#Travis

Travis se aconchegou no travesseiro, inalando o perfume de jasmim que ali estava. Ele sorriu e estendeu seu braço até encostar em algo macio e suave. Seus dedos apertaram de leve e ele ouviu um gemido baixinho.

Caramba, ele nem conseguia acreditar.

– Amorzinho, você já acordou? – a voz de Miranda perguntou em algum lugar não muito longe.

O "Amorzinho" levantou o rosto e viu a garota deitada ao seu lado, apenas envolvida em seu lençol de linho branco. Ele e Miranda tinham combinado de se encontrar na casa dela um pouco mais cedo naquele dia e quando perceberam já estavam no quarto dela, arrancando as roupas um do outro.

Ah Miranda era demais. Ela tinha um ar que inspirava pureza e inocência, mas ela sabia muito bem o que fazer na cama. E onde fazer.

– Acabei de acordar, na verdade – Travis admitiu, abraçando ela. Miranda se aconchegou em seu peito e ele se contorceu. Ela era... Ossuda demais, magra demais, era muito estranho abraça-la.

– Eu queria te perguntar uma coisa, na verdade – ela murmurou, se encostando em seu braço. Seu enorme cabelo preto caia por seu braço fazendo um contraste com sua pele alva. – O que há entre você e Katherine?

Travis engoliu em seco e olhou para o teto. Por que ele estava olhando para o teto? Por que ele estava hesitando?

– Somos vizinhos – ele respondeu o óbvio, dando de ombros. O que mais ele podia dizer? "Somos parceiros de crime"? O que seria verdade, mas ele não queria dizer verdades para Miranda. Katie havia dito isso em suas primeiras lições.

Miranda revirou os olhos e se sentou, puxando o lençol consigo.

– Eu sei disso, eu sei que a casa da minha mãe é ali do lado – ela comentou, de braços cruzados. – Quero chegar em um ponto específico... Vocês já ficaram?

Ele pensou automaticamente no dia em que eles viram um filme pornô juntos e ele quase a agarrou. Mas isso não contava, porque eles não tinham se beijado e nem nada disso, foi uma tentativa mas não um exito.

– Não, nós somos bons amigos e isso é tudo – ele respondeu se sentando na cama. Sua cueca box estava jogada no chão, então ele a pegou e rapidamente se vestiu. – Precisamos ir, eu acho. Temos aula amanhã, lembra? Ainda não estudei para todas as provas.

Miranda concordou e se enrolou no lençol, indo para o banheiro dele e o deixando sozinho no quarto com seus pensamentos há mil.

Será que Katie ainda estava com raiva dele? Ela tinha um feito um belo espetáculo no Painel, mas Miranda havia dito que ela gostava de um drama. Talvez ela não estivesse realmente brava, só quisesse que ele desse alguma atenção para ele.

Travis aproveitou que sua namorada estava tomando banho e pegou o celular, discando o número de Katie que ele já tinha de cabeça.

Ele esperou que fosse chamar um pouco, mas depois de duas chamadas a ligação caiu. Só havia duas razões para isso: Katie estava ignorando ele e com certeza estava muito brava com ele.

#Katie

Quando ela viu que Travis estava ligando ela deu um pulo de felicidade. Ele queria falar com ela, ele gostava dela... Gostava?

Mas, ela imaginou, provavelmente ele está com Miranda, então ela apenas desligou o aparelho. Mesmo que tivesse descoberto recentemente que estava apaixonada por Travis Stoll não iria fazer nada. Eles eram parceiros de crime, amigos, vizinhos, eles sabiam demais um do outro para terem algo.

E havia também o fato de que Travis nunca iria gostar dela. Ela era bonita, mas não era uma das garotas dele, que vestiam suas roupas cara de marca e gostavam de retocar suas maquiagens a cada minuto. Katie só queria andar em sua bicicleta e comprar sementes para seu jardim, não era algo que fosse fazer alguém se interessar por ela.

****

No dia seguinte Katie foi para a escola se sentindo péssima. Aquele final de semana parecia ter durado anos e ela só queria ficar em casa assistindo algum documentário bobo na tv. Mas tinha um trabalho de matemática para entregar e ela não era exatamente boa com números, precisava daquela nota.

Estava com medo de encontrar Travis, mas estava tão cansada que ao menos se deu ao trabalho de tentar se esconder. Caminhou a passos lentos pelos corredores sentindo todas as suas articulações fracas.

– Ei, Katherine! – uma voz masculina a chamou.

Ela se virou para trás atordoada, com medo de que fosse seu vizinho, mas não era. Era o primo dele.

– Você é a vizinha de Travis, não é mesmo? – Connor indagou, dando um sorriso. Assim de perto Katie entendia porque todas as garotas o idolatravam, ele era exageradamente bonito e seu sorriso era carregado de uma simpatia intimidante.

– Sou, eu mesma... – ela respondeu baixo, sentindo a voz morrer. Connor Stoll era tão lindo que sua habilidade de falar parecia esquecida em meio a tanto fascínio.

O garoto fez alguma pergunta mas Katherine não respondeu. Estava enebriada por ele... Como ele era lindo... Sentiu um click próximo aos seus ouvidos e quando apurou o olhar, percebeu que ele tinha estalado os dedos próximo ao rosto dela.

– Eu, an, desculpe – ela pediu, desconcertada. Ótimo, agora parecia uma garota boba. – O que disse?

– Não, tudo bem – ele sorriu para ela. – Eu perguntei se você sabe onde meu primo está? Ele disse que iria passar em minha casa hoje mais cedo. Você deve saber de algo.

Katherine iria responder qualquer pergunta, quando uma imagem na entrada da escola chamou sua atenção. Sentiu seu estomago revirar e dar um nó quando aquela cena começou a se formar na sua frente. Vou vomitar, ela pensou colocando a mão sobre a boca, socorro eu vou vomitar!

