KOURIN escrita por P Capuleto


Capítulo 6
Um herói... Pervertido


Notas iniciais do capítulo

Hoe! Como vão? Tô feliz demais por ainda ter leitores depois do abandono de mais de 100 dias! Esse período sem postar não tem nenhuma desculpa, eu simplesmente não sentia mais prazer em escrever (sim, triste). Mas depois de um ano sofrido no terceiro ano do ensino médio, finalmente sinto alegria em viver de novo! Então garanto que toda semana teremos capítulos novos. Se não for um regular, será um especial como o "Natal, com Nanami" onde cada um será narrado por um personagem diferente a escolha de vocês (então podem deixar nos reviews suas sugestões).
Voltando ao capítulo 6, estamos na continuação do anterior onde Kourin começa seu primeiro dia de aula em grande estilo salvando a pequena Yui de uma enorme confusão. A chibi parece ter se apegado a nossa heroína de forma nada convencional. Obrigada por lerem até aqui e espero que gostem!



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Ko... -san?

Era o meu nome que estavam chamando? Parecia tão distante... O que seria esse zumbido constante?

Kourin-san?

Sim, era comigo que falavam. Mas... De onde vinha essa voz? Estava tudo tão escuro...

Querida, não se preocupe. Ela deve estar dormindo ainda. Foi uma bela pancada. - A voz agora era outra, mais velha, mas ainda sim de mulher.

Finalmente entendo o motivo do breu: estou de olhos fechados. Tento abri-los, mas a tarefa é mais difícil que de costume e só depois de muito esforço, abro as pálpebras e deparo com uma luz branca incandescente.

– Ela acordou! Sente alguma dor, Kourin-san? - É a mesma voz de antes, mas dessa vez não estou cega ou desorientada então olho em sua direção.

– Kaede-san? – a garota que conheci no dia anterior. Ela estava apoiada na minha cama, com os olhos repletos de preocupação. Começo a me perguntar o motivo de eu estar numa enfermaria.

– Deixe-a descansar, mocinha. Você não tem aula agora? – virei-me para o outro lado de minha maca. Lá estava uma senhora de seus 50 anos, bastante acima do peso, usando um jaleco médico.

– Eu sou a presidente do grêmio estudantil, claro que sei quando as aulas acontecem. – ela usava um tom de voz autoritário e me perguntei se ela pensava ser superior àquela senhora que devia possuir um diploma de medicina.

– Pois então não se demore. Não quero tumulto por aqui. – a mulher parecia irritada, mas desaproximou-se de nós em silêncio.

– Kaede? - Ela voltou os olhos para mim quando pronunciei seu nome e abriu um enorme sorriso. O batom vermelho-sangue destacando-se dos dentes cor de marfim. – Por que eu estou aqui?

– Você foi acertada por um sapato. - franzi o cenho. Um sapato? Esperei por uma continuação, mas acho que ela não percebeu minha ânsia.

– Ok. – absorvo a informação antes de continuar – E quem foi que tacou um sapato em mim? - parece que vou ter que arrancar as palavras dela.

– Os dois possíveis culpados estão nesse momento falando com a diretora.

Espero ela acrescentar mais informações, mas quando percebo que isso não vai acontecer, continuo:

– E por que você ficou comigo enquanto eu dormia?

– Você é minha novata. Estou responsável por todos os alunos de casos especiais como transferência.

– Ah... Sim, sou uma transferida. - afirmei o óbvio - Já sabe minha história?

– Na verdade eu não deveria ter acesso a esse tipo de informação.

Vi sua pálpebra esquerda tremer um pouco por debaixo da maquiagem escura que acompanhava a linha dos olhos e senti que não, ela não deveria ter acesso, mas teve.

– Se sabe por que estou aqui, provavelmente me dará um sermão sobre os danos do cigarro a saúde. Estará perder seu tempo porque eu não fumo. Aquilo foi uma armação mal-feita mas bem sucedida.

Bufei como uma criança faria e esperei por uma réplica que não veio.

– Não ligo se não acreditar em mim. Eu vou fazer desses três anos de ensino médio os melhores da minha vida. Mesmo que os passe nessa escola maluca.

