Além Da Escuridão escrita por HawthorneMark


Capítulo 9
Capítulo 9 - Zona Morta


Notas iniciais do capítulo

Novamente alguns eventos aconteceram e me impediram de postar o capitulo. Dessas vez eu não demorei tanto assim pra postar, mas eu gostaria de ter postado ele bem antes, então me perdoem por isso. Esse capítulo saiu um pouco mais longo do que os que eu costumo postar por aqui, mas eu o fiz com todo carinho e espero que gostem!!



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O sol dava indícios de que estava nascendo. Luzes avermelhadas cruzavam a escuridão do céu e lentamente ele surgia entre as nuvens escuras da noite. Gale abriu os olhos vagarosamente, sua visão estava completamente embaçada. Ele levou as mãos aos olhos e os esfregou e sua visão foi voltando ao normal.
— Hora de acordar, meninos!
A voz de Alicia tirou Gale do torpor em que estava. Seu corpo estava completamente lento e isso era péssimo, pois não podia se dar ao luxo de se desligar completamente assim em um lugar onde o perigo estava a espreita a cada canto.
— Você deveria ter me acordado, Alicia. - Gale disse, se levantando rapidamente, batendo a poeira e grama que havia grudado na sua roupa.
— Me desculpe Gale, mas é que você parecia estar em um sono tão gostoso, eu queria deixa-lo descansar um pouco depois de tudo o que passamos.
Gale deixou escapar um sorriso no canto dos lábios e a ficou encarando por alguns momentos. Alicia também sustentou o olhar e esboçou um sorriso em resposta ao dele. Dimas então levantou e ficou encarando os dois, alternando o olhar entre Gale e Alicia.
— Perdi alguma coisa enquanto estive dormindo? - Ele perguntou, arqueando uma das sobrancelhas.
— Não, não perdeu nada não! - Disse Alicia em um to ríspido, cortando qualquer tentativa de continuar o assunto. - Só vamos dar o fora daqui logo, quero encontrar meu irmão e os meus outros companheiros de equipe.
— Não vamos comer nada? - Perguntou professor Dimas, levando as duas mãos até a barriga e a apertando. - Meu estômago está doendo, preciso comer alguma coisa.
— Você não consegue esperar até chegarmos na cidade, professor? - Perguntou Gale, encarando o Professor. - Podemos encontrar alguma coisa que de pra comer por lá.
— Me desculpe Capitão Hawthorne, mas temo que eu não consiga ir muito mais longe sem nada pra sustentar meu corpo.
Gale suspirou e então cedeu a vontade do professor. Ele, mais do que Alicia, queria encontrar a sua equipe e tira-los dali ilesos e quanto mais tempo demorassem para encontra-los, maior as chances de serem mortos por uma das armadilhas dos Jogos da Morte. Sem perder tempo, Gale ordenou que Alicia fosse com o professor em busca de frutas comestíveis e os lembrou de tomar cuidado quais frutas colocavam na boca, pois poderiam ser venenosas.
— Não se preocupe capitão. - Disse Dimas. - Conheço bastante a fauna e flora desse continente, vamos achar algumas frutas bem gostosas para comer.
Gale assentiu com a cabeça e disse.
— Enquanto vocês procuram alimento, eu irei dar uma olhada no nosso caminho e verificar de longe pra ver se acho alguma movimentação na cidade!
Alicia e Dimas concordaram com um breve aceno da cabeça e seguiram floresta adentro.

