KOURIN escrita por P Capuleto


Capítulo 10
Isso foi... Inesperado


Notas iniciais do capítulo

Hoe! E aí? Tô postando um pouco antes do necessário porque estarei viajando no carnaval e pretendo deixar esse e mais um capítulo na semana que vem (talvez quinta ou sexta-feira) para compensar. E outra coisa: estou super feliz com o crescimento no número de acompanhantes da fic! Foram 6 desde quinta-feira e agora fechamos o total de 50! Obrigada a você que está aqui desde sempre e sejam super bem-vindos, novos leitores!! Boa leitura!



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Encerrei a ligação antes mesmo de ouvir uma resposta de Nanami pois estava morrendo de vergonha. Eu nunca fui do tipo sentimental. Sempre fui a durona, a "rebelde". Meu pai é um papagaio que repete tudo o que minha mãe diz e os dois não passam de fantoches da sociedade, portanto, tive de impor alguma personalidade naquela casa cheia de regras e tabus.

Nanami não é tão diferente de mim e também se opunha às ordens quando éramos menores. Mas a medida que o tempo passou, pareceu ir reservando-se cada vez mais até eu pouco saber sobre o que ela pensava ou gostava.

E para ser sincera, ainda não sei quase nada.

Lembro de quando papai e mamãe fizeram uma festa no salão mais chique da cidade e convidaram praticamente todo o Japão apenas para celebrar o grande feito de Nanami, a perfeitinha: entrar numa faculdade. No entanto, sou incapaz de recordar o curso para o qual passou. Não faço ideia de que tipo de aulas frequenta nem se irá formar-se em breve.

Qual é sua cor favorita? Antigamente era azul... Será que mudou de ideia? Ainda gosta de doces coloridos? Por acaso continua chorando com especiais de natal?

Deito na cama novamente e sinto-me inútil. Como posso não saber coisas básicas sobre minha própria irmã?

A porta se abre lentamente e Haruka poe a cabeça para dentro.

– Olha só, você sabe abrir portas com delicadeza. Quem diria! - ela fita meus olhos e percebo que está sem as lentes escuras.

– Você realmente não sabe a hora de ficar calada não é? - então me deu as costas antes de continuar - Tem umas pessoas na sala te procurando.

– Pessoas? Que pessoas? - ela não respondeu e foi embora. Ajeitei a saia e o cabelo antes de sair também.

Assim que começo a descer, identifico quem está sentado no sofá: Asuma e Kyo. Isso já está virando perseguição...

– O que estão fazendo aqui? E como sabem onde eu moro? - questiono assim que chego ao térreo.

– Naruma-san! - a Presidente levanta cordialmente e me dá um abraço - Perdão pelo modo com estamos invadindo sua privacidade, mas é que...

– Kourin-chan! Como você está? - o outro levantou também e então me agarrou.

– M-me solta! - gritei tentando me libertar de seus enormes braços.

– Naruma-san, deixe-me explicar o que está acontecendo.

– Kyo, pode me chamar de Kourin. Já disse isso. - ele pareceu pensativo por um momento e então sorriu.

– Só se você se referir a mim com Kaede quando eu estiver vestido como tal.

Olhei rapidamente para Asuma, que finalmente me soltou. Será que essa visita tinha algo a ver com a conversa que tivemos antes da escola?

– C-claro. Eu fico até aliviada de saber como devo te chamar. Fico confusa as vezes...

Kaede riu e não parecia ter ficado ofendida.

– Não acho que você verá muitas vezes meu outro eu, portanto, será bem simples.

– Tudo bem então. - sorri. Acho que me saí bem.

– Agora permita-me deixar claro o motivo de estarmos aqui. - os dois se sentaram novamente mas eu continuei de pé - Na reunião vespertina do conselho, consegui permissão para ajudar com o atraso de matérias existente devido a sua transferência. Isto é, caso ache necessário, posso conseguir alunos do segundo ano para auxiliá-la nos estudos pelo menos nesse momento de adaptação. Assim, poderá acompanhar as aulas com melhor aproveitamento e não será prejudicada nas provas do período.

– Oh... - aquilo realmente poderia ser útil. Eu estava atrasada afinal.

– Devíamos ter discutido isso durante o intervalo de almoço, mas infelizmente não pude encontrá-la. E no resto do dia tive aulas assim como você, então achei melhor não correr o risco e vir hoje até sua casa.

