Sem Pistas escrita por Return To Zero


Capítulo 2
Verso I: Dourado como o sol


Notas iniciais do capítulo

Ah sim, eu resolvi dividir cada titulo como episodio e, cada episodio, por versos. Espero que não fique muito confuso.



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– Temos uma sobrevivente! - uma voz gritou, distante


O cenario em que Clara se encontrava aparentava ser pós-guerra. Escombros de construções, pó e areia, e o sol escaldante do Leste lhe deram uma dor de cabeça imediata. Tentou se levantar, mas seus braços não suportavam seu peso. Caiu ao chão de novo.


– Rapido, precisamos levá-la! - mãos fortes seguraram seu corpo. Respingaram água por seu rosto quente e as gotas pareceram evaporar no mesmo instante - Não parece estar muito ferida, mas todo cuidado é pouco.


– Ela definitivamente não está bem.


– É um milagre ela estar viva depois dessa explosão. Ninguém sobreviveu.


No colo de quem quer que fosse, contemplando a cena de destruição, cerrou seus olhos finalmente, fazendo um último esforço para encobrir as pistas daquele lugar.

***

O garoto de olhos dourados fora designado para avisar quando a garota acordasse. Contente com a responsabilidade que lhe fora dado e, decidido em provar que não era um completo idiota, sentou-se ao lado da cama e esperou.


Ajeitou as bandagens varias vezes. Escorreu água por seu rosto para refrescá-la e afastou os fios castanho-mel que lhe cairam sobre o rosto.


Observava-a com imensa curiosidade, ansioso para quando acordasse, como seria sua voz, se reconheceria o bom trabalho que havia feito tomando conta dela enquanto estivera inconsciente.

***

Acordou de forma brusca horas depois, mas com os musculos retesados junto à cama. Por alguns segundos, mirou o teto não-familiar, e acostumou-se com a ideia de ainda estar viva.


Os olhos escorregaram para o lado e descobriram a figura que a observava sem nenhum tipo de cautela. Umedeceu os labios, hesitante.


– Olá? - testou sua voz. Saiu um pouco falha e infantil


O garoto sorriu largamente, feliz.


– Que bom que você acordou! Tive ordens de ficar aqui, e cuidar de você, até que acordasse. Eu fiquei um bom tempo aqui, sabia?! - tagarelou o loiro, animado - Está com sede? Fome? Ou calor? Qual o seu nome?


– Primeiramente... - a morena pigarreou, passando a mão pelo rosto - Onde eu estou, e por que estou toda molhada?


– Pensei que estaria com calor, então eu espirrei um pouco de água pra te refrescar. - respondeu, simples


– Você é estupido? - ela questionou, elevando a sobrancelha


– Ei, não me chame assim! Quem você pensa que é?


– Eu vou embora daqui.


A morena tentou se levantar mas fora presa pelos ombros junto à cama. O loiro estava extremamente proximo à ela, com a respiração acariciando suas bochechas. Os olhos dourados, compenetrados nos olhos azul-alice, admirados.


– Meu amigo, qual o seu problema?


– Você... É linda... - sussurrou, ofegando levemente - Nunca vi uma pessoa tão bonita como você...


– A julgar pela roupa, você não costuma ver muitas pessoas, quem dirá as bonitas. - ela revirou os olhos


– Como se chama?


Houve alguns segundos de silencio em que ela contraiu os labios e olhou pelos cantos do comodo. Uma voz em sua cabeça lhe deu a resposta.


– Clara... - respondendo, criando um contato visual com ele. Contraiu os labios novamente ao perceber que nunca havia visto olhos tão bonitos em toda a sua vida


– Seu nome é lindo... - sussurrou novamente, os dedos correndo do ombro até o pescoço dela, subindo para às bochechas - Assim como você...


Clara umedeceu os labios também tocando-lhe a bochecha, puxando-o para um beijo intimo. Demoraram-se por alguns segundos, até o que o loiro se desprendeu, ofegante, recuando pelo quarto.


– E-E-E-Eu sinto muito, senhorita Clara! - balbiciou ele - Não foi minha intenção! - a garota o observou, um pouco incredula. Após recuperar o folego, ele partiu do quarto, avisando - Ela já acordou! Clara já acordou!