* * *

— Como o senhor conhece tanto desse povo? - Alicia perguntou, girando o cabo da sua faca na mão e vasculhando com o olhar pra ver se encontrava alguma fruta.
O Professor Dimas soltou uma risada baixa e então respondeu com certo desdém.
— Passei a minha vida toda estudando na capital, sempre estudando, nunca parei por um segundo. O governo permitia que eu tivesse acesso a livros históricos, que eu estudasse os costumes de outras civilizações que existiram antes da grande Guerra. - Ele sorriu para Alicia e apontou para algo que estava logo acima em uma árvore. - Olha, aquilo são bananas?
Alicia olhou para onde ele apontava e realmente tinham achado algumas bananas. As bananeiras eram baixas e as bananas estavam amarelas como gema de ovos. Estavam prontas para sempre consumidas.
— O governo permitiu que o senhor vivesse em paz sabendo de tanta informação sobre coisas de antes da guerra ? - Perguntou Alicia, indo em direção a bananeira e colhendo o caxo de bananas. - Quero dizer, era proibido que as pessoas obtivessem tantas informações assim, o governo se sentia ameaçado por pessoas com muitas informações.
— Snow me mantinha sob vigilância e constantes ameaças. - Respondeu professor Dimas ficando com a feição obscura de repente, como se algo o perturbasse.
— Me desculpe se estou tocando em algum assunto que o senhor não gosta. - Alicia disse, pegando uma banana do caxo e entregando pro professor.
Ele sorriu timidamente, pegou a banana, descascou-a e deu uma mordida e gemeu de alivio enquanto mastigava a fruta.
— Não precisa se desculpar, Alicia. - Ele disse. - É que isso me trás velhas lembranças de que eu não gosto de ficar pensando muito, não gosto de pensar que muitas vidas se perderam em projetos meus!
Alicia o parou de caminhar e arqueou as sobrancelhas.
— Como assim? O que o senhor quer dizer com muitas vidas se perderam em seus projetos?
Dimas abaixou a cabeça, como se estivesse profundamente envergonhado de encarar Alicia. Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos até que ele enfim respondeu a pergunta dela.
— Lembra o clima de trópico daquela arena que a Katniss Everdeen destruiu ao lançar a flecha eletrificada contra o campo de força? Então, eu desenvolvi o clima e o habitat daquela arena.
Alicia se colocou no lugar do professor. Se tivesse todo aquele conhecimento, sendo obrigada a trabalhar para a capital, sendo obrigada a desenvolver uma arena ao qual seria o palco de um terrível massacre quaternário, ela também se sentiria da mesma forma como ele se sentia agora. Ela apenas concordou com a cabeça e então disse.
— Essas bananas estão boas, vamos voltar para junto do Capitão, comer e seguir o nosso caminho.
O professor Dimas concordou com um aceno rápido da cabeça e então os dois começaram a andar de volta para onde o capitão estaria esperando-os.

