Uma luz  branca pisca diretamente  nos meus olhos me fazendo ficar tonto, ou é só efeito da bebida mesmo. Olho em minha volta e mesmo sendo alto só vejo pessoas e mais pessoas, o lugar está lotado e  sinto dificuldade em respirar e em me mexer ali no meio da multidão. 

- Dança Thomas - Diz Katherine com um pequeno sorriso no rosto. E não consigo tirar os olhos dela, mesmo no meio de várias garotas lindas, nenhuma têm chance perto de Kat. Ela dança movendo os braços no ar e seu cabelo loiro voa para todos os lados. É claro que sou uma negação dançando então fico ali tentando balançar no ritmo da música parecendo um otário perto dos movimentos confiantes e sensuais da minha namorada. 

A música muda e meus amigos começam a pular como loucos e logo todos estão em cima de mim, provavelmente deve ser alguma música que curtimos, mas meus ouvidos só zombem em protesto do volume tão alto. Levo umas mãozadas na cara e todos trombam um no outro na falta de espaço, mas ninguém liga, ficamos um bom tempo assim, pulando, bebendo e agindo como loucos. 

Nossos copos não param vazios, não sei qual a magia mas não importa o quanto eu bebo sempre encontro um copo diferente cheio em minha mão. Todos brindam batendo os copos e derramam bebida no chão. Braços envolvem meu pescoço por trás, e assim que me viro ganho um beijo caloroso. 

- Feliz Aniversário!!!!  - Katherine grita para ser ouvida. Demoro um segundo para entender o que ela diz e rapidamente passo meus braços ao redor de sua cintura levantando-a no ar e começo a girar. Eu me sinto tão feliz, apesar do barulho sinto uma paz enorme, tenho vontade de agarra-la ali e dizer que a amo muito enchendo-a de beijos. Mas talvez seja a bebida, todos dizem que quando estou bêbado viro um babaca sentimental. Então resolvo não dizer nada, só ficamos assim, sorrindo um para o outro como dois idiotas. 

BIIP BIIP BIIIP 

Alcanço o despertador na minha cabeceira e o desligo ainda de olhos fechados. Minha cabeça lateja e meu corpo dói como se um bando de crianças tivesse me confundido com uma pinhata na noite anterior. Puxo a coberta me cobrindo por completo enquanto sinto o aconchego da minha cama.  Minha cabeça lateja enquanto pensamento confusos passam por minha cabeça. Ouço um barulho vindo de algum lugar, que depois de um tempo identifico como sendo meu pai gritando algo na porta do meu quarto. Depois de alguns segundos tento responder ele, mas minha cabeça confusa só me faz balbuciar alguns gemidos sem nexo. 

Levanto como um zumbi e me arrasto até o chuveiro. A água quente cai sobre meus ombros e rapidamente o banheiro está completamente cheio de vapor. Porque minha cabeça dói tanto? Flashs da noite anterior passam em minha cabeça; hoje é meu aniversário, noite passada eu e o time de futebol fomos em uma boate na cidade vizinha, Katherine estava junto, nós bebemos, e muito. Lembro de dar um soco no nariz do Ian por alguma brincadeira idiota que ele fez e do sangue escorrendo por sua boca enquanto ele gargalhava, do Travis vomitando dentro do carro emprestado do meu pai... Que merda travis!  

Não que sejamos o tipo de caras que bebem todas e saem pegando todo mundo, mas em Kiltenwood não há muitas coisas para se fazer e ainda tem a pressão dos jogos e das provas finais, e cara! Temos 16 anos. Pelo menos de vez em quando precisamos relaxar e enlouquecer um pouco. 

Paro na frente do espelho analisando meu reflexo, meus olhos azuis estão pequenos e avermelhados, em baixo deles tenho bolsas roxas que entregam minha ressaca, além de uma marca também roxa no pescoço, a última feita pela Katherine, eu espero pelo menos. Passo a mão pelo meu cabelo preto e úmido tentando arruma-lo e levanto as mangas da minha blusa até o cotovelo. Pego minha mochila e desço as escadas já atrasado para a aula.

Meus pais estão na mesma correria de sempre, eles são meio loucos e um pouco paranoicos mas no fundo são muito legais.