Segundos depois dois homens adentraram o aposento, sorrindo. Usavam vestes leves, e aparentavam estar contentes. Um deles carregava em suas mãos um vestido de linho branco, deixando-o sobre a cadeira que o loiro havia sentado.


– Que bom que acordou, senhorita... - um deles começou


– Clara Werlang.


– Belo nome, senhorita Werlang. - ela sorriu, acenando com a cabeça - E acordou bem? Sente alguma dor?


– Na verdade... Não muita, eu acho...


Ela se sentou na cama, segurando o lençol contra o seu corpo pois alguém havia lhe tirado as roupas.


– Suas roupas estavam rasgadas demais. Nosso mestre deseja que você use isso. - o criado que estava com o vestido em mãos o indicou, sorrindo - Ele deseja que fique aqui até sua completa recuperação.


– Sim, mas ele quem? E onde estou?


– Está em Xerxes, senhorita Werlang. - o outro respondeu - Está sob os cuidados de um dos Alquimistas do Rei de Xerxes. Um dos melhores, se quiser saber.


Clara arqueou uma sobrancelha, admirada. Deu um sorriso franco, abraçando os joelhos.


– Muito gentil seu mestre me acolher mas, o que aconteceu comigo? Não me lembro de nada.


– Houve uma explosão em Rookbows, uma cidade perto daqui e você, senhorita Werlang, foi a unica sobrevivente.


Houve um profundo silencio enquanto seu sorriso se esmorecia. Abraçou mais os joelhos, fitando os pés por baixo do lençol. - Não sobrou nada, então? Minha familia?


Os criados negaram, mudos. Ela puxou ar como se fosse perguntar algo mais, mas desistiu. Uma lagrima escorreu do seu olho.


– Sentimos muito, senhorita Werlang. - o criado disse, compadecendo-se dela - Felizmente, nosso mestre a quer aqui. Ele vai tomar conta de você, até que possa tomar conta de si propria.


– Eu... Agradeço.


– Se troque e vamos esperá-la para o jantar. Leve o tempo que precisar, senhorita Werlang.


Com um aceno e cabeça, ambos sairam e deixaram Clara sozinha.


Ela se jogou na cama, cobrindo os olhos com o braço deixando que as lagrimas escorressem. Flashes brancos lhe acometeram a memoria, algo que ela nem via, nem ouvia.


Sua memoria mais recente vinha de um lugar alvo, uma enorme porta, e algo que parecia não estar lá, mas estava. De repente, tudo desapareceu. A ruiva se aproximou ameaçadoramente e tocou-lhe o corpo de forma bruta. Um clarão azulado, uma dor imensa que parecia rasgar todo o seu corpo, depois uma grande explosão.


Depois isso.


"Você está viva?" ecoou uma voz dentro da cabeça dela.


– É o que parece. E você, está? - Clara retrucou


"Sim, claro. Parece que conseguimos sobreviver."


– E você sabe o que aconteceu? Eu não lembro de nada. - ela soluçou, já com o choro controlado - Minha familia, ou quem eu sou. Você sabe o que aconteceu?


Houve uma breve silencio e a voz pareceu suspirar.


"Não."


E o silencio se manteve enquanto Clara se levantava e vestia a roupa de linho, escorregando o tecido branco pelo corpo nu.


Olhou ao seu redor e, além da cama e da cadeira, no quarto descobria-se um criado-mudo, uma comoda e uma grande espelho, onde Clara se fitou por um bom tempo.


– Por que. Pareço. Uma. Criança? - perguntou-se pausadamente, fazendo a voz rir


"Eu me alimentei da sua idade. Eu sinto muito, mas eu precisava comer."


A morena revirou os olhos, irritada. Calçou umas sandalhas de couro que lhe foram deixadas ali e saiu pelo corredor.


***

A mesa estava repleta, mas não havia ninguém. Um conjunto de quatro criados aguardavam a garota, e puxaram-lhe uma das cadeiras.


– Nosso mestre pede perdão, mas teve de se ausentar. Tarefas muito importantes vindas do Rei de Xerxes. Espero que compreenda, senhorita Werlang.


Sim, eu compreendo. Estou apenas ansiosa para conhecer... Meu salvador. - comentou Clara, observando os criados encherem seu prato com comida


– Amanhã suas tarefas se iniciarão. Talvez até se torne uma grande Alquimista, como nosso mestre.