* * *

— Conseguiu avistar alguma coisa suspeita? - Perguntou o Professor Dimas lançando uma banana para Gale.
Ele a pegou no ar, descascou-a e deu uma enorme mordida na fruta, mastigando-a com vontade.
— Nada suspeito!. - Ele respondeu assim que terminou de comer a banana. - Parecia não ter movimento nenhum naquela parte, mas eu sei que assim que colocarmos os nossos pés lá, algo de ruim vai acontecer.
— Não tenha dúvida disso. - Disse Alicia, jogando a casca de uma banana pra trás e começando a pegar outra pra comer.
— Temos que nos preparar ...- Começou a dizer o professor Dimas, mas ele foi interrompido por um barulho de explosão tão alto e tão forte, que chegou a estremecer o chão sob os pés deles.
— O que foi isso? - Alicia perguntou, olhando para Gale, que deu de ombros sem saber a reposta.
— Parece que vem das profundezas da floresta. - Foi a única coisa que Gale disse antes que outro barulho de explosão e o chão se mexesse com mais força.
De repente as árvores começaram a cair e então outro barulho de explosão, dessa vez mais perto e um cheiro de queimado subiu. Há vinte metros de distância de onde eles estavam, as árvores estavam em chamas. Enormes labaredas de fogo consumiam as árvores em questão de segundos, tornando-as apenas pó preto na relva. Gale olhou para os lados e as chamas estavam querendo alcança-los de qualquer forma, destruindo tudo ao redor deles.
— Temos que sair daqui, AGORA!- O capitão gritou.
Antes que dessem conta, já estavam todos correndo em direção a cidade. O fogo aumentava e as explosões também, fazendo com que eles perdessem o equilíbrio na hora de correr. Gale o tempo todo corria e olhava pra trás pra ver se todos continuavam a correr e para ver a que distância o fogo estava.
— Estamos muito longe da cidade? - Alicia gritou sem diminuir o ritmo da corrida.
— Não muito! - Gale gritou de volta.
O professor Dimas estava completamente ofegante e suas pernas queimavam e parecia que ele iria perder o controle delas a qualquer momento. Seus pulmões ardiam e estava ficando cada vez mais difícil de respirar. Gale olhou para trás de novo e percebeu que o professor não conseguiria.
— Vamos lá professor! - Ele gritou, correndo em direção a Dimas e passando um dos braços dele por cima dos seus ombros para ajuda-lo a correr. - O senhor consegue, não podemos perde-lo.
O calor estava insuportável. Gale sentia como se estivesse dentro de alguma grande fornalha e fosse morrer queimado a qualquer segundo. Mesmo ajudando o professor Dimas a correr, as chamas agora estavam quase pegando eles. Alicia fez o mesmo que Gale, ela correu até os dois e o ajudou a carregara o professor.
— Ali na frente, eu consigo ver onde termina a floresta! - Alicia gritou.
— Vamos lá professor, use o seu último fôlego, você consegue! - Gale disse, tentando dar forças ao amigo.
Eles correram e usaram todas suas forças que restavam para salvar as próprias vidas. Gale agarrou o professor juntamente com Alicia e ambos usaram todas as forças para percorrer os poucos metros que faltavam. Pareciam intermináveis. Gale começava a sentir seus braços perderem as forças e suas pernas queimavam como se as próprias chamas estivessem subindo por elas. Alicia gemia de dor, ela parecia prestes a ceder também.
"ISOLANDO A ÁREA, ISOLANDO A ÁREA" Soou a voz computadorizada pela floresta em chamas. A voz estava alta e clara, como se estivesse sendo transmitida por megafones.
A voz tirou Gale do torpor e fez ele perceber a tempo o que estava acontecendo, mesmo sem ter entendido o que ela dizia. No limite da floresta, uma espécie de campo de força azulado descia em direção ao chão. Se aquele campo de força chegasse ao chão, todos estariam mortos, pois não teria para onde correr, ficariam presos na floresta e morreriam queimados. Alicia seguiu o olhar dele e também percebeu o que estava acontecendo.
— Não vamos conseguir! - Ela disse para o capitão
— Nós vamos! - Ele respondeu.
Gale pegou o professor no colo. Usou toda força que lhe restava e então saiu correndo com ele nos braços. A fumaça tomava conta de tudo agora, estava começando a ficar difícil de enxergar e de respirar. O campo de força azul parecia descer mais rápido, como se quisesse tranca-los la dentro. Estavam quase perto do limite da floresta quando foram pegos de surpresa por uma última explosão. Gale só sentiu o calor na nuca e então seus pés saíram do chão e a força da explosão fez com que ele fosse arremessado pra frente.