- Bom dia - Diz minha mãe enquanto já tira a mesa do café da manhã.

- Bom dia - Resmungo de volta enquanto pego uma xícara de café e um remédio para dor de cabeça em uma gaveta. Ela passa por mim e me da um grande abraço. 

- Parabéns querido - Murmura ainda me agarrando. 

- Ok, mãe. Obrigado 

- Quem vai comigo? Já estou atrasado. - Diz meu pai pegando sua maleta e indo em direção á porta.

- Eu levo eles - Diz minha mãe correndo pela sala atrás de alguns papéis.

- Ta bom - Ele vai em direção a porta mas da meia volta e corre até mim. 

- Parabéns filho! - Ele diz bagunçando meu cabelo. - A noite conversamos sobre aquele presente ok? 

Ele me da uma piscadela e sai pela porta apressado. Não faço a minima ideia do que seja o presente, mas me animo um pouco pois se alguém sabe surpreender bem, esse é o meu pai. Não importa o que eu fique pedindo o ano inteiro, vai chegar meu aniversário e ele vai me dar uma coisa totalmente sem noção que nunca passou pela minha mente. Como no ano passado que ao invés do computador novo que estava pedindo ganhei uma bola que era do avô dele e uma história de brinde sobre os homens da família Bennet, e no ano anterior que ao invés do vídeo game que eu queria ganhei um filhote de pastor alemão sendo que já tínhamos três cachorros! E eu nem gosto muito de cachorros! Pego uma xícara de café e bebo junto com um comprimido para dor de cabeça. Eu poderia pedir para faltar a escola hoje, já que é meu aniversário e eu duvide que vá conseguir prestar atenção na aula com tanta dor de cabeça, mas a escola é meio sagrada para minha mãe. É provável que ela comece um discurso sobre como os jovens de hoje em dia são vagabundos, e como eu vou virar catador de lixo quando crescer sem ir na escola. ( O que não deve ser tão ruim, comparado ao emprego da minha mãe, ela é a delegada de Kiltenwood e vive estressada mesmo dizendo que ama seu emprego, vai entender.) Mas enfim, entre dizer para minha mãe que eu queria matar aula ou que eu tinha levado um tiro, eu escolheria a segunda opção sem pensar duas vezes. Ela é meio que uma Rochelle branca, o que não é nem de perto engraçado como a original.         

Depois de esperarmos uns dez minutos a Bianca acabar de se arrumar saímos de casa. (Bianca é a pentelha da minha irmã, uma descrição rápida: Ela tem treze anos, um metro e cinquenta e cinco de altura, olhos cor de mel e cara de anjo o que engana bem considerando ela ser a pessoa mais irritante, reclamona, emburrada, mimada, egoísta e chata que eu conheço.)

Com quinze minutos no carro sport da minha mãe chegamos na Kildenwood High School, a unica escola da cidade. 

Corro pelo gramado da escola já atrasado, evitando a calçada congestionada de pais e adolescentes. Sinto que estou sendo observado e procuro ao redor sentindo um certo incomodo. Sei que sou meio paranoico, mas parece que vivo com uma placa na testa dizendo " Alvo fácil. Ótima vítima  para  assaltos, sequestros ou simplesmente se você estiver afim de espancar alguém"  Sempre tem um louco me seguindo , e já aconteceram as mais malucas tentativas de assalto e sequestro comigo. Parece que por eu ser filho da delegada os criminosos da cidade não têm sentimentos nada afetivos por mim. Houve um tempo que fui obrigado a andar com um guarda costas todo desengonçado comigo ( sério. O cara parecia um armário ambulante, e não só a aparência, sua mentalidade também) até que comecei a fazer aulas de defesa própria e posso me virar sozinho desde então. Mas sempre sou forçado a ligar para minha mãe umas quinhentas vezes por dia e pobre de mim se não obedecer a mulher.

Entro pela porta da escola ainda com a cabeça fervendo e distraído quando sinto alguém agarrando meus ombros com força. Tento me soltar, mas os braços fortes me apertam cada vez mais. Boto mais força do que necessária para me soltar e me viro automaticamente 

pronto  para socar o desgraçado.