– Eu não disse que não acredito em você, Kourin-san.

– Você não parece ser do tipo que diz alguma coisa.

– Acho que não. – riu - Mas isso me dá maior liberdade para ouvir. Você gostaria de desabafar sobre algo?

De princípio, eu responderia negativamente devido a minha personalidade encrenqueira mas quando dei por mim, já estava falando – Eu fui vítima de uma sabotagem alguns dias atrás e por isso fui expulsa da escola. Para melhorar a situação, fui expulsa de casa também. Meus pais não acharam “conveniente” ser vítimas de boatos por minha culpa. Então estou morando com minha irmã mais velha, a Nanami. Não só com ela, a namorada dela também fica conosco. Acredita nisso? Ela saiu de casa para poder viver escondida com Haruka!

– Isso te incomoda de alguma forma? Amor entre pessoas do mesmo sexo?

– Elas não se amam. – declarei de forma ríspida.

– Por que diz isso?

– São duas mulheres. Não faz sentido.

– E se uma delas se vestisse como homem? Acha que isso mudaria alguma coisa?

– Tipo um traveco? – rio alto ao imaginar Haruka de bigode – Isso seria mascarar o problema, não resolver.

Ela mudou sua expressão de bondosa para fria e percebo o que eu fiz. Mesmo com todo o meu egoísmo, não gosto de magoar ninguém. Principalmente quando a pessoa que magoei tem sido tão gentil.

– Desculpe, Kaede-senpai. Eu não raciocinei antes de... – engoli em seco antes de perguntar - Você gosta de mulheres também?

Seu rosto suavizou e então ficou impossível de se ler. Parecia que muita informação passava naquela cabeça. Quando abri a boca para perguntar-lhe o que aconteceu, ela começou a falar.

– Kourin-san, não se lembra do que conversamos antes daquele sapato atingir sua nuca?

Esforço-me para voltar no tempo, mas a última coisa da qual me lembro é sair do carro de Haruka e ouvir um grito vindo de dentro dos jardins da escola. Sinto que segui o som, mas não visualizo a cena.

– Eu estava na entrada da escola quando te encontrei? – questiono.

Ela mastigou o lábio inferior e olhou para os lados, talvez buscando a enfermeira.

– Kourin-san, tem certeza de que não se lembra de mais nada?

– A-acho que não. – eu estava ficando realmente assustada. O que pode ter acontecido nessa conversa?

– Tudo bem. Acho que não faz sentido esconder de você, então vou falar tudo de uma vez. Tente acompanhar. – assenti engolindo em seco – Duas meninas estavam brigando no pátio principal, então eu intervi. Quando as coisas ficaram um pouco esquisitas, você pegou uma das garotas e correu com ela para o ginásio.

Ela parou de falar para pegar mais fôlego e eu lutava para manter o meu. Tudo o que Kaede contava se transformava em cenas na minha cabeça. Memórias.

– Então alguns minutos se passaram até que eu as visse novamente. Parece que Yui-chan se apegou mesmo a você.

Pensei mais profundamente e por fim lembrei. Yui no centro do semi-círculo formado por alunos, Kaede estendendo a mão para ajudá-la a sair da briga. E então ela solta sem escrúpulos:

“Você não acha que toda essa maquiagem apenas enfatiza o fato de você não ser uma mulher?”.

– Yui... Droga, essa menininha é louca! Ela não pensa nas consequências antes de dizer alguma coisa.

Vou mais fundo ainda e lembro de nossa conversa no corredor:

“Pode me chamar de Kyo”, Kaede disse com uma voz masculina, porém não muito grossa.

“V-v-você realmente é um homem??” eu estava em choque quando ouvi duas vozes ao meu lado.

“Cuidado!” e então um golpe na cabeça.

– Kourin-san? Você está escutando? - Kyo/Kaede parecia nervoso. Nervosa?

– Eu tenho que sair daqui. - tento me sentar, mas o mundo parece girar.

– A enfermeira disse que deve descansar antes de ir as aulas.