A voz dentro da cabeça de Clara pôs-se a rir, como se rolasse no chão branco de sua mente.


– Não será necessario. Possuo um bom conhecimento de Alquimia, Matematicas, já posso ler e escrever. Não será necessario.


Os criados exclamaram entre si, olhando Clara com admiração.


– Mas você ainda é uma criança, tão pequena! - um deles disse


A morena, que estava tomando a água de um dos copos, pousou-o violentamente sobre a mesa, irritada. - Nunca mais repita isso! Sou velha e sei de muita coisa!


"É tão velha que já está ficando maluca!" brincou a voz, risonha


– E cale a boca, você! - ela gritou, fazendo os criados recuarem um passo, assustados.


Após recuperar o folego, Clara se desculpou. Disse que estava um pouco perdida e acuada com tudo. Estava fragil. Os criado entenderam, e dois deles partiram para seus aposentos, para descansarem.


Os dois que restaram, Clara convidou-os para à mesa. Recusaram prontamente, mas logo cederam.


– Sem querer ofendê-la novamente, senhorita... Mas a senhorita é jovem demais para ter tanto conhecimento...


A morena suspirou, terminando seu prato de comida.


– Não sei o que aconteceu mas... Mas todas essas coisas estão gravadas aqui. - ele tocou a tempora com o indicador, hesitante - Como se fosse o conhecimento de uma vida toda, mas sem nenhum tipo de evento.


"Não tente explicar isso para alguém. Duvido muito que consigam entender, são todos Limitados."


– Alias... Aquele garoto loiro que tomou conta de mim... Quem é ele?


– Um dos escravos do nosso mestre.


– Por que ele não está aqui? - perguntou, corando suavemente - Gostaria de agradecê-lo por ter cuidado de mim.


– Ele é só um escravo. Não tem de nos agradecer por nada, senhorita Werlang. - o outro retrucou, parecendo desanimado - Mas, apesar de sermos escravos, nossa vida não é tão ruim.


– Claro! Estamos comendo na mesma mesa que a nossa mestra! - riu-se, o primeiro empregado


– M-Mestra? - Clara balbuciou, espantada - M-Mas eu pensei...


– A senhorita Werlang se tornará nossa mestra, já que o nosso mestre pretende adotá-la. Se quiser, é claro.


***


Conversaram até certa hora, quando os dois criados resolveram que estava muito tarde e se recolheram também, avisando Clara que ela deveria ir para seus aposentos agora.


A garota concordou, permanecendo na mesa por mais alguns minutos. Por algum motivo, estava faminta, e não parava de devorar aqueles enormes pedaços de carne.


– Eu não sei porque... Mas parece que eu não vou ficar cheia nunca! - disse, lambendo os dedos escorregadios de molho - A comida está excelente, mas parece que nunca vou ficar satisfeita!


"Uma coisa que eu deveria ter dito antes" começou a voz, aparentando falar de boca cheia "é que estamos conectados no mesmo corpo e, bem, eu também preciso comer."


– O quê? Estou comendo por nós duas?! Como se eu estivesse... Gravida?


"Exatamente. Bom, não exatamente mas esse é o espirito." ela riu, lambendo os labios "E você vai dormir bastante também, por nós duas. Ficou dormindo por dois dias inteiro já."


– Mesmo?! - a morena exclamou - Ini, e aquele garoto ficou tomando conta de mim o tempo todo?


"Sim, o tempo todo. Garoto idiota, não deixava a gente em paz" resmungou


Clara sorriu e juntou num prato o restante de carne que havia na mesa. Marchou pelo corredor em direção ao único quarto com a luz acesa.


Silenciosamente, pôs-se a observar. Parecia um tipo de laboratorio com livros e uma mesa repleta de frascos e liquidos. O garoto loiro de antes estava ali, varrendo o chão com uma expressão sonolenta.


– Você não devia estar dormindo? - questionou, dando uma risada quando o loiro se assustou, esbarrando na mesa e fazendo uma coleção frascos cairem no chão - Que idiota você é.


– Não me chame de idiota! - rosnou de volta - Não posso ir dormir até terminar de limpar aqui.


– E parece que você vai demorar um pouco mais... - adicionou, olhando os frascos quebrados - Mas vamos, que tal uma pausa para comer? Ou você já comeu?