O campo de força chegou ao chão sem emitir um ruído sequer e tremeluziu, emitindo uma luz azul forte por toda a extensão dele, até sumir de vista.
" ÁREA DA FLORESTA FOI ISOLADA, BEM VINDOS A ZONA MORTA "
O corpo inteiro de Gale estava doendo. Sua nuca ardia por conta do fogo que o alcançou durante a explosão. Lentamente e com bastante dificuldade ele foi se levantando do chão. Ele olhou ao redor a procura dos amigos. Dimas e Alicia estavam caídos no chão de concreto da cidade. Gale olhou pra trás, para o campo e para a floresta. Eles tinham conseguido passar.
— Capitão, você está bem? - A voz de Alicia soou por detrás dele.
Ela apoiou a mão no ombro de Gale e o apertou , como se estivesse confortando-o. Os dois ficaram olhando para a floresta em chamas, quando avistaram duas figuras correndo de encontro ao campo de força. Nicholas e Nissa estavam desesperados, o fogo consumia suas peles. Eles gritavam e batiam com as mãos contra o campo de força enquanto o fogo acabava com suas vidas ali mesmo.
— Meu Deus. - Disse Alicia, boquiaberta com o que estava vendo.
— É isso que acontece nesses jogos. - Disse Gale em um tom sombrio, sem conseguir tirar os olhos dos dois. - Você morre da forma mais cruel que existem para que os outros se divirtam enquanto assistem.
Alicia então desviou o olhar e Gale fez o mesmo. Ambos foram em direção ao professor Dimas e ajudaram o homem a se levantar. Ele estava pálido e tremia da cabeça aos pés.
— O senhor está bem, professor? - Gale quis saber.
— Não, mas vou ficar! - Ele disse, engolindo em seco e olhando para a mesma cena que Alicia e o Capitão estavam olhando segundos antes. - Obrigado por ter me salvado, Capitão, se não fosse pelo senhor, eu estaria na mesma situação que a deles.
— Não precisa agradecer, professor!
Alicia se adiantou, sem dar tempo para o professor se recuprar e o questionou.
— O que a voz computadorizada disse?
— Ela disse que a Área da floresta foi isolada e nos deu as boas vindas a Zona Morta. - Respondeu Dimas.
— Zona morta? - Ela perguntou e olhou para Gale.
O capitão sustentou o olhar dela por um instante e então disse.
— Seja lá o que isso quer dizer, não me parece boa coisa.
Gale pegou sua faca e deixou-a na mão. Ele sentia que a partir desse momento, uma simples faca não os ajudaria em nada. Ele sentia que o perigo que estavam prestes a enfrentar demandaria mais do que simples facas. Gale olhou para os prédios logo a frente deles e apontou para o mais próximo, cuja entrada eram duas portas de vidro azul que estavam intactas.
— Vamos pra lá procurar armas. - Ele disse, segurando com força de mais o cabo da faca. - Não vamos conseguir sobreviver usando facas.
Quando todos começaram a andar em direção ao prédio que Gale havia apontado, um cheiro pútrido tomou conta do ar. Era cheiro de carne podre, de coisa morta. Alicia imediatamente levou as mãos contra o resto, trapando o nariz e a boca. Dimas fez o mesmo. Gale sentiu seu estômago revirar e olhou ao redor pra ver se identificava de onde estaria vindo o cheiro.
— Gale ... - Disse Alicia, apontando á direita deles.
Haviam várias pessoas andando em direção ao grupo deles. Elas andavam de uma forma estranha, quase como se tivessem se arrastando.
— Que porra é aquela ? - Gale Disse, andando em direção as pessoas.
— Não capitão! - Disse o professor Dimas indo até Gale e segurando seu ombro, impedindo-o de continuar. - Se forem participantes dos jogos eles vão nos matar.
Gale estava estarrecido. Mais e mais pessoas acompanhavam a orda. O cheiro pútrido parecia vir daquela direção.
— Não creio que sejam participantes dos jogos, professor. - O capitão respondeu quase sussurrando.
Ele continuou então andando em direção aquelas pessoas e então parou de repente, sentindo o estômago revirar e o coração acelerar. Eram monstros. A pele daquelas pessoas estavam enrugadas e podres, com feridas purulentas, mordidas nos pescoços, braços, rostos. Algumas delas não tinham o nariz, eram apenas dois buracos no lugar. Elas rosnavam e emitiam ruídos estranhos. Uma das criaturas levantou a cabeça e o avistou. Por um segundo o monstro farejou o ar e soltou um grunhido alto e todas as criaturas levaram os olhares para Gale. Em menos de uma fração de segundo os monstros começaram a correr em direção ao capitão.
— GALE! - Alicia gritou querendo correr em direção dele.
— VAI, CORRAM PRA DENTRO DO PRÉDIO! - Ele disse, apontando para que Alicia e Dimas corressem o mais rápido que pudessem.
Gale correu o mais rápido que pode, mesmo que todas suas forças tivessem se esgotados na corrida da floresta. A adrenalina tomou conta de todo o seu corpo, e ele foi em direção as portas azuis do prédio. As criaturas corriam, gritavam, grunhiam atrás dele.

O sol dava sinais de que estava nascendo, com luzes avermelhadas cortando a escuridão do céu enquanto ele emergia lentamente entre as nuvens noturnas. Gale abriu os olhos lentamente, percebendo que sua visão estava totalmente embaçada. Ele levou as mãos aos olhos, esfregou-os, e sua visão gradualmente voltou ao normal.

— Hora de acordar, pessoal! - A voz de Alicia despertou Gale do torpor. Seu corpo estava pesado, e ele sabia que não podia se dar ao luxo de ficar desatento em um lugar onde o perigo espreitava a cada esquina.

— Deveria ter me acordado, Alicia. - Gale disse, levantando-se rapidamente e sacudindo a poeira e grama de suas roupas.

— Desculpe, Gale. Você parecia estar em um sono tão tranquilo, eu queria deixá-lo descansar um pouco depois de tudo o que passamos. - Alicia respondeu com um sorriso.

Um sorriso se formou nos lábios de Gale enquanto a encarava por alguns momentos. Alicia retribuiu o olhar com um sorriso. Dimas levantou-se e observou os dois, alternando o olhar entre Gale e Alicia.