– Não. Você não entendeu. Tenho que sair daqui. Dessa escola. Eu não encaixo aqui. Não quero beijar uma mulher, não quero me fantasiar de homem!

– Perdão, mas a Academia Yatobi não tem o menor interesse converter os alunos. - ela/ele cruzou os braços em reprovação - Assim como você, muitos estudantes são héteros e vivem pacificamente com os demais.

– Não foi o que eu vi hoje. – provoquei.

– Por que quer tanto criar uma discórdia?

– O-o quê?!

– Não entendo seu comportamento. Parece que tudo é uma guerra para você.

– Você não sabe o que eu tenho passado...

– Não. Mas se me permitisse ser sua amiga, poderia me contar.

– Amigo. Você é um homem. E não quero mais amigos, já tenho uma que me basta.

– E onde está sua amiga agora? - perguntou ignorando todas as constatações sobre seu sexo.

– Na minha antiga escola. Onde eu deveria estar.

Kyo/Kaede pensou por alguns segundos.

– Você foi obrigada a estudar na Academia?

– Quase isso. Eu escolhi, de princípio. Mas quando soube que era uma escola gay, quis sair imediatamente. Minha irmã malvada não deixou e agora estou condenada a esse destino.

– Mas Yatobi não é uma escola gay. De onde tirou esta ideia absurda?

Arregalei os olhos.

– Você não pode estar falando sério. Os uniformes trocados, duas garotas brigando porque uma delas não estava segura sobre a opção sexual e, sem ofensas, uma presidente travesti!

– A Academia Yatobi se orgulha de acolher todos os tipos de jovens sem descriminações. É o espírito desde sua fundação. - do bolso do casaco, retira um celular. Após algumas digitações, me mostra a tela. É a página de entrada para o site da escola, aquele que usei no dia anterior. - Aqui no link "história", você fica sabendo de tudo sobre esse paraíso. Vou deixá-la lendo. Pode ficar com o telefone, me devolva mais tarde.

Dito isso, me entregou o aparelho e se dirigiu para a saída.

Eu ainda não estava com a menor vontade de ler sobre a escola, mas a cada minuto que se passava tudo parecia mais confuso então decidi que seria melhor acabar com isso logo. Cliquei no link indicado e esperei que carregasse.

"A Academia Yashimo Yatobi fundada pelos irmãos Uzui Yashimo e Uzui Yatobi (ler biografia dos fundadores) no dia 28 de junho de 1997, ganhou destaque dentre as demais instituições de ensino do estado por sua característica de acolher e tratar com igualdade alunos de diferentes classes econômicas e dotados dos mais variados históricos."

Históricos? Como histórico criminal? Kami-sama! Estou eu dividindo os corredores com psicopatas?!

"Em 2001, processos foram abertos contra a instituição sob a acusação de "imoralidade e disciplina duvidosa" por delatores anônimos, no entanto as queixas foram removidas antes mesmo de ir à tribunal devido a ausência de provas. No mesmo ano, descobriu-se se tratar de um esquema de sabotagem com intenções de fechamento da escola. Em setembro de 2002, jovens de diferentes partes do país realizavam suas matrículas em Y. Yatobi alegando sentir maior liberdade para fazer escolhas e isenção da pressão social japonesa (ler reportagens com alunos)."

Então o objetivo da escola era formar os rejeitados socialmente no ensino médio? Começo a rir, mas imediatamente me recordo de que sou um deles agora. Não tão como eles, mas ainda sim...

"Prêmios de literatura foram conquistados consecutivamente a cada ano por nossos alunos e a escultura dedicada aos irmãos fundadores garantiu ao clube de artes o primeiro lugar na Semana de Arte e Cerâmicas de 2005. O foco e o objetivo principal da Academia é a formação exemplar para o mundo. Seu lema é claro: 'Não julgueis e te surpreenderá' Uzui Yatobi"

Desci a página só para encontrar fotografias diversas tiradas ao longo dos anos. Fiquei alguns segundos admirando-as.