– Apesar de saber que é pertinho da gente, não tínhamos maiores informações sobre onde exatamente você morava. Como Kyo não queria roubar seu arquivo, então eu mesmo fiz isso. - declarou o mais velho enquanto punha as mãos atrás da cabeça num gesto relaxado.

– É. - Kaede parecia irritada - Eu ia chegar nesse ponto. Meu irmão realmente roubou seu arquivo da diretoria quando eu não estava olhando. Peço desculpas por isso...

– Não é como se eu estivesse surpresa com esse comportamento vindo dele. - disse sem delongas.

– Ei! Você roubou meu celular aquele dia. - ele sorriu e cruzou os braços em frente ao peito - Também posso roubar o que é seu.

– Essa é a sua lógica?

– É sim.

– Onii-chan, - ela se meteu entre nós - será que não podemos ser amigáveis com Kourin-san? Estamos em sua casa. Respeitemos.

Vencedora, pus a língua para fora, provocando. Asuma viu e me lançou um olhar que dizia "vai ter volta".

– Kourin, - Haruka surgiu do topo das escadas - vou ter que ir na loja outra vez. Parece que estamos com problemas no estoque. Nanami deu ordens para que a vigiasse até a hora de dormir, mas não sei quando volto então apenas esteja deitada antes dela chegar.

Nós três observamos enquanto ela passava rapidamente do segundo andar para a cozinha e da cozinha para a porta de entrada. Agora seus olhos não estavam mais azuis.

Assim que ouvi a partida do carro, fiquei um pouco inquieta. Ok, parece besteira, mas eu nunca fiquei sozinha com garotos em casa (mesmo que um deles esteja vestido de mulher), e com certeza eu não sabia o que esperar.

– Kourin? - a Presidente me chamou - O que acha da proposta? Gostaria de ter ajuda com a matéria atrasada?

– Ah... Sim. Acho que sim. - minha voz saiu mais baixa do que eu queria.

– Bom, então não há mais motivos para perturbá-la em sua própria casa. - ela se levantou e me abraçou outra vez - Essa que saiu... Seria a Haruka-san? A da história que me contou na enfermaria?

No dia do acidente com o sapato, Kaede ficou ao meu lado até que eu acordasse e acabei contando a ela o motivo de eu estar em Yatobi e também que estava vivendo com minha irmã e sua namorada.

– Sim, é ela. Nanami, minha irmã, está na faculdade nesse momento então ela fica responsável por mim. - pensei melhor - Bom... Mais ou menos.

– E já está se dando com as duas?

– Eu me dou bem com Nanami. Haruka sim é o problema.

– Olha, - o outro entrou na conversa - eu não sei qual é o problema, mas me candidato a resolver qualquer um que aquela mulher possa ter. Vocês viram que bunda maravilhosa?

Incrédula, arregalo os olhos e apenas observo enquanto Kaede acerta a bolsa com toda a força na cabeça do irmão, que gemeu de dor.

– Nossa, Kyo! Pra que isso? - ele esfregava o local atingido.

– Você é um troglodita? Peça desculpas a nossa anfitriã!

– Foi mal, Kourin... Não achei que fosse se importar. Não é sua irmã, certo?

– Não é esse o problema! Sinceramente... - ela pôs as mãos sobre os olhos e suspirou.

– Ok... - eu disse por fim - Preciso de água.

Fui andando até a geladeira e só então soltei o ar que estava prendendo desde o momento em que saí de lá.

Passei a vida estudando com meninos e meninas e sei o quanto eles podem ser imaturos, mas meu contato com caras mais velhos se resumia a Asuma e não estou nem um pouco impressionada. Para ser franca, parece que estou lidando com alguém da minha idade ou mais novo.

– Kourin-chan?

– O que foi? - respondi ao chamado com uma voz que expressava total desânimo e impaciência, mas assim que virei para olhar em sua direção, me arrependi de ter soado tão má. Ele estava apoiado na bancada em frente ao portal com uma das mãos agarrada ao outro braço, cabisbaixo e a boca numa linha reta e triste. Maldição... Estava adorável.

– Aquilo foi uma brincadeira. Não esperava que ficasse tão chateada. Me perdoa? - e então levantou os olhos sem mover a cabeça. Parecia um cachorrinho.

Suspirei.