— Perdi alguma coisa enquanto estava dormindo? - Ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.

— Não, não perdeu nada! - Disse Alicia, cortando qualquer tentativa de continuar o assunto. - Vamos sair daqui logo, quero encontrar meu irmão e os outros membros da equipe.

— Não vamos comer nada? - Perguntou o Professor Dimas, segurando a barriga. - Meu estômago está doendo, preciso comer algo.

— Você não pode esperar até chegarmos à cidade, Professor? - Gale sugeriu. - Podemos encontrar algo para comer lá.

— Desculpe, Capitão Hawthorne, mas temo que não consiga ir muito mais longe sem algo para sustentar meu corpo. - Dimas respondeu.

Gale suspirou e cedeu ao pedido do professor. Ele queria encontrar sua equipe o mais rápido possível, pois quanto mais demorassem, maior seria o risco de caírem nas armadilhas dos Jogos da Morte. Sem perder tempo, Gale instruiu Alicia e Dimas a procurarem frutas comestíveis, lembrando-os de terem cuidado ao escolher o que comer, já que algumas frutas poderiam ser venenosas.

— Não se preocupe, capitão. - Disse Dimas. - Conheço bem a fauna e flora desta região; vamos encontrar algumas frutas deliciosas.

Gale assentiu com a cabeça e disse:

— Enquanto procuram alimentos, eu darei uma olhada no nosso caminho e verificarei de longe se há alguma movimentação na cidade!

Alicia e Dimas concordaram com um breve aceno de cabeça e adentraram a floresta.

                                                                 *          *           *

— Como o senhor conhece tanto desse povo? - Alicia perguntou, girando o cabo da faca em sua mão e vasculhando com o olhar em busca de frutas.

O Professor Dimas soltou uma risada baixa e respondeu com certo desdém. – Passei toda a minha vida estudando na capital, sempre dedicado aos estudos, nunca parei por um segundo. O governo permitia que eu tivesse acesso a livros históricos, estudasse os costumes de outras civilizações que existiram antes da grande Guerra. - Ele sorriu para Alicia e apontou para algo acima em uma árvore. - Olha, aquilo são bananas?

Alicia olhou na direção indicada e de fato encontraram algumas bananas. As bananeiras eram baixas, e as bananas estavam maduras, prontas para serem consumidas. – O governo permitiu que o senhor vivesse em paz sabendo de tanta informação sobre coisas antes da guerra? - Perguntou Alicia, dirigindo-se à bananeira e colhendo o cacho de bananas. - Quero dizer, era proibido que as pessoas obtivessem tantas informações, o governo se sentia ameaçado por pessoas com muitas informações.

— Snow me mantinha sob vigilância e constantes ameaças. - Respondeu o Professor Dimas, com a expressão repentinamente sombria, como se algo o perturbasse. – Me desculpe se estou tocando em algum assunto que o senhor não gosta. - Alicia disse, entregando uma banana ao professor.

Ele sorriu timidamente, pegou a banana, descascou-a e deu uma mordida, gemendo de alívio enquanto mastigava a fruta. – Não precisa se desculpar, Alicia. - Ele disse. - É que isso me traz velhas lembranças que eu não gosto de ficar pensando muito, não gosto de pensar que muitas vidas se perderam em projetos meus!

Alicia interrompeu sua caminhada e arqueou as sobrancelhas. – Como assim? O que o senhor quer dizer com muitas vidas se perderam em seus projetos?

Dimas baixou a cabeça, como se estivesse profundamente envergonhado de encarar Alicia. Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos até que ele finalmente respondeu à pergunta dela. – Lembra do clima de trópico daquela arena que a Katniss Everdeen destruiu ao lançar a flecha eletrificada contra o campo de força? Então, eu desenvolvi o clima e o habitat daquela arena.

Alicia se colocou no lugar do professor. Se tivesse todo aquele conhecimento, sendo obrigada a trabalhar para a capital, desenvolvendo uma arena que seria o palco de um terrível massacre quaternário, ela também se sentiria da mesma forma como ele se sentia agora. Ela apenas concordou com a cabeça e disse. – Essas bananas estão boas, vamos voltar para junto do Capitão, comer e seguir o nosso caminho.

O Professor Dimas concordou com um aceno rápido da cabeça, e os dois começaram a andar de volta para onde o Capitão estaria esperando por eles.

