#Katie

Katie não olhou para trás em nenhum segundo, mas secretamente esperou que Travis viesse atrás dela. Estava com raiva por ele ter descoberto tudo e por ele ter tirado conclusões precipitadas, sem ao menos perguntar nada a ela. Eles eram amigos, não eram? Ele deveria querer tirar aquela história a limpo, não acusa-la aos gritos na frente de todo mundo. Não que alguém fosse ligar, ela não era ninguém e Travis estava deixando de ser um ninguém, como um ciclo ele estava voltando a ser o cara mais cobiçado de todos.

Ela não estava olhando muito para onde estava indo, estava caminhando sem direção, mas quando deu por si estava em frente ao vestiário masculino do time da escola. Ele era menor que o vestiário masculino dos alunos, afinal seu uso era restrito ao time, e de fora parecia estar fechado pois hoje não era dia de treino.

Katie se encostou na parede e escorregou lentamente, até se sentar no chão e antes mesmo que seus joelhos encostassem no chão suas lágrimas estavam caindo. Odiava chorar, por isso não chorava com frequência. Mas sentia tanta dor dentro de si, a dor de ser acusada, a dor de saber que a pessoa que gostava não confiava nela.

– Katherine? – seu coração deu um pulo ao ouvir aquela voz lhe chamando. Ela levantou seus olhos e sentiu seus batimentos se acalmarem quase que instantaneamente.

As vozes eram quase que idênticas, mas a aparência de Connor Stoll era mais intimidante do que a de seu primo. Tinha algo nos cabelos quase louros dele, algo em seus olhos azuis que acendia algo dentro dela.

Bem assim de perto ele era tão bonito quanto as pessoas diziam. Não que ela nunca tivesse visto Connor Stoll, ela só não tinha percebido como ele era tão bonito.

– Ei, hm, não sabia que hoje tinha treino – ela murmurou, enxugando as lágrimas rapidamente. Connor fechou a porta do vestiário atrás de si e foi até ela, agachando-se em sua frente.

– Aconteceu alguma coisa? – ele indagou, colocando sua mão sobre o rosto dela. Katie piscou uma, duas, três, quatro vezes seguida, sentindo sua bochecha formigar. – Posso te ajudar se quiser.

– Luke mostrou para Travis nossas fotos – ela despejou as palavras sem perceber, se odiando depois. É claro que ele não precisava saber disso, eram só fotos de uma festa qualquer, para ele era qualquer coisa sem importância.

Connor ergueu as sobrancelhas, parecendo surpreso.

– Ah... Eu, ahn, eu não sabia que elas eram importantes para vocês. Na verdade, eu não sabia que elas existiam.

– Travis não podia ver elas. Luke mostrou para ele – ela explicou, sentindo seu rosto queimar. Parecia uma garota bobinha explicando um problema fútil. – Travis acha que eu tenho algum caso com você. E-E-Esse é o problema.

Connor sorriu e fez algo que ela com certeza não esperava. Ele se inclinou sobre ela e a beijou, tão rápido e ao mesmo tempo tão suave.

Katherine não se lembrava de como os lábios dele podiam ser, afinal, tinha quase certeza que eles haviam se beijado naquela festa depois de ficarem bêbados e muito depois daquelas fotos. Mas ela não conseguia se lembrar de como havia sido, só sabia que ele lhe parecia familiar.

Antes mesmo que seus olhos ousassem se fechar, ela o empurrou delicadamente pelos ombros.

– Por que fez isso? – Katie indagou, engolindo em seco. Os lábios dele estavam rosados e os dela também deviam estar pois embora não houvessem se aprofundado ela havia deixado o beijo de prolongar até demais.

– Pensei que... Você não estava fazendo só uma cena para que eu te beijasse? – ele indagou, franzindo o cenho. Ora, ele realmente parecia confuso.

– Não! Não... Espera, por que eu faria isso? – ela atacou, arrumando sua postura e fazendo com que Connor se afastasse. Seu rosto estava inflamado, de vergonha e raiva. – Como eu poderia saber que você estava aqui no vestiário, para começo de conversa, sendo que a porta estava fechada e só havia uma meia-luz!

Ele arregalou os olhos e um meio sorriso escapou por seus lábios.

– As garotas dessa escola fazem loucuras para me beijar, mas... Wow, você usa termos como meia-luz, então acredito em você. – ele explicou, se levantando. Sua mão foi erguida em direção a ela. – Me desculpe, Katie. Realmente.

Ela bufou, se sentindo menos idiota e segurou na mão dele e se levantando. Em pé, frente a frente com ele, ela percebeu que Travis era alguns centímetro mais alto que seu primo.

– Travis é um idiota – ele murmurou, largando a mão dela. Connor foi se afastando mas seus olhos ainda estavam em Katie. – Ele mal sabe a sorte que tem. Vou dizer isso a ele algum dia desses.

Dando as costas ele se foi e ela seguiu ele meio de longe, até o corredor principal. Assim de longe Connor parecia Jesus no mar vermelho, porque enquanto caminhava as pessoas simplesmente se afastavam dele maravilhadas.

#Travis

O resto do dia de aula transcorreu muito bem para Travis. Miranda ficou o tempo todo ao lado dele, segurando seu braço, fazendo carinho em seu cabelo. Mais rápido do que um espirro, todos da escola ficaram sabendo que eles estavam namorando.

Isso pareceu mudar a perspectiva de todo mundo.

Na hora da saída, Miranda estava esperando ele na porta. Eles tinham algumas aulas separados e a de geopolítica era uma delas. Enquanto eles caminhavam de mãos dadas as pessoas começaram a cumprimentar com sorrisos, beijos no rosto (em Miranda) e tapinhas amigáveis no braço (em Travis).

– Stoll, quem diria – Jason Grace veio em sua direção, de braços cruzados. Ele era totalmente diferente de sua irmã mais velha, Thalia, era mais sociável e com um aspecto menos punk. Eles nunca tinham sido amigos, mas costumavam treinar juntos no time. – Pensei que você havia sido detonado.

Travis torceu os lábios, mas afinal forçou um sorriso. Ainda lembrava-se de Katie lhe falando que as pessoas não gostavam de serem desafiadas e se sentiam extremamente satisfeitas quando conseguiam atingir com suas palavras. Mas ficavam extremamente sem reação com a indiferença.

– Detonado é uma palavra forte, não acha? – ele indagou, olhando para Miranda. Esperou que ela fosse dar um sorriso de aprovação e comentar que aquilo fora "blasé, perfeito para não se comprometer".

Mas... Mas ela não era Katie. Katie teria aquela reação. Afinal, fora sua vizinha quem lhe ensinará isso.

Como se suas mentes estivessem emitindo um chamado, Katherine passou por ele naquele exato momento, indo em direção a saída. Ele observou nostalgicamente suas costas enquanto ela se afastava no meio de todos alunos, onde todos compartilhavam uma amizade feliz.

Ela não tem muitos amigos, ele pensou sentindo uma pontada no peito, eu era seu amigo. O que eles eram agora? Eles não se falavam e ele se lembrava muito bem do que ela havia dito, que ele não podia dizer toda a verdade para a garota com quem ele apenas estava pretendendo ficar.

Travis não conseguia dizer a verdade para Miranda, sempre dosar suas palavras para não dizer nada que o prejudicasse. Por isso ele sentia falta de Katherine Gardner. Com Katie ele podia ser simplesmente quem ele quisesse.