– Eu não fiquei chateada. É só que... Bom, acho que não estou acostumada a esse tipo de comportamento. Não estou acostumada a meninos de forma alguma...

A última frase não era para ter sido verbalizada, mas quando percebi, já estava dito. Senti a garganta ficando quente e não quis dar tempo para ele responder.

– Vocês já estão saindo não é? - perguntei talvez alto demais.

– Aham. Kyo tem coisas a resolver ainda. Eu estou de bobeira e resolvi acompanhá-lo.

– Não quero atrapalhar os compromissos importantes da Presidente. Vou levá-los a porta. - disse e parti para a sala sem olhar para ele. - Kaede-san, obrigada pelo esforço que está fazendo por mim. Adoraria ter uma ajudinha.

– Ah, Kourin-san, por favor. É um prazer. Se não fosse a falta de tempo livre, poderia eu mesma dar aulas de reforço, já que estou no segundo ano.

Dito isso, nos despedimos e ela chamou pelo irmão que ainda estava na cozinha.

– Kourin-chan, como você era bonitinha! Kyo, olha o que achei na geladeira. - ele veio até nós trazendo uma fotografia antiga que Nanami fazia questão de deixar exposta com vários imãs decorativos.

– Pare de mexer nas coisas! - eu tentei parecer zangada, mas percebi que estava sorrindo. Nunca havia realmente olhado para a imagem e ela era muito nostálgica.

– Essa é você? - perguntou ela apontando para a criança de mais ou menos 10 anos que usava botas de chuva cor de rosa e trancinhas.

– Sou. Nossa... Eu lembro desse dia. - peguei a foto para ver melhor.

– Você tem duas irmãs? - ele se referia a segunda criança ao meu lado que também usava botas de chuva, mas de cor avermelhada e tinha cabelos curtinhos e soltos. Os óculos desta estavam cheios de gotículas de água.

– Não, essa é minha melhor amiga. Yuka. Estávamos passando as férias na casa de vovó nas montanhas. Nesse dia, Nanami, ela e eu resolvemos acordar bem cedo e explorar os bosques, mas estava chovendo um pouco então fomos equipadas. - por um momento senti o peso das saudades de Yu-chan, mas logo depois, ri lembrando de meu avô repetindo o quanto capas de chuva eram importantes para manter a boa saúde e quantas vidas uma bota de borracha já salvou. Velhote maluco...

– Uau! Sua irmã é um clone seu! - Asuma tirou a imagem de minhas mãos e olhou mais de perto - Ela tinha a idade que você tem agora, não é?

– Deixe a gente ver! - pediu Kaede sorrindo também - A semelhança é realmente incrível. Eu e onii-chan não somos nada parecidos.

– Ainda bem, né, Presidente? - sorri mais ainda - Imagina ter essa cara de pateta?

– Exatamente. Eu agradeço aos céus todos os dias por isso. - ela complementou minha provocação.

– Ei! Eu tenho sentimentos, tá? - o outro protestou e todos caímos na gargalhada.

X

Não me pergunte como isso aconteceu, mas quando dei por mim, a sala estava escura e tive de acender as luzes, o que significava que estava anoitecendo e que eu havia passado quase duas horas conversando e me divertindo com os irmãos Hakeshi.

– Meu deus, que horas são? - o mais novo se levantou de repente e foi checar o celular. - Asu-nii, acho que temos que ir.

– Muitos compromissos da escola? - perguntei.

– Na verdade sim. O tempo voou rápido demais. - ela ajeitou as meias que estavam emboladas abaixo do joelho.

– Foi divertido hein, baixinha?

– Pode me chamar pelo meu nome por favor?

Ele riu apenas.

– Nos vemos na escola amanhã, Kourin-san. - Kaede pegou suas coisas, se dirigiu à entrada para calçar os sapatos e Asuma fez o mesmo.

Eu estava pronta para por a chave na fechadura quando vi a maçaneta sendo girada pelo lado de fora. Era Haruka que voltava da rua e quase tropeçou em nós ao passar pela porta.

– Olá. - ela trazia uma enorme caixa de papelão e passou a passos curtos até o centro da sala. Devia estar bem pesado. - Vocês não tem aula amanhã? Melhor irem pra casa antes que anoiteça.

– Desculpe, não sei o seu nome completo... - Kyo parecia um pouco constrangido - Mas estávamos de saída agora, senhorita.