Ok... Confesso estar um pouco impressionada. Não pela colocação da escola em competições de criatividade, muito menos pelo lema bobo e clichê, mas de alguma forma me senti dentro desse contexto. Parte de mim se recusa a aceitar e ainda está na defensiva, mas por outro lado eu entendo o que é sentir a pressão da sociedade em seus ombros. Entendo o que é nunca ser boa o bastante. Nem para o mundo, nem para seus pais, nem para si mesmo.

Se eu fui expulsa de casa por supostamente estar fumando na escola, posso imaginar o quão pior deve ser para um viciado de fato. Conviver com a constante desaprovação daqueles que deveriam te amar acima de qualquer questão deve ser doloroso demais.

Não digo que concordo com o alcoolismo ou afins, mas rejeição é a última coisa que poderia ajudar nessas situações. Talvez a Academia Yatobi não seja tão absurda assim. Talvez seja a única esperança para alguns.

Lembro de como tenho importunado Nanami por sua opção sexual e me sinto extremamente envergonhada e arrependida. Ainda acho que toda essa história de homossexualismo não passa de um engano, mas ela parece feliz. E não é isso que se deve buscar na vida? Imediatamente, ouço a voz de minha mãe discordando de meus pensamentos: "Na vida devemos trabalhar para sermos os melhores, nos destacar com ações positivas e formar uma boa família. O país conta conosco para um futuro melhor." Sinto vontade de vomitar e a náusea me lembra da dor que sinto atrás da cabeça.

– Enfermeira..?

– Sim, querida. Quer alguma coisa? - ela surgiu com rapidez detrás de minha cortina separatória.

– Na verdade gostaria de saber quando poderei voltar para as aulas.

Ela sorri delicadamente mostrando as rugas em volta da boca.

– Quando se sentir bem para isso. - A resposta parecia confortavelmente certa e sorri de volta.

– Gostaria de ir agora.

X

A senhora me indicou a direção das salas que ficavam um andar acima. Durante o início do trajeto, sentia a cabeça latejando no local atingido, mas depois fui me acostumando e senti que poderia aguentar o resto do dia.

Ainda no térreo, passei pelo corredor da secretaria que já conhecia e vi a porta entreaberta. Prometi a mim mesma não xeretar, mas quando passei em frente a fresta ouço a voz fina e equivocada de Yui:

Eles atacaram a Kourin-senpai!

Chibihara-san, pela última vez: dirija-se a sua sala!– ouvi a supervisora-chefe pedir. Parecia impaciente.

Mas eu vi tudo, Mao-san!– continuou a pequena - Eu estava no fim do corredor quando aconteceu. Ouvi um grito e quando olhei para trás, aqueles dois estavam arremessando o sapato em direção a Kourin-senpai!

Olhei para os lados, não havia ninguém comigo do lado de fora. Poderia ouvir toda a conversa sem ser descoberta, então cheguei mais perto e espiei pela abertura. A mulher tinha o olhar cansado e batia com a ponta dos dedos em sua mesa de madeira. Yui estava de costas para mim, em pé.

Yumi... Esse é seu nome, certo?

Chibihara Yui.– respondeu com convicção.

Perdão. - ela suspirou - Yui-san, por mais crível que seja esta versão da história, ninguém além de você pode confirmá-la. Hakeshi-san, sua presidente, veio a mim pessoalmente informar do acidente e-

Não foi um acidente! É isso que estou tentando dizer! Se acha minha história acredível, por quê não suspende aqueles dois?

Não é acredível, é crível. - corrigiu - Eu disse isso apenas porque Sakuya-san e Touko-kun costumam estar envolvidos em problemas desde sua entrada em Yatobi, duas semanas atrás.

Duas semanas? Por quê essa escola voltou as aulas tão cedo? Já comecei o ano atrasada na matéria...

Eu já tive-os em minha sala hoje mesmo. Já estão avisados sobre uma possível punição. Apenas esqueça tudo isso e vá para sua sala, está bem?

Tudo bem...– respondeu enquanto se virava. Vi que Yui estava fazendo bico e me perguntei se sou tão infantil quanto ela quando faço minhas "pirraças".