                                                                            *        *        *

— Conseguiu avistar algo suspeito? - Perguntou o Professor Dimas, lançando uma banana para Gale.

Ele a pegou no ar, descascou-a e deu uma enorme mordida na fruta, mastigando com vontade.

— Nada suspeito! - Respondeu assim que terminou de comer a banana. - Parecia não ter movimento naquela parte, mas eu sei que assim que colocarmos os nossos pés lá, algo de ruim vai acontecer.

— Não tenha dúvida disso. - Disse Alicia, jogando a casca de uma banana para trás e começando a pegar outra para comer.

— Temos que nos preparar... - Começou a dizer o professor Dimas, mas foi interrompido por um barulho de explosão tão alto e forte que chegou a estremecer o chão sob os pés deles.

— O que foi isso? - Alicia perguntou, olhando para Gale, que deu de ombros sem saber a resposta.

— Parece que vem das profundezas da floresta. - Foi a única coisa que Gale disse antes que outro barulho de explosão e o chão se mexesse com mais força.

De repente, as árvores começaram a cair, seguidas por outro estrondo e um cheiro de queimado. A vinte metros de distância, as árvores estavam em chamas. Labaredas consumiam as árvores em segundos, tornando-as pó preto na relva. Gale olhou ao redor, e as chamas ameaçavam alcançá-los, destruindo tudo ao redor.

— Temos que sair daqui, AGORA! - O capitão gritou.

Antes que percebessem, todos corriam em direção à cidade. O fogo aumentava, e as explosões também, fazendo-os perder o equilíbrio na corrida. Gale, constantemente, corria e olhava para trás, certificando-se de que todos continuavam a correr e verificando a proximidade do fogo.

— Estamos muito longe da cidade? - Alicia gritou, sem diminuir o ritmo.

— Não muito! - Gale gritou de volta.

O professor Dimas estava completamente ofegante, suas pernas queimavam, parecendo que iriam perdê-las a qualquer momento. Seus pulmões ardiam, ficando cada vez mais difícil de respirar. Gale olhou para trás novamente e percebeu que o professor não conseguiria.

— Vamos lá, professor! - Ele gritou, correndo em direção a Dimas e passando um dos braços dele por cima dos seus ombros para ajudá-lo a correr. - O senhor consegue, não podemos perdê-lo.

O calor era insuportável, como se estivessem dentro de uma grande fornalha prestes a morrer queimados a qualquer segundo. Mesmo ajudando o professor Dimas a correr, as chamas agora estavam quase os alcançando. Alicia fez o mesmo que Gale, correu até os dois e os ajudou a carregar o professor.

— Ali na frente, eu consigo ver onde termina a floresta! - Alicia gritou.

— Vamos lá, professor, use seu último fôlego, você consegue! - Gale disse, tentando dar forças ao amigo.

Eles correram, usando todas as forças que restavam para salvar suas vidas. Gale agarrou o professor juntamente com Alicia, ambos usando todas as forças para percorrer os poucos metros que faltavam. Pareciam intermináveis. Gale começava a sentir seus braços perderem força, suas pernas queimavam como se as próprias chamas estivessem subindo por elas. Alicia gemia de dor, parecendo prestes a ceder.

"ISOLANDO A ÁREA, ISOLANDO A ÁREA" Soou a voz computadorizada pela floresta em chamas. A voz estava alta e clara, como se estivesse sendo transmitida por megafones.

A voz tirou Gale do torpor, fazendo-o perceber a tempo o que estava acontecendo, mesmo sem entender completamente o que ela dizia. No limite da floresta, uma espécie de campo de força azulado descia em direção ao chão. Se aquele campo de força chegasse ao chão, todos estariam mortos, pois não teriam para onde correr, ficariam presos na floresta e morreriam queimados. Alicia seguiu o olhar dele e também percebeu o que estava acontecendo.

— Não vamos conseguir! - Ela disse para o capitão.

— Nós vamos! - Ele respondeu.

Gale pegou o professor no colo, usando toda força que lhe restava, e então saiu correndo com ele nos braços. A fumaça tomava conta de tudo, ficando difícil de enxergar e de respirar. O campo de força azul parecia descer mais rápido, como se quisesse tranca-los lá dentro. Estavam quase perto do limite da floresta quando foram pegos de surpresa por uma última explosão. Gale só sentiu o calor na nuca, e então seus pés saíram do chão, sendo arremessado para a frente pela força da explosão.