Os olhos do garoto loiro se encheram de brilho e logo se apagaram.


– E-Eu adoraria, mas não posso comer...


– Huh, por que?


"Ele está de dieta?" Ini perguntou, fazendo Clara reprimir o riso


– Meu mestre, ele... Bem, é complicado. Eu só não posso comer agora.


Clara deu de ombros, puxando a cadeira que estava ali para se sentar. Pôs o prato com carne sobre seu colo e começou a beliscar. - Bem, eu vou ficar aqui então, se não se importa.


O loiro fitou Clara comer por longos minutos, sentindo a saliva se formar cada vez mais em sua boca. Engoliu em seco, por fim, sentando-se ao lado dela.


– A-Acho que um pedaço só não vai fazer mal... Posso? - perguntou, fazendo menção de pegar o menor pedaço de carne


– Eu peguei pra você. É todo seu. - ela estendeu o prato para o garoto, e colocou sobre o colo dele, limpando os dedos na roupa - Ei, como você se chama?


– Eu... Bem... - o garoto coçou a ponta do nariz, envergonhado - Me chamam de escravo número 23. Então acho que eu não tenho um nome... - ele riu, envergonhado, enfiando um pedaço inteiro de carne na boca - Mas, parece que eu ganhei um nome.


– É? Qual é?


"Acho que apenas 'Idiota' funcionaria como um nome pra ele" Ini revirou os olhos


– Van Hohenheim. - pronunciou claramente depois de engolir - Parece nome de gente importante, não? Me sinto honrado por ter ganhado um nome assim!


– É um nome bem bonito mesmo! Van... Hohen... Ho.... Hen... - Clara tentou repetir o nome, mas sua lingua enrolava em todas as vezes. Baixou o olhar, envergonhada - Embora seja um pouco complicado.


– Com o tempo vai se acostumar, senhorita Werlang.


– Só Clara. Clara está bom. - ela passou os dedos pelos cabelos, erguendo-os e prendendo-os em um coque frouxo, deixando seu rosto bem a mostra. Era palido, aparentemente macio, adornado por duas joias que pareciam ter a coloração do gelo - Posso te chamar de Heim? É curto e mais facil para mim.


Por alguns segundos ele a olhou, maravilhado. Os olhos de Clara pareciam jorrar uma torrente de luz sobre ele, que o deixava sempre sem ar, que o faziam pensar em coisas malucas. Acabou por apenas contrair os labios, lembrando-se do beijo de antes, e voltou-se para à comida.


– C-Como desejar, senhorita Clara.


– Enfim, melhor eu dormir um pouco. Estou cansada. - levantou-se e afagou os cabelos do rapaz, fazendo-o corar violentamente - Boa noite, Heim.


– Boa... Boa noite, senhorita Clara!


Lhe sorriu uma última vez e caminhou até seu quarto. Sentia-se tremula e com um frio estranho na barriga enquanto analisava seu reflexo no espelho.


Não era muito alta, com um corpo adolescente meramente demarcado por baixo do vestido de linho branco. Fios castanhos lhe caiam sobre o rosto e varias goticulas de suor se formavam em sua testa, devido o enorme calor de Xerxes. Nunca soube porque ela sempre ficava mais afetada pelo sol do que os outros.


– Ei, Ini. - Clara iniciou a conversa - Minha pele é tão palida, e meus olhos são quase... Transparentes.


"Sim, são caracteristicas suas. Qual o problema?"


– Até agora não achei ninguém parecido comigo. Talvez s cabelos mas... Ini, eu não sou daqui?


"Talvez não seja, Clara."


– Como assim?


"Ora, veja bem. Meus cabelos são vermelhos, e meus olhos são verdes. Se lembra?" a garota fez que sim de frente para o espelho "Mas isso não quer dizer que eu não seja daqui, porque eu nasci aqui. Entende?"


– Sim, mas... Mas eu me sinto um pouco... Afastada dos outros...


"Isso vai passar com o tempo. Eu prometo. Melhor ir dormir, antes que desmaie de sono."


Clara concordou, despindo-se e deitando-se na cama. Adormeceu quase que imediatamente, um sono repleto de sonhos alvos e sem pistas.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por terem lido e, espero que esteja sendo do seu agrado, monamour ♥ ~



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