Evitando dar sorte ao azar, já comecei a sair sorrateiramente de meu esconderijo. Passei rapidamente pelo corredor e me instalei aos pés de uma escada próxima. Observei quando a pequena tagarela seguiu em outra direção e suspirei aliviada. Nem acredito que ninguém me viu!

– Ei, você é a garota transferida né?

– Ah! - gritei em plenos pulmões produzindo eco em provavelmente todo o andar. Havia um garoto sentado dois degraus acima de mim e parecia mais assustado que eu.

– Puta que pariu! Corre! - e correu escada acima.

Fui deixada para trás em total choque e ineficiência. Sentia o palpitar acelerado das batidas cardíacas em meu peito e só me mexi quando ouvi passos vindo da secretaria.

Mao-san!

Levantei afobadamente e comecei a correr para cima também. Tropecei algumas vezes antes de pegar o ritmo e então continuei até o último andar antes do terraço. Minha respiração já estava desregrada com apenas dois lances. Cacete... Preciso de mais resistência física!

– Quem está aí? - gritou a supervisora que ainda me seguia.

Olhei para os lados ofegante. Nunca estive nessa parte do prédio, não sabia onde poderia me esconder. Quando já tinha perdido as esperanças, vejo uma luz. Uma luz que vinha do armário de materiais de limpeza.

– Psiu! Garota! - chamou - Entre aqui se quiser viver!

Atrás de mim, os passos se intensificavam, então não pensei duas vezes e segui a sugestão. Era ele novamente, o garoto das escadas e eu estava salva!

O ambiente era pequeno e cheirava a naftalina, mas parecia perfeito para um plano despistador. Assim que nos acomodamos, fizemos absoluto silêncio e esperamos os passos pesados porém ligeiros de Mao Aono.

Nenhum de nós dois disse nada até que o barulho de seus passos sumisse totalmente de nossas audições, indicando distância.

– Que aventura, huh? - cochichou.

– Eu chamaria de desventura... - Tudo estava escuro, mas pude sentir que ele sorria.

– Você é maluquinha hein... Que ideia foi essa de gritar daquele jeito?

– Como assim? Você me assustou! - acusei defendendo-me.

– Acho que sim, desculpe por isso.

– Ah... - eu não esperava que ele se desculpasse. Sempre espero o pior das pessoas, principalmente quando divergimos de opinião pois a maioria das minhas discussões acaba em brigas. - Claro, não tem problema...

O silêncio voltou e me dei conta do que estava acontecendo: eu, sozinha num armário com um garoto!

– A-acho que já podemos sair daqui. - gaguejei.

Ele deu um risinho breve - Tudo bem.

Quando abrimos as portas, senti o ar puro invadindo minhas narinas. Aproveitei o momento e só depois me permiti olhar em direção ao rapaz.

E, Kami-sama...

Rapaz nada! Era um homem!

Era alto como nunca havia visto antes fora em canais esportivos, atlético de certa forma mas não muito bombado, os cabelos eram de um castanho mais escuro que o meu e contrastavam com os olhos cor de mel. Mas o que dava todo o charme eram, por incrível que pareça, seus dentes. O sorriso que estava me lançando era tão sincero, porém tão sutil...

– Hoje é seu primeiro dia, certo? - perguntou de repente tirando-me de meus devaneios.

– Eu... - o que houve? Desde quando perco a fala por causa de um garoto? Não! Eu não seria uma menininha de shoujo que se derrete pelo primeiro cara bonito que conhece! Seja forte, Kourin! Forte! - Eu fui atingida por um sapato.

Ótimo. Sou uma incompetente.

– Sério? - ele riu mais alto mas mantendo a voz baixa de sempre desde saímos do esconderijo.

– Aham. E talvez eu já tenha que repetir de ano por causa das aulas perdidas.

– Não seja boba... Eu mato aula o tempo todo e nunca tirei nota vermelha. - garantiu ajeitando as calças abarrotadas.

Além de gato era inteligente.

– Estava matando aula quando nos encontramos? - enfim estava voltando ao normal. Nem acredito que quase não pude dialogar com ele alguns segundos atrás.