O campo de força pousou silenciosamente no solo e tremeluziu, emitindo uma intensa luz azul por toda a sua extensão, antes de desaparecer da vista.

"A ÁREA DA FLORESTA FOI ISOLADA, BEM-VINDOS À ZONA MORTA."

Gale sentia dor por todo o corpo. Sua nuca queimava devido ao fogo durante a explosão. Com dificuldade, ele se levantou lentamente do chão, procurando os amigos. Dimas e Alicia estavam caídos no concreto da cidade. Gale observou ao redor em busca dos amigos. Ao olhar para o campo e para a floresta, percebeu que haviam conseguido atravessar.

— Capitão, você está bem? - A voz de Alicia soou atrás dele. Ela apoiou a mão no ombro de Gale, confortando-o. Ambos observaram a floresta em chamas e viram duas figuras correndo em direção ao campo de força. Nicholas e Nissa estavam desesperados, consumidos pelo fogo. Gritavam e batiam nas barreiras enquanto o fogo extinguia suas vidas ali.

— Meu Deus. - Disse Alicia, boquiaberta.

— É assim que esses jogos funcionam. - Disse Gale sombriamente, sem desviar os olhos dos dois. - Você morre de maneiras cruéis para entretenimento dos outros.

Alicia desviou o olhar e, junto com Gale, aproximou-se de Dimas para ajudá-lo a se levantar. Ele estava pálido e tremia.

— O senhor está bem, professor? - Perguntou Gale.

— Não, mas vou ficar! - Disse Dimas, olhando para a mesma cena que Alicia e Gale observavam. - Obrigado por me salvar, Capitão. Se não fosse por você, estaria na mesma situação deles.

— Não precisa agradecer, professor!

Alicia questionou sobre o que a voz computadorizada disse.

— Ela disse que a Área da floresta foi isolada e nos deu as boas-vindas à Zona Morta. - Respondeu Dimas.

— Zona morta? - Perguntou ela, olhando para Gale.

O capitão sustentou o olhar dela e disse:

— Seja lá o que isso quer dizer, não parece ser algo bom.

Gale pegou sua faca, sentindo que, a partir desse momento, uma simples faca não seria suficiente diante do perigo iminente. Apontou para um prédio próximo com portas de vidro azul intactas.

— Vamos lá procurar armas. - Disse ele, segurando firmemente a faca. - Facas não serão suficientes para sobrevivermos.

Ao se dirigirem ao prédio indicado por Gale, um odor pútrido invadiu o ar. Era cheiro de carne em decomposição. Alicia e Dimas cobriram nariz e boca. Gale, sentindo seu estômago revirar, olhou ao redor para identificar a fonte do cheiro.

— Gale... - Disse Alicia, apontando para a direita.

Várias pessoas se aproximavam deles de maneira estranha, quase como se estivessem se arrastando.

— Que diabos é isso? - Disse Gale, avançando na direção das pessoas.

— Não, Capitão! - Exclamou o professor Dimas, indo até Gale e segurando seu ombro, impedindo-o de continuar. - Se forem participantes dos jogos, eles vão nos matar.

Gale estava estarrecido. Cada vez mais pessoas se juntavam à multidão. O cheiro pútrido parecia vir daquela direção. – Não acredito que sejam participantes dos jogos, professor. - O capitão respondeu quase sussurrando. Ele continuou caminhando em direção àquelas pessoas e, de repente, parou, sentindo o estômago revirar e o coração acelerar. Eram monstros. A pele daquelas pessoas estava enrugada e podre, com feridas purulentas, mordidas nos pescoços, braços e rostos. Algumas delas não tinham o nariz; eram apenas dois buracos no lugar. Elas rosnavam e emitiam ruídos estranhos. Uma das criaturas levantou a cabeça e o avistou. Por um segundo, o monstro farejou o ar e soltou um grunhido alto, fazendo com que todas as criaturas olhassem para Gale. Em menos de uma fração de segundo, os monstros começaram a correr em direção ao capitão. – GALE! - Alicia gritou, querendo correr em direção a ele. – VAI, CORRAM PRA DENTRO DO PRÉDIO! - Ele disse, apontando para que Alicia e Dimas corressem o mais rápido que pudessem. Gale correu o mais rápido que pôde, mesmo que todas as suas forças tivessem se esgotado na corrida pela floresta. A adrenalina tomou conta de todo o seu corpo, e ele se dirigiu às portas azuis do prédio. As criaturas corriam, gritavam e grunhiam atrás dele.

