símbolo do demônio. Esse sinal a fez sustentar ainda mais sua convicção de que Morten era o filho de Satã.

Quando terminaram de comer, Dorcha comentou algo que Morten traduziu:

– Nossa! Isso está uma delícia! Nunca comi algo tão bom na vida! Do que se trata?

– Vísceras de porco cozidas.

– Que tempero é esse, tão picante e saboroso!?

– Ah, coloquei o dobro da quantidade de alho da receita original, porque sarapatel que se preze só é legítimo quando tem bastante alho!


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