– Sim, mas juro que era por uma boa causa.

– Que seria..? - sorri pensando no que poderia justificar faltar as aulas regularmente.

Então ele saca o celular do bolso e me mostra a tela que estava em seu álbum de imagens da câmera. Fiquei boquiaberta.

– Isso é...?

– Sim! Calcinha! - ele passou o dedo pelo visor e mais uma foto apareceu. Depois outra. E mais uma. Eram milhares de calcinhas!

As fotos eram amadoras, algumas desfocadas, mas mostravam a mesma coisa: a parte de baixo da saia de diversas meninas!

– O que é tudo isso?! - gritei.

– Ora, já disse: calcinhas. - ele deus de ombros como se minha pergunta fosse trivial demais - Eu me dedico a sentar nas escadas apenas esperando um par de pernas passar e então tiro as fotos sem que elas percebam. Parece fácil, mas com o meu tamanho, ser discreto é algo que só se consegue treinando bastante.

Ainda estava confusa e perplexa, mas deixei que ele continuasse.

– Pela sua cara deve estar pensando que sou um pervertido, mas não faço nada com as fotos. Não posto na internet, não mando para meus amigos e muito menos tento ganhar dinheiro com a venda delas. E acredite, muitos pagariam por essas belezinhas.

Nisso eu acredito. No que não acredito é que meu príncipe maravilhoso do sorriso perfeito era um maluco tarado fotógrafo de calcinhas!

– Diga alguma coisa, estou ficando constrangido... - pediu baixando o telefone.

– Pois devia! - explodi - Como tem a audácia de fazer algo nojento como fotografar a intimidade das meninas da escola?!

– Falando desse jeito parece algo realmente ruim...

– Mas é ruim! Você é um pervertido e eu sou uma idiota por ter te achado lindo!

O que eu acabei de dizer?

– Não! Não foi isso que eu-

– Você me acha lindo? - perguntou se aproximando.

– Não! - eu não estava mais gritando, mas tentei manter a voz firme mesmo assim.

– Você está corando. Que gracinha - riu seu sorriso derretedor - Desculpe, eu achei que fosse gay como as outras meninas daqui. É difícil encontrar principalmente garotas hétero... Desculpe por mostrar-lhe calcinhas. E obrigado por me achar lindo.

– Eu não acho! E não se desculpe por me mostrar as fotos. Se desculpe por ter tirado as fotos!

– Posso saber seu nome, garota das escadas?

– Não ignore o que eu disse!

– Eu sou Hakeshi Asuma. Pode me chamar como quiser, mas nada de "senpai", por favor.

– Eu não vou te chamar de forma nenhuma! Nunca mais vamos nos falar! - declarei me afastando do maluco - Nunca!

Ele não respondeu e, apesar de não poder ver seu rosto, senti seu sorriso me queimando a nuca enquanto descia os degraus. Tentei acelerar o passo para me livrar dessa sensação e tropecei mais uma vez, no entanto não consegui me segurar como nas primeiras e caí fenomenalmente e fui rolando até a divisória para o próximo lance de escadas.

– Ai... - gemi.

– Caramba! Você tá legal? - ouvi ele perguntando e vindo em minha direção.

Quando se aproximou, pude ver seus sapatos brancos e... algo não estava certo. Ele estava de cabeça para baixo? Não. Eu estava. Mais especificamente, eu tinha o tronco e cabeça no chão, mas da cintura para baixo, estava estirada na parede, com as pernas para cima.

Antes que pudesse reagir, eu ouvi: Click.

– Garota da escada, - começou. A voz transmitia surpresa e alegria - essa é uma das melhores fotos em toda a minha carreira. Obrigado.


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Notas finais do capítulo

Comentem mais, galera! Eu não sou de mendigar reviews, mas eles ajudam bastante na hora de criar o próximo capítulo. Tem mais de 40 leitores e menos de 10 comentaristas. Não peço que comentem cada vírgula ou em todos os capítulos, claro. Mas se tiverem sugestões ou gostarem realmente de algo, eu ficaria feliz em ler. Obrigada e beijos!



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