"DEIXA A PORTA ABERTA PRA MIM!" - o capitão gritou assim que avistou Alicia e Dimas entrando no prédio. Alicia manteve a porta aberta, e à medida que Gale se aproximava, ela o incentivava a manter o ritmo. – CORRE MAIS RÁPIDO, GALE! Não demorou muito para que Gale atravessasse a porta a toda velocidade, e Alicia a trancasse. As criaturas bateram com um estrondo enorme contra a porta, fazendo o vidro trincar. Sem perder tempo, os três começaram a arrastar em direção às portas tudo o que havia por ali. Mesas quebradas, cadeiras, tudo que pudesse servir para barrar a entrada daquelas criaturas. – Temos que subir o mais alto que conseguirmos. - Alicia disse, com o peito arfando e quase sem voz. Gale não conseguia se mexer. Seu corpo, seus pulmões, tudo parecia prestes a explodir. – Eu... Eu... acho que não vou conseguir subir escadas agora. - Ele disse, encostando-se contra uma parede de mármore e deixando que suas pernas cedessem. – Que diabos são aquelas coisas? - O professor Dimas perguntou, fazendo o mesmo e sentando-se no chão ao lado do capitão. – Eu não sei, mas pareciam mortos, e aquele cheiro de carne podre vinha deles. - Gale respondeu, o peito subindo e descendo rapidamente, o suor escorrendo de sua testa. - Eram como se fossem zumbis. Alicia, que estava em pé com os braços cruzados, de repente, soltou uma risada alta. Ela encarou Gale e não conseguia parar de rir. Dimas e o Capitão ficaram encarando-a sem entender o que estava acontecendo. Alicia se recompôs e então disse. – Zumbis? Igual nos filmes de terror? Sério? – Acho que sim. - Respondeu Gale. – Agora eu acho que sei por que a voz disse "Bem-vindos à Zona Morta". - Comentou o professor Dimas. A conversa deles foi interrompida quando a porta foi quebrada, e o vidro voou contra o chão, estilhaçando e espalhando milhões de cacos por todos os lados. As criaturas começaram a empurrar a barricada feita para impedir que elas passassem. – Temos que ir agora. - Gale disse, pondo-se de pé e correndo em direção às escadas. – Pessoal? - Disse Alicia. Ela estava parada em frente à porta do elevador. O elevador estava aberto. Todas as luzes funcionavam perfeitamente dentro dele, e estava tudo intacto, inclusive o espelho que cobria todas as laterais. – Eu prefiro ir de elevador, e vocês? - Alicia falou, esboçando um sorrisinho todo alegre. – Sério? E se for uma armadilha mortal? - O professor Dimas disse. Nesse momento, as criaturas transpassaram a barreira e começaram a correr em direção ao hall do elevador. Gale agiu por instinto. Empurrou o professor para dentro do elevador e puxou Alicia logo em seguida, apertando o botão para a porta fechar. Eles ouviram o som dos milhares de mortos batendo contra a pesada porta de aço do elevador. – Qual andar, senhores? - Alicia questionou-os. Gale olhou e viu que o prédio tinha vinte andares. Antes que pudesse dizer alguma coisa, o elevador se moveu sozinho, e a luz do quinto andar brilhou, como se alguém tivesse apertado. Instintivamente, ele apertou o cabo da faca que ainda estava em sua mão e se preparou para o que viria a seguir. Lentamente, os números que indicavam os andares foram passando até que finalmente chegaram no quinto. Com o som de um "Plim", o elevador parou. A tensão pairava no ambiente. Alicia e Dimas também seguravam suas facas, todos posicionados, prontos para o ataque. Antes que as portas abrissem, Gale sussurrou. – Preparem-se. Sem nenhum ruído, as portas do elevador se abriram lentamente.


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Notas finais do capítulo

Pessoal mais uma vez eu vou pedir com todo carinho que comentem o capítulo! Critiquem ( de forma construtiva), me deem a opinião de vocês, me digam o que eu posso melhorar, me falem tudo o que vocês sentiram ao ler esse capítulo.

Agradeço muito :*