– Meu sobrenome é Gray, então pode me chamar pelo primeiro nome mesmo: Haruka. - ela largou a caixa sem cuidado no chão e suspirou coçando o pescoço. - Precisam de carona?

– Gurey... - pronunciei baixinho.

– Gu-rey. - ouvi Asuma repetir tentando soar estrangeiro. Ri daquela tentativa frustrada.

– Nós moramos a poucas quadras daqui, Gray-san. - nós duas reparamos na perfeição na pronúncia de Kaede. Asuma pareceu nem notar - Não é necessário, mas muito obrigada.

– Espere. - pediu Haruka e olhou para o mais velho enquanto apontava para a caixa. - Será que você pode me ajudar com essas belezinhas? Estão no carro estacionado aí em frente.

– Claro. - e sorriu educadamente. Desconfiei de suas intenções e apenas para garantir que ele não desse uma de engraçadinho, fui na frente. Os demais, menos a Presidente que disse que tinha de ligar para o pai e avisar sobre o paradeiro dos dois, vieram logo atrás.

– Tem algumas no porta-malas e outras no banco de passageiro. - declarou.

– O que é tudo isso, Haruka? - perguntei.

– Parte do estoque da loja. O depósito está repleto de mofo e eu estou louca para demitir a pessoa que deixou chegar naquele estado!

– Você é dona? - perguntou Asuma ao pegar duas caixas de uma vez.

– Acabei herdando do velhote no ano passado. Ele não tinha filhos e me considerava quase como uma neta. Imagine a surpresa quando seu advogado veio até minha casa avisar que a partir daquele dia era eu quem mandava.

– E o que exatamente vocês vendem?

– Roupas em geral, mas temos a maior coleção de estilos da cidade. Não importa o que o cliente procure, nós vendemos. - ela parecia orgulhosa de seu pequeno merchan. - Por quê você não pega alguma coisa mais leve, pirralha? Veja com a Anne-chan no banco de carona.

– Anne-chan? - fiquei confusa e olhei melhor para dentro do carro.

Assustei-me ao constar que sim, havia uma pessoa no banco da frente ao lado do de motorista. Mas ela não parecia ter nos notado e estava de cabeça baixa e seus cabelos loiros e longos tapavam toda a visão que eu poderia ter de seu rosto.

Dei a volta no veículo e bati de leve no vidro. Anne não se virou nem demonstrou tomar conhecimento de minha presença. Bufei quando notei que usava fones de ouvido e por isso apenas abri a porta de trás e comecei a procurar por caixas menores para carregar.

Ao depositar a mercadoria no chão em frente ao sofá, resolvi matar a curiosidade:

– Quem é essa?

– Anne? É a nova gerente da sessão 3 e foi quem me ligou mais cedo avisando do problema. Quando cheguei lá, ela estava limpando tudo e permaneceu na função até agora.

– Isso explica ela estar dormindo...

– Dormindo? Coitada... Tenho de levá-la para casa logo. Ande, vamos esvaziar o carro o mais rápido possível.

– Eu posso ajudar agora. - Kaede saiu da cozinha e nos seguiu até o portão.

– Você pode pegar apenas as mais leves junto comigo. - avisei - Estão no passageiro.

Peguei mais uma caixa e dei espaço para ela poder escolher também. Assim que se inclinou e pôs a cabeça para dentro, deu um grito e cambaleou para trás até cair sentada no asfalto. Devido ao movimento extremamente brusco, a peruca bem arrumada caiu ao seu lado, deixando exposta sua cabeleira original. Asuma e Haruka, que estavam quase em casa, voltaram correndo e eu fiquei sem reação.

– O que houve?! - perguntou Haruka olhando para todos os lados.

Em resposta, Kyo apenas abriu a boca trêmula e apontou vagarosamente em direção ao carro. A expressão de espanto estampada em sua face.

Quando olhei para trás, a porta da frente estava se abrindo e Anne tirava os fones das orelhas enquanto se punha de pé ao lado de fora. Agora que podia vê-la melhor, perdi o fôlego: ela era a mulher mais bonita que eu já tinha visto em toda a minha vida.

Ouvi Asuma largando uma caixa no chão, o que me tirou um pouco do transe.

– Isso é... Inesperado. - ele disse.

Mas inesperado mesmo foi quando Kyo finalmente saiu do estado de choque e sussurrou:

– Mary Anne... Eu te encontrei.


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Notas finais do capítulo

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