– Ele está com a namorada dele – Katie murmurou, ainda olhando para o casal que vinha pelo corredor.

Miranda e Travis vinham de mãos dadas cumprimentando todos por quem passavam. Há uma semana atrás ninguém seria assim com ele, ela pensou amargurada, eu o fiz assim e agora...

Seu pensamento não pode ser completado porque Connor apertou seu braço e ela olhou para ele confusa.

– Desculpe, você estava olhando vidrada para eles – ele explicou, dando um meio sorriso. – Não seria legal se você parecesse boba, não é mesmo?

Ela assentiu e engoliu em seco. A beleza de Connor era inebriante demais, Travis e Miranda como um casal era enjoativo. Ela quase podia sentir o vomito subindo pela garganta.

– Irmãzinha! – Miranda exclamou e Katie quis, sinceramente, matar ela.

Os dois estavam parados ali. Aquele que outrora fora seu amigo e agora era só um vizinho e aquela que um dia foi sua melhor amiga mas agora era só sua irmã. O destino lhe parecia um tremendo de um canalha.

– Ei, oi – ela disse sorrindo para os dois sem realmente vê-los. – Ei, tchau.
Talvez tivesse sido muito mal educado ou uma péssima atitude, mas ela simplesmente não podia ficar mais ali. Katie correu para o banheiro já sentindo a visão ficar turva.

#Travis

Ele gostaria de entender como a mente de Katherine Gardner funcionava, mas ele não conseguia achar um jeito. Eles tinham sido amigos, ela tinha lhe ajudado e agora corria para longe toda vez que o via. Isso não fazia sentido para ele.

Na hora do intervalo, Miranda tagarelava alguma coisa no ouvido dele mas ele não estava prestando atenção. A dúvida de por quê Connor estava conversando com Katie lhe assombrava a mente. Ele até mesmo estava encostando nela... Logo Katie que não gostava que ninguém fizesse contato físico com ela... Nem mesmo ele podia ao menos podia chegar muito perto...

– E aí, irmãozão – Luke apareceu na sua frente. Ele tinha um pequeno arranhão no rosto e Thalia Grace estava atrás dele, furiosa. Parecia que algo tinha dado realmente errado. – Como vai?

– O que...?

– Luke, eu estou te pedindo, por favor – Thalia implorou, mas ela não parecia nem um pouco carinhosa.

– Eu também pedi algo, okay? – ele murmurou para ela, mas seus olhos azuis ainda estavam fixos em Travis. – E você não atendeu. Pois bem. Um presente para você Travis.

O loiro colocou algo na mesa e saiu a passos duros, arrastando Thalia pelo braço. A garota tentava se desvencilhar e ela era bem forte, pois Luke chegou a vacilar, mas ele ainda era o cara mais forte da escola, arrastando ela com eficacia para fora do refeitório.

Travis franziu a testa e olhou para a foto em cima de sua mesa, a boca se entreabrindo. Miranda fez alguma pergunta mas ele ao menos ouviu. Seus olhos estavam fixos em Connor e Katie abraçados em uma festa.

A data impressa na borda da imagem. Ele se lembrava daquela data. Naquela data eles ainda eram amigos...

Travis não notou que se levantou da mesa com pressa demais, que empurrou a cadeira com força demais, que Miranda estava gritando seu nome e que ele estava na mesa de Katie.

Sua vizinhou pousou seus olhos verdes sobre ele e corou. Ela sabe porque estou aqui, ele pensou sentindo a raiva subir a cabeça, ela sabe que eu descobri e por isso está com vergonha.

– Travis, o que...? – ela começou a indagar mas ele jogou a foto em cima da mesa dela.

– Sério? Mesmo? Você só estava fingindo esse tempo todo, não é mesmo? – ele começou a gritar e algumas poucas pessoas olharam para ele. Ninguém se importava muito com brigas verbais, somente se eles começassem um corpo a corpo é que os alunos iriam se interessar inteiramente.

Katie olhou horrorizada para a foto e depois para ele. Ela se levantou em um rompante, com o braço estendido na direção dele. Sua vizinha sussurrou seu nome mas ele apenas deu as costas e saiu.

A pequena mão dela envolveu seu cotovelo e ele se virou, frustrado de raiva. Aqueles malditos olhos verdes lhe encaravam desesperados.

– Não é isso o que você está pensando! – Katie exclamou, apertando o braço dele. – Eu e Connor estávamos bêbados, eu mal me lembro do que aconteceu.

– Você estava com ele hoje no corredor, Katie não seja estúpida! – ele gritou de volta. – Por que não consegue me dizer que está saindo com Connor? Talvez, se você admitir, não vou achar a traição assim tão ruim eu só quero que...

– Você só quer o que? – ela rebateu e Travis ficou chocado por ela estar levantando a voz para ele. Tudo bem que ela costumava ser meio rude com ele, mas nunca daquele jeito, rude de verdade. – Não estou saindo com seu primo, você é tão... Tão...

Os olhos verdes se fixaram nos deles e Travis sentiu algo quente correr pelo pescoço. Katie deixou a voz fraquejar mas ele queria, desesperadamente, saber o que ela queria dizer. Ele era tão o que? Tão...

– I-Idiota – ela murmurou, dando um passo a frente e dando uma ombrada nele. Travis cambaleou para o lado e sua vizinha se foi, os passos pesados ecoando pelo refeitório.

Ele sentiu uma ponta de decepção tomar conta de si. Não queria que ela tivesse dito aquilo, tinha esperanças de que ela pudesse querer dizer outra coisa.
Mas a verdade verdadeira era que Travis Stoll não sabia o que queria.